domingo, 30 de outubro de 2011

O homem da KGB

By Ion Mihai Pacepa
The Wall Street Journal, Segunda-Feira, 22 de Setembro de 2003

http://online.wsj.com/article_email/SB106419296113226300-H9jeoNjlaZ2nJ2oZnyIaaeBm4.html

O governo de Israel votou para expulsar Yasser Arafat, chamando-o de obstáculo para a paz. Porém, o velho líder palestino de 72 anos é muito mais do que isso; ele é um terrorista de carteira assinada, treinado, armado e financiado pela União Soviética e seus satélites por décadas.

Antes de eu deserdar da Romênia para a América, deixando meu cargo de chefe da inteligência Romena, fui o responsável por dar ao Arafat, todo santo mês por toda a década de 70, uma quantia em torno de $200,000. 00 em dinheiro lavado. Também enviei dois aviões de carga carregados com uniformes e suplementos por semana para Beirute. Outros blocos soviéticos também faziam o mesmo. Terrorismo tem sido extremamente lucrativo para Arafat. De acordo com a revista Forbes, hoje ele é o sexto mais rico do mundo na categoria "Reis, Rainhas e Déspotas", com mais de 300 milhões de dólares nos bancos suíços.

"Eu inventei o sequestro de aviões de passageiros", se gabava Arafat quando eu o encontrei pela primeira vez no quartel da PLO (Organização pela Libertação da Palestina – Palestine Liberation Organization) no início da década de 1970. Ele gesticulava em direção a uma pequena bandeira vermelha presa a um mapa-múndi preso numa parede que continha Israel nomeada como Palestina. "Ali estão todos eles" me disse de maneira orgulhosa. A dúbia honra de sequestrar aviões, na verdade, vai para KGB que primeiro sequestrou um avião de passageiros dos EUA em 1960 para Cuba. A inovação de Arafat foi transformar o avião sequestrado numa bomba suicida, um conceito de terror que culminou nos atentados de 11/9.

Em 1972, o Kremlin elevou a prioridade do Arafat e da sua rede de terror na lista de prioridade, incluindo a minha lista. A tarefa de Bucareste era de integrá-lo com a Casa Branca. Nós éramos o bloco com maior experiência nisso. Nós já tínhamos grandes sucessos em fazer Washington - assim como os acadêmicos esquerdistas da moda - acreditarem que Nicolae Ceausescu era, como Josip Broz Tito, um comunista "independente" e "moderado".


O chefe da KGB, Yuri Andropov, em fevereiro de 1972 riu sobre o gosto dos Yankees com celebridades. Nós transcendemos os cultos Stalinistas de personalidade , mas aqueles americanos loucos ainda eram iniciantes o suficiente para reverenciar líderes nacionais. Nós transformaríamos Arafat numa figura central e gradualmente moveríamos a PLO cada vez mais para perto do poder e do Estado. Andropov achava que o Vietnã - o desgaste da guerra faria que os Americanos aceitassem o menor dos sinais de conciliação para promover Arafat de terrorista para um homem de Estado na esperança pela paz.

Logo após aquela reunião, eu recebi a ficha pessoal que a KGB fez do Arafat. Ela era um burguês egípcio que se tornou um devoto marxista pela inteligência da KGB. A KGB o treinou na escola de operações especiais da Balashikha (ao leste de Moscou) e no meio da década de 1960 decidiu treiná-lo como o futuro líder da PLO. Primeiro, a KGB destruiu todos os documentos oficiais sobre o nascimento de Arafat em Cairo, os substituindo por documentos fictícios de que ele teria nascido em Jerusalém e portanto era um palestino por nascimento.

O departamento de desinformação da KGB então trabalhou no tratado do Arafat chamado "Falastinuna" (Nossa Palestina), originalmente com quatro páginas, transformando-o numa revista mensal de 48 páginas para a organização terrorista palestina Al-Fatah. Arafat tem chefiado a Al-Fatah desde 1957. A KGB distribuiu esta revista pelo mundo árabe e pela Alemanha Oriental, que naquela época abrigava diversos estudantes palestinos. A KGB era adepta a publicar e distribuir revistas; ela tinha diversos periódicos similares em várias línguas para suas organizações principais na Europa ocidental, como a "World Peace Council" e a "World Federation of Trade Unions".

Depois, a KGB deu a Arafat uma ideologia e uma imagem, assim como fez com as organizações comunistas internacionais que eram julgadas leais. Um elevado idealismo não agradava as massas no mundo árabe, por isso a KGB moldou Arafat como um intenso antissemita. Eles também selecionaram um herói pessoal para o Arafat - o grande Mufti Haj Amin Al-Husseini, o homem que visitou Auschwitz no final da década de 1930 e reprovou os alemães por terem matado poucos judeus. Em 1985 Arafat pagou uma homenagem ao Mufti, dizendo que era um orgulho sem fim seguir os passos do Mufti.

Arafat é uma importante cobertura para as operações da KGB. Logo após a Guerra dos Seis Dias em 1967 entre os árabes e Israel, Moscou agendou uma reunião com o chefe da PLO. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser, uma marionete soviética, foi quem marcou esta reunião. Em 1969, a KGB pediu que Arafat declarasse guerra contra o imperialismo-sionista americano durante o primeiro encontro Black Terrorist International, uma organização neofacista e pró-palestina financiada pela KGB e por Moammar Gadhafi da Líbia. Arafat, mais tarde proclamou que ele inventou a guerra contra o imperialismo-sionista. Na verdade, imperialismo-sionista foi uma invenção de Moscou, uma adaptação moderna dos "Protocolos dos Sábios de Sion", uma ferramenta de longa data da inteligência Russa para espalhar ódio étnico. A KGB sempre utilizou antissemitismo e anti-imperialismo como uma rica fonte de antiamericanismo.

O arquivo da KGB sobre o Arafat continha também que no mundo árabe, somente pessoas com extraordinário talento para enganar poderiam alcançar um alto status. Nós romenos éramos direcionados a ajudar o Arafat a melhorar "seu extraordinário talento em enganar”. O chefe da inteligência estrangeira da KGB, General Aleksandr Sakharosvy, nos ordenou que encobríssemos as operações terroristas do Arafat, enquanto ao mesmo tempo construíssemos sua imagem internacional. "Arafat é um grande estadista", sua carta concluía, "e nós devemos utilizá-lo bem". Em março de 1978 eu secretamente trouxe Arafat para Bucareste para umas instruções finais de como se comportar em Washington. "Você simplesmente deve continuar fingindo que vai quebraras relações com os terroristas e que vai reconhecer Israel -- de novo, de novo e de novo..." Ceausescu lhe disse pela enésima vez. Ceausescu ficou eufórico ao falar que tanto ele quanto Arafat poderiam ganhar o Prêmio Nobel da Paz com suas falsas imagens.

Em abril de 1978 eu acompanhei Ceausescu até Washington, onde encontramos com o presidente Carter. Arafat, ele encorajou, transformaria sua brutal PLO em um reino das leis e numa espécie de governo-em-exílio se os EUA conseguissem estabelecer relações oficiais com Arafat. A reunião fui um tremendo sucesso para nós. Carter cumprimentou Ceausescu, ditador do estado policial mais repressivo do Leste Europeu, de "um grande líder nacional e internacional" que tinha "pego o papel de líder em toda comunidade internacional". Triunfante, Ceausescu trouxe para casa um comunicado que o presidente americano atestava que a relação amistosa com Ceausescu servia a "causa do mundo".

Três meses depois eu fui agraciado com o asilo político pelos EUA. Ceausescu falhou em conseguir o seu Nobel da Paz. Porém em 1994, Arafat conseguiu o dele - tudo porque ele continuou fazendo o papel que lhe tinham dado com perfeição. Ele transformou sua organização terrorista numa espécie de governo-em-exílio (a Autoridade Palestina), sempre fingindo que iria fazer o chamado para o fim do terrorismo palestino enquanto o deixava rolar solto. Dois anos após assinar o Acordo de Oslo, o número de israelenses mortos por palestinos aumentou em 73%.

Em 23 de outubro de 1998, o presidente Clinton concluiu suas observações públicas sobre Arafat o agradecendo por "décadas e décadas e décadas pelo trabalho sem descanso da longa caminhada dos palestinos para serem um povo livre, autossuficiente e possuir uma casa". A administração atual compreende a charada que é o Arafat, mas não irão publicamente apoiar sua expulsão. Enquanto isso, os terroristas consolidaram seu comando na Autoridade Palestina e recrutaram jovens seguidores para mais ataques suicidas.

O Senhor Pacepa foi o maior oficial de inteligência que desertou do bloco Soviético. Ele é autor do livro "Red Horizons" (1987 ).