Mostrando postagens com marcador Red Cocaine. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Red Cocaine. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.

Ver demais capítulos.
Ver pdf completo com as últimas atualizações.

Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

No Ocidente, quando as pessoas falam sobre operações de inteligência, o que eles normalmente têm em mente são operações secretas planejadas por serviços de inteligência, que nem CIA, KGB e a GRU. Este conceito presta um incrível desserviço as operações de inteligência Comunista, que envolve vários agentes, não apenas da KGB e da GRU, e que não são direcionados pelos serviços de inteligência, mas sim pela Conselho de Defesa, pelo Departamento de Órgãos Administrativos ou por outra organização do Partido que seja mais apropriada para a operação. Ou seja, as operações de inteligência são as operações do Partido Comunista designadas para servir aos interesses do Estado, estes que somente o Partido pode estabelecer. O serviço de inteligência não passa de um instrumento estratégico do Partido, novamente em total contraste com os Estados Unidos, que não possuem nada similar. A operação conhecida como "Druzhba Narodov", o capicioso plano do Khrushchev chamado a "Amizade das Nações" é especialmente interessante por conta da visão que nos dá das operações de inteligência dos Soviéticos.

Até mesmo em seu início, na segunda metade da década de 1950, a operação com drogas e narcóticos envolvia muito mais do que agentes da inteligência. Médicos e pessoas relacionadas à medicina também estavam fortemente envolvidas na análise, pesquisa científica e teste dos efeitos das drogas. A principal força motivadora deste esquema vinha do próprio Nikita Khrushchev, o primeiro Secretário (e mais tarde, Geral) do Partido Comunista da União Soviética (CPSU). O plano inicial foi conduzido por uma força conjunta de militares/civis da Tchecoslováquia citada anteriormente. A incorporação da estratégia de traficar drogas dentro da estratégia de segurança nacional foi gerenciada por um comitê especial sobre a direção de Leonid Brezhnev. Este comitê, que existiu entre o outono 1956 e a primavera de 1957, foi o responsável por evoluir a estratégia Soviética e trazê-la para a era nuclear. O escolhido para ser o substituto do Brezhnev foi o Mikhail Suslov, um dos cabeças da ideologia Soviética. Os líderes do Subcomitê foram o Marshal V. D. Sokolovskiy (militar), Dimitryi Ustinov (indústria militar), Boris Ponomarev (assuntos exteriores) e o General Nikolai Mironov (inteligência).

Duas revisões foram feitas na estratégia Soviética de utilizar drogas e narcóticos durante esta reunião. A primeira envolvia o reconhecimento que as drogas poderiam ser uma arma muito eficaz para enfraquecer as forças militares inimigas. A segunda é que as drogas poderiam ser utilizadas para influenciar os líderes burgueses do Terceiro Mundo e os partidos de Social Democracia, porém ninguém estava previamente excluído.

A responsabilidade por analisar o mercado e quem seriam os alvos foi delegada para o Departamento Internacional do CPSU. O Departamento Internacional também estava envolvido na coleta de informação sobre corrupção dos líderes estrangeiros e no seu uso nas operações de chantagem, intimidação e exposição. O departamento também estava fortemente envolvido na propaganda e planejamento, e muito provavelmente foi o responsável pela liberação da informação do tráfico de drogas pelos Chineses.

A Administração Política Principal do Exército e da Marinha, o departamento que mantém um olhar ideológico sobre os militares, também estava envolvido nesta operação de tráfico de drogas desde o início. Já em 1956, o líder da Tchecoslováquia foi informado pelo general Soviético Kalashnik, o ideólogo da Administração Política Principal, sobre uma nova visão de como as drogas e os produtos químicos eram capazes de alterar a mente e o comportamento de milhões de pessoas. Esta era uma das cinco novas armas que eram capazes "destruir o inimigo antes que ele possa nos destruir". As outras armas consistiam em: ofensiva ideológica, que significa propaganda e fraude, política de borda feita sobre medida para separar o Ocidente, isolamento dos EUA, e por último, caos social e econômico. Era totalmente essencial, General Kalashnik explicou, “que os militares deveriam o mais rápido possível entender que existem armar muito mais efetivas do que as convencionais, incluindo as bombas nucleares”.

Uma explicação foi dada por Khrushchev no início do verão de 1963 em Moscou. Durante uma discussão informal, Khrushchev tinha acabado de criticar Marshal Rodion Ya Malinovsky por querer desesperadamente colocar os seus tanques no Ocidente. Depois Khrushchev explicou que os Soviéticos estavam operando estrategicamente simultaneamente em dois níveis, para engajar o Ocidente numa guerra. No primeiro nível estavam a trapaça, a desinformação e a propaganda. No segundo nível estava a destruição do Capitalismo utilizando o seu próprio dinheiro através das drogas. Assim que estes dois níveis tiverem obtido sucesso, Khrushchev enfatizava, "aí sim, você poderá utilizar o terceiro nível, Camarada Malinosvky, os nossos tanques".

Assim que ofensiva Soviética das drogas cresceu e foi ganhando maturidade, a sua organização foi ficando mais complexa - porém a sua direção e o seu segredo continuavam sob estrito controle. Este era outra característica das operações Soviéticas: apenas por que uma operação era expandia, não significava que o seu controle seria perdido. O Concelho de Defesa é um bom exemplo. O concelho continuou pequeno exatamente para não correr o risco de perder a sua direção e nem a sua segurança. Neste ramo das drogas, apesar de várias pessoas estarem envolvidas, apenas umas poucas sabiam a real razão da operação, ou até mesmo o maciço envolvimento dos Soviéticos.

As principais organizações da Tchecoslováquia que participaram neste negócio com as drogas estão listadas na tabela abaixo. A estrutura organizacional aplicada na Tchecoslováquia equipara-se a estrutura que era utilizada na União Soviética. Algumas organizações possuem nomes diferentes, por exemplo: a versão Tcheca do Departamento Internacional Soviético era o Departamento Estrangeiro; o Secretário Geral Soviético era o Primeiro Secretário; e a KGB Soviética era a Segunda Administração que estava sob as ordens do Ministério do Interior. Existiam centros de pesquisa diferentes na União Soviética, e as organizações Soviéticas eram maiores e mais variadas, porém em sua essência as duas estruturas organizacionais eram iguais.

A principal diferença era que as organizações Soviéticas tomavam as decisões estratégicas em escala global, eram maiores, e eram responsáveis pelos outros Partidos Comunistas que não haviam correspondentes na Tchecoslováquia. Esta última distinção é particularmente importante. Por exemplo, importantes ajudas para o desenvolvimento do tráfico de droga na América Latina foram fornecidas pelos Partidos Comunistas locais, que se encontravam todos os anos em Moscou e apresentavam os progressos das operações com drogas, dando recomendações de novas técnicas, mercados e táticas.

Organizações envolvidas com  "Druzhba Narodov" - "A Amizade das Nações":

  • Primeiro Secretário, Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, Comitê Conjunto
    • Estrutura Governamental
      • Ministério do Interior
      • Segunda Administração Estratégica, Rede de Agentes de Intelligência, Contra-Inteligência
      • Administração Financeira
      • Ministro da Defesa
      • Administração da Inteligência (Sz), Rede de Agentes de Inteligência Estratégica, Finanças das Propagandas Especiais
      • Administração de Saúde dos Serviços Logísticos
      • Departamento de Suporte Técnico a Países Estrangeiros
      • Administração Financeira Principal
      • Ministro das Finanças, Seção Militar
      • Academia de Ciências
      • Ministro de Comércio Estrangeiro
      • Ministro do Estrangeiro
      • Administração Militar do Planejamento Estatal
    • Estrutura Partidária
      • Departamento Administrativo
      • Administração Política Principal
      • Departamento do Estrangeiro
      • Departamento de Saúde
      • Departamento de Propaganda e Agitação
      • Departamento Financeiro
      • Departamento de Ciências
      • Alta Escola do Partido
Assim como em todas as importantes operações Soviéticas, o Secretariado Geral não foi apenas informado, mas ele possuía um papel de liderança. Em relação ao planejamento e à direção, o real poder do sistema Soviético residia nos departamentos do Comitê Central. Um dos mais importantes departamentos era o Departamento Administrativo, que era onde tanto o planejamento como o controle das operações com drogas aconteceram, tanto na União Soviético como na Tchecoslováquia. Este provavelmente também foi o também nos outros países satélites.

O Departamento Administrativo exercitava controle e supervisão sobre os serviços de inteligência, sobre os militares e até mesmo sobre a justiça socialista. Assim, era natural que o Departamento Administrativo fosse também o departamento líder nas operações com drogas. Não foi por coincidência que em 1963, quando Khrushchev quis acelerar a ofensiva, ele mandou exatamente o Major General Nikolai Savinkin, diretor do Departamento Administrativo, visitar todos os países envolvidos e passar as instruções necessárias. Analistas ocidentais que queiram compreender a União Soviética devem prestar atenção ao papel do Partido e ao poder do Comitê Central, especialmente ao Departamento Administrativo. Sobre este assunto é importante lembrar que o Savinkin se tornou Diretor do Departamento Administrativo em 1964, sendo o chefe por 23 anos, até 1987. (Porém foi apenas em 1988 que os jornais Soviéticos anunciaram que ele tinha de fato deixado o cargo).

Dentro do Departamento Administrativo existiam oficiais, cuja responsabilidade era, de fato, ficar de olho nas organizações militares e de inteligência. Além disso, alguns dos oficiais políticos que trabalhavam dentro das organizações militares e de inteligência mantinham seus chefes reais, do Departamento Administrativo, completamente informados sobre o que acontecia dentro das suas áreas de responsabilidade dentro desses serviços militares e de inteligência. Por exemplo, Sejna foi o oficial político de mais alta patente no Ministério da Defesa da Tchecoslováquia, e, assim, ele também foi membro da seção militar do Departamento Administrativo. Adicionalmente, em casos de operações especiais (como esta do tráfico de drogas), os departamentos mais importantes ganhavam coordenações especializadas e algumas das funções de controle eram expandidas para outras organizações, ao invés de ficarem limitadas as organizações militares, como no caso do Departamento Administrativo, por exemplo.

Outra organização de importância para manter o controle e a segurança interna era a contra-inteligência. No quartel-general da Inteligência Militar da Tchecoslováquia (Zs), havia uma seção de contra-inteligência, que era na verdade uma seção do Ministério do Interior (KGB na União Soviética) e que tinha um oficial com a responsabilidade de controle no Departamento Administrativo.

Além disso, dentro da contra-inteligência, tanto militar como civil, haviam departamento especiais que supervisionavam as operações de contra-inteligência e reportava tudo para o chefe do Departamento Administrativo. Os Soviéticos não confiavam em ninguém, e a sua estrutura organizacional refletia este princípio. Todo mundo deveria ser controlado por três vias. Existe uma razão principal para isto ocorrer, quando eram descobertos que oficiais de Cuba, Nicarágua, Bulgária ou de outros países Comunistas estavam envolvidos no tráfico de drogas, é muito pouco provável que fosse de fato "apenas alguns poucos oficiais envolvidos". O Partido possuía, com certeza, completo conhecimento do que estava fazendo, e de fato, não apenas aprovava as operações como provavelmente direcionava o que deveria ser feito.

Alguns indicativos da supervisão dos Partidos e da disciplina necessária para as operações com drogas foi o fato que, em 1959, o Chefe da Zs, General Racek, foi demitido após uma inspeção de um agente do Departamento Administrativo. No relatório, o agente criticava o General Racek por não ter escalado seus melhores funcionários no negócio das drogas. Racek falhou em entender o quão importante era o negócio de drogas para as operações de inteligência.

Ambos os serviços de inteligência possuem responsabilidades no negócio com narcóticos. Porém, como a produção era controlada por e dentro dos serviços militares, e como os militares eram os responsáveis por destruir a capacidade de resistência militar da população inimiga, a responsabilidade do tráfico de drogas era maior e residia dentro do sistema militar. A inteligência Civil (Segunda Administração da Tchecoslováquia, um pequeno componente da KGB da União Soviética) ajudava sempre que seus recursos estavam melhor posicionados para a atarefa e onde a inteligência militar, Zs na Tchecoslováquia, não possuía meios para avançar o tráfico de drogas.

A maioria dos agentes envolvidos em operações com narcóticos era gerenciada dentro das seções de Inteligência Estratégica e das organizações de Inteligência Militar. Recrutamento de agentes, treinamento e a própria administração eram todas distribuídas pela rede de agentes, mas as operações de narcóticos eram operadas pela divisão de Inteligência Estratégica. Esta divisão era a responsável por estabelecer as cotas de produção em cada país, sempre respeitando a produção de drogas dentro da Tchecoslováquia; Além disso, ela era responsável pela coordenação e direção da produção fora do seu território, por coordenar todo o transporte, por gerenciar as operações dos agentes, e pelo planejamento geral das operações em outros países.

Contra-inteligência, civil e militar, que possuem como objetivo principal a segurança interna de um país, também foram envolvidas. Suas missões eram particularmente complicadas nas operações estrangeiras, o que demandava a assistência dos Partidos Comunistas estrangeiros e uma aliança estratégica dos agentes de inteligência operando em cada país. Registros financeiros, orçamento e contabilidade eram gerenciadas pelas seções de finanças especiais dentro de cada serviço de inteligência.

No Caso de Cuba, tanta a Zs como a Segunda Administração (mais a GRU Soviética e a inteligência da KGB) ajudaram a organizar as operações relevantes com drogas. Visto de fora foi uma operação conjunta. Como explicado anteriormente, quando Raul Castro estava na Tchecoslováquia num verão de 1960, ele assinou o acordo sobre a assistência junto ao Ministro do Interior (KGB) e ao Ministro da Defesa (GRU). Quando os planos para a expansão das operações de drogas e quando os relatórios sobre o progresso eram apresentados ao Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, as apresentações eram feitas conjuntamente pelo Ministro de Defesa e do Interior.

Também foi criado um comitê conjunto entre o Ministérios de Defesa e do Interior para coordenar as operações de Inteligência. Este comitê decidiu quem operaria os agentes recrutados, quem faria uma determinada operação (tanto civil quanto militar), quem era a melhor opção para trabalhar numa determinada região, etc... Na Tchecoslováquia, um dos presidentes deste comitê foi o Vice-Diretor do Ministério do Interior e o Chefe do Estado-Maior. Outros membros foram o Chefe da Zs e o Chefe da Segunda Administração do Ministério do Interior (chefe da inteligência da KGB na União Soviética), e seus respectivos substitutos nas inteligências estratégicas. Este comitê, ainda na União Soviética, tomou a decisão que no planejamento das operações cada um dos países satélites poderia fazer o trabalho da maneira que achava mais eficiente, por exemplo, poderia escolher qual era o serviço de inteligência mais apropriado, o civil ou o militar.

Em 1950, um grande número de importante organizações foram criadas e ganharam responsabilidades críticas, por exemplo o Departamento de Propagandas Especiais do Gabinete da Administração da Inteligência. Estes departamentos que foram criados reportavam conjuntamente para a Administração de Inteligência e para a Administração Política Central acabaram ganhando papéis especialmente importantes na coleta de dados de indivíduos em países estrangeiros e no controle destes em tempos de guerra. Como fazia parte da missão do Departamento de Propaganda Especiais tanto o planejamento como a divulgação de instruções relacionadas as fraudes políticas, fez total sentido unir a estratégia do uso de narcóticos com a coleta de informações, pois era possível utilizar a corrupção associada ao tráfico para obter informações sigilosas e/ou comprometedoras.

As estratégias de propaganda eram operadas pelo Departamento de Propaganda do Comitê Central e pelo Departamento de Propaganda Especiais. Uma pessoa foi especialmente selecionada (de uma seção especial da União Soviética) do Departamento Administrativo para provier os dados de inteligência derivados dos serviços de inteligência e do Departamento de Propagandas Especiais. Gerando, assim, direções e ordens para a ofensiva da propaganda. No caso das operações de fraude política, novamente várias organizações eram envolvidas, a mais importante delas era a Administração Política Central, o Departamento de Propagandas Especiais, o Departamento do Estrangeiro, e o Secretariado Eleito, que era responsável pela supervisão da maioria das operações de fraude política.

Participaram pesadamente nas pesquisas científicas, militares e de inteligência, tanto os cientistas do Leste Europeu quanto os da União Soviética, incluindo pesquisas sobre o desenvolvimento, produção e análises das consequências do uso de drogas e narcóticos. Na Tchecoslováquia, as principais atividades de pesquisa científica que ajudavam no tráfico de narcóticos eram gerenciadas pela Academia de Ciência e pelos centros de pesquisa científica dos militares. Nas Academias, as principais atividades eram conduzidas no Colégio de Medicina da Universidade Charles e no Colégio de medicina da cidade de Bratislava. Entre os militares, o foco principal era a direção dada pela Administração Médica Militar junta ao trabalho feito pelo Hospital Central Militar, o Centro de Educação Médico Militar, onde os médicos eram de fato treinados, e a Centro Médico das Forças Aéreas.

As atividades das Academias de Ciências eram governadas por planos anuais, quinquenais e de longo prazo (15 anos ou mais). Estes planos possuíam duas partes, uma parte regular e uma parte Ultra Secreta. Os participantes envolvidos na parte secreta que não eram da Academia de Ciência, eram do Departamento Administrativo do Comitê Central, do Departamento de Saúde do Comitê Central, da Administração Militar da Comissão do Plano de Estado, da Administração de Ciência do Ministério da Defesa, da seção de Inteligência Estratégica do Ministério do Interior, do Gabinete da Zs e da seção militar do Departamento Financeiro do Comitê Central.

Os planos e objetivos das pesquisas científicas para desenvolvimento de drogas e narcóticos mais avançadas estavam sempre na parte secreta do plano. Normalmente estes objetivos visavam o desenvolvimento de drogas mais viciantes, que poderiam ser produzidas mais facilmente e que produziriam efeitos debilitantes por um período mais longo. Estes planos sempre eram apresentados junto aos planos de desenvolvimento de armas químicas e biológicas, agentes químicos usados para assassinatos e drogas que visavam o controle mental ou troca de comportamento. Como indicado anteriormente, drogas e narcóticos eram considerados como armas químicas para os Soviéticos.

A análise dos efeitos do tráfico de drogas e narcóticos sobre a sociedade, ou seja, a análise do mercado, era especialmente importante para o bloco Soviético. O mais importante centro de análise era a Academia Política Militar da Administração Política Central. O foco era sempre nas perspectivas militares. A Alta Escola Partidária distribuía PhDs para uma vasta variedade de assuntos, incluindo tantas ciências naturais como humanas. Normalmente 60% do currículo da escola era sobre Marxismo-Leninismo, sendo os 40% restantes focados na especialidade do aluno, por exemplo, biologia. Estes institutos eram especialmente interessantes para programas analíticos e as pesquisas científicas pois eles já possuíam bibliotecas e laboratórios de pesquisa. O grosso da pesquisa científica foi conduzido nestas faculdades.

Também existiam times conjuntos, os membros vinham de todos os países do Bloco Soviético. Estes times eram usualmente direcionados pelos participantes Soviéticos, e em vários casos todo o time era direcionado para alguma universidade ou hospital em Moscou. Através dos anos esta tendência de integração da pesquisa do Bloco Soviético aumentou a ênfase em times de pesquisa localizados em Moscou, provavelmente refletindo os interesses do chefe da KGB, Yuriy Andropov, de manter total controle sobre estas atividades especiais. Como será descrito mais a frente, as atividades de pesquisa científica que ocorreram durante a década de 1960 foram eficientes em produzir drogas que limitavam o desenvolvimento intelectual dos seus usuários. Todos os países envolvidos no Pacto de Warsaw estavam envolvidos neste tipo de pesquisa, incluindo Cuba que foi de fato envolvida a pesquisa do Pacto de Warsaw através da Tchecoslováquia em 1967.

Os serviços de inteligência do Bloco Soviético também possuíam agentes especiais espalhados por todo o mundo, alguns destes, localizados na Europa e no Hemisfério Ocidental de fato não se envolveram no tráfico de drogas, porém observavam com atenção aos seus efeitos. O General Sejna relembra uma sessão especial de treinamento de indivíduo que foi executada na Central de Treinamento para tráfico de drogas da Zs na cidade de Bratislava. O foco das atividades desta sessão eram como analisar as oportunidades de mercado e como recomendar medidas que enganariam as autoridades locais e nacionais sobre a distribuição de drogas. Além disso era ensinado como identificar vulnerabilidades nas organizações policiais e, principalmente, como corromper e comprometer a polícia. Indivíduos que compareceram a estas sessões especiais de treinamento trabalham ou para a inteligência militar ou para a civil. Eles não eram necessariamente Comunistas. Porém eles eram, como o General Sejna observou, todos extremamente inteligentes. Um indivíduo, em particular, era um professor universitário do Canadá.

Estes centros de estudos especiais eram uma importante dimensão das operações Soviéticas. Estas atividades não eram cursinhos, nem feitos de maneira corrida, todos eram treinamento finamente planejados. Óbvio que pequenos cursos poderiam ser dados de tempos em tempos, caso necessário. A ênfase principal destas atividades, que eram contínuas, era envolver cientistas, doutores médicos, propagandistas e especialistas em inteligência de vários dos Blocos Soviéticos. Eles continuamente examinavam as tendências ao redor do mundo, como eles diriam, e identificavam oportunidade e técnicas de expandir o negócio de drogas. Como parte das direções Soviéticas aos países satélites, pontos de contatos específicos eram estabelecidos para garantir que a as operações de inteligência e propaganda dos países satélites receberiam todas as conclusões nascidas das análises de mercado. Isto era necessário para garantir que as melhores idéias possíveis advindas das vulnerabilidades globais e as melhores técnicas de tráfico de drogas estavam sendo empregadas na operação 'Druzhba Narodov'.

Sob o Bloco Soviético existia a organização de coordenação econômica chamada COMECON. Dentro desta existia uma seção sobre saúde, e dentro desta uma subseção militar sobre saúde. Os membros desta subseção eram todos militares da Administração de Saúde dos países do Pacto de Warsaw e, para os Soviéticos, o chefe da Administração Central de Saúde. Este grupo ajudou a coordenar a pesquisa científica e produção de drogas e narcóticos através do Pacto de Warsaw. COMECON, assim como outras organizações Soviéticas, não eram apenas organizações de cooperação econômica. Elas também serviam como disfarce para uma estrutura de comando militar pronta para tomar o comando Pacto de Warsaw em caso deste pacto ser dissolvido. Estes arranjos eram especialmente feitos para permitir que os Soviéticos recomendem a dissolução tanto da NATO como do próprio Pacto de Warsaw sem na verdade afetar em nada o poderio militar do Bloco Soviéticos.

O centro de planejamento central da produção e distribuição das drogas e narcóticos era a Administração Principal da Saúde dos Serviços Logístico na União Soviética. Na Tchecoslováquia, este centro ficava localizado dentro da Administração de Saúde dos Serviços Logísticos.

Distribuição e transporte eram gerenciados pela Administração Principal Técnica no Ministério de Comércio Estrangeiro. Esta administração era uma das mais importantes organizações para as operações de terrorismo e narcóticos. Ela era a responsável pelo transporte e estoque de armas, explosivos e narcóticos. A administração era pesadamente preenchida por oficiais da Zs. Estas organizações controlavam diversas organizações de comércio, tais como: COBOL, CHEMEPOL, AEROFLOT, e logicamente a KINTEX, ou a sua óbvia sucessora na Bulgária, a GLOBUS.

A Administração Técnica Central ganhou, do Concelho de Defesa, a autoridade de contratar organizações estrangeiras para assistência onde necessário, como por exemplo no treinamento de terroristas e outros modos de sabotagem e atividades de guerra revolucionária. Esta administração era, na verdade, uma organização de fachada para as operações de inteligência estratégica. Ela fazia os contratos e coletava as verbas. A administração era preenchida principalmente por oficiais da Zs. A sua organização irmã dentro do Gabinete era o Departamento Técnico de Suporte a Países Estrangeiros, que coordenava a provisão de armas, explosivos, suprimentos terroristas etc... para serem enviados pela Administração Técnica Principal.

Dentro dos países satélites também existia estações de inteligência Soviética, normalmente localizadas nas fronteiras: na Tchecoslováquia, por exemplo, em Karlovy Vary, Liberec, Doupov, Cerchov e Bratislava. Estas estações agiam muito além do seus país de origem. Quando chamadas a agirem, algumas vezes eram ajudadas pelo país de origem. Porém, em operações de inteligência estratégica, como o tráfico de drogas, estas estações agiam sem o conhecimento do país que estavam localizadas.

A movimentação ilegal de produtos através das fronteiras em tempos de paz, por exemplo, permitia que agentes sabotadores pudessem ser movimentados numa situação de crise, sem chamar atenção indesejada. Nesta conexão, é muito útil lembrar que todas estas operações: narcóticos, tráficos, ajuda militar a terroristas e sabotagem, eram gerenciadas pelas organizações de inteligência estratégica, tanto militar quanto civil.

O Bloco Soviético negociou o sistema da TIR (Transportes Internacionais Rodoviários) no Oeste Europeu, para simplificar a alfândega e facilitar o comércio entre países. Sob este sistema, no país de saída o oficial da alfândega sela o frete e assina os documentos necessários. Após esta burocracia, o caminhão pode ser dirigido para qualquer outro país Europeu. Nenhum outro inspetor pode examinar o conteúdo a não ser que aja fortes indicativos que os selos ou os documentos do frete foram adulterados. Este sistema começou em 1940 e expandiu dramaticamente depois de 1949. Este aumento se deu especialmente por causa do Leste Europeu, dentro do Bloco Soviético. Na década de 1970, o percentual do Bloco Soviético neste sistema era de 30%. Já no meio da década de 1980, cresceu para mais de 50%. Este sistema foi utilizado para o transporte de narcóticos e suplementos para terroristas.

O sistema TIR também impedia os oficiais do Ocidente de verificar envios assim que eles eram enviados por outros meios de transporte, navios sendo a alternativa preferida. Para aproveitar este fato, a Tchecoslováquia, e outros países satélites, alugaram uma parte do porto de Hamburgo. Este segmento do porto foi tratado como se fosse território da Tchecoslováquia (ou território dos outros países quando era o caso). As operações e as instalações eram controladas pela Administração Técnica Principal do Ministério do Comércio Estrangeiro. Os Tchecos pagam aluguéis aos Alemães e os navios Tchecos usavam o sistema marítimo de transporte para envio de material das operações de inteligência estratégica, como drogas, armas suplementos para terrorismo e sabotagem. Isto tudo com a garantia de nenhuma interferência ou controle pela alfândega Alemã. Caminhões eram lotados e selados na Tchecoslováquia, dirigidos até os portos na Alemanha fazendo diversas paradas no decurso da viagem. Em cada uma deixava mensagens e pacotes em instalações militares. Apesar deste fato ser do conhecimento dos serviços de inteligência da Alemanha, eles nada podiam fazer pois os caminhões andavam sob a proteção do Acordo entre Alemanha e a Tchecoslováquia. Os países satélites usaram ao máximo os portos de Hamburgo. Inclusive até mais do que outras instalações disponíveis que existiam dentro dos países Socialistas, como por exemplo, na Polônia, pois o Ocidente prestava muito mais atenção na Polônia do que nos portos da Alemanha.

Em 1984, as primeiras evidências deste sistema já eram conhecidas e foram reportadas ao Congresso Americano no Comitê sobre Abuso e Controle de Narcóticos. O relatório dizia: "Metaqualona... tem sido contrabandeada principalmente da Colômbia, onde é transformada em pastilhas usando metaqualone em pó advinda da República Popular da China e da Hungria e sub-repticiamente enviada à Colômbia do porto de Hamburgo."

O uso do sistema TIR para transporte de armas e drogas também recebeu atenção do desertor e chefe da Inteligência Romena, o Tenente General Ion Mihai Pacepa. Ele explicou que a maioria dos motoristas dos caminhões que rodavam na Romênia eram na verdade agentes da inteligência de países estrangeiros. Alguns do DIE, Departamento de Informação Estrangeiras, e que as suas operações eram baseadas no modelo da Bulgária, que também utilizava o TIR como disfarce para transportar armas e drogas para o Ocidente. O DIE, que era gerenciado pelo Pacepa, também utilizava o sistema TIR para:

"... trazer secretamente material de alta tecnologia e equipamento militar para a Romênia, assim como para contrabandear armas não registradas e drogas para o Ocidente. A maioria destes movimentos eram carregadas sobre a proteção internacional dos acordos do TIR e dos selos das alfândegas estrangeiras. Ao longo dos anos todo tipo possível de selo e de documentação usada pelas autoridades dos países Ocidentais foi duplicada pela DIE e mantido para uso e troca caso fossem destruídos no caminho por conta de razões operacionais".

Uma descrição do processo também foi fornecida pelo Tenente General B. C. Berkhof, do Exército Real da Holanda. Ele foi o Chefe do Gabinete das Forças Aliadas da Europa Central da NATO (AFCENT) até 1986. Berkhof disse que existia evidência em abundância do envolvimento da Bulgária e da Alemanha Oriental no tráfico de drogas, e alguma evidência do envolvimento da Tchecoslováquia. Ele confirmou que o sistema TIR era completamente abusado pela KGB e pelos serviços de inteligência do Bloco Soviético, e que diversos especialistas Holandeses acreditavam que 5% de todo o tráfico do TIR era relacionado as atividades de inteligência estratégica. Ele também disse que descobertas similares surgiram na Itália e em outros países Ocidentais.

Assim, poderia parecer que os governos dos países Ocidentais provavelmente soubessem o que estava ocorrendo e ainda sim oficialmente sancionaram o transporte de drogas ilícitas, narcóticos e suplementos terroristas para os seus territórios. Tanto o uso do sistema TIR para transporte de bens ilícitos como uma percepção geral do que vinha ocorrendo em relação as drogas foram explorados no Congresso Americano pelo General Lewis Walt em 1972 durante um interrogatório sobre a rede mundial de tráfico de drogas. Em 1984, a DEA, órgão administrativo relaciona a drogas nos Estados Unidos, reconheceu quando interrogado pelo Congresso dos Estados Unidos que eles já sabiam do uso de caminhões do sistema TIR pelos Iranianos, Turcos e Búlgaros para o tráfico de drogas e outros contrabandos desde 1972. Eles apontaram em torno de 50.000 caminhões que transitavam pela Bulgária e pela Iugoslávia por ano estavam indo ou voltando do Oriente Médio. Destes, a DEA adicionou, aproximadamente metade fazem parte do TIR. A DEA também reportou que os oficiais da alfândega Búlgara estavam todos envolvidos em ajudar o tráfico de drogas.

O processo de tráfico de drogas e narcóticos era, assim como em todos os outros casos de operações de inteligência, incorporados por complete em todos os planejamentos. Primeiro existia um plano de longo prazo, este estabelecia as prioridades, a cooperação necessária entre as agências e organização para o desenvolvimento dos projetos científicos, que aconteciam em paralelo com a produção das drogas e dos narcóticos. O plano também listava os países e suas prioridades na distribuição das drogas. O plano de longo prazo também descrevia como a rede de distribuição em diferentes países deveria ser desenvolvida e como aproveitar as vulnerabilidades locais. Os planos de curto prazo eram mais específicos e focavam nas táticas locais. Eles especificavam com quais grupos locais poderiam ocorrer cooperação, quem eram os agentes a ser utilizado e a agenda de produção e envio.

As verbas eram controladas utilizando seis organizações secretas. O Ministério do Interior e a Administração de Inteligência do Gabinete Central possuíam os seus próprios setores financeiros. Adicionalmente ainda existia a Administração Financeira Central do Ministério da Defesa. Dentro desta administração existia uma divisão especial que gerenciava um item secreto do orçamento, que incluía o orçamento dos narcóticos e das operações estratégicas de inteligência. Esta parte do orçamento era mantido em segredo de todos as pessoas da Administração Financeira Central e até mesmo do Politburo e do Comitê Central.

Apenas o Concelho de Defesa e as algumas seções militares especiais da Comissão de Planejamento Estatal tinham acesso a parte secreta do orçamento. No Ministério das Finanças e na Comissão de Planejamento Estatal haviam seções militares especiais, dentro destas haviam subseções de inteligência que gerenciavam todos os componentes de inteligência do orçamento, que eram então coordenadas diretamente e apenas pelo Concelho de Defesa. Para completar o ciclo, dentro da Administração Financeira, tanto dos militares quanto dos civis, haviam seções especiais que também gerenciavam estas partes secretas do orçamento. Estas organizações especiais eram os únicos a terem uma visão completa de como o orçamento da inteligência funcionava.

Revisando como as operações Soviéticas com as drogas funcionava, diversas conclusões importantes se destacam. Claramente, a ofensiva com narcóticos e as operações de inteligência eram da mais alta importância. É também evidente que a operação era direcionada pelo Estado, especialmente pelo Departamento Administrativo, e que diversas agências, no caso da Tchecoslováquia, pelo menos 20 agências ou organizações, como mostra a tabela. É especialmente notável que apesar da natureza distribuída da operação, a segurança foi muito bem mantida e o acesso a qualquer informação era severamente controlado. Novamente, no caso da Tchecoslováquia menos de 30 pessoas realmente entendiam a completa natureza da operação. Para ilustrar a eficiência das medidas de segurança dos Comunistas vale ressaltar que não existe nenhum indicativo anterior a 1986 que nem os Estados Unidos e nem a inteligência dos países Ocidentais tinham consciência da operação Soviética, apesar de que de 1955 até 1965, pelo menos cinco países satélites e diversas organizações de fachada já estavam participando das operações Soviéticas com drogas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Red Cocaine - Capítulo 4 - Khrushchev Instrui os Países Satélites

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.

Ver demais capítulos.
Red Cocaine - Capítulo 4 - Khrushchev Instrui os Países Satélite


Em 1962, Khrushchev formalmente entendeu as operações Soviéticas com narcóticos para os satélites do Leste Europeu. Os líderes estratégicos (Alto Escalão do Secretariado, Primeiros Ministros, Ministros de Defesa, Chefes de Gabinete e assistente especiais) dos principais satélites foram convocados para participar de uma reunião secreta em Moscou para discutir a recessão econômica das economias socialistas. Romênia, Albânia e a Iugoslávia não se apresentaram. Sejna era um dos oficiais que estavam presentes. Os oficiais Soviéticos do mais alto nível hierárquico participaram da reunião incluindo o Nikita Khrushchev, Leonid Brezhnev, Mikhail Suslov e Andrei Kirilenko. Foi nesta reunião que Khrushchev formalmente apresentou a estratégia Soviética: “Mao Tse-tung e os Chineses são muito espertos”, ele começou, se referindo aos negócios com as drogas, “eles são muito criativos e muito eficientes também. Porque devemos deixar os Chineses trabalharem sozinhos neste mercado mundial”, ele perguntou, e rapidamente respondeu a sua própria pergunta; “Os Chineses são bons, mas o serviço de inteligência do Bloco Soviético possui um nível de organização muito maior e deve se mover o mais rápido possível para usar tanto as drogas como os narcóticos tanto para rachar a sociedade capitalista como para financiar as atividades revolucionárias”.


Khrushchev então começou uma discussão dos vários benefícios que podiam derivar deste negócio. Proveria uma ótima renda e ainda poderia servir como fonte para o muito-desejado câmbio financeiro para financiar as operações de inteligência. Além disso, serviria para sabotar tanto a saúde como a moral dos trabalhadores Americanos. Como pessoas viciadas em drogas não são confiáveis em crises e emergências, todo esse negócio com as drogas “enfraqueceria o fator humano numa situação de defesa”.

Khrushchev também levou em consideração o impacto na educação no longo prazo. As escolas Americanas sempre eram um dos alvos de mais alta prioridade, porque eram nestes lugares que os futuros líderes na burguesia poderiam ser encontrados. Um outro alvo de maior importância para o Khrushchev era a ética trabalhista dos Americanos. Assim como o orgulho e a lealdade, todos estes seriam sabotados pelo uso das drogas. Finalmente, as drogas e os narcóticos levariam a uma queda na influência da religião e, ele adicionou, poderia até mesmo criar o caos.

“Quando nós discutimos esta estratégia”, Khrushchev conclui, “alguns ficaram preocupados que essa operação poderia ser considerada imoral. Porém devemos declarar categoricamente”, ele enfatizou, “tudo aquilo que acelerar a destruição do capitalismo é moral”[1].

Somente algumas poucas perguntas foram feitas pelos presentes durante a reunião. Janos Kadar, o Primeiro Secretário da Hungria, expressou sua preocupação que as operações com as drogas não deveria interferir no progresso conseguido durante a coexistência pacífica. Ele estava se referindo a assistência econômica e tecnológica que começou a fluir do Oeste. Após isso, ele sugeriu que os países do Terceiro Mundo que não eram tidos como suspeitos pelos Estados Unidos fossem utilizados para pôr a operação em prática.

Essa tática, na verdade, já estava sendo utilizada para manter uma distância segura entre os países do Bloco Soviético e de fato os que estavam trabalhando nas operações com narcóticos. Por toda a América Latina, por exemplo, enquanto agentes da inteligência do Bloco Soviético exerciam um certo controle e davam as direções de maneiras gerais, as pessoas nativas destes países estavam pegando no pesado de fato das operações. Está técnica também pode ser vista sendo utilizada em respeito as operações do Bloco Soviético quanto a Europa Ocidental. Por exemplo, a Agência Americana Contra Drogas preparou um relatório sobre o papel da Bulgária no tráfico internacional de drogas num Congresso em 1984. Várias fontes, todas consistentes, foram referenciadas no relatório, que cobria as operações entre 1970 e 1984.

Uma das organizações que foram destacadas neste relatório foi a KINTEX, uma firma Búlgara de importação e exportação que foi fundada em 1968. KINTEX foi gerenciada pela polícia secreta Búlgara e agia “sobre ordens secretas de Moscou”. KINTEX foi estabelecida, segundos as fontes do relatório, principalmente para prover um mecanismo para utilizar estrangeiros dentro da Bulgária para fabricar e enviar narcóticos para a Europa Ocidental e munição para o Oriente Médio. Os estrangeiros eram Turcos, Sírios e Jordanianos. As reuniões de coordenação incluíam traficantes da Grécia, Itália, Iraque e Irã. Enquanto a Bulgária foi identificada no início da década de 1970 num estudo secreto da CIA como “o novo centro para distribuição do tráfico de narcóticos e de armas”, todos os dados do relatório da DEA (Agência Americana Contra Drogas) na verdade se refere a estrangeiros trabalhando dentro da Bulgária. A resposta do governo Búlgaro para as reclamações Americanas era sempre negar qualquer envolvimento: a presença de estrangeiros dentro do solo Búlgaro não constituía nenhum crime e nenhum Búlgaro tanto dentro do solo Búlgaro quando fora, fora incriminado.

Outro líder que discursou na reunião em Moscou foi Walter Ulbricht, o Primeiro Secretário da República Democrática da Alemanha. Ele aproveitou a oportunidade para fazer pressão por um envolvimento maior da Alemanha. Naquela época, os Alemães não possuíam permissão para conduzir suas próprias estratégias de inteligência e por isso, Ulbricht enfatizava, a Alemanha necessitava de ajuda para explorar seus recursos na África, no Oriente Médio e na América Latina. Inteligência Estratégica, ou seja, sabotagem, terrorismo, trapaça e espionagem, foi exatamente onde a ofensiva com os narcóticos começou e onde ela se sentia em casa. Em 1964, a Alemanha Oriental recebeu a permissão de começar as suas próprias operações de Inteligência Estratégica.

Mais tarde, neste mesmo dia, já sob efeito de alguns drinques, Khrushchev cutucou o cotovelo do Sejna de maneira brincalhona, e com brilho em seus olhos, ele revelou o nome secreto de toda a operação Soviética com tráfico de drogas, “Druzhba Narodov”, o quê, numa simples tradução, significa “A Amizade das Nações”. Esconder a real intenção das operações com um trocadilho era puro Khrushchev.

Esta reunião em Moscou foi única. A estratégica Soviética foi considerada extremamente sensível e foi associada a ela o mais alto nível de classificação de segurança. Pessoas sem a absoluta necessidade de saber detalhes da operação, não deveriam saber absolutamente nada sobre a operação. Seguindo a reunião, que foi o início oficial da operação, com pouquíssimas exceções, todas as coordenações e cooperações foram tratadas de maneira bilateral apenas.

Os líderes dos satélites retornaram aos seus respectivos países a procederam com os seus respectivos planos individuais no meio do maior esquema de segredo possível. Sejna descreveu a maneira como os planos da Checoslováquia foram desenvolvidos, resumido para o Conselho de Defesa, aprovado e depois implementado. Esta descrição provê uma visão muito interessante de como os planos operacionais contendo informações altamente sensíveis eram desenvolvidos, controlados e mantidos em segredo. A tarefa de desenvolver o plano era designada para cinco pessoas, cada um do Departamento de Órgãos Administrativos, inteligência civil, inteligência militar, do Departamento de Assuntos Estrangeiros e da Administração de Saúde Militar. Sejna era o encarregado da Secretaria do Conselho de Defesa. As cinco pessoas, mais um cozinheiro do secretariado do Sejna, foram isolados numa vila em Rusveltova Nº 1, que por acaso foi onde Fidel Castro ficou enquanto estava visitando a cidade de Praga. O trabalho deles foi monitorado pelo Chefe dos Conselheiro Soviéticos da Zs e pelo Jiri Rudolf e pelo Vaclav Havranek, que eram os oficiais do Departamento de Órgãos Administrativos responsáveis pela inteligência e a contra inteligência militar. Apenas outros cinco oficiais Checos tinham acesso a Vila: o Ministro do Interior, o Ministro da Defesa, o Chefe do Gabinete, o Chefe da Segunda Administração (inteligência civil) e Sejna. Depois que este grupo conseguiu finalizar o plano geral, as únicas pessoas que tiveram acesso a este plano foram os sete membros do Conselho de Defesa.

Quando o plano de operação com os narcóticos estava finalizado, ele foi considerado mais sensível até mesmo do que os planos anuais da inteligência. Nove cópias foram feitas e envelopadas e depois enviados para o Conselho de Defesa, onde eles foram abertos e examinados antes da votação para sua aprovação. O Ministro da Defesa e o Ministro de Assuntos Interiores apresentaram conjuntamente o plano para o Conselho de Defesa. O plano levava em conta pesquisa, desenvolvimento, a influência das drogas nos seres humanos, testes, produção, distribuição, como o dinheiro seria lidado no projeto, como os lucros seria utilizado e os indivíduos que teriam as responsabilidades particulares. Durante a apresentação, o Ministro de Assuntos Interiores, Rudolph Barak explicou que “Este projeto não serviria apenas para destruir a sociedade Ocidental, mas este projeto vai fazer a sociedade Ocidental ainda por cima nos pagar por isso”. Antonin Novotny, Primeiro Secretário e Presidente do Conselho de Defesa perguntou o “quanto ganharíamos com isso?”, e Barak respondeu: “O suficiente para financiar completamente o serviço de inteligência da Checoslováquia”.

Assim que a discussão terminou, nem mesmo esperando o fim da reunião, como normalmente era feito, Sejna recolheu todas as cópias e fechou todos os envelopes. Todas, menos três cópias, foram totalmente destruídas. Estas três cópias foram enviadas para a inteligência militar (Zs), para a Segunda Administração do Ministério de Assuntos Interiores e para os arquivos do Conselho de Defesa, que era onde o Sejna fazia parte do secretariado. Nenhuma instrução por escrito para pôr o plano em operação foi gerada. As principais pessoas de cada departamento, de cada agência que possuía alguma tarefa específica nesta fase do projeto ia a um dos três escritórios que possuíam as cópias do projeto e podiam ler apenas o mínimo necessário. Por exemplo, para o desenvolvimento científico e produção, os chefes do Rear Services[2] e da Administração Médica vieram de maneira independente ao escritório do Sejna para ler as suas partes pertinentes do plano. O trabalho do Sejna era garantir que cada oficial entendeu perfeitamente a sua responsabilidade. O oficial era então obrigado a assinar um termo de responsabilidade que entendeu perfeitamente a ordem, e depois disso o oficial ia embora.

Esse processo foi aplicado até mesmo ao Ministro de Defesa. Todas as ordens eram verbais. Relatórios com o progresso deviam ser enviados ao Sejna em até seis meses. Sejna em pessoa agregava todos os relatórios e apresentava os resultados para o Conselho de Defesa.

Um ano depois, em 1963, Khrushchev, descontente com a velocidade da operação, direcionou o Major General Nikolai Savinkin, o chefe-substituto  do Departamento de Órgãos Administrativos do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (ele viria a se tornar o Chefe em 1964 depois da morte do General Mironov num acidente de avião), para visitar cada um dos países satélites e Cuba pessoalmente para preparar um plano detalhado de como poderia acelerar e coordenar a operação com narcóticos. O Departamento de Órgãos Administrativos é um dos dois ou três principais departamentos do Comitê Central. Ele controla o Ministério da Defesa, o Ministério de Assuntos Interiores (KGB) e o Ministério da Justiça. Era exatamente este o departamento que direcionava a operação “Druzhba Naradov”. Outras organizações que participaram serão descritas no próximo capítulo.

O plano de Savinkin foi aprovado pelo Conselho Soviético de Defesa e as diretivas foram enviados aos países satélites. Estas diretivas, que chegaram através do Sejna como o Secretário do Conselho Checo de Defesa e o Chefe do Gabinete do Ministério da Defesa, cobria uma larga variedade de ações: pesquisa, produção, organização do transporte, organização das cooperações através dos países satélites em várias regiões do mundo, a necessidade da cooperação em ajudar Cuba a infiltrar todas as operações da América Latina e como esta cooperação deveria ser feita, nomeava as pessoas que deveriam, em diversos países, ajudar na distribuição, na propaganda e na desinformação. Também foram recebidas instruções de como e quais instituições financeiras deveriam participar das transferências e lavagem de dinheiro. No caso específico da Checoslováquia, pelo menos quinze bancos diferentes em nove países (incluindo Singapura, Viena, Argentina e Holanda) foram identificados. O banco Soviético em Londres foi se tornando cada vez mais envolvido nas transferências dos lucros do tráfico.

As instruções de propaganda e desinformação eram especificamente interessantes. Propaganda, desinformação e trapaça são desenvolvidas para ajudar o plano de trapaça geral. Nas operações com drogas e narcóticos, a essência da propaganda e da desinformação era que a culpa do tráfico e do uso de drogas deveria cair sobre a “sociedade”. Adicionalmente, e suportando a essência básica do plano, as provas de corrupção deveriam ser liberadas para desmerecer certos indivíduos e organizações consideradas hostis para os interesses Soviéticos. Haviam duas principais campanhas de propaganda – uma direcionada contra a juventude e outra direcionada contra a população como um todo. Estas campanhas envolveram o Departamento de Propagandas Especiais, o Departamento de propaganda e o Departamento de Assuntos Internacionais, com uma coordenação central dentro do Departamento de Órgãos Administrativos.

A estratégia básica para a propaganda e a trapaça foi desenvolvida primeiramente em 1961 ou 1962 pelo General Soviético Kalashnik, o Chefe-Substituto do Principal Administração Política, o guardião ideológico de todo o estabelecimento militar Soviético. Kalashnik era o chefe ideológico da Secretaria Principal de Administração Política. Sejna relembrou as simples instruções do Kalashnik: “Nossa propaganda deve ser sempre direcionada para os nossos inimigos, não para os nossos amigos”. A palavra “amigo” significava, na verdade drogas e narcóticos. Propaganda e trapaça deveriam ser utilizadas para tirar o foco da atenção das drogas e dos narcóticos, especialmente em relação as classes média e alta, que eram um dos alvos da propaganda, e mudar o foco da atenção das pessoas para os problemas da guerra nuclear, a guerra do Vietnã e o Antiamericanismo.

Estas instruções de propaganda foram estendidas em 1964 numa carta assinada pelo Leonid Brezhnev que foi muito discutida numa reunião no Conselho de Defesa da Checoslováquia. A carta mandava que os dados referentes ao tráfico de drogas e narcóticos dos Chineses deveriam ser divulgados ao público, para assim anunciar ao mundo o papel da China como a fonte de todo o tráfico ilegal e assim desviar a atenção das operações Soviéticas. (Um dos principais artigos escritos com este propósito apareceu no Pravda no dia 13 de Setembro de 1964. Foi escrito pelo V. Ovchinnikov e foi intitulado “Os Traficantes”).

Em setembro de 1963 os principais líderes (Primeiros Secretários, Primeiros Ministros, Ministros da Defesa, Ministros de Assuntos Interiores e uma equipe selecionada de cada um destes, num total de 15 pessoas de cada país, exceto Romênia, Albânia e Iugoslávia, que não se apresentaram) se encontraram em Moscou para a conferência anual sobre o plano e as táticas que deveriam ser postas em prática no ano vindouro. A diplomacia, a inteligência e as partes envolvidas – ou seja, o processo integrado – para o próximo ano, era revista pelos líderes Soviéticos.

O principal palestrante era o Mikhail Suslov, o chefe ideológico do Partido Comunista e um dos principais oficiais no desenvolvimento dos planos estratégicos. Na discussão sobre as drogas, Suslov começou apontando que a decisão que foi tomada sobre o uso do tráfico de drogas e narcóticos foi a melhor decisão que podia ter sido tomada. Como os Soviéticos tinham levantado, na década de 1950, que a América Latina era extremamente dependente da burguesia, especialmente dos Estados Unidos, os Soviéticos perceberam que com o uso das drogas isso poderia mudar: os países da América Latina poderiam todos depender da União Soviética. O principal instrumento para isso deveria ser tanto as drogas como outros modos de corrupção, prática que os Soviéticos concluíram que já estava espalhado por todas as Américas.

Os Soviéticos se referiam a este movimento revolucionário na América Latina como a Segunda Libertação. A Primeira Libertação foi a libertação tanto de Portugal como da Espanha. A Segunda Libertação seria a libertação dos Estados Unidos e da burguesia. A Terceira Libertação seria a transição para o Comunismo.

Suslov explicou que era necessário desarmar os anticomunistas e todos os amigos dos Estados Unidos antes da Segunda Libertação acontecer. Os Soviéticos acreditavam que a burguesia corrompida já tinha aceita a ideia da revolução, o que na verdade era pura trapaça induzida pelos Soviéticos. A estratégia utilizada para encorajar a aceitação da ideia de revolução foi de argumentar que os países Latinos Americanos estavam destinados a passar por uma série de estágios revolucionários, em que as mudanças que ocorreriam seriam benéficas. Nos primeiros estágios, não haveria, pelo controle dos Soviéticos, nenhuma menção ao socialismo ou sequer utilização de frases socialistas – para não assustar as pessoas com o conceito da revolução.

Os Soviéticos listaram os cinco fatores que se mostraram mais efetivos para acelerar o processo revolucionário na América Latina:

1.       A igualdade militar entre Estados Unidos e a União Soviética: A União Soviética deveria ser forte o suficiente para impedir a interferência dos Estados Unidos antes que a revolução possa iniciar.

2.       A bancarrota do colonialismo: Enfraquecer e por último romper os laços da América Latina com os Estados Unidos através da propaganda de como a exploração e a impropriedade das políticas colonialistas, além protecionismo, que andava junto do colonialismo, atrasavam a América Latina.

3.       Organização Ideológica e de suprimentos para as forças de liberação: Uma melhor organização e uma ofensiva ideológica unificada eram requisitos para as forças de liberação. O movimento acabou por se separar demais na época de Stalin. Unidade ideológica era uma necessidade e a assistência de suprimentos – dinheiro, armas, treinamento, organização - precisava melhorar e muito na América latina.

4.       A derrota dos Estados Unidos no Vietnã: Era necessário separar os Estados Unidos dentro de casa e tornar extremamente difícil para os Estados Unidos se envolverem em guerras fora de seu território novamente. Também era fundamental que as forças nacionalistas (pró-Estados Unidos) reconheçam que os Estados Unidos não podem mais ser confiados como aliados contra o processo revolucionário.

5.       A desmoralização dos Estados Unidos e de seus vizinhos tanto ao sul como ao norte: As drogas eram o principal instrumento para trazer esta desmoralização – a desmoralização pelas drogas deveria ser referida como a “Epidemia Rosa”. Os Soviéticos acreditavam que quando a “Epidemia Rosa” cobrisse toda a América do Norte e do Sul, a situação estaria altamente satisfatória para a revolução.

Suslov reviu a situação da América Latina, utilizando os dados recolhidos pela inteligência Soviética, pelos partidos Comunistas locais, por Cuba e pelos agentes da inteligência do Pacto de Warsaw que já tinham penetrado nas operações com drogas na América Latina. Fazendo especiais referências ao Paraguai, Jamaica, El Salvador, Guatemala, Honduras e México, Suslov declarou que 70% dos burocratas da América Latina já estavam ligados com (ou seja, corrompidos pelas) operações com drogas. “No México”, ele disse, “80% dos burocratas estavam ligados com as drogas e envolvidos em algum nível de corrupção. Na América Latina, 65% dos padres católicos usavam drogas”, ele disse. Padres Católicos eram alvos de primeira linha na estratégia Soviética na América Latina.

Quatro anos depois, numa reunião em 1967, Boris Ponomarev explicou para os oficiais da Checoslováquia que segundo as estimativas Soviéticas, 80% dos padres Da América latina eram antiamericanos, e um pouco mais do que 60% estavam inclinados à esquerda. Esta estatística, particularmente, era bastante influenciada pelos padres mais novos, o que os Soviéticos acreditavam que teriam grande influência em mais ou menos 20 anos. Boris Ponomarev avançou com três razões para trabalhar com os padres mais novos: eles ajudariam a revolução a avançar, eles usariam a igreja para distribuir as drogas, e eles seriam utilizados para ganhar mais informações sobre as redes locais de distribuição de drogas.

Porém, voltando a 1963; depois de rever as estatísticas do negócio de drogas, Suslov discutiu dois grupos especiais os quais as drogas deveriam ser usadas contra: o primeiro eram os líderes da burguesia; o segundo era o grupo referido como o “lumpen proletariado” – os desempregados que ou se tornavam prostitutas ou marginais para sobreviver. Um outro termo utilizado para descrever este grupo é “downtrodden proletariat”. Como Mikhail Suslov explicou, “este grupo é particularmente suscetível a ser seduzido pelas drogas. Isso tudo era pelo bem, pois iria ajudar a guerra revolucionária a destruir este grupo, pois não passavam de inúteis e um peso a ser carregado. Seus membros não querem trabalhar. Eles são os principais consumidores de drogas e devem ser destruídos. A principal tática revolucionária é preparar a elite revolucionária e estes proletários não fazem parte desta elite”.

Para avançar o negócio das drogas, Mikhail Suslov também enfatizou quatro pontos:

1.       Utilizar Cuba para ajudar na distribuição das drogas;

2.       Possuir total certeza que pessoal escolhido está totalmente limpo quanto a segurança antes de envolve-los nas operações de tráfico de drogas;

3.       Nos Partidos Comunistas locais, somente o Primeiro Secretário deveria estar ao par das operações envolvendo drogas. Os Partidos Comunistas deveriam ser mantidos a uma distância segura das operações com drogas por dois motivos: primeiro, era acreditado que os Partidos Comunistas possuíam agentes estrangeiros infiltrados. De acordo com as ordens, o conhecimento sobre as operações com drogas deveria ser mantido a distância dos partidos e o pessoal do partido deveria ser muito cuidadosamente inspecionado antes de ser envolvido em qualquer atividade com as drogas; Segundo, as operações com drogas geravam muito dinheiro e isso poderia levar os partidos à independência financeira. Por isso, as operações deveriam ser mantidas fora das mãos dos partidos para assim mantê-los dependentes de Moscou. O dinheiro das drogas deveria ser, primeiro enviado a Moscou, e depois aos partidos segundo as suas necessidades.

4.       Era muito importante induzir que as inteligências Latinas Americana, a contra inteligência e as forças militares locais a se envolverem nas drogas (as anticomunistas). Estas organizações eram fontes de sentimentos pró-Estados Unidos, e a corrupção causada pelas drogas deveriam ser utilizadas para neutralizar as atitudes pró-Estados Unidos.

O estilo do Khrushchev era ficar sentado e ir interrompendo o palestrante para ir adicionando pontos quando ele considerava que era pertinente. Ele interrompeu Suslov para enfatizar a necessidade de cautela. “O Camarada Suslov”, ele disse, “é particularmente cuidadoso. Eu tentei força-lo a acelerar o processo com as drogas – para fazer a burguesia pagar pelo processo revolucionário – mas eu concordo com ele. Não podemos nos arriscar ainda mais.” Num outro ponto Khrushchev interrompeu e explicou: “Algumas pessoas tentam igualar drogas e álcool, porém álcool não é parecidos com as drogas. Nós damos vodca para os soldados soviéticos e estamos indo de sucesso em sucesso!”.

Suslov também apontou a necessidade de começar a fazer uma reserva para as forças revolucionárias da América Latina, para que as suas necessidades fossem satisfeitas quando elas estiverem prontas para sair do subterrâneo. Pelo o acordo, todos dos países do Pacto Warsaw deveriam começar a contribuir para formar a reserva da América latina.

O discurso de Suslov não deixou dúvidas nenhuma. A operação “Druzhba Narodov” deveria ser global. A burguesia de todos os países eram os alvos. Drogas e narcóticos deveriam ser as principais armas na ofensiva revolucionária.

Enquanto a estratégia Soviética chamada “Druzhba Narodov” ia tomando forma em 1962-1964, provavelmente a melhor, a mais sucinta descrição da filosofia por detrás da operação foi disponibilizada pelo líder da Checoslováquia em 1964 numa visita a Bulgária. Todor Zhivkov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da Bulgária, explicou para a delegação visitante da Checoslováquia que os Estados Unidos eram o principal alvo da ofensiva com drogas do Bloco Soviético porque era o principal inimigo, por que era simples mover drogas para dentro dos Estados Unidos e porque existia lá algo como uma fonte infinita de dinheiro.




[1] Citação de Lenin (Não encontrei essa citação do Lenin no www.marxists.org)


sábado, 10 de setembro de 2011

Red Cocaine - Capítulo 3 - Construindo a Rede das Drogas da América Latina

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.


Red Cocaine - Capítulo 3 - Construindo a Rede das Drogas da América Latina

O braço tcheco da ofensiva das drogas soviética começou em 1960 em duas frentes: Ásia (Indonésia, Índia e Burma) e a América Latina (Cuba). Por causa do importante papel de Cuba para o crescimento do uso de drogas ilegais e de narcóticos nos Estados Unidos, a operação soviética-cubana-tcheca merece uma atenção especial.

No final do verão de 1960, apenas um ano e meio após Fidel Castro conquistar o poder, seu irmão Raul Castro visitou a Checoslováquia em procura de ajuda militar e assistência financeira. Naquela época, Fidel e os soviéticos se odiavam. Por essa razão os cubanos procuraram a Checoslováquia e não a União Soviética. Sejna foi o responsável por receber a delegação cubana e foi o seu anfitrião durante a visita. Uma de suas primeiras ações foi arrumar uma visita do Raul à União Soviética para conhecer Khrushchev. 

Seguindo essa visita, os soviéticos direcionaram os tchecos para trabalhar com os cubanos e pavimentar o caminho para uma tomada soviética de Cuba. Os soviéticos queriam que a Checoslováquia liderasse a tomada, porém escondendo a influência soviética. Eles não queriam que Fidel Castro ficasse sabendo da operação soviética para infiltrar e tomar cuba e não queriam que os Estados Unidos ficassem sabendo o que estava acontecendo.

Cuba e a Checoslováquia assinaram um acordo onde a Checoslováquia iria prover ajuda militar a Cuba, treinar os cubanos em planejamento e operações militares e ajudar organizar a inteligência e a contra inteligência cubana. Em troca, Cuba aceitou se tornar o centro revolucionário no Ocidente e permitiu que a Checoslováquia estabelecesse estações de inteligência em Cuba. Dezesseis conselheiros tchecos foram para cuba para prover treinamento e estabelecer as operações de inteligência e contra inteligência.

Aproximadamente quinze por cento dos conselheiros tchecos eram agentes da inteligência soviética disfarçados de tchecos. Em três anos, todos os tchecos em posições chaves seriam trocados por soviéticos. Assim, desde o princípio, a inteligência cubana e suas estruturas militares foram fortemente influenciadas pelos soviéticos. Em menos de dez anos, os soviéticos estavam em total controle.

Depois que os primeiros cubanos foram treinados como agentes de inteligência, eles receberam suas primeiras ordens de Moscou pela Checoslováquia: infiltrar nos Estados Unidos e em todos os países da América Latina para produzir e distribuir drogas e narcóticos nos Estados Unidos. As instruções do Conselho de Defesa Soviético foram para o conselho de Defesa Tcheco e depois para Cuba. Conselheiros Tchecos ajudaram os cubanos a iniciar a produção de drogas e narcóticos como prioridade máxima e também ajudaram eles a criar as rotas de transporte pelo Canadá e pelo México, onde os Tchecos tinham boas redes de agentes, para dentro dos Estados Unidos. Rudolph Barak, o Ministro do Interior da Checoslováquia e logo o chefe da inteligência civil, pessoalmente ajudou os cubanos a estabelecerem a operação. Desde o princípio, Barak estava constantemente empurrando Soviéticos para cada vez mais longe. Ele queria acelerar a produção e fazer um melhor uso da rede de agentes Tchecos na América Latina, Ásia, Áustria e Alemanha Ocidental.

A produção e o tráfico de drogas por Cuba só começaram após as instruções terem sido recebidas do Conselho de Defesa Soviético para expandir a ofensiva. Em 1961, a Checoslováquia recebeu instruções do Conselho de Defesa Soviético para a inteligência cubana infiltrar as operações existentes na América Latina e nos Estados Unidos para preparar a base e recrutar pessoas para essas operações independentes. A ordem foi apresentada pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia e pelos Ministros da Defesa e Do Interior. Como secretário do Conselho de Defesa da Checoslováquia, Sejna foi responsável por coordenar e agendar as direções e atribuições subsequentes. O plano tcheco para pôr em prática a ordem foi coordenado e aprovado pelos Órgãos Administrativos do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.

O principal objetivo da infiltração foi obter informações sobre indivíduos que foram corrompidos pelas drogas e pelo tráfico de narcóticos. Os principais alvos identificados eram os militares, policiais, políticos, religiosos e executivos. Alguns alvos adicionais eram as instituições científicas, indústrias militares e universidades. Um objetivo secundário era obter inteligência sobre a produção e distribuição de drogas que já existia, para habilitar os soviéticos a exercer o controle estratégico e ajudar a prevenir que as várias infiltrações paralelas atrapalhassem umas às outras. Inteligência derivada das infiltrações no crime organizado também contribuiu para esse objetivo. A primeira reunião para coordenar a infiltração e a coleta de dados sobre drogas e a corrupção gerado pelos narcóticos que Sejna sabe ocorreu em 1962 durante a Segunda Conferência de Havana. Uma reunião secreta dos soviéticos e dos agentes da inteligência treinados pelos soviéticos e de todas as organizações Latinas Americanas. Essa reunião secreta foi organizada pela inteligência cubana e tcheca. Oficiais tchecos dos serviços de inteligência militar, Zs, organizaram a reunião. Outros oficiais tchecos que participaram da reunião foram: o Ministro do Interior, da Segunda Administração (a organização equivalente da KGB na Checoslováquia) e a contra inteligência militar.
Na coleta de dados sobre indivíduos corrompidos pelo tráfico de drogas, tanto usuários de drogas como os que estavam lucrando com o tráfico, os soviéticos identificaram um grande número de pessoas que poderiam ser compradas, que eram suscetíveis à influência e, principalmente, “não estavam preocupadas com as consequências de suas ações”. As informações do dossiê continham bases excelentes para recrutamento de “agentes de influência” ou espiões. Essa informação também foi utilizada para expor e prejudicar a reputação de indivíduos e organizações consideradas hostis aos interesses soviéticos.

O uso de informação sobre corrupção para chantagear e para recrutar agentes de influência é uma velha tática do Marxismo-Leninismo que foi utilizada em escala global. A inteligência tcheca dividiu esses dossiês sobre corrupção em duas categorias: pessoas que já estão em posição de poder e pessoas que potencialmente chegarão a posições de poder. Em 1967, a inteligência tcheca possuía 2500 dossiês sobre pessoas do alto escalão. Seus arquivos não permitiam duplicação de dossiês mantidos pelos outros que estavam ativos na América Latina – os cubanos, alemães orientais, húngaros, búlgaros e soviéticos – por causa da cooperação desses serviços de inteligência. Assim, no final da década de 1960, os soviéticos já possuíam dados sobre corrupção de mais de 10.000 pessoas influentes pela América Latina.

Como um indicativo que esses números não são exagerados, em 1971 um francês chamado Batkoun foi pego traficando heroína para dentro do Canadá. Ele foi deportado para a França e julgado lá por tráfico de heroína. Durante o julgamento, Batkoun foi identificado como um membro do Partido Comunista da França e agente da subseção "Groupement Cinq” da KGB soviética. Valeurs Actuelles reportou que quando preso, Batkoun tinha em mãos uma lista com mais de dois mil viciados em heroína no Canadá, dentre eles proeminentes civis, artistas, apresentadores de TV e professores universitários.

Corrupção, claro, não está confinada na América Latina, mas inclui a América do Norte e os países europeus como França, Suécia, Áustria, Suíça, Itália, Reino Unido e a Alemanha, onde estes dois últimos foram identificados pelo líder do Departamento Internacional do Partido Comunista da União Soviética, Boris Ponomarev, como os mais corruptos. Sabendo que as instituições financeiras que lavam esse dinheiro ilícito fazem parte desta rede de corrupção, o potencial para os soviéticos de praticarem chantagem e influenciarem em diversas operações é infinito. Aliás, como veremos posteriormente, parte da estratégia soviética em envolver pessoas com influência no tráfico de drogas, especialmente pessoas em bancos, intuições financeiras, políticos, militares e executivos industriais, foi precisamente para abrir uma potencial chance para chantagear e influenciar certas operações.

Conhecimento das operações dos vários traficantes independentes, suas redes de tráfico, seus contatos, também foram utilizados para o objetivo mencionado anteriormente, para exercer controle estratégico sobre certas operações. No geral, os soviéticos não queriam ou não precisaram de um controle tático, das operações do dia-a-dia. Enquanto as drogas e os narcóticos estivessem indo na direção certa, para as sociedades burguesas, os objetivos soviéticos estão sendo alcançados. O importante para os soviéticos é prevenir que estas atividades interfiram com outras operações soviéticas e certamente prevenir que essas operações façam o holofote dos jornalistas apontem na direção errada.

As informações coletadas por esse processo são impressionantes. Em 1963, o General Sejna, o Ministro da Defesa e chefe da inteligência Militar visitou o centro de treinamento de traficantes de drogas da Zs na Bratislava. Seu anfitrião e acompanhante foi o Coronel Karel Borsky, o responsável pelos centros de treinamento. Na época, Sejna ficou impressionado pelo nível de detalhe sobre a rede de tráfico ao redor do mundo que o curso continha, principalmente pelos detalhes sobre a América Latina. Por exemplo, uma grande quantidade de informação foi adquirida em inúmeras empresas do México onde a principal atividade era contrabando de drogas - incluindo fotos dos caminhões e os nomes dos motoristas usados no transporte da droga para os Estados Unidos.

Armado com o conhecimento de como as operações com drogas funcionam, os soviéticos observam uma operação e exercem controle somente quando necessário. O potencial para o controle estratégico é evidente quando se analisa o testemunho dado em 1983 pelo Juan Crump, um advogado colombiano e traficante de drogas. Respondendo o Senador Dennis DeConcini (Democrata - Arizona) sobre a importância dos contatos com os oficiais colombianos, Crump respondeu que contatos (suborno) era essencial para existir e sobreviver. Os soviéticos por esses conhecimentos e pela inteligência sobre suas atividades ilegais, eles conseguiam exercer controle sobre os traficantes independentes quando necessário.
Outro mecanismo empregado para lidar com organizações e indivíduos que não cooperam é armar para serem pegos pelas autoridades. É especulado que isso que tenha habilitado aos EUA ter trazido o super traficante colombiano Carlos Lehder Rivas para ser julgados nos EUA. As possíveis causas da traição são fáceis de imaginar. Por exemplo, tantos os soviéticos como os outros membros do Cartel de Medellín podem ter chegado à conclusão que Lehder estava falando demais, politizado demais. Lehder estava dando entrevista a rádios e chamando a cocaína da "bomba atômica da América Latina". Cocaína era uma arma da revolução a ser utilizada contra os imperialistas, ele explicava. O problema com isso é que estava chamando a atenção de maneira desnecessária para as operações de drogas, especialmente ao Cartel de Medellín que ele participava, e estava perto demais da verdade das Operações Soviéticas. Assim qualquer parte pode ter decidido calá-lo. A beleza é que, o entregando as autoridades americanas, estas tinham suas imagens melhoradas, apesar de estarem agindo como agentes disciplinadores dos outros traficantes.

Outro exemplo desta prática foi dado por Ramom Milian Rodriguez, um CPA de Miami que administrou uma boa parte do dinheiro do tráfico ganho pelo Cartel de Medellín da Colômbia. Na tentativa de sair com $5.3 milhões de dólares dos Estados Unidos em 1983, ele acabou sendo preso e acusado de estelionato. Rodriguez foi empregado pelo cartel para arrumar pontos seguros para coletar, contar e empacotar o dinheiro. Ele conseguiu depois arrumar um esquema de envio do dinheiro, um complexo processo par lavagem do dinheiro utilizando vários bancos. Todos os bancos no Panamá eram utilizados por Rodriguez neste processo. Eventualmente, ele explicou, grande parte do dinheiro que chegava até ele era investido em imóveis, ações, títulos de dívida pública para o cartel. Quando Rodriguez criou esta operação, Manuel Antônio Noriega era um coronel responsável pelo serviço de inteligência do Panamá. Rodriguez testemunhou para um subcomitê do Senado Americano em 1988 que o Noriega "utilizou magistralmente as agências de repressão americana para me retirar da operação, deixando esta intacta e operante". A denúncia para a prisão de Rodriguez foi uma ligação anônima, na teoria enviada por Noriega, do Panamá para o Esquadrão do Sul da Flórida sobre drogas, alertando para os planos de Rodriguez. Porém há outras possibilidades a serem consideradas. Rodriguez se declarou ser fortemente anticomunista. Em 1980 ou 1981, a inteligência cubana, a DGI, tentou recruta-lo para uma operação, mas ele havia negado. Mais ou menos ao mesmo tempo, havia começado uma guerra entre o Cartel de Medellín e os revolucionários do M-19 (patrocinados pelos cubanos). Rodriguez disse que aconselhou o Cartel em como lutar utilizando táticas terroristas e aconselhou a não cooperar com o M-19 assim que a guerra estivesse resolvida. Ele também avisou ao Cartel sobre as táticas da inteligência cubana que ele viu sendo tomado para penetrar e controlar o Cartel. Finalmente, ele explicou como era especialmente cuidadoso nas negociações com Noriega para garantir que "Noriega fosse poderoso o suficiente para nos servir e nunca poderoso o suficiente para nos controlar". Enquanto a ligação que denunciou Rodriguez pode ter vindo de Noriega, sobre estas circunstâncias é logico suspeitar que a inteligência cubana ou soviética esteve por detrás de tudo.
Usando as informações ganhas com a infiltração nas organizações de drogas, os Soviéticos não tinham nenhuma necessidade em ter controle direto (tático) de todas as operações na América Latina. Na verdade, seria até melhor manter certa distância e que alguns dos infiltrados nem soubessem que os Soviéticos exerciam controle quando necessário. Esse princípio operacional pode ser visto em uma resolução secreta adotada na Conferência Tri-Lateral de Cuba em 1966, que a lista como o sexto princípio operacional:
"Para resguardar a campanha dos viciados em drogas, devemos defendê-la em nome dos direitos individuais. Devemos manter o Partido Comunista afastado dos canais do narcótico e do tráfico, para que as fontes de entrada de dinheiro não possam ser conectadas com as ações revolucionárias do Partido Comunista. Apesar disto, devemos combinar a fomentação do medo da guerra atômica com o pacifismo e a desmoralização dos jovens com os agentes alucinógenos."

Seguindo a decisão de possuir agentes de inteligência Cubana infiltrado em todas as operações na América Latina, o Conselho de Defesa dos Soviéticos deu mais instruções, novamente pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia, desta vez para Cuba estabelecer sua própria produção e pôr em operação em vários países da América Latina. Cuba se moveu rapidamente para estabelecer suas atividades com narcóticos no México e na Colômbia. A rede resultante foi operada por Colombianos porém foi dirigida por Cubanos. A inteligência Tcheca ajudou a estabelecer as operações e os Soviéticos estavam envolvidos tanto no planejamento como na aprovação das operações. Assim que os novos empreendimentos começaram a acontecer no México e na Colômbia, os Cubanos, com ajuda dos Tchecos, expandiram para o Panamá e para a Argentina, e, com a assistência da Alemanha Oriental, para o Uruguai e Jamaica.

Cuba e a Checoslováquia também desenvolveram uma operação conjunta no Chile. Danislav Lhotsky, um agente da inteligência Tcheca, estava oficialmente no Chile supostamente para discutir problemas econômicos. Suas instruções eram para desenvolver, junto dos Cubanos, a produção e distribuição das redes no Chile e depois expandir esta rede para a Argentina e para o Brasil. Quando Lhotsy retornou para a Checoslováquia em 1967, ele foi premiado com o prêmio "Ordem da Estrela Vermelha" pelo seu ótimo trabalho construindo a rede de drogas no Chile.

Uma das principais contribuições de Cuba na operação de drogas no Chile - identificado pelo relatório da Administração para Aplicação de Políticas de Drogas - foi o recrutamento do senador marxista Salvador Allende, que mais tarde se tornaria presidente do Chile. Allende foi também presidente da Conferência Tri-Lateral. Ele propôs a criação da OLAS - Organização de Solidariedade na América Latina - como uma "unida frente advogando a revolução armada" e foi eleito como seu primeiro líder. Durante a presidência do Allende, o tráfico de drogas floresceu no Chile. Em 1973, as autoridades dos EUA mensuraram que US$309 milhões em cocaína foram produzidas em laboratórios Chilenos.

Na Argentina, as operações de drogas da Checoslováquia foram estabelecidas por um dos seus principais agentes, Oldrick Limbursky, que estava alocado na Argentina como um representante de uma companhia de exportação Tcheca. Ele construiu a rede de drogas na Argentina e depois a expandiu para o Brasil.
Resumindo, os Cubanos foram extremamente eficientes em estabelecerem as operações por toda a América Latina. Tanto Fidel como o Raul Casto eram entusiastas e se esforçaram para que as atividades expandissem muito mais rápido do que os Soviéticos achassem prudente. A primeira visita do Fidel Castro a Checoslováquia foi bastante notável neste aspecto. Sua visita coincidiu com uma posterior visita a Moscou e logo em seguida com a Crise dos Mísseis em Cuba. Ele estava perturbado, para não dizer coisa pior, e gastou mais de dez dias reclamando que os principais líderes Soviéticos não o consultavam para nada. Logo em seguida ele voltou para a Checoslováquia.

As conversas com Fidel eram em sua maioria complicadas, Sejna explica. Fidel achava que podia destruir o capitalismo de um dia para outro. Ele queria utilizar a rede criminosa para a revolução e usar todo o conhecimento das pessoas que já estavam corrompidas pelas drogas, que estavam chegando pelas operações secretas Cubanas, para aumentar a venda das drogas. “As drogas irão nos ajudar”, Sejna lembra do Fidel gostava de enfatizar, “na nossa defesa, para obtenção de dinheiro e para liquidar o capitalismo”. Fidel era completamente empenhado. Este episódio, na verdade, era uma das razões que os soviéticos o tinham mais como um Anarquista do que como um Comunista. Os oficiais checos tiveram muito trabalho para convencê-lo que ele precisava se preparar para os próximos 20 anos e não somente para o dia seguinte. Não é possível, eles lembravam, trocar toda a geração mais antiga. Nós podemos corrompê-los e explorá-los utilizando o crime para obter mais informações e para influenciar as decisões. Mas o foco para a mudança significativa precisa ser nas gerações mais jovens. Essas são as pessoas que precisamos trabalhar para mudar o exército, para retardar o desenvolvimento científico e para influenciar as lideranças governamentais. Por isso, a juventude americana foi selecionada como principal alvo da ofensiva com as drogas.

Para conseguirem comunicar as estratégias mais importantes e da melhor maneira possível para o Fidel, os oficiais Checos organizaram um relatório detalhado sobre a estratégia do Khrushchev da “coexistência pacifica”, a mesma que foi desenvolvida e explicada para os mais importantes oficiais Checos em 1954; a “coexistência pacífica” não existia para eles virarem amigos dos americanos, mas sim para leva-los à destruição mais rapidamente. Toda a operação foi feita para que o Fidel conseguisse entender que deveria utilizar as estratégias das drogas totalmente integrada à estratégia geral, e que por isso, não fazia sentido isolar as operações com as drogas e tratar o tráfico de drogas como uma operação independente. O tráfico de drogas foi pensado como uma parte importante na coordenação da estratégia geral, e era fundamental que o Fidel conseguisse entender a importância desta operação no longo prazo, que era, na verdade, a sistemática destruição do capitalismo.

Além da produção e do tráfico, Cuba também se envolveu em pesquisa e desenvolvimento de novas drogas. No inverno de 1963, um substituto do Raul Castro foi para a Checoslováquia para conseguir ajuda em forma de equipamentos para produzir drogas na Colômbia a para produzir drogas sintéticas como parte de um experimento em Cuba. O equipamento foi pego por Raul Castro somente em 1964, quando ele parou em Praga após uma visita a Moscou. Logo após isso, o chefe do Departamento de Saúde da Checoslováquia, o coronel-general Miroslav Hemalla acompanhado de dois subordinados e dois técnicos, voou para Cuba para assinar um tratado de cooperação na área Médica (apenas um disfarce para pesquisas utilizando drogas), para ensinar os Cubanos a operar as máquinas, e para instruir o Fidel a começar a produção de drogas na República Dominicana. Está tática fazia parte da estratégia Soviética de sempre produzir as drogas o mais localmente possível, ao invés de transportá-las da União Soviética e do Leste Europeu. Os Cubanos deviam ser utilizados como os operadores, para manter os Soviéticos “limpos”.

Seguindo estas e outras medidas para penetrar nas organizações criminosas e para instalar as operações de Cuba por toda a América Latina, os Soviéticos ordenaram outra operação de backup e outras redes de distribuição por toda a região – esta organizada diretamente por serviços selecionados do Leste Europeu. O primeiro alvo da Checoslováquia foi a Colômbia. Para começar as operações, os Soviéticos recomendaram que os Checos deveriam contratar um dos principais indivíduos da rede Cubana na Colômbia, um militar aposentado que se apresentava pelo nome de Kovaks. O codinome desta operação secreta na Colômbia foi “Pirâmide”, que tinha a ideia de confundir as pessoas como se fosse uma operação do Oriente Médio. O oficial Checo em cargo desta operação foi o primeiro substituto do gabinete do Ministério do Interior. Logo após esta operação, ele foi nomeado Ministro do Interior. Por incrível que pareça, muitos do Ocidente nem sequer percebiam que a função do Ministro do Interior não era tomar conta dos rios e parques, o que acontece na maioria dos países ocidentais, mas sim da “segurança interna”, ou seja, inteligência civil e operações secretas. 

Kovaks viajou à Checoslováquia em abril de 1964 com um plano de uma nova operação que deveria ser aprovada pela inteligência Checoslováquia. Para disfarçar a sua viagem, ele foi primeiro ao México, onde na embaixada Checa ele conseguiu um passaporte falso. Do México ele voou para Viena, onde ele conseguiu um passaporte checo que foi utilizado na Terceira parte da viagem.
O plano final que ele trouxe consigo, que iria iniciar novas operações na Colômbia, foi primeiramente levado aos Soviéticos para aprovação. Depois disso, o plano, modificado em última hora para incorporar sugestões soviéticas foi apresentado ao Conselho de Defesa da Checoslováquia. O plano continha várias diretrizes, além de várias estimativas, onde as mais importantes eram:

1.       Com a ajuda para obter os equipamentos necessários, a produção de cocaína começaria em seis meses;
2.       A rede de distribuição estava funcionando em menos de seis meses;
3.       A distribuição começaria nos Estados Unidos e no Canadá. Mais tarde, a distribuição poderia ir para a Europa;
4.       A distribuição seria mantida a distância do mercado interno;

Na apresentação do plano conjunto do Ministério da Defesa e do Ministério do Interior, o ministro da defesa explicou que já haviam sido selecionados doze pessoas para a operação. Dentre esses, oito já haviam possuído permissão para operar por duas vias; primeiro, pelo Partido Comunista da Colômbia, e Segundo por um já antigo agente da inteligência Checa que estava alocado como um oficial de alta patente no Ministério da Segurança da Colômbia. O plano foi unanimemente aceito pelo Conselho de Defesa da Checoslováquia.

Por causa da operação mais efetiva que estava se desenvolvendo no México, os Soviéticos direcionaram os Checos para infiltrar e ganhar controle da operação. O codinome secreto desta operação foi “Rhine”, para que a operação fosse associada a Europa. O agente Checo selecionado para esta iniciativa foi o Major Jidrich Strnad, que estava operando no México sobre o disfarce de uma empresa de exportação. Seu chefe da Zs era o Coronel Borsky.

Os Cubanos foram especialistas em recrutar Mexicanos para estabelecer a produção e a rede de distribuição e utilizar as informações obtidas através da corrupção para chantagear os oficiais Mexicanos. Os Soviéticos ficavam impressionados, e um dos principais motivos para direcionar a inteligência Checa para infiltrar as operações Cubanos era para aprender os segredos do sucesso no México.

Reconhecendo a posição estratégica do México, os soviéticos direcionaram o estabelecimento de uma segunda operação Checa no México que foi desenvolvida para complementar a iniciativa “Rhine”. O codinome secreto dessa segunda operação foi “Lua Cheia”. Esta campanha teve dois propósitos. O primeiro era para desenvolver uma extensa rede para distribuição de droga dentro dos Estados Unidos. O Segundo era treinar agentes que iriam ser inseridos dentro dos Estados Unidos e Canadá que possuíam instruções para se infiltrar nas redes de distribuição de drogas. Utilizando os seus contatos dentro das redes do México, eles deveriam tomar conta gradualmente das redes dos Estados Unidos e do Canadá. O nome “Lua Cheia” se referre ao fato dos agentes do Bloco Soviético estarem em controle da maior parte dos grupos dos Estados Unidos e do Canadá. México, é bom destacar, sempre foi um alvo importante também da ofensiva Chinesa com drogas.

Com ambos Soviéticos (inicialmente utilizando os Cubanos) e Chineses focando no México, não é de se surpreender que o México é uma das principais rotas do narcotráfico de heroína, cocaína e maconha para dentro dos Estados Unidos.

A inteligência Checa também se envolveu em operações Cubanas no Panamá, sobre o codinome “Pablo”. Uma operação Cubana também foi desenvolvida em El Salvador. Em uma reunião sobre como financiar o Partido Comunista de El Salvador, Sejna lembra que os soviéticos direcionavam os Cubanos para financiar o Partido utilizando os lucros das operações com drogas no próprio país.

Uma operação a parte foi criada para aumentar os “benefícios” daqueles que regularmente procuravam as quentes areias e aguas das ilhas caribenhas, especialmente para tirar proveito da expansão do turismo Caribenho. O segundo secretário do Partido Comunista Francês (um experiente agente da KGB), junto do primeiro secretário do Partido Comunista do Guadalupe, concebeu esta ideia, de distribuir drogas nas rotas turísticas do Caribe. Os seus objetivos eram levantar dinheiro e obter informações que podiam ser utilizadas para chantagear outros membros da burguesia Americana.

Eles ajudaram a estabelecer a operação e proveram recomendações das pessoas aptas a serem recrutadas para operar. A operação foi, mais tarde, entregue a dois oficiais da inteligência Checa, um da inteligência militar e outro do Ministério de Interior. Ambos oficiais eram nascidos na França e falavam o francês fluentemente. Guadalupe era o centro da operação, que servia a ilha de Martinique e eventualmente as outras ilhas do Caribe. O dinheiro levantado por esta operação foi capaz de financiar todas as operações da inteligência Comunista em Guadalupe, Martinique, Suriname, Haiti e boa parte da inteligência Comunista da França.

No início da década de 1960, os soviéticos estavam construindo rapidamente várias organizações pelo América do Norte, América Central, América do Sul e pelo Caribe. Outros satélites soviéticos diretamente envolvidos eram a Checoslováquia, Cuba, Hungria, Alemanha Oriental, Bulgária e a Polônia. A maioria do conhecimento do Sejna era da dimensão da estratégia da parte Checa. As operações dos outros satélites não são lidadas com detalhes por esta análise, porém todos eles estavam profundamente envolvidos nas operações com drogas. Romênia e a Albânia não faziam parte oficialmente da ofensiva Soviética porque os Soviéticos não confiavam na segurança destes dois países. Albânia chegou a pedir para participar citando a sua força na inteligência na área Báltica e do Oriente Médio, porém ao invés de trazer a Albânia para a operação, os Soviéticos decidiram dar o dinheiro para os Albaneses comprarem os equipamentos necessários, para que a Albânia trabalhasse de maneira “independente”.

Países em que o Sejna teve conhecimento direto das organizações que foram estabelecidas na década de 1960 incluem Canadá, México, Panamá, Argentina, Chile, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Uruguai, Paraguai, Peru, Guadalupe, El Salvador, República Dominicana, Jamaica e obviamente os Estados Unidos. Para esta lista deveriam ser adicionados os países onde o crime organizado foi crítico para o narcotráfico. Um exemplo destes países é a Venezuela, país que os Soviéticos decidiram em 1960-61 que seria o centro da organização da máfia, das operações e da lavagem de dinheiro do hemisfério Ocidental.

As drogas inicialmente escolhidas foram o ópio, heroína, morfina, maconha e os sintéticos como o LSD. Enquanto a cocaína não era proeminente na época, em 1961, os Soviéticos, analisando o cenário das drogas, concluíram que a cocaína era, para utilizar umas das frases favoritas deles “a onda do futuro”. Esta revelação veio ao Sejna numa reunião em Moscou em 1964 que foi armada para a discussão e a coordenação de um plano de disfarce. Estavam na reunião, da Checoslováquia, o chefe da Administração Política Principal, o chefe da Zs (inteligência militar) e a principal cabeça da inteligência estratégica, além, é claro, do Jan Sejna. Os soviéticos presentes era o chefe da Administração Política Principal, o chefe da GRU (Inteligência Militar Soviética) e o chefe da inteligência estratégica, e o General Boris Shevchenko, o chefe do Departamento de Propaganda Especial, quem coordenou a reunião.

Foi nesta reunião que Shevchenko introduziu o termo “Epidemia Rosa”. Discutindo o future, ele reforçou o potencial da cocaína. Ela é preferida à heroína, ele explicou, porque ela é de produção mais fácil além de poder ser distribuída para muito mais pessoas do que a heroína. Os Soviéticos estavam tão impressionados com o potencial da cocaína, que, de fato, eles falavam numa epidemia, numa “epidemia branca”. Para “servir e expandir” esta epidemia, Shevchenko explicava, uma produção e distribuição separada era necessária, iniciando imediatamente.

Esta nova operação utilizando a cocaína foi referida e chamada pelo codinome de “Epidemia Rosa”. No início os países que lideraram a produção e distribuição foram a União Soviética, Checoslováquia e Cuba. A Checoslováquia começou imediatamente um programa tecnológica especial para desenvolver a as técnicas necessárias. Esta operação foi operada pela inteligência militar e pelo Departamento de Saúde sob o comando da contra inteligência militar.

As necessárias experiências na produção foram conduzidas num centro de pesquisa ultrassecreto em Milovice. A operação foi facilitada pelos Cubanos, que aprenderam algumas técnicas rudimentares que eram utilizadas na América do Sul e passaram todas as informações para a inteligência Checa. Os cientistas Checos aprenderam e depois evoluíram as técnicas para um modelo de produção em massa de modo mais profissional.


Assim, entre 1960 e 1965, os serviços da inteligência Soviética, diretamente de Moscou, estabeleceram a produção, distribuição de drogas, além de operações de lavagem de dinheiro por todo o Sul, Centro o Norte do continente Americano. Somente as pessoas que passavam por um pesado processo de investigação local podiam fazer parte das operações, que eram discretamente gerenciadas pelo Bloco Soviético ou pelos agentes da Inteligência Cubana, que, na maioria das vezes, eram treinados na União Soviética. Os futuros narcotraficantes de todo o mundo eram treinados em narcotráfico nos centros do Leste Europeu e na União Soviética. Alguns centros adicionais existiam na Coréia do Norte, no Vietnã do Norte e em Cuba. Os graduados viravam agentes do narcotráfico Soviético. Inicialmente o narcotráfico era de heroína, maconha e sintéticos. Porém, com o efeito que começou em 1964, uma rede especial foi criada para servir e expandir a futura epidemia de cocaína.