domingo, 17 de abril de 2011

Red Cocaine - Capítulo 2 - Os Soviéticos decidem competir

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Red Cocaine - Capítulo 2 - Os Soviéticos decidem competir

Quando a China começou a travar a guerra com drogas e narcóticos no final da década de 1940, sua estratégia foi rapidamente identificada. Vários carregamentos de drogas foram apreendidos e vários dados foram coletados que identificaram as fontes como a República Popular da China, junto com suas rotas de tráfico, técnicas e eventualmente até as principais organizações por trás da produção e distribuição. No caso da União Soviética, dados sobre a operação não ficaram imediatamente disponíveis, talvez provando o cuidado dos soviéticos com a segurança e técnicas de cobertura antes mesmo da ofensiva de Moscou ser lançada. Como será visto, a ofensiva Soviética foi desenvolvida para ser bem mais abrangente que a operação chinesa, e assim que operando, foi intensificada anualmente.

Enquanto a dúbia fama de iniciar uma guerra política em larga escala utilizando drogas vai para o Chineses, foram os Soviéticos quem transformaram o tráfico em efetiva arma política e de inteligência – realização que não levantou praticamente nenhuma desconfiança no Ocidente do envolvimento Soviético. Apenas em 1968 uma fonte apareceu no Ocidente que possuía conhecimento detalhado sobre a ofensiva Soviética com as drogas. A história a seguir é a primeira revelação detalhada do conhecimento desta fonte sobre a guerra das drogas dos Soviéticos.

A fonte em questão é Jan Sejna, que desertou da Checoslováquia para os Estados Unidos em fevereiro de 1968. O Major General Sejna foi um membro do Comitê Central, da Assembleia Nacional, do Politburo e do Partido. Ele também foi um membro da Principal Administração Política, da sua mesa política e membro dos Departamentos Administrativos dos Órgãos. Ele foi Primeiro Secretário do Partido no Ministério da Defesa, onde foi Chefe do Departamento e membro do Colegiado do Ministério. Sua principal posição foi Secretário do poderoso Conselho de Defesa, que é quem toma as decisões em matéria de defesa, inteligência, política exterior e política econômica. Sejna foi um dos principais tomadores de decisões oficiais do Partido. Ele tinha reuniões regulares com os mais altos oficiais na União Soviética e dos países Comunistas.  Ele esteva presente no início, no planejamento e na aplicação das operações de tráfico de narcóticos dos Soviéticos.

A ideia Soviética de usar o tráfico de drogas e narcóticos como uma operação estratégica, Sejna explicou, surgiu durante a Guerra das Coreias. Durante este conflito, os chineses e os norte-coreanos usaram drogas contra as forças militares americanas tanto para minar a eficiência dos oficiais e dos soldados como para lucrar com o processo. Os soviéticos estavam também ajudando os norte-coreanos na guerra, embora em meios não tão óbvios como os chineses.

A guerra propiciou aos soviéticos a oportunidade de estudar a eficiência das forças americanas e seus equipamentos, com a ajuda da inteligência da Checoslováquia. Como parte dessa missão de inteligência, a Checoslováquia construiu um hospital na Coreia do Norte. Ostensivamente criado para tratamento das casualidades da guerra, era na realidade uma instalação para pesquisa, onde doutores checos, soviéticos e norte-coreanos faziam experimentos em prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos. O oficial checo encarregado das principais operações na Coreia do Norte foi o Coronel Rudolf Bobka da Zpravdajska Sprava (Zs), o General-Coronel Professor Doutor Dufek da Administração da Inteligência Militar da Checoslováquia, um especialista em coração, era o encarregado pelo hospital. Seja soube do hospital e de suas atividades diretamente pelo Coronel Bobka, através de vários relatórios e de reuniões que sumarizavam os resultados dos experimentos e usava os resultados em estudos do potencial estratégico militar do tráfico de drogas.

Os experimentos eram justificados como preparativos para a próxima guerra. Prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos eram usados como cobaias em: experimentos de guerra química e biológica; em testes de resistência fisiológicos e psicológicos; e em testes da eficácia de várias drogas para controle mental, que eram utilizadas para fazerem os americanos renunciarem a América e falar em benefício do sistema comunista.

Para entender melhor os efeitos biológicos e químicos nos soldados americanos e sul-coreanos, autópsias foram realizadas em cadáveres capturados e nos prisioneiros de guerra que não sobreviveram a diversos experimentos. Durante esta atividade, os doutores soviéticos determinaram que um altíssimo percentual de jovens soldados sofreu prejuízos cardiovasculares, que eles referiam como “pequenos ataques cardíacos”.
O serviço de inteligência soviético ao mesmo tempo em que estava estudando a operação chinesa de tráfico de drogas declarou que os jovens soldados americanos eram o grupo mais propício ao uso de drogas pesadas. Os doutores soviéticos perceberam a correlação e criaram a hipótese que um dos fatores que provavelmente contribuiu para as doenças do coração foi o abuso de drogas.

Notícias do efeito debilitante das drogas chamaram a atenção do líder Soviético, Nikita Khrushchev. O tráfico de drogas e de narcóticos, ele imaginou, deveria ser visto como uma operação estratégica para enfraquecer o inimigo, ao invés de meramente como uma ferramenta financeira e de inteligência. Assim, ele ordenou uma operação conjunta dos civis com os militares. Um estudo soviético e checo para examinar o efeito total do tráfico de drogas e narcóticos na sociedade Ocidental; incluindo seus efeitos no trabalho, na educação, nos militares (o principal alvo na época) e seu uso como apoio as medidas de inteligência soviética. Esse estudo não foi abordado nem como uma questão tática nem como uma simples oportunidade que pode ser explorada. O potencial dos narcóticos foi examinado em um contexto de uma estratégia de longo-prazo. Custo e risco, benefícios e retornos, integração e coordenação com as operações foram examinadas. Até mesmo o efeito das drogas em várias gerações foi analisado pelos cientistas da Academia de Ciências Soviética.

As conclusões do estudo foram: o tráfico seria extremamente eficiente; os alvos mais vulneráveis eram os Estados Unidos, a França e a Alemanha Ocidental; e que os soviéticos deveriam capitalizar com esta oportunidade. Esse estudo foi aprovado pelo Conselho de Defesa Soviético no final de 1955 e início de 1956. A principal orientação do Conselho de Defesa na aprovação da ação foi direcionar os planejadores para acelerar o calendário de eventos, que foi possível, pois certa experiência com narcóticos já existia no serviço de inteligência soviético, mas que era desconhecido para as pessoas que prepararam o estudo. Esse plano foi formalmente aprovado quando os soviéticos decidiram começar a traficar narcóticos contra os chamados burgueses, especialmente contra os “capitalistas americanos” – o “principal inimigo”.

Além disso, o estudo apareceu na época mais propícia para os comunistas porque, simultaneamente, os soviéticos sob o comando de Khruschev estavam trabalhando para modernizar o movimento revolucionário mundial. Khruschev acreditava que o crescimento tinha estagnado sob Stalin e ele queria um rejuvenescimento que iria tirar vantagem das novas condições globais.

A estratégia soviética da guerra revolucionária é uma estratégia global. A estratégia soviética dos narcóticos é apenas uma parte desta estratégia global e é mais bem compreendida neste contexto. Normalmente se acha que o alvo principal desta atividade é o terceiro mundo, porém este não é o caso. Tanto as estratégias como as táticas soviéticas foram desenvolvidas para o mundo inteiro, onde os principais setores eram as nações desenvolvidas e o principal alvo, os Estados Unidos.

A nova estratégia revolucionária tomou forma entre os anos de 1954 e 1956. Como detalhado por Sejna, existiam 5 principais frentes da estratégia modernizada. Primeiro foi um treinamento melhorado dos líderes dos movimentos revolucionários – os civis, os militares e os de inteligência. A fundação da Universidade de Patrice Lumumba em Moscou é um exemplo de uma das primeiras medidas para modernizar o treinamento dos líderes revolucionários soviéticos.

O segundo passo foi o treinamento dos terroristas. O treinamento para uma rede internacional de terroristas começou, na verdade, por trás do slogan “Luta por Liberação”, dentro da estratégia de descolonização do Comintern. O termo “liberação nacional” foi criado para substituir o movimento de guerra revolucionária por duas fachadas: uma para prover uma capa de nacionalismo para o que era uma basicamente uma operação de inteligência soviética; e outra para prover um nome que era semanticamente separado do movimento revolucionário comunista.

O terceiro passo foi o tráfico internacional de drogas e narcóticos. Drogas foram incorporadas a estratégia para travar a guerra revolucionária tanto como uma arma política e de inteligência contra a “sociedade burguesa”, tanto como um mecanismo para recrutar agentes de influência por todo o mundo.

O quarto passo foi infiltrar as organizações criminosas e, mais tarde, estabelecer os Blocos Soviéticos que eram patrocinados e formados por redes dessas organizações criminosas por todo o mundo.
O quinto passo era planejar e preparar a sabotagem em escala mundial. A rede para essa atividade foi montada em 1972.

Por causa da proximidade do crime organizado e dos traficantes, a entrada dos soviéticos no crime organizado merece uma atenção especial. As decisões de Moscou para o crime organizado foram feitas em 1955. Essa foi também uma operação global apontada para todos os países, não somente os Estados Unidos, apesar de que o crime organizado nos Estados Unidos, além da França, Inglaterra, Alemanha e Itália foram os principais alvos.

A principal razão para infiltrar o crime organizado foi porque os soviéticos acreditavam que informação de alta qualidade – informação sobre corrupção policial, dinheiro e negócios, relações internacionais, tráfico de drogas e contra inteligência – seria facilmente encontrado no crime organizado. Os soviéticos perceberam que se eles infiltrassem com sucesso o crime organizado, teriam acesso a uma promissora maneira de controlar muitos políticos e teriam acesso as melhores informações sobre drogas, dinheiro, armas e diversas categorias de corrupção. Um motivo secundário foi utilizar o crime organizado como uma cobertura para a distribuição das drogas.

No caso do tráfico de drogas, os soviéticos formaram grupos de estudo para analisar o crime organizado: identificar os principais criminosos, desenvolver estratégias e táticas para infiltrar nesses grupos, identificar quais pessoas poderiam ser usadas para promover essa infiltração e para examinar a possibilidade da utilização de novas frentes criminosas. Na Checoslováquia, esses estudos duraram seis meses e foram levados a sério; eram operações envolvendo os principais oficiais da inteligência, da contra inteligência militar e civil e órgãos administrativos do Comitê Central.

O primeiro plano foi posto em prática em 1956. Foi dada a Checoslováquia as direções das operações que deveriam ser empreendidas como parte do plano de inteligência, que foi revisto e aprovado no final do outono deste ano. O plano instruía o serviço de inteligência estratégica da Checoslováquia para infiltrar dezessete grupos do crime organizado, assim como a máfia na França, Itália, Áustria, América Latina e Alemanha. O partido comunista Italiano foi bastante usado no processo de infiltração. Vinte por cento dos policiais italianos foram membros do Partido Comunista naquela época. Esses membros ajudaram os agentes do bloco soviético a infiltrar a Máfia. Criminosos de guerra, por exemplo alguns alemães, foram coagidos a ajudar os agentes do Bloco Soviético nesse processo, especialmente na América Latina.

A operação Checoslováquia foi bastante bem sucedida e custou uma pechincha. A atividade do crime organizado se desenvolveu em torno da chantagem e da coleta de informação; era uma operação com dois lados. Uma vez infiltrados, os agentes permaneciam por um bom tempo passivos; eles apenas coletavam informações. Então, no momento mais oportuno, essas informações seriam vazadas por motivos políticos – por exemplo, para provocar mudanças revolucionárias, ou para criar uma situação que poderia ser aproveitada pelos Socialdemocratas. Por isso a operação foi organizada dentro da unidade de inteligência estratégica: ela era usada para vantagens estratégicas.

Narcóticos, terrorismo e o crime organizado foram coordenados e usados em conjunto de uma maneira complementar. Drogas eram usadas para destruir a sociedade. Terrorismo era usado para desestabilizar o país e preparar o movimento revolucionário. Crime organizado era utilizado para controlar a elite. Todas essas três linhas eram operações estratégicas de longo prazo e todas as três foram incorporadas no plano Soviético de 1956.

Porém, antes que o tráfico de narcóticos pudesse ser operado, diversas medidas preparatórias eram requeridas. As duas mais importantes eram o desenvolvimento de uma estratégia para a propaganda de disfarce do tráfico de drogas e dos narcóticos e o treinamento das equipes de inteligência. Os soviéticos queriam esconder suas operações dos chineses e em especial do Ocidente, para evitar conflito com a corrente da “coexistência pacífica” do Ocidente e a União Soviética. Como a estratégia dos narcóticos era nova, era preciso a aquisição e o treinamento das habilidades de inteligência. Esse treinamento envolveu, não apenas os soviéticos, como também os agentes de inteligência do Leste Europeu.

Além disso, durante o fim da década de 1950, um programa de pesquisa foi realizado para obter dados quantitativos sobre os efeitos reais das diferentes drogas em soldados, o que envolveu a utilização de soldados soviéticos como cobaias. Como parte desta pesquisa, um programa de espionagem foi iniciado para penetrar os centros médicos e relacionados do Ocidente, especialmente os de natureza militar, para determinar o quanto o Ocidente conhecia dos efeitos de drogas nas pessoas – particularmente os efeitos de uso militar.

Em paralelo, os serviços de inteligência soviéticos foram direcionados a descobrir o quanto os serviços de inteligência do Ocidente conheciam o tráfico de drogas e em quais grupos eles haviam agentes infiltrados. Uma das mais importantes questões tratadas nesse estudo foi a capacidade dos serviços de inteligência do Ocidente de monitorar a produção e distribuição das drogas. Muitos anos mais tarde, Sejna descobriu os resultados desse estudo diretamente do Chefe Agente Geral da União Soviética, Marechal Matvey v. Zakharov.

Zakharov disse que o serviço soviético concluiu que a inteligência e a contra inteligência dos Estados Unidos era cega, o que facilitava muito a operação soviética. As operações de inteligência dos Estados Unidos, juntos dos britânicos, estavam todas concentrada no tráfico de narcóticos vindos da Tailândia e de Hong Kong, onde existia tanta atividade com drogas e corrupções associadas que nenhuma informação do tráfico soviético poderia ser coletada. O “ruído” era simplesmente muito grande.

Durante os estudos, o uso de narcóticos e drogas ganhou reconhecimento de uma arma especial na guerra química. Na Checoslováquia, a pesquisa de drogas e narcóticos foi formalmente adicionada no planejamento militar, como um braço da pesquisa sobre guerra química. Essa pesquisa incluía testes dos efeitos das drogas em desempenho militar – por exemplo, no desempenho de pilotos, estudo que foi realizado no Instituto de Saúde das Forças Aéreas.

Finalmente, o estudo básico sobre o impacto das drogas foi expandido para melhorar a identificação sobre quais grupos seriam alvos. Este estudo foi responsabilidade do Departamento de Políticas Exteriores do Comitê Central da CFSU (Partido Comunista da União Soviética). Era, na realidade, uma análise do cenário político e um estudo de técnicas de propaganda.

Uma das últimas medidas que foram iniciadas antes da operação entrar em prática foi o estabelecimento de centros de treinamento para traficantes de drogas. No caso da Checoslováquia, esses centros foram uma operação em parceria da União Soviética com a Checoslováquia. Existiam tantos centros de treinamento de inteligência civil, que eram administrados tanto por oficiais da KGB (Soviética) e oficiais Checos da Segunda Administração do Ministério do Interior (a Segunda Administração da Checoslováquia era a KGB da Checoslováquia); como centros de treinamento militar, administrados pela GRU (Inteligência Militar Soviética) e seu correspondente Tcheco, a Zs.

Esses planos foram desenvolvidos em 1959, como o General Sejna recorda, e a revisão do Conselho de Defesa dos planos e a decisão de patrociná-los, segundo as instruções do Conselho de Defesa Soviético, aconteceu entre 1959 e 1960.

O centro de treinamento da Zs (inteligência militar) ficava localizado em uma base em Petrzalka na Checoslováquia, no subúrbio da Bratislava, situado perto da fronteira com a Áustria. O centro de treinamento da Segunda Administração ficava localizada perto de Liberec, perto da fronteira com a Alemanha Ocidental.

Cada curso consistia de três meses de intensivo treinamento. Enquanto doutrinação Marxista-Leninista existia, a ênfase era o tráfico de drogas. O curso incluía:

·         A natureza do negócio das drogas, tipos e características;
·         Meios de produção;
·         Organização da distribuição;
·         Mercados das drogas e seus consumidores;
·         Segurança;
·         Infiltração nas redes de produção existentes;
·         Como utilizar a experiência das redes de inteligência.
·         Comunicação com as organizações crimosas de drogas;
·         Como passar informação de inteligência; e,
·         Como recrutar fontes de inteligência

Nos centros da Zs, dois diferentes grupos foram escalados para o treinamento. O primeiro grupo foi recrutado pelos serviços de inteligência militares e civis. Esse grupo foi estritamente para “criminosos“ comuns – os participantes não eram nem comunistas nem tinham motivações ideológicas. “Criminosos” está entre aspas pois era isso que o curso visava formar. Porém todos os participantes eram escolhidos a dedo para ter certeza que todos possuíam fichas limpas; ou seja, todos eles não tinham antecedentes criminosos ou passado corrupto que poderiam torná-los suscetíveis a chantagem por outros partidos. Normalmente, eram filhos ou filhas de pessoas no poder. Essas pessoas e o seu risco associado eram normalmente levantadas nas discussões no Conselho de Defesa da Checoslováquia.

O segundo grupo eram pessoas recomendadas pelos Primeiros Secretários dos diversos Partidos Comunistas ao redor do mundo. Esses eram comunistas considerados leais a causa. Eles também eram severamente espionados pelo serviço de contra inteligência antes de serem admitidos para o curso. Seu treinamento era ligeiramente diferente, porque seu tráfico também teria interesse político e porque operavam e se comunicavam por canais especiais (o Partido ou o Serviço de Inteligência). Seu tráfico e treinamento eram especialmente orientados para dar suporte ao Primeiro Secretário do Partido Comunista local; por exemplo, comprometer os líderes da oposição.

Além disso, os instrutores Checos e os Soviéticos normalmente proviam dois instrutores para cada curso que possuíam experiência prática. Normalmente eram da América Latina ou outros que falavam Espanhol de maneira fluente. Esses instrutores apresentavam seminários lidando com problemas práticos e experiências reais.

Como indicado acima, esses cursos duravam em torno de três meses, ou seja, quatro grupos por ano. O primeiro grupo a fazer o curso da Zs na Checoslováquia foi pequeno – sete futuros traficantes, sendo eles: quatro da América Latina, dois da Alemanha Ocidental e mais um sendo Italiano ou Francês, como lembra o Sejna. Em 1964, o tamanho do grupo aumentou para quatorze, e ao final da década de 60, vinte foi alcançado. Assim um total de trinta estudantes foi treinado apenas no primeiro ano no centro da Zs na Checoslováquia e por volta de 1968 já eram 80 formados.

O tamanho do centro da Segunda Administração foi similar. Centros similares de treinamento também existiam na Bulgária, Alemanha Oriental e na União Soviética. E por volta de 1962-1963, a Checoslováquia foi orientada pela União Soviética para ajudar a Coreia do Norte, o Vietnam do Norte e Cuba para estabelecer centros de treinamento. Imaginando que todos os centros possuíam o tamanho mínimo e cada um operando perto de sua capacidade, e que nenhum outro centro existia ou foi adicionado após a saída do Sejna, o número de formados passou de 25.000.

Esses estudantes que prestaram o curso nos centros da Checoslováquia foram principalmente da América Latina, Europa Ocidental e partes do Oriente Médio, Canadá e Estados Unidos. O foco da Bulgária era o Oriente Médio e o Sudeste da Ásia – Turquia, Afeganistão, Paquistão, Líbano e Siria. Alemanha Oriental focava na Europa Ocidental e nos Países Escandinavos, e todos os países do Oriente.

O curso era de graça, com todas as despesas pagas. Os formados retornavam aos seus respectivos países e começavam a aplicar suas novas habilidades. Algumas desenvolveram operações independentes e alguns cooperavam com operações correntes. Os que desviaram e tentaram mudar de lado eram mortos. Todos eles retornavam um percentual a União Soviética, que repassava o dinheiro aos serviços de inteligência dos países satélites que faziam os treinamentos. No caso da Checoslováquia, o repasse era de 30% do que União Soviética recebia.

A formação desses centros de treinamento completou a preparação para a estratégia das drogas. Essas atividades – desenvolvimento estratégico, treinamento, pesquisa, espionagem e análise de mercado – foram as principais atividades da primeira ofensiva Soviética com as drogas no final da década de 1950. Onde existiam operações de inteligência envolvendo tráfico real era apenas uma sondagem inicial. O tráfico real, da perspectiva do Sejna, não começou até o ano de 1960, quando a propaganda estratégica começou, os agentes de inteligência estratégicos foram treinados e as escolas de treinamento formaram inúmeros traficantes de drogas.