quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ano de 1961: os soviéticos, graças a ajuda da StB e da KGB, reataram as relações diplomáticas com o Brasil




Original: https://www.facebook.com/notes/stb-no-brasil/ano-de-1961-os-sovi%C3%A9ticos-gra%C3%A7as-a-ajuda-da-stb-e-da-kgb-reataram-as-rela%C3%A7%C3%B5es-di/615779835247839

Janeiro a maio de 1961 foi o palco da ação em que figuraram como protagonistas o serviço de inteligência da Tchecoslováquia, a StB (em tcheco, Státní bezpečnostní), e sua residentura (base do serviço de inteligência no estrangeiro) no Rio de Janeiro. O objetivo: o reatamento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética.

Essas relações estavam rompidas desde o ano de 1947. Enquanto a Tchecoslováquia as mantinha relativamente normais com o Brasil, os soviéticos atuavam em um campo de ação limitado. A Revolução Cubana atraiu atenção para o potencial da América Latina e, por isso, foram obrigados a concentrar suas atividades no maior país daquela região.

Para os soviéticos, não era suficiente estar no controle total das atividades do serviço de inteligência “tcheca”; eles também desejavam estar presentes legalmente. A tarefa de estabelecer novamente as relações diplomáticas foi confiada a um homem que parecia ser “um predestinado”. Esse homem exerceu influência direta sobre o governo de Cuba, e inclusive tornou-se amigo pessoal de Fidel e Che Guevara. Ele era um oficial da KGB e também teve bons relacionamentos pessoais com o novo (a partir de janeiro de 1961) presidente brasileiro Jânio Quadros, que o conheceu em 1959, quando foi seu guia e tradutor em uma visita que fez a Moscou e Leningrado.

Na oportunidade, Jânio Quadros esteve na URSS como um político de oposição. Esse oficial da KGB, mesmo cumprindo um papel muito importante em Havana, durante a crise no Caribe, foi chamado às pressas a Moscou, onde Nikita Sergeyevich Khrushchev (Secretário Geral do Partido Comunista da URSS) lhe confiou uma importante missão: “Você irá ao Brasil!”. Mas, para que a missão obtivesse sucesso, era necessário “incluir” nela os “tchecos”, pois eles já possuíam, na época, um certo domínio do “terreno” e ainda tinham um contato (trata-se aqui de contato legal) no gabinete presidencial.

Os “tchecos”, então, ajudaram a obter o visto para este que talvez tenha sido o primeiro cidadão soviético a visitar legalmente o Brasil desde o ano de 1947. Além disso, foram apanhá-lo no aeroporto, ajudaram-lhe a se alojar no hotel “Miramar”, no Rio de Janeiro, e inclusive a se vestir (no relatório da base da StB do Rio de Janeiro está escrito que lhe ajudaram a comprar um paletó, outras peças de roupa e uma mala), ajudaram ainda a trocar dinheiro em casa de câmbio etc. Depois lhe compraram uma passagem aérea até Brasília (capital), onde deveria encontrar-se com o Presidente Quadros, que, em 1959, havia lhe garantido pessoalmente que quando precisasse “receberia o visto na hora”.

Bem, não foi o que ocorreu, pois sem a ajuda dos agentes da StB, ele não teria recebido o visto. Os “tchecos” levaram um mês para conseguir o documento. Mesmo depois de o oficial da KGB em questão, com “disfarce” de jornalista, ter chegado ao Brasil, a audiência com o presidente ainda não era certa. Os “tchecos”, graças ao seu contato (contato legal, insista-se) no gabinete presidencial (o chefe do departamento cultural - esse funcionário possuía o codinome de MOGUL e como possuía uma visão católica e conservadora e, além disso, era uma pessoa de ótima situação financeira, não servia para ser recrutado como agente), conseguiram rapidamente que fosse atendido pela “eminência parda” de Jânio Quadros, seu secretário pessoal, o Dr. José Aparecido de Oliveira. Isso porque, por uma questão de má sorte, no dia em que o enviado soviético chegou à capital, o presidente precisou viajar por alguns dias. A data do próximo encontro fora então marcada para o próximo dia 5 de maio de 1961.

Assim, Alexander Ivanovich Alexejev (seu sobrenome verdadeiro era Shitov, em russo cirílico, Шитов Александр Иванович, latino, Alexandr Ivanovich Shitov) após regressar ao Rio para depois decolar novamente para a capital Brasília, encontrou-se com o presidente brasileiro Jânio Quadros. A conversa trouxe o efeito esperado e, ao final daquele ano, as relações entre Brasil e URSS foram restabelecidas oficialmente.




A foto acima é do ano de 1963; visita de Fidel Castro à URSS, o homem de óculos à direita de Fidel Castro é Alexejev