sábado, 11 de fevereiro de 2012

As guerras não são "os maiores assassinos do século XX"

Publicado no "The Wall Street Journal" em 7 de Julho de 1986.
Este texto foi baseado num estudo piloto que subestima em mais ou menos 42% os resultados finais.

http://www.hawaii.edu/powerkills/WSJ.ART.HTM

As guerras não são "os maiores assassinos do século XX"
por R.J. Rummel

O século XX foi conhecido por suas guerras absolutas e sanguinolentas. A Primeira Guerra Mundial viu mais de nove milhões de pessoas morrerem em batalhas, um incrível recorde que foi ultrapassado décadas depois pelos 15 milhões de mortos ao fim da Segunda Guerra Mundial. No século XX até mesmo o número de mortos por revoluções e guerra civis chegou ao seu nível histório. No total, as batalhas deste século, contando todas as guerras internacionais e domésticas, revoluções e conflitos violentos, mataram 35.654.000 pessoas.

Apesar desta vasta quantidade de mortes em guerras durante o periodo de vida de algumas pessoas que ainda estão vivas, o mais inacreditável é o seguinte fato: a quantidade de mortos nesse século por governos absolutistas ultrapassa em muito a quantidade de mortos em todas as guerras, domésticas e internacionais. Na verdade, este número já se aproxima do que poderia ser morto numa possível guerra nuclear.

A Tabela 1 sumariza os totais relevantes e classifica pelo tipo de governo (seguindo a definição da Freedom House) e guerra. Ser morto por um governo significa qualquer assassinato por um agente governamental, diretamente ou indiretamente, ou ser morto com a conivência do governo. Porém, foi contabilizado apenas quando o número de mortos ultrapassa a casa das 1.000 pessoas, exceto execuções, que são consideradas atos criminais (assassinato, estupro, espionagem, traição etc...). Estas mortes são tratadas aparte da jornada de ações e campanhas militares, ou como parte de algum conflito. Por exemplo, os Judeus que Hitler devastou durante a Segunda Guerra Mundial seriam contabilizadas porque foram sistematicamente mortos e sem nenhuma relação com o conflito da Segunda Guerra Mundial.

Os totais da tabela são baseados num levantamento nação à nação e são absolutamentos as estimativas mais baixas possíveis, o que pode menosprezar por mais ou menos 10% ou até mais o valor real. Mesmo assim, essa estimativa não leva em consideração as penúrias de 1921-1922 e 1958-1961 da União Soviética e da China que causaram 4 milhões e 27 milhões de mortes cada uma. A penúria soviética foi causada principalmente pela imposição de um política econômica agricultural, confiscações forçadas de comida e campanhas de liquidações dos Chekas; a chinesa foi causada inteiramente pela destrutiva política do Mao conhecida como o "Grande Salto para Frente" e sua estratégia de coletivização.

Apesar disso, a tabela 1 inclui a fome generalizada planejada e administrada pelo governo Soviético na Ucrânia em 1932 como uma forma de quebrar a oposição e destruir o coletivismo Ucraniâno. Como aproximadamente uns 10 milhões de pessoas morreram de fome ou morreram por doenças relacionadas a fome, eu estimo que 8 milhões de pessoas morreram neste caso. Se tivessem sidos todos mortas com um tiro, o governo Soviético não poderia ter sido mais responsável moralmente pela tragédia.

A tabela lista 831 mil pessoas mortas pelas democracias livres, o que deve alarmar a maioria dos leitores. Essa estimativa envolve o massacre Francês na Algeria antes e durante a Guerra da Algéria (no mínimo 36 mil mortos) e todos aqueles mortos depois de terem sido repatriados para os Soviéticos pela Aliança Democrática durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

É revoltante saber que por diversas vezes - e até mesmo ultrapassando o zelo pelo Acordo de Yalta assinado por Stalin - Churchill e Roosevelt, a Aliança Democrata, particularmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, devolveram aos Soviéticos mais de 2.250.000 cidadões, prisioneiros de guerra e exilados Russos (que não eram cidadões Soviéticos) encontrados nas zonas da Aliança por toda a Europa. A maioria dessas pessoas estava aterrorizada com as consequencias de ser repatriado e se recusou a cooperar; normalmente a família por completa comitia suicídio. Dos repatriados, estima-se que 795.000 foram executados ou morreram em campos de trabalho forçado (escravidão) ou a caminho deles.

Se um governo deve ser responsável pelos seus prisioneiros que morreram sendo carregados ou em campos de escravidão, certamente os governos democráticos que jogaram pessoas indefesas nas mãos de ditadores totalitários e que conhecia o perigo disto, devem ser responsabilizados por estes atos.

Sobre as estatísticas de mortalidade que são mostradas nesta tabela, é realmente triste que centenas de milhares de pessoas possam ser mortas pelos governos sem que seja gerado nem um murmurinho sequer, enquanto uma guerra que mata algumas milhares de pessoas cause um imediato clamor mundial e uma reação global. Contraste a atenção internacional para a relativamente pequena guerra nas Ilhas Falkland entre Inglaterra e Argentina com a total falta de interesse: no assassinato dos Burundis; ou com o interesse na morte de mais de 100.000 Hutus em 1972; ou então com o interesse da Indonésia massacrando 600.000 comunistas em 1965; ou então do Paquistão, em um bem planejado massacre, matando algo entre um e três milhoes de Bengalês em 1971.

Um exemplo digno de nota e muito mais sensível desta hipocrisia é a Guerra do Vietnã. A comunidade internacional ficou indignada com a tentativa Americana de prevenir que o Vietnã do Norte tomasse controle do Vietnã do Sul e depois do Laos e da Cambódia. "Pare a Matança" era o grito. A pressão da oposição, tanto interna quanto externa (em relação aos EUA), forçou a retirada das tropas Americanas. A quantidade de mortos na Guerra do Vietnã, nos dois lados, foi de mais ou menos 1.216.000 pessoas.


Com a subsequente recusa dos Estados Unidos de ajudar, mesmo modestamente, o Vietnã do Sul foi derrotado militarmente e totalmente engolido pelo Vietnã do Norte; a Cambódia foi tomada pelos comunistas do Khrmer Vermelho, que tentando recriar um comunismo primitivo sobre uma sociedade agrária dilaceraram algo entre um e três milhões de Cambojanos. Se pegarmos a média de 2.000.000 como a melhor estimativa, então em quatro anos o governo deste pequena nação de sete milhões de pessoas, sozinho matou 164% o que a guerra de dez anos no Vietnã matou.
No geral, a melhor estimativa dos mortos depois da Guerra do Vietnã pelos comunistas somando o Vietnã, Laos e Camboja é de 2.270.000. Ou seja, totalizando o dobro dos que morreram na Guerra do Vietnã, porém a matança comunista ainda continua.


Para ver esta hipocrisia por uma outra perspectiva, ambas Guerras Mundiais custaram vinte e quatro milhões de vidas em batalha. Porém, entre 1918 e 1953, o governo Soviético executou, dilacerou, esfomiou, torturou até a morte ou matou de forma geral 39.500.00 pessoas do seu próprio povo (minha melhor estimativa entre 20 milhões mortos somente pelo Stalin até um total de 83 milhões por todo o período comunista). Para a China sob o comando de Mao Tse-Tung, o governo comunista eliminou, mais ou menos 45.000.000 de chineses. O número de apenas estas duas nações é mais ou menos 84.500.000 de seres humanos, ou 352% mais mortes do que as duas Guerras Mundiais juntas. Ainda assim, têm os intelectuais pelo mundo mostrado o mesmo horror, a mesma raiva, a mesma quantidade torrencial de escritos pacifistas contra os mega-assassinos governos da União Soviética e da China?

Como pode ser visto na Tabela 1, governos comunistas são, em geral, quatro vezes mais letais para seus cidadões do que governos não comunistas, e numa relação per capita são praticamente duas vezes mais letais (mesmo considerando as imensas populações da Rússia e da China).
Porém, mesmo sendo enorme taxa per capita dos países comunistas, ela fica muito próxima de outros governos não-livres. Isso se deve ao fato dos massacres e da matança generalizada no pequeno país do Timer Leste, onde desde de 1975 a Indonésia eliminou (além da guerrilha e sua violência associada) mais ou menos 100.000 Timerenses, numa população de apenas 600.000 pessoas. Retirando apenas este pequeno país a taxa dos países não-livres e não-comunistas cai para 397 por 10.000, ou seja, muito menos do que os 477 por 10.000 dos governos comunistas.
Em todo caso, ainda podemos ver pela tabela que quanto mais livre é uma nação, menos pessoas são mortas pelo governo. As liberdades previnem o uso do poder pela elite governamental para aspirar suas políticas e garantir seu comando.


Este princípio aparamente foi violado nos dois casos supra-citados. Um foi o governo Francês que causou uma matança generalizada na sua colonia Algéria, onde comparados com os franceses, os algerianos eram cidadões de segunda classe, sem direito de voto nas eleições fancesas. No outro caso a Aliança Democrática durante e depois da segunda guerra mundial, de maneira secreta, devolveu diversos estrangeiros para os governos comunistas. Estes estrangeiros, claro, por serem estrangeiros não tinham nenhum direito como cidadões que os protegiam nas democracias. Porém não encontrei nenhum caso de governos democráticos que praticaram massacres, genocídios ou execuções em massa dos seus próprios cidadões; nem encontrei nenhum caso de uma política governamental que tenha causado de maneira conhecida e direta a more em larga escala da população por privação, tortura, espancamento etc...

Absolutismo não é somente muito mais mortal que guerras, como é a maior causa de guerras e outras formas de conflitos. É a maior causa da corrida armamentista. Na verdade, absolutismo, e não guerra, é o flagelo mais mortal criados pela humanidade.
Sabendo disto, a corrida e o estímulo por liberdades civis e direitos políticos de maneira pacífica e sem violência deve ser o nosso maior objetivo. Não somente pela maior felicidade, não somente para obedecer o imperativo moral dos direitos individuais, não somente pela superior eficiência e produtividade de uma sociedade livre, porém também e principalmente para preserver a paz e a vida.
TABELA 1

domingo, 30 de outubro de 2011

O homem da KGB

By Ion Mihai Pacepa
The Wall Street Journal, Segunda-Feira, 22 de Setembro de 2003

http://online.wsj.com/article_email/SB106419296113226300-H9jeoNjlaZ2nJ2oZnyIaaeBm4.html

O governo de Israel votou para expulsar Yasser Arafat, chamando-o de obstáculo para a paz. Porém, o velho líder palestino de 72 anos é muito mais do que isso; ele é um terrorista de carteira assinada, treinado, armado e financiado pela União Soviética e seus satélites por décadas.

Antes de eu deserdar da Romênia para a América, deixando meu cargo de chefe da inteligência Romena, fui o responsável por dar ao Arafat, todo santo mês por toda a década de 70, uma quantia em torno de $200,000. 00 em dinheiro lavado. Também enviei dois aviões de carga carregados com uniformes e suplementos por semana para Beirute. Outros blocos soviéticos também faziam o mesmo. Terrorismo tem sido extremamente lucrativo para Arafat. De acordo com a revista Forbes, hoje ele é o sexto mais rico do mundo na categoria "Reis, Rainhas e Déspotas", com mais de 300 milhões de dólares nos bancos suíços.

"Eu inventei o sequestro de aviões de passageiros", se gabava Arafat quando eu o encontrei pela primeira vez no quartel da PLO (Organização pela Libertação da Palestina – Palestine Liberation Organization) no início da década de 1970. Ele gesticulava em direção a uma pequena bandeira vermelha presa a um mapa-múndi preso numa parede que continha Israel nomeada como Palestina. "Ali estão todos eles" me disse de maneira orgulhosa. A dúbia honra de sequestrar aviões, na verdade, vai para KGB que primeiro sequestrou um avião de passageiros dos EUA em 1960 para Cuba. A inovação de Arafat foi transformar o avião sequestrado numa bomba suicida, um conceito de terror que culminou nos atentados de 11/9.

Em 1972, o Kremlin elevou a prioridade do Arafat e da sua rede de terror na lista de prioridade, incluindo a minha lista. A tarefa de Bucareste era de integrá-lo com a Casa Branca. Nós éramos o bloco com maior experiência nisso. Nós já tínhamos grandes sucessos em fazer Washington - assim como os acadêmicos esquerdistas da moda - acreditarem que Nicolae Ceausescu era, como Josip Broz Tito, um comunista "independente" e "moderado".


O chefe da KGB, Yuri Andropov, em fevereiro de 1972 riu sobre o gosto dos Yankees com celebridades. Nós transcendemos os cultos Stalinistas de personalidade , mas aqueles americanos loucos ainda eram iniciantes o suficiente para reverenciar líderes nacionais. Nós transformaríamos Arafat numa figura central e gradualmente moveríamos a PLO cada vez mais para perto do poder e do Estado. Andropov achava que o Vietnã - o desgaste da guerra faria que os Americanos aceitassem o menor dos sinais de conciliação para promover Arafat de terrorista para um homem de Estado na esperança pela paz.

Logo após aquela reunião, eu recebi a ficha pessoal que a KGB fez do Arafat. Ela era um burguês egípcio que se tornou um devoto marxista pela inteligência da KGB. A KGB o treinou na escola de operações especiais da Balashikha (ao leste de Moscou) e no meio da década de 1960 decidiu treiná-lo como o futuro líder da PLO. Primeiro, a KGB destruiu todos os documentos oficiais sobre o nascimento de Arafat em Cairo, os substituindo por documentos fictícios de que ele teria nascido em Jerusalém e portanto era um palestino por nascimento.

O departamento de desinformação da KGB então trabalhou no tratado do Arafat chamado "Falastinuna" (Nossa Palestina), originalmente com quatro páginas, transformando-o numa revista mensal de 48 páginas para a organização terrorista palestina Al-Fatah. Arafat tem chefiado a Al-Fatah desde 1957. A KGB distribuiu esta revista pelo mundo árabe e pela Alemanha Oriental, que naquela época abrigava diversos estudantes palestinos. A KGB era adepta a publicar e distribuir revistas; ela tinha diversos periódicos similares em várias línguas para suas organizações principais na Europa ocidental, como a "World Peace Council" e a "World Federation of Trade Unions".

Depois, a KGB deu a Arafat uma ideologia e uma imagem, assim como fez com as organizações comunistas internacionais que eram julgadas leais. Um elevado idealismo não agradava as massas no mundo árabe, por isso a KGB moldou Arafat como um intenso antissemita. Eles também selecionaram um herói pessoal para o Arafat - o grande Mufti Haj Amin Al-Husseini, o homem que visitou Auschwitz no final da década de 1930 e reprovou os alemães por terem matado poucos judeus. Em 1985 Arafat pagou uma homenagem ao Mufti, dizendo que era um orgulho sem fim seguir os passos do Mufti.

Arafat é uma importante cobertura para as operações da KGB. Logo após a Guerra dos Seis Dias em 1967 entre os árabes e Israel, Moscou agendou uma reunião com o chefe da PLO. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser, uma marionete soviética, foi quem marcou esta reunião. Em 1969, a KGB pediu que Arafat declarasse guerra contra o imperialismo-sionista americano durante o primeiro encontro Black Terrorist International, uma organização neofacista e pró-palestina financiada pela KGB e por Moammar Gadhafi da Líbia. Arafat, mais tarde proclamou que ele inventou a guerra contra o imperialismo-sionista. Na verdade, imperialismo-sionista foi uma invenção de Moscou, uma adaptação moderna dos "Protocolos dos Sábios de Sion", uma ferramenta de longa data da inteligência Russa para espalhar ódio étnico. A KGB sempre utilizou antissemitismo e anti-imperialismo como uma rica fonte de antiamericanismo.

O arquivo da KGB sobre o Arafat continha também que no mundo árabe, somente pessoas com extraordinário talento para enganar poderiam alcançar um alto status. Nós romenos éramos direcionados a ajudar o Arafat a melhorar "seu extraordinário talento em enganar”. O chefe da inteligência estrangeira da KGB, General Aleksandr Sakharosvy, nos ordenou que encobríssemos as operações terroristas do Arafat, enquanto ao mesmo tempo construíssemos sua imagem internacional. "Arafat é um grande estadista", sua carta concluía, "e nós devemos utilizá-lo bem". Em março de 1978 eu secretamente trouxe Arafat para Bucareste para umas instruções finais de como se comportar em Washington. "Você simplesmente deve continuar fingindo que vai quebraras relações com os terroristas e que vai reconhecer Israel -- de novo, de novo e de novo..." Ceausescu lhe disse pela enésima vez. Ceausescu ficou eufórico ao falar que tanto ele quanto Arafat poderiam ganhar o Prêmio Nobel da Paz com suas falsas imagens.

Em abril de 1978 eu acompanhei Ceausescu até Washington, onde encontramos com o presidente Carter. Arafat, ele encorajou, transformaria sua brutal PLO em um reino das leis e numa espécie de governo-em-exílio se os EUA conseguissem estabelecer relações oficiais com Arafat. A reunião fui um tremendo sucesso para nós. Carter cumprimentou Ceausescu, ditador do estado policial mais repressivo do Leste Europeu, de "um grande líder nacional e internacional" que tinha "pego o papel de líder em toda comunidade internacional". Triunfante, Ceausescu trouxe para casa um comunicado que o presidente americano atestava que a relação amistosa com Ceausescu servia a "causa do mundo".

Três meses depois eu fui agraciado com o asilo político pelos EUA. Ceausescu falhou em conseguir o seu Nobel da Paz. Porém em 1994, Arafat conseguiu o dele - tudo porque ele continuou fazendo o papel que lhe tinham dado com perfeição. Ele transformou sua organização terrorista numa espécie de governo-em-exílio (a Autoridade Palestina), sempre fingindo que iria fazer o chamado para o fim do terrorismo palestino enquanto o deixava rolar solto. Dois anos após assinar o Acordo de Oslo, o número de israelenses mortos por palestinos aumentou em 73%.

Em 23 de outubro de 1998, o presidente Clinton concluiu suas observações públicas sobre Arafat o agradecendo por "décadas e décadas e décadas pelo trabalho sem descanso da longa caminhada dos palestinos para serem um povo livre, autossuficiente e possuir uma casa". A administração atual compreende a charada que é o Arafat, mas não irão publicamente apoiar sua expulsão. Enquanto isso, os terroristas consolidaram seu comando na Autoridade Palestina e recrutaram jovens seguidores para mais ataques suicidas.

O Senhor Pacepa foi o maior oficial de inteligência que desertou do bloco Soviético. Ele é autor do livro "Red Horizons" (1987 ).

sábado, 10 de setembro de 2011

Red Cocaine - Capítulo 3 - Construindo a Rede das Drogas da América Latina

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.


Red Cocaine - Capítulo 3 - Construindo a Rede das Drogas da América Latina

O braço tcheco da ofensiva das drogas soviética começou em 1960 em duas frentes: Ásia (Indonésia, Índia e Burma) e a América Latina (Cuba). Por causa do importante papel de Cuba para o crescimento do uso de drogas ilegais e de narcóticos nos Estados Unidos, a operação soviética-cubana-tcheca merece uma atenção especial.

No final do verão de 1960, apenas um ano e meio após Fidel Castro conquistar o poder, seu irmão Raul Castro visitou a Checoslováquia em procura de ajuda militar e assistência financeira. Naquela época, Fidel e os soviéticos se odiavam. Por essa razão os cubanos procuraram a Checoslováquia e não a União Soviética. Sejna foi o responsável por receber a delegação cubana e foi o seu anfitrião durante a visita. Uma de suas primeiras ações foi arrumar uma visita do Raul à União Soviética para conhecer Khrushchev. 

Seguindo essa visita, os soviéticos direcionaram os tchecos para trabalhar com os cubanos e pavimentar o caminho para uma tomada soviética de Cuba. Os soviéticos queriam que a Checoslováquia liderasse a tomada, porém escondendo a influência soviética. Eles não queriam que Fidel Castro ficasse sabendo da operação soviética para infiltrar e tomar cuba e não queriam que os Estados Unidos ficassem sabendo o que estava acontecendo.

Cuba e a Checoslováquia assinaram um acordo onde a Checoslováquia iria prover ajuda militar a Cuba, treinar os cubanos em planejamento e operações militares e ajudar organizar a inteligência e a contra inteligência cubana. Em troca, Cuba aceitou se tornar o centro revolucionário no Ocidente e permitiu que a Checoslováquia estabelecesse estações de inteligência em Cuba. Dezesseis conselheiros tchecos foram para cuba para prover treinamento e estabelecer as operações de inteligência e contra inteligência.

Aproximadamente quinze por cento dos conselheiros tchecos eram agentes da inteligência soviética disfarçados de tchecos. Em três anos, todos os tchecos em posições chaves seriam trocados por soviéticos. Assim, desde o princípio, a inteligência cubana e suas estruturas militares foram fortemente influenciadas pelos soviéticos. Em menos de dez anos, os soviéticos estavam em total controle.

Depois que os primeiros cubanos foram treinados como agentes de inteligência, eles receberam suas primeiras ordens de Moscou pela Checoslováquia: infiltrar nos Estados Unidos e em todos os países da América Latina para produzir e distribuir drogas e narcóticos nos Estados Unidos. As instruções do Conselho de Defesa Soviético foram para o conselho de Defesa Tcheco e depois para Cuba. Conselheiros Tchecos ajudaram os cubanos a iniciar a produção de drogas e narcóticos como prioridade máxima e também ajudaram eles a criar as rotas de transporte pelo Canadá e pelo México, onde os Tchecos tinham boas redes de agentes, para dentro dos Estados Unidos. Rudolph Barak, o Ministro do Interior da Checoslováquia e logo o chefe da inteligência civil, pessoalmente ajudou os cubanos a estabelecerem a operação. Desde o princípio, Barak estava constantemente empurrando Soviéticos para cada vez mais longe. Ele queria acelerar a produção e fazer um melhor uso da rede de agentes Tchecos na América Latina, Ásia, Áustria e Alemanha Ocidental.

A produção e o tráfico de drogas por Cuba só começaram após as instruções terem sido recebidas do Conselho de Defesa Soviético para expandir a ofensiva. Em 1961, a Checoslováquia recebeu instruções do Conselho de Defesa Soviético para a inteligência cubana infiltrar as operações existentes na América Latina e nos Estados Unidos para preparar a base e recrutar pessoas para essas operações independentes. A ordem foi apresentada pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia e pelos Ministros da Defesa e Do Interior. Como secretário do Conselho de Defesa da Checoslováquia, Sejna foi responsável por coordenar e agendar as direções e atribuições subsequentes. O plano tcheco para pôr em prática a ordem foi coordenado e aprovado pelos Órgãos Administrativos do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.

O principal objetivo da infiltração foi obter informações sobre indivíduos que foram corrompidos pelas drogas e pelo tráfico de narcóticos. Os principais alvos identificados eram os militares, policiais, políticos, religiosos e executivos. Alguns alvos adicionais eram as instituições científicas, indústrias militares e universidades. Um objetivo secundário era obter inteligência sobre a produção e distribuição de drogas que já existia, para habilitar os soviéticos a exercer o controle estratégico e ajudar a prevenir que as várias infiltrações paralelas atrapalhassem umas às outras. Inteligência derivada das infiltrações no crime organizado também contribuiu para esse objetivo. A primeira reunião para coordenar a infiltração e a coleta de dados sobre drogas e a corrupção gerado pelos narcóticos que Sejna sabe ocorreu em 1962 durante a Segunda Conferência de Havana. Uma reunião secreta dos soviéticos e dos agentes da inteligência treinados pelos soviéticos e de todas as organizações Latinas Americanas. Essa reunião secreta foi organizada pela inteligência cubana e tcheca. Oficiais tchecos dos serviços de inteligência militar, Zs, organizaram a reunião. Outros oficiais tchecos que participaram da reunião foram: o Ministro do Interior, da Segunda Administração (a organização equivalente da KGB na Checoslováquia) e a contra inteligência militar.
Na coleta de dados sobre indivíduos corrompidos pelo tráfico de drogas, tanto usuários de drogas como os que estavam lucrando com o tráfico, os soviéticos identificaram um grande número de pessoas que poderiam ser compradas, que eram suscetíveis à influência e, principalmente, “não estavam preocupadas com as consequências de suas ações”. As informações do dossiê continham bases excelentes para recrutamento de “agentes de influência” ou espiões. Essa informação também foi utilizada para expor e prejudicar a reputação de indivíduos e organizações consideradas hostis aos interesses soviéticos.

O uso de informação sobre corrupção para chantagear e para recrutar agentes de influência é uma velha tática do Marxismo-Leninismo que foi utilizada em escala global. A inteligência tcheca dividiu esses dossiês sobre corrupção em duas categorias: pessoas que já estão em posição de poder e pessoas que potencialmente chegarão a posições de poder. Em 1967, a inteligência tcheca possuía 2500 dossiês sobre pessoas do alto escalão. Seus arquivos não permitiam duplicação de dossiês mantidos pelos outros que estavam ativos na América Latina – os cubanos, alemães orientais, húngaros, búlgaros e soviéticos – por causa da cooperação desses serviços de inteligência. Assim, no final da década de 1960, os soviéticos já possuíam dados sobre corrupção de mais de 10.000 pessoas influentes pela América Latina.

Como um indicativo que esses números não são exagerados, em 1971 um francês chamado Batkoun foi pego traficando heroína para dentro do Canadá. Ele foi deportado para a França e julgado lá por tráfico de heroína. Durante o julgamento, Batkoun foi identificado como um membro do Partido Comunista da França e agente da subseção "Groupement Cinq” da KGB soviética. Valeurs Actuelles reportou que quando preso, Batkoun tinha em mãos uma lista com mais de dois mil viciados em heroína no Canadá, dentre eles proeminentes civis, artistas, apresentadores de TV e professores universitários.

Corrupção, claro, não está confinada na América Latina, mas inclui a América do Norte e os países europeus como França, Suécia, Áustria, Suíça, Itália, Reino Unido e a Alemanha, onde estes dois últimos foram identificados pelo líder do Departamento Internacional do Partido Comunista da União Soviética, Boris Ponomarev, como os mais corruptos. Sabendo que as instituições financeiras que lavam esse dinheiro ilícito fazem parte desta rede de corrupção, o potencial para os soviéticos de praticarem chantagem e influenciarem em diversas operações é infinito. Aliás, como veremos posteriormente, parte da estratégia soviética em envolver pessoas com influência no tráfico de drogas, especialmente pessoas em bancos, intuições financeiras, políticos, militares e executivos industriais, foi precisamente para abrir uma potencial chance para chantagear e influenciar certas operações.

Conhecimento das operações dos vários traficantes independentes, suas redes de tráfico, seus contatos, também foram utilizados para o objetivo mencionado anteriormente, para exercer controle estratégico sobre certas operações. No geral, os soviéticos não queriam ou não precisaram de um controle tático, das operações do dia-a-dia. Enquanto as drogas e os narcóticos estivessem indo na direção certa, para as sociedades burguesas, os objetivos soviéticos estão sendo alcançados. O importante para os soviéticos é prevenir que estas atividades interfiram com outras operações soviéticas e certamente prevenir que essas operações façam o holofote dos jornalistas apontem na direção errada.

As informações coletadas por esse processo são impressionantes. Em 1963, o General Sejna, o Ministro da Defesa e chefe da inteligência Militar visitou o centro de treinamento de traficantes de drogas da Zs na Bratislava. Seu anfitrião e acompanhante foi o Coronel Karel Borsky, o responsável pelos centros de treinamento. Na época, Sejna ficou impressionado pelo nível de detalhe sobre a rede de tráfico ao redor do mundo que o curso continha, principalmente pelos detalhes sobre a América Latina. Por exemplo, uma grande quantidade de informação foi adquirida em inúmeras empresas do México onde a principal atividade era contrabando de drogas - incluindo fotos dos caminhões e os nomes dos motoristas usados no transporte da droga para os Estados Unidos.

Armado com o conhecimento de como as operações com drogas funcionam, os soviéticos observam uma operação e exercem controle somente quando necessário. O potencial para o controle estratégico é evidente quando se analisa o testemunho dado em 1983 pelo Juan Crump, um advogado colombiano e traficante de drogas. Respondendo o Senador Dennis DeConcini (Democrata - Arizona) sobre a importância dos contatos com os oficiais colombianos, Crump respondeu que contatos (suborno) era essencial para existir e sobreviver. Os soviéticos por esses conhecimentos e pela inteligência sobre suas atividades ilegais, eles conseguiam exercer controle sobre os traficantes independentes quando necessário.
Outro mecanismo empregado para lidar com organizações e indivíduos que não cooperam é armar para serem pegos pelas autoridades. É especulado que isso que tenha habilitado aos EUA ter trazido o super traficante colombiano Carlos Lehder Rivas para ser julgados nos EUA. As possíveis causas da traição são fáceis de imaginar. Por exemplo, tantos os soviéticos como os outros membros do Cartel de Medellín podem ter chegado à conclusão que Lehder estava falando demais, politizado demais. Lehder estava dando entrevista a rádios e chamando a cocaína da "bomba atômica da América Latina". Cocaína era uma arma da revolução a ser utilizada contra os imperialistas, ele explicava. O problema com isso é que estava chamando a atenção de maneira desnecessária para as operações de drogas, especialmente ao Cartel de Medellín que ele participava, e estava perto demais da verdade das Operações Soviéticas. Assim qualquer parte pode ter decidido calá-lo. A beleza é que, o entregando as autoridades americanas, estas tinham suas imagens melhoradas, apesar de estarem agindo como agentes disciplinadores dos outros traficantes.

Outro exemplo desta prática foi dado por Ramom Milian Rodriguez, um CPA de Miami que administrou uma boa parte do dinheiro do tráfico ganho pelo Cartel de Medellín da Colômbia. Na tentativa de sair com $5.3 milhões de dólares dos Estados Unidos em 1983, ele acabou sendo preso e acusado de estelionato. Rodriguez foi empregado pelo cartel para arrumar pontos seguros para coletar, contar e empacotar o dinheiro. Ele conseguiu depois arrumar um esquema de envio do dinheiro, um complexo processo par lavagem do dinheiro utilizando vários bancos. Todos os bancos no Panamá eram utilizados por Rodriguez neste processo. Eventualmente, ele explicou, grande parte do dinheiro que chegava até ele era investido em imóveis, ações, títulos de dívida pública para o cartel. Quando Rodriguez criou esta operação, Manuel Antônio Noriega era um coronel responsável pelo serviço de inteligência do Panamá. Rodriguez testemunhou para um subcomitê do Senado Americano em 1988 que o Noriega "utilizou magistralmente as agências de repressão americana para me retirar da operação, deixando esta intacta e operante". A denúncia para a prisão de Rodriguez foi uma ligação anônima, na teoria enviada por Noriega, do Panamá para o Esquadrão do Sul da Flórida sobre drogas, alertando para os planos de Rodriguez. Porém há outras possibilidades a serem consideradas. Rodriguez se declarou ser fortemente anticomunista. Em 1980 ou 1981, a inteligência cubana, a DGI, tentou recruta-lo para uma operação, mas ele havia negado. Mais ou menos ao mesmo tempo, havia começado uma guerra entre o Cartel de Medellín e os revolucionários do M-19 (patrocinados pelos cubanos). Rodriguez disse que aconselhou o Cartel em como lutar utilizando táticas terroristas e aconselhou a não cooperar com o M-19 assim que a guerra estivesse resolvida. Ele também avisou ao Cartel sobre as táticas da inteligência cubana que ele viu sendo tomado para penetrar e controlar o Cartel. Finalmente, ele explicou como era especialmente cuidadoso nas negociações com Noriega para garantir que "Noriega fosse poderoso o suficiente para nos servir e nunca poderoso o suficiente para nos controlar". Enquanto a ligação que denunciou Rodriguez pode ter vindo de Noriega, sobre estas circunstâncias é logico suspeitar que a inteligência cubana ou soviética esteve por detrás de tudo.
Usando as informações ganhas com a infiltração nas organizações de drogas, os Soviéticos não tinham nenhuma necessidade em ter controle direto (tático) de todas as operações na América Latina. Na verdade, seria até melhor manter certa distância e que alguns dos infiltrados nem soubessem que os Soviéticos exerciam controle quando necessário. Esse princípio operacional pode ser visto em uma resolução secreta adotada na Conferência Tri-Lateral de Cuba em 1966, que a lista como o sexto princípio operacional:
"Para resguardar a campanha dos viciados em drogas, devemos defendê-la em nome dos direitos individuais. Devemos manter o Partido Comunista afastado dos canais do narcótico e do tráfico, para que as fontes de entrada de dinheiro não possam ser conectadas com as ações revolucionárias do Partido Comunista. Apesar disto, devemos combinar a fomentação do medo da guerra atômica com o pacifismo e a desmoralização dos jovens com os agentes alucinógenos."

Seguindo a decisão de possuir agentes de inteligência Cubana infiltrado em todas as operações na América Latina, o Conselho de Defesa dos Soviéticos deu mais instruções, novamente pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia, desta vez para Cuba estabelecer sua própria produção e pôr em operação em vários países da América Latina. Cuba se moveu rapidamente para estabelecer suas atividades com narcóticos no México e na Colômbia. A rede resultante foi operada por Colombianos porém foi dirigida por Cubanos. A inteligência Tcheca ajudou a estabelecer as operações e os Soviéticos estavam envolvidos tanto no planejamento como na aprovação das operações. Assim que os novos empreendimentos começaram a acontecer no México e na Colômbia, os Cubanos, com ajuda dos Tchecos, expandiram para o Panamá e para a Argentina, e, com a assistência da Alemanha Oriental, para o Uruguai e Jamaica.

Cuba e a Checoslováquia também desenvolveram uma operação conjunta no Chile. Danislav Lhotsky, um agente da inteligência Tcheca, estava oficialmente no Chile supostamente para discutir problemas econômicos. Suas instruções eram para desenvolver, junto dos Cubanos, a produção e distribuição das redes no Chile e depois expandir esta rede para a Argentina e para o Brasil. Quando Lhotsy retornou para a Checoslováquia em 1967, ele foi premiado com o prêmio "Ordem da Estrela Vermelha" pelo seu ótimo trabalho construindo a rede de drogas no Chile.

Uma das principais contribuições de Cuba na operação de drogas no Chile - identificado pelo relatório da Administração para Aplicação de Políticas de Drogas - foi o recrutamento do senador marxista Salvador Allende, que mais tarde se tornaria presidente do Chile. Allende foi também presidente da Conferência Tri-Lateral. Ele propôs a criação da OLAS - Organização de Solidariedade na América Latina - como uma "unida frente advogando a revolução armada" e foi eleito como seu primeiro líder. Durante a presidência do Allende, o tráfico de drogas floresceu no Chile. Em 1973, as autoridades dos EUA mensuraram que US$309 milhões em cocaína foram produzidas em laboratórios Chilenos.

Na Argentina, as operações de drogas da Checoslováquia foram estabelecidas por um dos seus principais agentes, Oldrick Limbursky, que estava alocado na Argentina como um representante de uma companhia de exportação Tcheca. Ele construiu a rede de drogas na Argentina e depois a expandiu para o Brasil.
Resumindo, os Cubanos foram extremamente eficientes em estabelecerem as operações por toda a América Latina. Tanto Fidel como o Raul Casto eram entusiastas e se esforçaram para que as atividades expandissem muito mais rápido do que os Soviéticos achassem prudente. A primeira visita do Fidel Castro a Checoslováquia foi bastante notável neste aspecto. Sua visita coincidiu com uma posterior visita a Moscou e logo em seguida com a Crise dos Mísseis em Cuba. Ele estava perturbado, para não dizer coisa pior, e gastou mais de dez dias reclamando que os principais líderes Soviéticos não o consultavam para nada. Logo em seguida ele voltou para a Checoslováquia.

As conversas com Fidel eram em sua maioria complicadas, Sejna explica. Fidel achava que podia destruir o capitalismo de um dia para outro. Ele queria utilizar a rede criminosa para a revolução e usar todo o conhecimento das pessoas que já estavam corrompidas pelas drogas, que estavam chegando pelas operações secretas Cubanas, para aumentar a venda das drogas. “As drogas irão nos ajudar”, Sejna lembra do Fidel gostava de enfatizar, “na nossa defesa, para obtenção de dinheiro e para liquidar o capitalismo”. Fidel era completamente empenhado. Este episódio, na verdade, era uma das razões que os soviéticos o tinham mais como um Anarquista do que como um Comunista. Os oficiais checos tiveram muito trabalho para convencê-lo que ele precisava se preparar para os próximos 20 anos e não somente para o dia seguinte. Não é possível, eles lembravam, trocar toda a geração mais antiga. Nós podemos corrompê-los e explorá-los utilizando o crime para obter mais informações e para influenciar as decisões. Mas o foco para a mudança significativa precisa ser nas gerações mais jovens. Essas são as pessoas que precisamos trabalhar para mudar o exército, para retardar o desenvolvimento científico e para influenciar as lideranças governamentais. Por isso, a juventude americana foi selecionada como principal alvo da ofensiva com as drogas.

Para conseguirem comunicar as estratégias mais importantes e da melhor maneira possível para o Fidel, os oficiais Checos organizaram um relatório detalhado sobre a estratégia do Khrushchev da “coexistência pacifica”, a mesma que foi desenvolvida e explicada para os mais importantes oficiais Checos em 1954; a “coexistência pacífica” não existia para eles virarem amigos dos americanos, mas sim para leva-los à destruição mais rapidamente. Toda a operação foi feita para que o Fidel conseguisse entender que deveria utilizar as estratégias das drogas totalmente integrada à estratégia geral, e que por isso, não fazia sentido isolar as operações com as drogas e tratar o tráfico de drogas como uma operação independente. O tráfico de drogas foi pensado como uma parte importante na coordenação da estratégia geral, e era fundamental que o Fidel conseguisse entender a importância desta operação no longo prazo, que era, na verdade, a sistemática destruição do capitalismo.

Além da produção e do tráfico, Cuba também se envolveu em pesquisa e desenvolvimento de novas drogas. No inverno de 1963, um substituto do Raul Castro foi para a Checoslováquia para conseguir ajuda em forma de equipamentos para produzir drogas na Colômbia a para produzir drogas sintéticas como parte de um experimento em Cuba. O equipamento foi pego por Raul Castro somente em 1964, quando ele parou em Praga após uma visita a Moscou. Logo após isso, o chefe do Departamento de Saúde da Checoslováquia, o coronel-general Miroslav Hemalla acompanhado de dois subordinados e dois técnicos, voou para Cuba para assinar um tratado de cooperação na área Médica (apenas um disfarce para pesquisas utilizando drogas), para ensinar os Cubanos a operar as máquinas, e para instruir o Fidel a começar a produção de drogas na República Dominicana. Está tática fazia parte da estratégia Soviética de sempre produzir as drogas o mais localmente possível, ao invés de transportá-las da União Soviética e do Leste Europeu. Os Cubanos deviam ser utilizados como os operadores, para manter os Soviéticos “limpos”.

Seguindo estas e outras medidas para penetrar nas organizações criminosas e para instalar as operações de Cuba por toda a América Latina, os Soviéticos ordenaram outra operação de backup e outras redes de distribuição por toda a região – esta organizada diretamente por serviços selecionados do Leste Europeu. O primeiro alvo da Checoslováquia foi a Colômbia. Para começar as operações, os Soviéticos recomendaram que os Checos deveriam contratar um dos principais indivíduos da rede Cubana na Colômbia, um militar aposentado que se apresentava pelo nome de Kovaks. O codinome desta operação secreta na Colômbia foi “Pirâmide”, que tinha a ideia de confundir as pessoas como se fosse uma operação do Oriente Médio. O oficial Checo em cargo desta operação foi o primeiro substituto do gabinete do Ministério do Interior. Logo após esta operação, ele foi nomeado Ministro do Interior. Por incrível que pareça, muitos do Ocidente nem sequer percebiam que a função do Ministro do Interior não era tomar conta dos rios e parques, o que acontece na maioria dos países ocidentais, mas sim da “segurança interna”, ou seja, inteligência civil e operações secretas. 

Kovaks viajou à Checoslováquia em abril de 1964 com um plano de uma nova operação que deveria ser aprovada pela inteligência Checoslováquia. Para disfarçar a sua viagem, ele foi primeiro ao México, onde na embaixada Checa ele conseguiu um passaporte falso. Do México ele voou para Viena, onde ele conseguiu um passaporte checo que foi utilizado na Terceira parte da viagem.
O plano final que ele trouxe consigo, que iria iniciar novas operações na Colômbia, foi primeiramente levado aos Soviéticos para aprovação. Depois disso, o plano, modificado em última hora para incorporar sugestões soviéticas foi apresentado ao Conselho de Defesa da Checoslováquia. O plano continha várias diretrizes, além de várias estimativas, onde as mais importantes eram:

1.       Com a ajuda para obter os equipamentos necessários, a produção de cocaína começaria em seis meses;
2.       A rede de distribuição estava funcionando em menos de seis meses;
3.       A distribuição começaria nos Estados Unidos e no Canadá. Mais tarde, a distribuição poderia ir para a Europa;
4.       A distribuição seria mantida a distância do mercado interno;

Na apresentação do plano conjunto do Ministério da Defesa e do Ministério do Interior, o ministro da defesa explicou que já haviam sido selecionados doze pessoas para a operação. Dentre esses, oito já haviam possuído permissão para operar por duas vias; primeiro, pelo Partido Comunista da Colômbia, e Segundo por um já antigo agente da inteligência Checa que estava alocado como um oficial de alta patente no Ministério da Segurança da Colômbia. O plano foi unanimemente aceito pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia.

Por causa da operação mais efetiva que estava se desenvolvendo no México, os Soviéticos direcionaram os Checos para infiltrar e ganhar controle da operação. O codinome secreto desta operação foi “Rhine”, para que a operação fosse associada a Europa. O agente Checo selecionado para esta iniciativa foi o Major Jidrich Strnad, que estava operando no México sobre o disfarce de uma empresa de exportação. Seu chefe da Zs era o Coronel Borsky.

Os Cubanos foram especialistas em recrutar Mexicanos para estabelecer a produção e a rede de distribuição e utilizar as informações obtidas através da corrupção para chantagear os oficiais Mexicanos. Os Soviéticos ficavam impressionados, e um dos principais motivos para direcionar a inteligência Checa para infiltrar as operações Cubanos era para aprender os segredos do sucesso no México.

Reconhecendo a posição estratégica do México, os soviéticos direcionaram o estabelecimento de uma segunda operação Checa no México que foi desenvolvida para complementar a iniciativa “Rhine”. O codinome secreto dessa segunda operação foi “Lua Cheia”. Esta campanha teve dois propósitos. O primeiro era para desenvolver uma extensa rede para distribuição de droga dentro dos Estados Unidos. O Segundo era treinar agentes que iriam ser inseridos dentro dos Estados Unidos e Canadá que possuíam instruções para se infiltrar nas redes de distribuição de drogas. Utilizando os seus contatos dentro das redes do México, eles deveriam tomar conta gradualmente das redes dos Estados Unidos e do Canadá. O nome “Lua Cheia” se referre ao fato dos agentes do Bloco Soviético estarem em controle da maior parte dos grupos dos Estados Unidos e do Canadá. México, é bom destacar, sempre foi um alvo importante também da ofensiva Chinesa com drogas.

Com ambos Soviéticos (inicialmente utilizando os Cubanos) e Chineses focando no México, não é de se surpreender que o México é uma das principais rotas do narcotráfico de heroína, cocaína e maconha para dentro dos Estados Unidos.

A inteligência Checa também se envolveu em operações Cubanas no Panamá, sobre o codinome “Pablo”. Uma operação Cubana também foi desenvolvida em El Salvador. Em uma reunião sobre como financiar o Partido Comunista de El Salvador, Sejna lembra que os soviéticos direcionavam os Cubanos para financiar o Partido utilizando os lucros das operações com drogas no próprio país.

Uma operação a parte foi criada para aumentar os “benefícios” daqueles que regularmente procuravam as quentes areias e aguas das ilhas caribenhas, especialmente para tirar proveito da expansão do turismo Caribenho. O segundo secretário do Partido Comunista Francês (um experiente agente da KGB), junto do primeiro secretário do Partido Comunista do Guadalupe, concebeu esta ideia, de distribuir drogas nas rotas turísticas do Caribe. Os seus objetivos eram levantar dinheiro e obter informações que podiam ser utilizadas para chantagear outros membros da burguesia Americana.

Eles ajudaram a estabelecer a operação e proveram recomendações das pessoas aptas a serem recrutadas para operar. A operação foi, mais tarde, entregue a dois oficiais da inteligência Checa, um da inteligência militar e outro do Ministério de Interior. Ambos oficiais eram nascidos na França e falavam o francês fluentemente. Guadalupe era o centro da operação, que servia a ilha de Martinique e eventualmente as outras ilhas do Caribe. O dinheiro levantado por esta operação foi capaz de financiar todas as operações da inteligência Comunista em Guadalupe, Martinique, Suriname, Haiti e boa parte da inteligência Comunista da França.

No início da década de 1960, os soviéticos estavam construindo rapidamente várias organizações pelo América do Norte, América Central, América do Sul e pelo Caribe. Outros satélites soviéticos diretamente envolvidos eram a Checoslováquia, Cuba, Hungria, Alemanha Oriental, Bulgária e a Polônia. A maioria do conhecimento do Sejna era da dimensão da estratégia da parte Checa. As operações dos outros satélites não são lidadas com detalhes por esta análise, porém todos eles estavam profundamente envolvidos nas operações com drogas. Romênia e a Albânia não faziam parte oficialmente da ofensiva Soviética porque os Soviéticos não confiavam na segurança destes dois países. Albânia chegou a pedir para participar citando a sua força na inteligência na área Báltica e do Oriente Médio, porém ao invés de trazer a Albânia para a operação, os Soviéticos decidiram dar o dinheiro para os Albaneses comprarem os equipamentos necessários, para que a Albânia trabalhasse de maneira “independente”.

Países em que o Sejna teve conhecimento direto das organizações que foram estabelecidas na década de 1960 incluem Canadá, México, Panamá, Argentina, Chile, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Uruguai, Paraguai, Peru, Guadalupe, El Salvador, República Dominicana, Jamaica e obviamente os Estados Unidos. Para esta lista deveriam ser adicionados os países onde o crime organizado foi crítico para o narcotráfico. Um exemplo destes países é a Venezuela, país que os Soviéticos decidiram em 1960-61 que seria o centro da organização da máfia, das operações e da lavagem de dinheiro do hemisfério Ocidental.

As drogas inicialmente escolhidas foram o ópio, heroína, morfina, maconha e os sintéticos como o LSD. Enquanto a cocaína não era proeminente na época, em 1961, os Soviéticos, analisando o cenário das drogas, concluíram que a cocaína era, para utilizar umas das frases favoritas deles “a onda do futuro”. Esta revelação veio ao Sejna numa reunião em Moscou em 1964 que foi armada para a discussão e a coordenação de um plano de disfarce. Estavam na reunião, da Checoslováquia, o chefe da Administração Política Principal, o chefe da Zs (inteligência militar) e a principal cabeça da inteligência estratégica, além, é claro, do Jan Sejna. Os soviéticos presentes era o chefe da Administração Política Principal, o chefe da GRU (Inteligência Militar Soviética) e o chefe da inteligência estratégica, e o General Boris Shevchenko, o chefe do Departamento de Propaganda Especial, quem coordenou a reunião.

Foi nesta reunião que Shevchenko introduziu o termo “Epidemia Rosa”. Discutindo o future, ele reforçou o potencial da cocaína. Ela é preferida à heroína, ele explicou, porque ela é de produção mais fácil além de poder ser distribuída para muito mais pessoas do que a heroína. Os Soviéticos estavam tão impressionados com o potencial da cocaína, que, de fato, eles falavam numa epidemia, numa “epidemia branca”. Para “servir e expandir” esta epidemia, Shevchenko explicava, uma produção e distribuição separada era necessária, iniciando imediatamente.

Esta nova operação utilizando a cocaína foi referida e chamada pelo codinome de “Epidemia Rosa”. No início os países que lideraram a produção e distribuição foram a União Soviética, Checoslováquia e Cuba. A Checoslováquia começou imediatamente um programa tecnológica especial para desenvolver a as técnicas necessárias. Esta operação foi operada pela inteligência militar e pelo Departamento de Saúde sob o comando da contra inteligência militar.

As necessárias experiências na produção foram conduzidas num centro de pesquisa ultrassecreto em Milovice. A operação foi facilitada pelos Cubanos, que aprenderam algumas técnicas rudimentares que eram utilizadas na América do Sul e passaram todas as informações para a inteligência Checa. Os cientistas Checos aprenderam e depois evoluíram as técnicas para um modelo de produção em massa de modo mais profissional.


Assim, entre 1960 e 1965, os serviços da inteligência Soviética, diretamente de Moscou, estabeleceram a produção, distribuição de drogas, além de operações de lavagem de dinheiro por todo o Sul, Centro o Norte do continente Americano. Somente as pessoas que passavam por um pesado processo de investigação local podiam fazer parte das operações, que eram discretamente gerenciadas pelo Bloco Soviético ou pelos agentes da Inteligência Cubana, que, na maioria das vezes, eram treinados na União Soviética. Os futuros narcotraficantes de todo o mundo eram treinados em narcotráfico nos centros do Leste Europeu e na União Soviética. Alguns centros adicionais existiam na Coréia do Norte, no Vietnã do Norte e em Cuba. Os graduados viravam agentes do narcotráfico Soviético. Inicialmente o narcotráfico era de heroína, maconha e sintéticos. Porém, com o efeito que começou em 1964, uma rede especial foi criada para servir e expandir a futura epidemia de cocaína.

sábado, 30 de julho de 2011

O Arafat que eu conheço

Ele em nada mudou desde dos tempos em que era um terrorista protegido pela KGB.


por Ion Mihai Pacepa
Wall Street Jounal, Sábado, 12 de Janeiro de 2002


Na semana passada, Israel apreendeu um navio carregando cinquenta toneladas de morteiros, mísseis de longo-alcance e foguetes antitanque destinados à Autoridade Palestina. O navio, Karim A., é propriedade da Autoridade Palestina. Seu capitão e diversos integrantes da tripulação são membros da polícia naval Palestina. Não estou surpreso de ver que Yasser Arafat continua o mesmo terrorista sanguinolento que eu conhecia tão bem durante meus anos no topo do serviço de inteligência da Romênia. Eu estive diretamente envolvido com Arafat no final da década de 60, quando ele era financiado e manipulado pela KGB. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel humilhou doi grandes clientes da União Soviética: Egito e a Síria. Algumas meses depois, o chefe Soviético da inteligência estrangeira, Gen. Alexander Sakharovsky, chegou a Bucareste. Segundo ele, o Krelim tinha incubido a KGB da missão de "consertar o prestígio" dos "nossos amigos Árabes" ajudando eles a organizarem operações terroristas que iriam humilhar Israel. O principal ativo da KGB nessa "joint venture" era o "devoto Marxista-Leninista" Yasser Arafat, co-fundador do Fatah, a força militar Palestina.

Gen. Sakharovsky nos pediu, ao serviço de inteligência da Romênia, para ajudar a KGB a trazer Arafat e alguns de seus guerreiros fedayeen para uma visita secreta na União Soviética passando pela Romênia, para que eles sejam doutrinados e treinados lá. Neste mesmo ano, os Soviéticos conseguiram nomear Arafat para líder da Organização Pela Liberação da Palestina (OLP), com ajuda do ditador egípcio, Gamal Abdel Nasser.

Quando conheci Arafat pela primeira vez, fiquei abismado pela similariedade ideológica dele com o seu mentor na KGB. Arafat só falava que o "imperialismo Sionista" Americano era o "grande mal do mundo" e a única solução para este problema era: "Destruí-los!". Nos anos em que o Gen. Sakharovsky era o principal conselheiro Soviético de inteligência na Romênia, ele costumava dizer com a sua melódica e suave voz que "a burguesia" era o "grande mal do mundo" adicionando que só existia um jeito de acabar com este problema: "Destruí-los". Ele foi o responsável pela morte de 50 mil Romênos. Em 1972, o Krelim estabeleceu uma "divisão de trabalho socialista" para ajudar o terrorismo internacional. Os principais clientes da Romênia neste novo mercado eram a Líbia e a OLP. Um ano depois, um conselheiro de inteligência Romeno que trabalhava na OLP em Beirut, reportou que Arafat e sua tropa da KGB estavam preparando um time chefiado pelo preferido do Arafat, Abu Jihad, de fazer de reféns os diplomata americanos em Khartoum, Sudão e demandar a liberação de Sirhan Sirhan, o assassino Palestino de Robert Kennedy.

"Impeça eles", gritou nervosamente o ditator Romeno Nicolae Ceausescu, quando eu lhe reportei esta notícia. Ele ficou branco como uma folha de papel. Apenas seis meses antes, o intermidiário oficial de Arafat para a Romênia, Ali Hassan Salameh, tinha liderado um time da OLP que fez de reféns uns atletas da Israel na olimpíada de Munique, e Ceausescu ficou com um medo mortal que seu nome fosse relacionado ao caso.

Já era muito tarde para impedir a tropa do Abu Jihad. Algumas horas depois nos soubemos que eles já tinham sequestrados os participantes da recepção diplomática organizada pela embaixada Saudita in Khartoum e estavam pedindo a liberação de Sirhan. Em 2 de Março de 1973, após o presidente Nixon recusar a demanda terrorista, os terroristas da OLP executaram três reféns: o embaixador Americano Cleo A. Noel Jr., seu subistituto George Curtis Moore, e um encarregado Belga Guy Eid. Em Maio de 1973, durante um jantar privado com Ceausescu, Arafat se gabou estusiasticamente desta operação. "Seja Cuidadoso", Ion Gheorghe Maurer, um advogado que estudou no Ocidente que tinha acabado de se aposentar como primeiro ministro, disse a ele: "Não importa quão alta é a sua posição, você ainda pode ser acusado de assassinato e roubo".

"Quem!? Eu!? Eu não tenho nada haver com aquela operação." disse Arafat, piscando maliciosamente.

Em Janeiro de 1978, um representante em Londres da OLP foi assassinado em seu escritório. Logo após disso, a reunião das evidências levava a crer que o crime fora comitido pelo infame terrorista Abu Nidal, que tinha acabado de romper relações com Arafat e tinha começa a sua própria organização. "Aquela não foi uma operação do Nidal, e sim nossa." Ali Hassan Salameh, disse-me, ele era um intermidiário de Arafat na Romênia. Até mesmo o conselheiro de Ceausescu sobre Arafat, que era um bom conhecedor de suas sujeiras, foi pego de surpresa. "Por que matar sua própria gente?", perguntou o Col Constantin Olcescu.

"Nós queremos montar uma espetacular operação contra a OLP, fazendo parecer que foi organizada por grupos palestinos extremados que acusam a direção de ser muito conciliatória e moderada", explicou Salameh. Segundo ele, Arafat chegou até a pedir ao Comitê Executivo da OLP para setenciar Nidal com pena de morte pelo assassinato do representante Londrino.

Arafat fez sua carreira política fingindo não ter participado dos seus próprios atos terroristas. Porém, evidencias contra ele crescem a cada dia. James Welsh, um ex-analista de inteligência para a Agência de Segurança Nacional, disse à jornalista americanos que a ASN tinha secretamente interceptado as comunicações por rádio de Yasser Arafat e Abu Jihad durante a operação da OLP na operação da embaixada Saudita em Khartoum, incluindo a ordem para matar o embaixador dada pelo próprio Arafat. Foi alegado que a conversa foi gravada por, Mike Hargreaves, um oficial da ANS em Cyprus e a transcrição foi mantida num arquivo chamado "Fedayeen". Por mais de 30 anos o governo americano considerou Arafat uma chave para conseguir a paz naquela área. Porém por mais de 20 anos, Washington também, achou que Ceausescu era o único comunista que poderia abrir uma brecha na Curtina de Ferro. Durante a guerra fria, dois presidentes americanos vieram a Bucareste para prestar homenagem à ele. Em novembro de 1989, quando o partido Comunista reelegeu Ceausescu, ele foi parabenizado pelos Estados Unidos. Três semanas depois, ele foi acusado de genocídio e executado, morrendo como um símbolo da tirania Comunista.

Já está na hora do fetiche Americano por Arafat acabar também. A presente guerra contra o terrorismo do presidente Bush provê uma exelente oportunidade para isto.



O Senhor Pacepa foi o maior oficial de inteligência que desertou do bloco Soviético. Ele é autor do livro "Red Horizons" (1987 ).

domingo, 17 de abril de 2011

Red Cocaine - Capítulo 2 - Os Soviéticos decidem competir

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.

Ver demais capítulos.

Red Cocaine - Capítulo 2 - Os Soviéticos decidem competir

Quando a China começou a travar a guerra com drogas e narcóticos no final da década de 1940, sua estratégia foi rapidamente identificada. Vários carregamentos de drogas foram apreendidos e vários dados foram coletados que identificaram as fontes como a República Popular da China, junto com suas rotas de tráfico, técnicas e eventualmente até as principais organizações por trás da produção e distribuição. No caso da União Soviética, dados sobre a operação não ficaram imediatamente disponíveis, talvez provando o cuidado dos soviéticos com a segurança e técnicas de cobertura antes mesmo da ofensiva de Moscou ser lançada. Como será visto, a ofensiva Soviética foi desenvolvida para ser bem mais abrangente que a operação chinesa, e assim que operando, foi intensificada anualmente.

Enquanto a dúbia fama de iniciar uma guerra política em larga escala utilizando drogas vai para o Chineses, foram os Soviéticos quem transformaram o tráfico em efetiva arma política e de inteligência – realização que não levantou praticamente nenhuma desconfiança no Ocidente do envolvimento Soviético. Apenas em 1968 uma fonte apareceu no Ocidente que possuía conhecimento detalhado sobre a ofensiva Soviética com as drogas. A história a seguir é a primeira revelação detalhada do conhecimento desta fonte sobre a guerra das drogas dos Soviéticos.

A fonte em questão é Jan Sejna, que desertou da Checoslováquia para os Estados Unidos em fevereiro de 1968. O Major General Sejna foi um membro do Comitê Central, da Assembleia Nacional, do Politburo e do Partido. Ele também foi um membro da Principal Administração Política, da sua mesa política e membro dos Departamentos Administrativos dos Órgãos. Ele foi Primeiro Secretário do Partido no Ministério da Defesa, onde foi Chefe do Departamento e membro do Colegiado do Ministério. Sua principal posição foi Secretário do poderoso Conselho de Defesa, que é quem toma as decisões em matéria de defesa, inteligência, política exterior e política econômica. Sejna foi um dos principais tomadores de decisões oficiais do Partido. Ele tinha reuniões regulares com os mais altos oficiais na União Soviética e dos países Comunistas.  Ele esteva presente no início, no planejamento e na aplicação das operações de tráfico de narcóticos dos Soviéticos.

A ideia Soviética de usar o tráfico de drogas e narcóticos como uma operação estratégica, Sejna explicou, surgiu durante a Guerra das Coreias. Durante este conflito, os chineses e os norte-coreanos usaram drogas contra as forças militares americanas tanto para minar a eficiência dos oficiais e dos soldados como para lucrar com o processo. Os soviéticos estavam também ajudando os norte-coreanos na guerra, embora em meios não tão óbvios como os chineses.

A guerra propiciou aos soviéticos a oportunidade de estudar a eficiência das forças americanas e seus equipamentos, com a ajuda da inteligência da Checoslováquia. Como parte dessa missão de inteligência, a Checoslováquia construiu um hospital na Coreia do Norte. Ostensivamente criado para tratamento das casualidades da guerra, era na realidade uma instalação para pesquisa, onde doutores checos, soviéticos e norte-coreanos faziam experimentos em prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos. O oficial checo encarregado das principais operações na Coreia do Norte foi o Coronel Rudolf Bobka da Zpravdajska Sprava (Zs), o General-Coronel Professor Doutor Dufek da Administração da Inteligência Militar da Checoslováquia, um especialista em coração, era o encarregado pelo hospital. Seja soube do hospital e de suas atividades diretamente pelo Coronel Bobka, através de vários relatórios e de reuniões que sumarizavam os resultados dos experimentos e usava os resultados em estudos do potencial estratégico militar do tráfico de drogas.

Os experimentos eram justificados como preparativos para a próxima guerra. Prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos eram usados como cobaias em: experimentos de guerra química e biológica; em testes de resistência fisiológicos e psicológicos; e em testes da eficácia de várias drogas para controle mental, que eram utilizadas para fazerem os americanos renunciarem a América e falar em benefício do sistema comunista.

Para entender melhor os efeitos biológicos e químicos nos soldados americanos e sul-coreanos, autópsias foram realizadas em cadáveres capturados e nos prisioneiros de guerra que não sobreviveram a diversos experimentos. Durante esta atividade, os doutores soviéticos determinaram que um altíssimo percentual de jovens soldados sofreu prejuízos cardiovasculares, que eles referiam como “pequenos ataques cardíacos”.
O serviço de inteligência soviético ao mesmo tempo em que estava estudando a operação chinesa de tráfico de drogas declarou que os jovens soldados americanos eram o grupo mais propício ao uso de drogas pesadas. Os doutores soviéticos perceberam a correlação e criaram a hipótese que um dos fatores que provavelmente contribuiu para as doenças do coração foi o abuso de drogas.

Notícias do efeito debilitante das drogas chamaram a atenção do líder Soviético, Nikita Khrushchev. O tráfico de drogas e de narcóticos, ele imaginou, deveria ser visto como uma operação estratégica para enfraquecer o inimigo, ao invés de meramente como uma ferramenta financeira e de inteligência. Assim, ele ordenou uma operação conjunta dos civis com os militares. Um estudo soviético e checo para examinar o efeito total do tráfico de drogas e narcóticos na sociedade Ocidental; incluindo seus efeitos no trabalho, na educação, nos militares (o principal alvo na época) e seu uso como apoio as medidas de inteligência soviética. Esse estudo não foi abordado nem como uma questão tática nem como uma simples oportunidade que pode ser explorada. O potencial dos narcóticos foi examinado em um contexto de uma estratégia de longo-prazo. Custo e risco, benefícios e retornos, integração e coordenação com as operações foram examinadas. Até mesmo o efeito das drogas em várias gerações foi analisado pelos cientistas da Academia de Ciências Soviética.

As conclusões do estudo foram: o tráfico seria extremamente eficiente; os alvos mais vulneráveis eram os Estados Unidos, a França e a Alemanha Ocidental; e que os soviéticos deveriam capitalizar com esta oportunidade. Esse estudo foi aprovado pelo Conselho de Defesa Soviético no final de 1955 e início de 1956. A principal orientação do Conselho de Defesa na aprovação da ação foi direcionar os planejadores para acelerar o calendário de eventos, que foi possível, pois certa experiência com narcóticos já existia no serviço de inteligência soviético, mas que era desconhecido para as pessoas que prepararam o estudo. Esse plano foi formalmente aprovado quando os soviéticos decidiram começar a traficar narcóticos contra os chamados burgueses, especialmente contra os “capitalistas americanos” – o “principal inimigo”.

Além disso, o estudo apareceu na época mais propícia para os comunistas porque, simultaneamente, os soviéticos sob o comando de Khruschev estavam trabalhando para modernizar o movimento revolucionário mundial. Khruschev acreditava que o crescimento tinha estagnado sob Stalin e ele queria um rejuvenescimento que iria tirar vantagem das novas condições globais.

A estratégia soviética da guerra revolucionária é uma estratégia global. A estratégia soviética dos narcóticos é apenas uma parte desta estratégia global e é mais bem compreendida neste contexto. Normalmente se acha que o alvo principal desta atividade é o terceiro mundo, porém este não é o caso. Tanto as estratégias como as táticas soviéticas foram desenvolvidas para o mundo inteiro, onde os principais setores eram as nações desenvolvidas e o principal alvo, os Estados Unidos.

A nova estratégia revolucionária tomou forma entre os anos de 1954 e 1956. Como detalhado por Sejna, existiam 5 principais frentes da estratégia modernizada. Primeiro foi um treinamento melhorado dos líderes dos movimentos revolucionários – os civis, os militares e os de inteligência. A fundação da Universidade de Patrice Lumumba em Moscou é um exemplo de uma das primeiras medidas para modernizar o treinamento dos líderes revolucionários soviéticos.

O segundo passo foi o treinamento dos terroristas. O treinamento para uma rede internacional de terroristas começou, na verdade, por trás do slogan “Luta por Liberação”, dentro da estratégia de descolonização do Comintern. O termo “liberação nacional” foi criado para substituir o movimento de guerra revolucionária por duas fachadas: uma para prover uma capa de nacionalismo para o que era uma basicamente uma operação de inteligência soviética; e outra para prover um nome que era semanticamente separado do movimento revolucionário comunista.

O terceiro passo foi o tráfico internacional de drogas e narcóticos. Drogas foram incorporadas a estratégia para travar a guerra revolucionária tanto como uma arma política e de inteligência contra a “sociedade burguesa”, tanto como um mecanismo para recrutar agentes de influência por todo o mundo.

O quarto passo foi infiltrar as organizações criminosas e, mais tarde, estabelecer os Blocos Soviéticos que eram patrocinados e formados por redes dessas organizações criminosas por todo o mundo.
O quinto passo era planejar e preparar a sabotagem em escala mundial. A rede para essa atividade foi montada em 1972.

Por causa da proximidade do crime organizado e dos traficantes, a entrada dos soviéticos no crime organizado merece uma atenção especial. As decisões de Moscou para o crime organizado foram feitas em 1955. Essa foi também uma operação global apontada para todos os países, não somente os Estados Unidos, apesar de que o crime organizado nos Estados Unidos, além da França, Inglaterra, Alemanha e Itália foram os principais alvos.

A principal razão para infiltrar o crime organizado foi porque os soviéticos acreditavam que informação de alta qualidade – informação sobre corrupção policial, dinheiro e negócios, relações internacionais, tráfico de drogas e contra inteligência – seria facilmente encontrado no crime organizado. Os soviéticos perceberam que se eles infiltrassem com sucesso o crime organizado, teriam acesso a uma promissora maneira de controlar muitos políticos e teriam acesso as melhores informações sobre drogas, dinheiro, armas e diversas categorias de corrupção. Um motivo secundário foi utilizar o crime organizado como uma cobertura para a distribuição das drogas.

No caso do tráfico de drogas, os soviéticos formaram grupos de estudo para analisar o crime organizado: identificar os principais criminosos, desenvolver estratégias e táticas para infiltrar nesses grupos, identificar quais pessoas poderiam ser usadas para promover essa infiltração e para examinar a possibilidade da utilização de novas frentes criminosas. Na Checoslováquia, esses estudos duraram seis meses e foram levados a sério; eram operações envolvendo os principais oficiais da inteligência, da contra inteligência militar e civil e órgãos administrativos do Comitê Central.

O primeiro plano foi posto em prática em 1956. Foi dada a Checoslováquia as direções das operações que deveriam ser empreendidas como parte do plano de inteligência, que foi revisto e aprovado no final do outono deste ano. O plano instruía o serviço de inteligência estratégica da Checoslováquia para infiltrar dezessete grupos do crime organizado, assim como a máfia na França, Itália, Áustria, América Latina e Alemanha. O partido comunista Italiano foi bastante usado no processo de infiltração. Vinte por cento dos policiais italianos foram membros do Partido Comunista naquela época. Esses membros ajudaram os agentes do bloco soviético a infiltrar a Máfia. Criminosos de guerra, por exemplo alguns alemães, foram coagidos a ajudar os agentes do Bloco Soviético nesse processo, especialmente na América Latina.

A operação Checoslováquia foi bastante bem sucedida e custou uma pechincha. A atividade do crime organizado se desenvolveu em torno da chantagem e da coleta de informação; era uma operação com dois lados. Uma vez infiltrados, os agentes permaneciam por um bom tempo passivos; eles apenas coletavam informações. Então, no momento mais oportuno, essas informações seriam vazadas por motivos políticos – por exemplo, para provocar mudanças revolucionárias, ou para criar uma situação que poderia ser aproveitada pelos Socialdemocratas. Por isso a operação foi organizada dentro da unidade de inteligência estratégica: ela era usada para vantagens estratégicas.

Narcóticos, terrorismo e o crime organizado foram coordenados e usados em conjunto de uma maneira complementar. Drogas eram usadas para destruir a sociedade. Terrorismo era usado para desestabilizar o país e preparar o movimento revolucionário. Crime organizado era utilizado para controlar a elite. Todas essas três linhas eram operações estratégicas de longo prazo e todas as três foram incorporadas no plano Soviético de 1956.

Porém, antes que o tráfico de narcóticos pudesse ser operado, diversas medidas preparatórias eram requeridas. As duas mais importantes eram o desenvolvimento de uma estratégia para a propaganda de disfarce do tráfico de drogas e dos narcóticos e o treinamento das equipes de inteligência. Os soviéticos queriam esconder suas operações dos chineses e em especial do Ocidente, para evitar conflito com a corrente da “coexistência pacífica” do Ocidente e a União Soviética. Como a estratégia dos narcóticos era nova, era preciso a aquisição e o treinamento das habilidades de inteligência. Esse treinamento envolveu, não apenas os soviéticos, como também os agentes de inteligência do Leste Europeu.

Além disso, durante o fim da década de 1950, um programa de pesquisa foi realizado para obter dados quantitativos sobre os efeitos reais das diferentes drogas em soldados, o que envolveu a utilização de soldados soviéticos como cobaias. Como parte desta pesquisa, um programa de espionagem foi iniciado para penetrar os centros médicos e relacionados do Ocidente, especialmente os de natureza militar, para determinar o quanto o Ocidente conhecia dos efeitos de drogas nas pessoas – particularmente os efeitos de uso militar.

Em paralelo, os serviços de inteligência soviéticos foram direcionados a descobrir o quanto os serviços de inteligência do Ocidente conheciam o tráfico de drogas e em quais grupos eles haviam agentes infiltrados. Uma das mais importantes questões tratadas nesse estudo foi a capacidade dos serviços de inteligência do Ocidente de monitorar a produção e distribuição das drogas. Muitos anos mais tarde, Sejna descobriu os resultados desse estudo diretamente do Chefe Agente Geral da União Soviética, Marechal Matvey v. Zakharov.

Zakharov disse que o serviço soviético concluiu que a inteligência e a contra inteligência dos Estados Unidos era cega, o que facilitava muito a operação soviética. As operações de inteligência dos Estados Unidos, juntos dos britânicos, estavam todas concentrada no tráfico de narcóticos vindos da Tailândia e de Hong Kong, onde existia tanta atividade com drogas e corrupções associadas que nenhuma informação do tráfico soviético poderia ser coletada. O “ruído” era simplesmente muito grande.

Durante os estudos, o uso de narcóticos e drogas ganhou reconhecimento de uma arma especial na guerra química. Na Checoslováquia, a pesquisa de drogas e narcóticos foi formalmente adicionada no planejamento militar, como um braço da pesquisa sobre guerra química. Essa pesquisa incluía testes dos efeitos das drogas em desempenho militar – por exemplo, no desempenho de pilotos, estudo que foi realizado no Instituto de Saúde das Forças Aéreas.

Finalmente, o estudo básico sobre o impacto das drogas foi expandido para melhorar a identificação sobre quais grupos seriam alvos. Este estudo foi responsabilidade do Departamento de Políticas Exteriores do Comitê Central da CFSU (Partido Comunista da União Soviética). Era, na realidade, uma análise do cenário político e um estudo de técnicas de propaganda.

Uma das últimas medidas que foram iniciadas antes da operação entrar em prática foi o estabelecimento de centros de treinamento para traficantes de drogas. No caso da Checoslováquia, esses centros foram uma operação em parceria da União Soviética com a Checoslováquia. Existiam tantos centros de treinamento de inteligência civil, que eram administrados tanto por oficiais da KGB (Soviética) e oficiais Checos da Segunda Administração do Ministério do Interior (a Segunda Administração da Checoslováquia era a KGB da Checoslováquia); como centros de treinamento militar, administrados pela GRU (Inteligência Militar Soviética) e seu correspondente Tcheco, a Zs.

Esses planos foram desenvolvidos em 1959, como o General Sejna recorda, e a revisão do Conselho de Defesa dos planos e a decisão de patrociná-los, segundo as instruções do Conselho de Defesa Soviético, aconteceu entre 1959 e 1960.

O centro de treinamento da Zs (inteligência militar) ficava localizado em uma base em Petrzalka na Checoslováquia, no subúrbio da Bratislava, situado perto da fronteira com a Áustria. O centro de treinamento da Segunda Administração ficava localizada perto de Liberec, perto da fronteira com a Alemanha Ocidental.

Cada curso consistia de três meses de intensivo treinamento. Enquanto doutrinação Marxista-Leninista existia, a ênfase era o tráfico de drogas. O curso incluía:

·         A natureza do negócio das drogas, tipos e características;
·         Meios de produção;
·         Organização da distribuição;
·         Mercados das drogas e seus consumidores;
·         Segurança;
·         Infiltração nas redes de produção existentes;
·         Como utilizar a experiência das redes de inteligência.
·         Comunicação com as organizações crimosas de drogas;
·         Como passar informação de inteligência; e,
·         Como recrutar fontes de inteligência

Nos centros da Zs, dois diferentes grupos foram escalados para o treinamento. O primeiro grupo foi recrutado pelos serviços de inteligência militares e civis. Esse grupo foi estritamente para “criminosos“ comuns – os participantes não eram nem comunistas nem tinham motivações ideológicas. “Criminosos” está entre aspas pois era isso que o curso visava formar. Porém todos os participantes eram escolhidos a dedo para ter certeza que todos possuíam fichas limpas; ou seja, todos eles não tinham antecedentes criminosos ou passado corrupto que poderiam torná-los suscetíveis a chantagem por outros partidos. Normalmente, eram filhos ou filhas de pessoas no poder. Essas pessoas e o seu risco associado eram normalmente levantadas nas discussões no Conselho de Defesa da Checoslováquia.

O segundo grupo eram pessoas recomendadas pelos Primeiros Secretários dos diversos Partidos Comunistas ao redor do mundo. Esses eram comunistas considerados leais a causa. Eles também eram severamente espionados pelo serviço de contra inteligência antes de serem admitidos para o curso. Seu treinamento era ligeiramente diferente, porque seu tráfico também teria interesse político e porque operavam e se comunicavam por canais especiais (o Partido ou o Serviço de Inteligência). Seu tráfico e treinamento eram especialmente orientados para dar suporte ao Primeiro Secretário do Partido Comunista local; por exemplo, comprometer os líderes da oposição.

Além disso, os instrutores Checos e os Soviéticos normalmente proviam dois instrutores para cada curso que possuíam experiência prática. Normalmente eram da América Latina ou outros que falavam Espanhol de maneira fluente. Esses instrutores apresentavam seminários lidando com problemas práticos e experiências reais.

Como indicado acima, esses cursos duravam em torno de três meses, ou seja, quatro grupos por ano. O primeiro grupo a fazer o curso da Zs na Checoslováquia foi pequeno – sete futuros traficantes, sendo eles: quatro da América Latina, dois da Alemanha Ocidental e mais um sendo Italiano ou Francês, como lembra o Sejna. Em 1964, o tamanho do grupo aumentou para quatorze, e ao final da década de 60, vinte foi alcançado. Assim um total de trinta estudantes foi treinado apenas no primeiro ano no centro da Zs na Checoslováquia e por volta de 1968 já eram 80 formados.

O tamanho do centro da Segunda Administração foi similar. Centros similares de treinamento também existiam na Bulgária, Alemanha Oriental e na União Soviética. E por volta de 1962-1963, a Checoslováquia foi orientada pela União Soviética para ajudar a Coreia do Norte, o Vietnam do Norte e Cuba para estabelecer centros de treinamento. Imaginando que todos os centros possuíam o tamanho mínimo e cada um operando perto de sua capacidade, e que nenhum outro centro existia ou foi adicionado após a saída do Sejna, o número de formados passou de 25.000.

Esses estudantes que prestaram o curso nos centros da Checoslováquia foram principalmente da América Latina, Europa Ocidental e partes do Oriente Médio, Canadá e Estados Unidos. O foco da Bulgária era o Oriente Médio e o Sudeste da Ásia – Turquia, Afeganistão, Paquistão, Líbano e Siria. Alemanha Oriental focava na Europa Ocidental e nos Países Escandinavos, e todos os países do Oriente.

O curso era de graça, com todas as despesas pagas. Os formados retornavam aos seus respectivos países e começavam a aplicar suas novas habilidades. Algumas desenvolveram operações independentes e alguns cooperavam com operações correntes. Os que desviaram e tentaram mudar de lado eram mortos. Todos eles retornavam um percentual a União Soviética, que repassava o dinheiro aos serviços de inteligência dos países satélites que faziam os treinamentos. No caso da Checoslováquia, o repasse era de 30% do que União Soviética recebia.

A formação desses centros de treinamento completou a preparação para a estratégia das drogas. Essas atividades – desenvolvimento estratégico, treinamento, pesquisa, espionagem e análise de mercado – foram as principais atividades da primeira ofensiva Soviética com as drogas no final da década de 1950. Onde existiam operações de inteligência envolvendo tráfico real era apenas uma sondagem inicial. O tráfico real, da perspectiva do Sejna, não começou até o ano de 1960, quando a propaganda estratégica começou, os agentes de inteligência estratégicos foram treinados e as escolas de treinamento formaram inúmeros traficantes de drogas.