segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

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Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

No Ocidente, quando as pessoas falam sobre operações de inteligência, o que eles normalmente têm em mente são operações secretas planejadas por serviços de inteligência, que nem CIA, KGB e a GRU. Este conceito presta um incrível desserviço as operações de inteligência Comunista, que envolve vários agentes, não apenas da KGB e da GRU, e que não são direcionados pelos serviços de inteligência, mas sim pela Conselho de Defesa, pelo Departamento de Órgãos Administrativos ou por outra organização do Partido que seja mais apropriada para a operação. Ou seja, as operações de inteligência são as operações do Partido Comunista designadas para servir aos interesses do Estado, estes que somente o Partido pode estabelecer. O serviço de inteligência não passa de um instrumento estratégico do Partido, novamente em total contraste com os Estados Unidos, que não possuem nada similar. A operação conhecida como "Druzhba Narodov", o capicioso plano do Khrushchev chamado a "Amizade das Nações" é especialmente interessante por conta da visão que nos dá das operações de inteligência dos Soviéticos.

Até mesmo em seu início, na segunda metade da década de 1950, a operação com drogas e narcóticos envolvia muito mais do que agentes da inteligência. Médicos e pessoas relacionadas à medicina também estavam fortemente envolvidas na análise, pesquisa científica e teste dos efeitos das drogas. A principal força motivadora deste esquema vinha do próprio Nikita Khrushchev, o primeiro Secretário (e mais tarde, Geral) do Partido Comunista da União Soviética (CPSU). O plano inicial foi conduzido por uma força conjunta de militares/civis da Tchecoslováquia citada anteriormente. A incorporação da estratégia de traficar drogas dentro da estratégia de segurança nacional foi gerenciada por um comitê especial sobre a direção de Leonid Brezhnev. Este comitê, que existiu entre o outono 1956 e a primavera de 1957, foi o responsável por evoluir a estratégia Soviética e trazê-la para a era nuclear. O escolhido para ser o substituto do Brezhnev foi o Mikhail Suslov, um dos cabeças da ideologia Soviética. Os líderes do Subcomitê foram o Marshal V. D. Sokolovskiy (militar), Dimitryi Ustinov (indústria militar), Boris Ponomarev (assuntos exteriores) e o General Nikolai Mironov (inteligência).

Duas revisões foram feitas na estratégia Soviética de utilizar drogas e narcóticos durante esta reunião. A primeira envolvia o reconhecimento que as drogas poderiam ser uma arma muito eficaz para enfraquecer as forças militares inimigas. A segunda é que as drogas poderiam ser utilizadas para influenciar os líderes burgueses do Terceiro Mundo e os partidos de Social Democracia, porém ninguém estava previamente excluído.

A responsabilidade por analisar o mercado e quem seriam os alvos foi delegada para o Departamento Internacional do CPSU. O Departamento Internacional também estava envolvido na coleta de informação sobre corrupção dos líderes estrangeiros e no seu uso nas operações de chantagem, intimidação e exposição. O departamento também estava fortemente envolvido na propaganda e planejamento, e muito provavelmente foi o responsável pela liberação da informação do tráfico de drogas pelos Chineses.

A Administração Política Principal do Exército e da Marinha, o departamento que mantém um olhar ideológico sobre os militares, também estava envolvido nesta operação de tráfico de drogas desde o início. Já em 1956, o líder da Tchecoslováquia foi informado pelo general Soviético Kalashnik, o ideólogo da Administração Política Principal, sobre uma nova visão de como as drogas e os produtos químicos eram capazes de alterar a mente e o comportamento de milhões de pessoas. Esta era uma das cinco novas armas que eram capazes "destruir o inimigo antes que ele possa nos destruir". As outras armas consistiam em: ofensiva ideológica, que significa propaganda e fraude, política de borda feita sobre medida para separar o Ocidente, isolamento dos EUA, e por último, caos social e econômico. Era totalmente essencial, General Kalashnik explicou, “que os militares deveriam o mais rápido possível entender que existem armar muito mais efetivas do que as convencionais, incluindo as bombas nucleares”.

Uma explicação foi dada por Khrushchev no início do verão de 1963 em Moscou. Durante uma discussão informal, Khrushchev tinha acabado de criticar Marshal Rodion Ya Malinovsky por querer desesperadamente colocar os seus tanques no Ocidente. Depois Khrushchev explicou que os Soviéticos estavam operando estrategicamente simultaneamente em dois níveis, para engajar o Ocidente numa guerra. No primeiro nível estavam a trapaça, a desinformação e a propaganda. No segundo nível estava a destruição do Capitalismo utilizando o seu próprio dinheiro através das drogas. Assim que estes dois níveis tiverem obtido sucesso, Khrushchev enfatizava, "aí sim, você poderá utilizar o terceiro nível, Camarada Malinosvky, os nossos tanques".

Assim que ofensiva Soviética das drogas cresceu e foi ganhando maturidade, a sua organização foi ficando mais complexa - porém a sua direção e o seu segredo continuavam sob estrito controle. Este era outra característica das operações Soviéticas: apenas por que uma operação era expandia, não significava que o seu controle seria perdido. O Concelho de Defesa é um bom exemplo. O concelho continuou pequeno exatamente para não correr o risco de perder a sua direção e nem a sua segurança. Neste ramo das drogas, apesar de várias pessoas estarem envolvidas, apenas umas poucas sabiam a real razão da operação, ou até mesmo o maciço envolvimento dos Soviéticos.

As principais organizações da Tchecoslováquia que participaram neste negócio com as drogas estão listadas na tabela abaixo. A estrutura organizacional aplicada na Tchecoslováquia equipara-se a estrutura que era utilizada na União Soviética. Algumas organizações possuem nomes diferentes, por exemplo: a versão Tcheca do Departamento Internacional Soviético era o Departamento Estrangeiro; o Secretário Geral Soviético era o Primeiro Secretário; e a KGB Soviética era a Segunda Administração que estava sob as ordens do Ministério do Interior. Existiam centros de pesquisa diferentes na União Soviética, e as organizações Soviéticas eram maiores e mais variadas, porém em sua essência as duas estruturas organizacionais eram iguais.

A principal diferença era que as organizações Soviéticas tomavam as decisões estratégicas em escala global, eram maiores, e eram responsáveis pelos outros Partidos Comunistas que não haviam correspondentes na Tchecoslováquia. Esta última distinção é particularmente importante. Por exemplo, importantes ajudas para o desenvolvimento do tráfico de droga na América Latina foram fornecidas pelos Partidos Comunistas locais, que se encontravam todos os anos em Moscou e apresentavam os progressos das operações com drogas, dando recomendações de novas técnicas, mercados e táticas.

Organizações envolvidas com  "Druzhba Narodov" - "A Amizade das Nações":

  • Primeiro Secretário, Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, Comitê Conjunto
    • Estrutura Governamental
      • Ministério do Interior
      • Segunda Administração Estratégica, Rede de Agentes de Intelligência, Contra-Inteligência
      • Administração Financeira
      • Ministro da Defesa
      • Administração da Inteligência (Sz), Rede de Agentes de Inteligência Estratégica, Finanças das Propagandas Especiais
      • Administração de Saúde dos Serviços Logísticos
      • Departamento de Suporte Técnico a Países Estrangeiros
      • Administração Financeira Principal
      • Ministro das Finanças, Seção Militar
      • Academia de Ciências
      • Ministro de Comércio Estrangeiro
      • Ministro do Estrangeiro
      • Administração Militar do Planejamento Estatal
    • Estrutura Partidária
      • Departamento Administrativo
      • Administração Política Principal
      • Departamento do Estrangeiro
      • Departamento de Saúde
      • Departamento de Propaganda e Agitação
      • Departamento Financeiro
      • Departamento de Ciências
      • Alta Escola do Partido
Assim como em todas as importantes operações Soviéticas, o Secretariado Geral não foi apenas informado, mas ele possuía um papel de liderança. Em relação ao planejamento e à direção, o real poder do sistema Soviético residia nos departamentos do Comitê Central. Um dos mais importantes departamentos era o Departamento Administrativo, que era onde tanto o planejamento como o controle das operações com drogas aconteceram, tanto na União Soviético como na Tchecoslováquia. Este provavelmente também foi o também nos outros países satélites.

O Departamento Administrativo exercitava controle e supervisão sobre os serviços de inteligência, sobre os militares e até mesmo sobre a justiça socialista. Assim, era natural que o Departamento Administrativo fosse também o departamento líder nas operações com drogas. Não foi por coincidência que em 1963, quando Khrushchev quis acelerar a ofensiva, ele mandou exatamente o Major General Nikolai Savinkin, diretor do Departamento Administrativo, visitar todos os países envolvidos e passar as instruções necessárias. Analistas ocidentais que queiram compreender a União Soviética devem prestar atenção ao papel do Partido e ao poder do Comitê Central, especialmente ao Departamento Administrativo. Sobre este assunto é importante lembrar que o Savinkin se tornou Diretor do Departamento Administrativo em 1964, sendo o chefe por 23 anos, até 1987. (Porém foi apenas em 1988 que os jornais Soviéticos anunciaram que ele tinha de fato deixado o cargo).

Dentro do Departamento Administrativo existiam oficiais, cuja responsabilidade era, de fato, ficar de olho nas organizações militares e de inteligência. Além disso, alguns dos oficiais políticos que trabalhavam dentro das organizações militares e de inteligência mantinham seus chefes reais, do Departamento Administrativo, completamente informados sobre o que acontecia dentro das suas áreas de responsabilidade dentro desses serviços militares e de inteligência. Por exemplo, Sejna foi o oficial político de mais alta patente no Ministério da Defesa da Tchecoslováquia, e, assim, ele também foi membro da seção militar do Departamento Administrativo. Adicionalmente, em casos de operações especiais (como esta do tráfico de drogas), os departamentos mais importantes ganhavam coordenações especializadas e algumas das funções de controle eram expandidas para outras organizações, ao invés de ficarem limitadas as organizações militares, como no caso do Departamento Administrativo, por exemplo.

Outra organização de importância para manter o controle e a segurança interna era a contra-inteligência. No quartel-general da Inteligência Militar da Tchecoslováquia (Zs), havia uma seção de contra-inteligência, que era na verdade uma seção do Ministério do Interior (KGB na União Soviética) e que tinha um oficial com a responsabilidade de controle no Departamento Administrativo.

Além disso, dentro da contra-inteligência, tanto militar como civil, haviam departamento especiais que supervisionavam as operações de contra-inteligência e reportava tudo para o chefe do Departamento Administrativo. Os Soviéticos não confiavam em ninguém, e a sua estrutura organizacional refletia este princípio. Todo mundo deveria ser controlado por três vias. Existe uma razão principal para isto ocorrer, quando eram descobertos que oficiais de Cuba, Nicarágua, Bulgária ou de outros países Comunistas estavam envolvidos no tráfico de drogas, é muito pouco provável que fosse de fato "apenas alguns poucos oficiais envolvidos". O Partido possuía, com certeza, completo conhecimento do que estava fazendo, e de fato, não apenas aprovava as operações como provavelmente direcionava o que deveria ser feito.

Alguns indicativos da supervisão dos Partidos e da disciplina necessária para as operações com drogas foi o fato que, em 1959, o Chefe da Zs, General Racek, foi demitido após uma inspeção de um agente do Departamento Administrativo. No relatório, o agente criticava o General Racek por não ter escalado seus melhores funcionários no negócio das drogas. Racek falhou em entender o quão importante era o negócio de drogas para as operações de inteligência.

Ambos os serviços de inteligência possuem responsabilidades no negócio com narcóticos. Porém, como a produção era controlada por e dentro dos serviços militares, e como os militares eram os responsáveis por destruir a capacidade de resistência militar da população inimiga, a responsabilidade do tráfico de drogas era maior e residia dentro do sistema militar. A inteligência Civil (Segunda Administração da Tchecoslováquia, um pequeno componente da KGB da União Soviética) ajudava sempre que seus recursos estavam melhor posicionados para a atarefa e onde a inteligência militar, Zs na Tchecoslováquia, não possuía meios para avançar o tráfico de drogas.

A maioria dos agentes envolvidos em operações com narcóticos era gerenciada dentro das seções de Inteligência Estratégica e das organizações de Inteligência Militar. Recrutamento de agentes, treinamento e a própria administração eram todas distribuídas pela rede de agentes, mas as operações de narcóticos eram operadas pela divisão de Inteligência Estratégica. Esta divisão era a responsável por estabelecer as cotas de produção em cada país, sempre respeitando a produção de drogas dentro da Tchecoslováquia; Além disso, ela era responsável pela coordenação e direção da produção fora do seu território, por coordenar todo o transporte, por gerenciar as operações dos agentes, e pelo planejamento geral das operações em outros países.

Contra-inteligência, civil e militar, que possuem como objetivo principal a segurança interna de um país, também foram envolvidas. Suas missões eram particularmente complicadas nas operações estrangeiras, o que demandava a assistência dos Partidos Comunistas estrangeiros e uma aliança estratégica dos agentes de inteligência operando em cada país. Registros financeiros, orçamento e contabilidade eram gerenciadas pelas seções de finanças especiais dentro de cada serviço de inteligência.

No Caso de Cuba, tanta a Zs como a Segunda Administração (mais a GRU Soviética e a inteligência da KGB) ajudaram a organizar as operações relevantes com drogas. Visto de fora foi uma operação conjunta. Como explicado anteriormente, quando Raul Castro estava na Tchecoslováquia num verão de 1960, ele assinou o acordo sobre a assistência junto ao Ministro do Interior (KGB) e ao Ministro da Defesa (GRU). Quando os planos para a expansão das operações de drogas e quando os relatórios sobre o progresso eram apresentados ao Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, as apresentações eram feitas conjuntamente pelo Ministro de Defesa e do Interior.

Também foi criado um comitê conjunto entre o Ministérios de Defesa e do Interior para coordenar as operações de Inteligência. Este comitê decidiu quem operaria os agentes recrutados, quem faria uma determinada operação (tanto civil quanto militar), quem era a melhor opção para trabalhar numa determinada região, etc... Na Tchecoslováquia, um dos presidentes deste comitê foi o Vice-Diretor do Ministério do Interior e o Chefe do Estado-Maior. Outros membros foram o Chefe da Zs e o Chefe da Segunda Administração do Ministério do Interior (chefe da inteligência da KGB na União Soviética), e seus respectivos substitutos nas inteligências estratégicas. Este comitê, ainda na União Soviética, tomou a decisão que no planejamento das operações cada um dos países satélites poderia fazer o trabalho da maneira que achava mais eficiente, por exemplo, poderia escolher qual era o serviço de inteligência mais apropriado, o civil ou o militar.

Em 1950, um grande número de importante organizações foram criadas e ganharam responsabilidades críticas, por exemplo o Departamento de Propagandas Especiais do Gabinete da Administração da Inteligência. Estes departamentos que foram criados reportavam conjuntamente para a Administração de Inteligência e para a Administração Política Central acabaram ganhando papéis especialmente importantes na coleta de dados de indivíduos em países estrangeiros e no controle destes em tempos de guerra. Como fazia parte da missão do Departamento de Propaganda Especiais tanto o planejamento como a divulgação de instruções relacionadas as fraudes políticas, fez total sentido unir a estratégia do uso de narcóticos com a coleta de informações, pois era possível utilizar a corrupção associada ao tráfico para obter informações sigilosas e/ou comprometedoras.

As estratégias de propaganda eram operadas pelo Departamento de Propaganda do Comitê Central e pelo Departamento de Propaganda Especiais. Uma pessoa foi especialmente selecionada (de uma seção especial da União Soviética) do Departamento Administrativo para provier os dados de inteligência derivados dos serviços de inteligência e do Departamento de Propagandas Especiais. Gerando, assim, direções e ordens para a ofensiva da propaganda. No caso das operações de fraude política, novamente várias organizações eram envolvidas, a mais importante delas era a Administração Política Central, o Departamento de Propagandas Especiais, o Departamento do Estrangeiro, e o Secretariado Eleito, que era responsável pela supervisão da maioria das operações de fraude política.

Participaram pesadamente nas pesquisas científicas, militares e de inteligência, tanto os cientistas do Leste Europeu quanto os da União Soviética, incluindo pesquisas sobre o desenvolvimento, produção e análises das consequências do uso de drogas e narcóticos. Na Tchecoslováquia, as principais atividades de pesquisa científica que ajudavam no tráfico de narcóticos eram gerenciadas pela Academia de Ciência e pelos centros de pesquisa científica dos militares. Nas Academias, as principais atividades eram conduzidas no Colégio de Medicina da Universidade Charles e no Colégio de medicina da cidade de Bratislava. Entre os militares, o foco principal era a direção dada pela Administração Médica Militar junta ao trabalho feito pelo Hospital Central Militar, o Centro de Educação Médico Militar, onde os médicos eram de fato treinados, e a Centro Médico das Forças Aéreas.

As atividades das Academias de Ciências eram governadas por planos anuais, quinquenais e de longo prazo (15 anos ou mais). Estes planos possuíam duas partes, uma parte regular e uma parte Ultra Secreta. Os participantes envolvidos na parte secreta que não eram da Academia de Ciência, eram do Departamento Administrativo do Comitê Central, do Departamento de Saúde do Comitê Central, da Administração Militar da Comissão do Plano de Estado, da Administração de Ciência do Ministério da Defesa, da seção de Inteligência Estratégica do Ministério do Interior, do Gabinete da Zs e da seção militar do Departamento Financeiro do Comitê Central.

Os planos e objetivos das pesquisas científicas para desenvolvimento de drogas e narcóticos mais avançadas estavam sempre na parte secreta do plano. Normalmente estes objetivos visavam o desenvolvimento de drogas mais viciantes, que poderiam ser produzidas mais facilmente e que produziriam efeitos debilitantes por um período mais longo. Estes planos sempre eram apresentados junto aos planos de desenvolvimento de armas químicas e biológicas, agentes químicos usados para assassinatos e drogas que visavam o controle mental ou troca de comportamento. Como indicado anteriormente, drogas e narcóticos eram considerados como armas químicas para os Soviéticos.

A análise dos efeitos do tráfico de drogas e narcóticos sobre a sociedade, ou seja, a análise do mercado, era especialmente importante para o bloco Soviético. O mais importante centro de análise era a Academia Política Militar da Administração Política Central. O foco era sempre nas perspectivas militares. A Alta Escola Partidária distribuía PhDs para uma vasta variedade de assuntos, incluindo tantas ciências naturais como humanas. Normalmente 60% do currículo da escola era sobre Marxismo-Leninismo, sendo os 40% restantes focados na especialidade do aluno, por exemplo, biologia. Estes institutos eram especialmente interessantes para programas analíticos e as pesquisas científicas pois eles já possuíam bibliotecas e laboratórios de pesquisa. O grosso da pesquisa científica foi conduzido nestas faculdades.

Também existiam times conjuntos, os membros vinham de todos os países do Bloco Soviético. Estes times eram usualmente direcionados pelos participantes Soviéticos, e em vários casos todo o time era direcionado para alguma universidade ou hospital em Moscou. Através dos anos esta tendência de integração da pesquisa do Bloco Soviético aumentou a ênfase em times de pesquisa localizados em Moscou, provavelmente refletindo os interesses do chefe da KGB, Yuriy Andropov, de manter total controle sobre estas atividades especiais. Como será descrito mais a frente, as atividades de pesquisa científica que ocorreram durante a década de 1960 foram eficientes em produzir drogas que limitavam o desenvolvimento intelectual dos seus usuários. Todos os países envolvidos no Pacto de Warsaw estavam envolvidos neste tipo de pesquisa, incluindo Cuba que foi de fato envolvida a pesquisa do Pacto de Warsaw através da Tchecoslováquia em 1967.

Os serviços de inteligência do Bloco Soviético também possuíam agentes especiais espalhados por todo o mundo, alguns destes, localizados na Europa e no Hemisfério Ocidental de fato não se envolveram no tráfico de drogas, porém observavam com atenção aos seus efeitos. O General Sejna relembra uma sessão especial de treinamento de indivíduo que foi executada na Central de Treinamento para tráfico de drogas da Zs na cidade de Bratislava. O foco das atividades desta sessão eram como analisar as oportunidades de mercado e como recomendar medidas que enganariam as autoridades locais e nacionais sobre a distribuição de drogas. Além disso era ensinado como identificar vulnerabilidades nas organizações policiais e, principalmente, como corromper e comprometer a polícia. Indivíduos que compareceram a estas sessões especiais de treinamento trabalham ou para a inteligência militar ou para a civil. Eles não eram necessariamente Comunistas. Porém eles eram, como o General Sejna observou, todos extremamente inteligentes. Um indivíduo, em particular, era um professor universitário do Canadá.

Estes centros de estudos especiais eram uma importante dimensão das operações Soviéticas. Estas atividades não eram cursinhos, nem feitos de maneira corrida, todos eram treinamento finamente planejados. Óbvio que pequenos cursos poderiam ser dados de tempos em tempos, caso necessário. A ênfase principal destas atividades, que eram contínuas, era envolver cientistas, doutores médicos, propagandistas e especialistas em inteligência de vários dos Blocos Soviéticos. Eles continuamente examinavam as tendências ao redor do mundo, como eles diriam, e identificavam oportunidade e técnicas de expandir o negócio de drogas. Como parte das direções Soviéticas aos países satélites, pontos de contatos específicos eram estabelecidos para garantir que a as operações de inteligência e propaganda dos países satélites receberiam todas as conclusões nascidas das análises de mercado. Isto era necessário para garantir que as melhores idéias possíveis advindas das vulnerabilidades globais e as melhores técnicas de tráfico de drogas estavam sendo empregadas na operação 'Druzhba Narodov'.

Sob o Bloco Soviético existia a organização de coordenação econômica chamada COMECON. Dentro desta existia uma seção sobre saúde, e dentro desta uma subseção militar sobre saúde. Os membros desta subseção eram todos militares da Administração de Saúde dos países do Pacto de Warsaw e, para os Soviéticos, o chefe da Administração Central de Saúde. Este grupo ajudou a coordenar a pesquisa científica e produção de drogas e narcóticos através do Pacto de Warsaw. COMECON, assim como outras organizações Soviéticas, não eram apenas organizações de cooperação econômica. Elas também serviam como disfarce para uma estrutura de comando militar pronta para tomar o comando Pacto de Warsaw em caso deste pacto ser dissolvido. Estes arranjos eram especialmente feitos para permitir que os Soviéticos recomendem a dissolução tanto da NATO como do próprio Pacto de Warsaw sem na verdade afetar em nada o poderio militar do Bloco Soviéticos.

O centro de planejamento central da produção e distribuição das drogas e narcóticos era a Administração Principal da Saúde dos Serviços Logístico na União Soviética. Na Tchecoslováquia, este centro ficava localizado dentro da Administração de Saúde dos Serviços Logísticos.

Distribuição e transporte eram gerenciados pela Administração Principal Técnica no Ministério de Comércio Estrangeiro. Esta administração era uma das mais importantes organizações para as operações de terrorismo e narcóticos. Ela era a responsável pelo transporte e estoque de armas, explosivos e narcóticos. A administração era pesadamente preenchida por oficiais da Zs. Estas organizações controlavam diversas organizações de comércio, tais como: COBOL, CHEMEPOL, AEROFLOT, e logicamente a KINTEX, ou a sua óbvia sucessora na Bulgária, a GLOBUS.

A Administração Técnica Central ganhou, do Concelho de Defesa, a autoridade de contratar organizações estrangeiras para assistência onde necessário, como por exemplo no treinamento de terroristas e outros modos de sabotagem e atividades de guerra revolucionária. Esta administração era, na verdade, uma organização de fachada para as operações de inteligência estratégica. Ela fazia os contratos e coletava as verbas. A administração era preenchida principalmente por oficiais da Zs. A sua organização irmã dentro do Gabinete era o Departamento Técnico de Suporte a Países Estrangeiros, que coordenava a provisão de armas, explosivos, suprimentos terroristas etc... para serem enviados pela Administração Técnica Principal.

Dentro dos países satélites também existia estações de inteligência Soviética, normalmente localizadas nas fronteiras: na Tchecoslováquia, por exemplo, em Karlovy Vary, Liberec, Doupov, Cerchov e Bratislava. Estas estações agiam muito além do seus país de origem. Quando chamadas a agirem, algumas vezes eram ajudadas pelo país de origem. Porém, em operações de inteligência estratégica, como o tráfico de drogas, estas estações agiam sem o conhecimento do país que estavam localizadas.

A movimentação ilegal de produtos através das fronteiras em tempos de paz, por exemplo, permitia que agentes sabotadores pudessem ser movimentados numa situação de crise, sem chamar atenção indesejada. Nesta conexão, é muito útil lembrar que todas estas operações: narcóticos, tráficos, ajuda militar a terroristas e sabotagem, eram gerenciadas pelas organizações de inteligência estratégica, tanto militar quanto civil.

O Bloco Soviético negociou o sistema da TIR (Transportes Internacionais Rodoviários) no Oeste Europeu, para simplificar a alfândega e facilitar o comércio entre países. Sob este sistema, no país de saída o oficial da alfândega sela o frete e assina os documentos necessários. Após esta burocracia, o caminhão pode ser dirigido para qualquer outro país Europeu. Nenhum outro inspetor pode examinar o conteúdo a não ser que aja fortes indicativos que os selos ou os documentos do frete foram adulterados. Este sistema começou em 1940 e expandiu dramaticamente depois de 1949. Este aumento se deu especialmente por causa do Leste Europeu, dentro do Bloco Soviético. Na década de 1970, o percentual do Bloco Soviético neste sistema era de 30%. Já no meio da década de 1980, cresceu para mais de 50%. Este sistema foi utilizado para o transporte de narcóticos e suplementos para terroristas.

O sistema TIR também impedia os oficiais do Ocidente de verificar envios assim que eles eram enviados por outros meios de transporte, navios sendo a alternativa preferida. Para aproveitar este fato, a Tchecoslováquia, e outros países satélites, alugaram uma parte do porto de Hamburgo. Este segmento do porto foi tratado como se fosse território da Tchecoslováquia (ou território dos outros países quando era o caso). As operações e as instalações eram controladas pela Administração Técnica Principal do Ministério do Comércio Estrangeiro. Os Tchecos pagam aluguéis aos Alemães e os navios Tchecos usavam o sistema marítimo de transporte para envio de material das operações de inteligência estratégica, como drogas, armas suplementos para terrorismo e sabotagem. Isto tudo com a garantia de nenhuma interferência ou controle pela alfândega Alemã. Caminhões eram lotados e selados na Tchecoslováquia, dirigidos até os portos na Alemanha fazendo diversas paradas no decurso da viagem. Em cada uma deixava mensagens e pacotes em instalações militares. Apesar deste fato ser do conhecimento dos serviços de inteligência da Alemanha, eles nada podiam fazer pois os caminhões andavam sob a proteção do Acordo entre Alemanha e a Tchecoslováquia. Os países satélites usaram ao máximo os portos de Hamburgo. Inclusive até mais do que outras instalações disponíveis que existiam dentro dos países Socialistas, como por exemplo, na Polônia, pois o Ocidente prestava muito mais atenção na Polônia do que nos portos da Alemanha.

Em 1984, as primeiras evidências deste sistema já eram conhecidas e foram reportadas ao Congresso Americano no Comitê sobre Abuso e Controle de Narcóticos. O relatório dizia: "Metaqualona... tem sido contrabandeada principalmente da Colômbia, onde é transformada em pastilhas usando metaqualone em pó advinda da República Popular da China e da Hungria e sub-repticiamente enviada à Colômbia do porto de Hamburgo."

O uso do sistema TIR para transporte de armas e drogas também recebeu atenção do desertor e chefe da Inteligência Romena, o Tenente General Ion Mihai Pacepa. Ele explicou que a maioria dos motoristas dos caminhões que rodavam na Romênia eram na verdade agentes da inteligência de países estrangeiros. Alguns do DIE, Departamento de Informação Estrangeiras, e que as suas operações eram baseadas no modelo da Bulgária, que também utilizava o TIR como disfarce para transportar armas e drogas para o Ocidente. O DIE, que era gerenciado pelo Pacepa, também utilizava o sistema TIR para:

"... trazer secretamente material de alta tecnologia e equipamento militar para a Romênia, assim como para contrabandear armas não registradas e drogas para o Ocidente. A maioria destes movimentos eram carregadas sobre a proteção internacional dos acordos do TIR e dos selos das alfândegas estrangeiras. Ao longo dos anos todo tipo possível de selo e de documentação usada pelas autoridades dos países Ocidentais foi duplicada pela DIE e mantido para uso e troca caso fossem destruídos no caminho por conta de razões operacionais".

Uma descrição do processo também foi fornecida pelo Tenente General B. C. Berkhof, do Exército Real da Holanda. Ele foi o Chefe do Gabinete das Forças Aliadas da Europa Central da NATO (AFCENT) até 1986. Berkhof disse que existia evidência em abundância do envolvimento da Bulgária e da Alemanha Oriental no tráfico de drogas, e alguma evidência do envolvimento da Tchecoslováquia. Ele confirmou que o sistema TIR era completamente abusado pela KGB e pelos serviços de inteligência do Bloco Soviético, e que diversos especialistas Holandeses acreditavam que 5% de todo o tráfico do TIR era relacionado as atividades de inteligência estratégica. Ele também disse que descobertas similares surgiram na Itália e em outros países Ocidentais.

Assim, poderia parecer que os governos dos países Ocidentais provavelmente soubessem o que estava ocorrendo e ainda sim oficialmente sancionaram o transporte de drogas ilícitas, narcóticos e suplementos terroristas para os seus territórios. Tanto o uso do sistema TIR para transporte de bens ilícitos como uma percepção geral do que vinha ocorrendo em relação as drogas foram explorados no Congresso Americano pelo General Lewis Walt em 1972 durante um interrogatório sobre a rede mundial de tráfico de drogas. Em 1984, a DEA, órgão administrativo relaciona a drogas nos Estados Unidos, reconheceu quando interrogado pelo Congresso dos Estados Unidos que eles já sabiam do uso de caminhões do sistema TIR pelos Iranianos, Turcos e Búlgaros para o tráfico de drogas e outros contrabandos desde 1972. Eles apontaram em torno de 50.000 caminhões que transitavam pela Bulgária e pela Iugoslávia por ano estavam indo ou voltando do Oriente Médio. Destes, a DEA adicionou, aproximadamente metade fazem parte do TIR. A DEA também reportou que os oficiais da alfândega Búlgara estavam todos envolvidos em ajudar o tráfico de drogas.

O processo de tráfico de drogas e narcóticos era, assim como em todos os outros casos de operações de inteligência, incorporados por complete em todos os planejamentos. Primeiro existia um plano de longo prazo, este estabelecia as prioridades, a cooperação necessária entre as agências e organização para o desenvolvimento dos projetos científicos, que aconteciam em paralelo com a produção das drogas e dos narcóticos. O plano também listava os países e suas prioridades na distribuição das drogas. O plano de longo prazo também descrevia como a rede de distribuição em diferentes países deveria ser desenvolvida e como aproveitar as vulnerabilidades locais. Os planos de curto prazo eram mais específicos e focavam nas táticas locais. Eles especificavam com quais grupos locais poderiam ocorrer cooperação, quem eram os agentes a ser utilizado e a agenda de produção e envio.

As verbas eram controladas utilizando seis organizações secretas. O Ministério do Interior e a Administração de Inteligência do Gabinete Central possuíam os seus próprios setores financeiros. Adicionalmente ainda existia a Administração Financeira Central do Ministério da Defesa. Dentro desta administração existia uma divisão especial que gerenciava um item secreto do orçamento, que incluía o orçamento dos narcóticos e das operações estratégicas de inteligência. Esta parte do orçamento era mantido em segredo de todos as pessoas da Administração Financeira Central e até mesmo do Politburo e do Comitê Central.

Apenas o Concelho de Defesa e as algumas seções militares especiais da Comissão de Planejamento Estatal tinham acesso a parte secreta do orçamento. No Ministério das Finanças e na Comissão de Planejamento Estatal haviam seções militares especiais, dentro destas haviam subseções de inteligência que gerenciavam todos os componentes de inteligência do orçamento, que eram então coordenadas diretamente e apenas pelo Concelho de Defesa. Para completar o ciclo, dentro da Administração Financeira, tanto dos militares quanto dos civis, haviam seções especiais que também gerenciavam estas partes secretas do orçamento. Estas organizações especiais eram os únicos a terem uma visão completa de como o orçamento da inteligência funcionava.

Revisando como as operações Soviéticas com as drogas funcionava, diversas conclusões importantes se destacam. Claramente, a ofensiva com narcóticos e as operações de inteligência eram da mais alta importância. É também evidente que a operação era direcionada pelo Estado, especialmente pelo Departamento Administrativo, e que diversas agências, no caso da Tchecoslováquia, pelo menos 20 agências ou organizações, como mostra a tabela. É especialmente notável que apesar da natureza distribuída da operação, a segurança foi muito bem mantida e o acesso a qualquer informação era severamente controlado. Novamente, no caso da Tchecoslováquia menos de 30 pessoas realmente entendiam a completa natureza da operação. Para ilustrar a eficiência das medidas de segurança dos Comunistas vale ressaltar que não existe nenhum indicativo anterior a 1986 que nem os Estados Unidos e nem a inteligência dos países Ocidentais tinham consciência da operação Soviética, apesar de que de 1955 até 1965, pelo menos cinco países satélites e diversas organizações de fachada já estavam participando das operações Soviéticas com drogas.