segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

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Red Cocaine - Capítulo 5 - Se organizando para "A Amizade das Nações"

No Ocidente, quando as pessoas falam sobre operações de inteligência, o que eles normalmente têm em mente são operações secretas planejadas por serviços de inteligência, que nem CIA, KGB e a GRU. Este conceito presta um incrível desserviço as operações de inteligência Comunista, que envolve vários agentes, não apenas da KGB e da GRU, e que não são direcionados pelos serviços de inteligência, mas sim pela Conselho de Defesa, pelo Departamento de Órgãos Administrativos ou por outra organização do Partido que seja mais apropriada para a operação. Ou seja, as operações de inteligência são as operações do Partido Comunista designadas para servir aos interesses do Estado, estes que somente o Partido pode estabelecer. O serviço de inteligência não passa de um instrumento estratégico do Partido, novamente em total contraste com os Estados Unidos, que não possuem nada similar. A operação conhecida como "Druzhba Narodov", o capicioso plano do Khrushchev chamado a "Amizade das Nações" é especialmente interessante por conta da visão que nos dá das operações de inteligência dos Soviéticos.

Até mesmo em seu início, na segunda metade da década de 1950, a operação com drogas e narcóticos envolvia muito mais do que agentes da inteligência. Médicos e pessoas relacionadas à medicina também estavam fortemente envolvidas na análise, pesquisa científica e teste dos efeitos das drogas. A principal força motivadora deste esquema vinha do próprio Nikita Khrushchev, o primeiro Secretário (e mais tarde, Geral) do Partido Comunista da União Soviética (CPSU). O plano inicial foi conduzido por uma força conjunta de militares/civis da Tchecoslováquia citada anteriormente. A incorporação da estratégia de traficar drogas dentro da estratégia de segurança nacional foi gerenciada por um comitê especial sobre a direção de Leonid Brezhnev. Este comitê, que existiu entre o outono 1956 e a primavera de 1957, foi o responsável por evoluir a estratégia Soviética e trazê-la para a era nuclear. O escolhido para ser o substituto do Brezhnev foi o Mikhail Suslov, um dos cabeças da ideologia Soviética. Os líderes do Subcomitê foram o Marshal V. D. Sokolovskiy (militar), Dimitryi Ustinov (indústria militar), Boris Ponomarev (assuntos exteriores) e o General Nikolai Mironov (inteligência).

Duas revisões foram feitas na estratégia Soviética de utilizar drogas e narcóticos durante esta reunião. A primeira envolvia o reconhecimento que as drogas poderiam ser uma arma muito eficaz para enfraquecer as forças militares inimigas. A segunda é que as drogas poderiam ser utilizadas para influenciar os líderes burgueses do Terceiro Mundo e os partidos de Social Democracia, porém ninguém estava previamente excluído.

A responsabilidade por analisar o mercado e quem seriam os alvos foi delegada para o Departamento Internacional do CPSU. O Departamento Internacional também estava envolvido na coleta de informação sobre corrupção dos líderes estrangeiros e no seu uso nas operações de chantagem, intimidação e exposição. O departamento também estava fortemente envolvido na propaganda e planejamento, e muito provavelmente foi o responsável pela liberação da informação do tráfico de drogas pelos Chineses.

A Administração Política Principal do Exército e da Marinha, o departamento que mantém um olhar ideológico sobre os militares, também estava envolvido nesta operação de tráfico de drogas desde o início. Já em 1956, o líder da Tchecoslováquia foi informado pelo general Soviético Kalashnik, o ideólogo da Administração Política Principal, sobre uma nova visão de como as drogas e os produtos químicos eram capazes de alterar a mente e o comportamento de milhões de pessoas. Esta era uma das cinco novas armas que eram capazes "destruir o inimigo antes que ele possa nos destruir". As outras armas consistiam em: ofensiva ideológica, que significa propaganda e fraude, política de borda feita sobre medida para separar o Ocidente, isolamento dos EUA, e por último, caos social e econômico. Era totalmente essencial, General Kalashnik explicou, “que os militares deveriam o mais rápido possível entender que existem armar muito mais efetivas do que as convencionais, incluindo as bombas nucleares”.

Uma explicação foi dada por Khrushchev no início do verão de 1963 em Moscou. Durante uma discussão informal, Khrushchev tinha acabado de criticar Marshal Rodion Ya Malinovsky por querer desesperadamente colocar os seus tanques no Ocidente. Depois Khrushchev explicou que os Soviéticos estavam operando estrategicamente simultaneamente em dois níveis, para engajar o Ocidente numa guerra. No primeiro nível estavam a trapaça, a desinformação e a propaganda. No segundo nível estava a destruição do Capitalismo utilizando o seu próprio dinheiro através das drogas. Assim que estes dois níveis tiverem obtido sucesso, Khrushchev enfatizava, "aí sim, você poderá utilizar o terceiro nível, Camarada Malinosvky, os nossos tanques".

Assim que ofensiva Soviética das drogas cresceu e foi ganhando maturidade, a sua organização foi ficando mais complexa - porém a sua direção e o seu segredo continuavam sob estrito controle. Este era outra característica das operações Soviéticas: apenas por que uma operação era expandia, não significava que o seu controle seria perdido. O Concelho de Defesa é um bom exemplo. O concelho continuou pequeno exatamente para não correr o risco de perder a sua direção e nem a sua segurança. Neste ramo das drogas, apesar de várias pessoas estarem envolvidas, apenas umas poucas sabiam a real razão da operação, ou até mesmo o maciço envolvimento dos Soviéticos.

As principais organizações da Tchecoslováquia que participaram neste negócio com as drogas estão listadas na tabela abaixo. A estrutura organizacional aplicada na Tchecoslováquia equipara-se a estrutura que era utilizada na União Soviética. Algumas organizações possuem nomes diferentes, por exemplo: a versão Tcheca do Departamento Internacional Soviético era o Departamento Estrangeiro; o Secretário Geral Soviético era o Primeiro Secretário; e a KGB Soviética era a Segunda Administração que estava sob as ordens do Ministério do Interior. Existiam centros de pesquisa diferentes na União Soviética, e as organizações Soviéticas eram maiores e mais variadas, porém em sua essência as duas estruturas organizacionais eram iguais.

A principal diferença era que as organizações Soviéticas tomavam as decisões estratégicas em escala global, eram maiores, e eram responsáveis pelos outros Partidos Comunistas que não haviam correspondentes na Tchecoslováquia. Esta última distinção é particularmente importante. Por exemplo, importantes ajudas para o desenvolvimento do tráfico de droga na América Latina foram fornecidas pelos Partidos Comunistas locais, que se encontravam todos os anos em Moscou e apresentavam os progressos das operações com drogas, dando recomendações de novas técnicas, mercados e táticas.

Organizações envolvidas com  "Druzhba Narodov" - "A Amizade das Nações":

  • Primeiro Secretário, Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, Comitê Conjunto
    • Estrutura Governamental
      • Ministério do Interior
      • Segunda Administração Estratégica, Rede de Agentes de Intelligência, Contra-Inteligência
      • Administração Financeira
      • Ministro da Defesa
      • Administração da Inteligência (Sz), Rede de Agentes de Inteligência Estratégica, Finanças das Propagandas Especiais
      • Administração de Saúde dos Serviços Logísticos
      • Departamento de Suporte Técnico a Países Estrangeiros
      • Administração Financeira Principal
      • Ministro das Finanças, Seção Militar
      • Academia de Ciências
      • Ministro de Comércio Estrangeiro
      • Ministro do Estrangeiro
      • Administração Militar do Planejamento Estatal
    • Estrutura Partidária
      • Departamento Administrativo
      • Administração Política Principal
      • Departamento do Estrangeiro
      • Departamento de Saúde
      • Departamento de Propaganda e Agitação
      • Departamento Financeiro
      • Departamento de Ciências
      • Alta Escola do Partido
Assim como em todas as importantes operações Soviéticas, o Secretariado Geral não foi apenas informado, mas ele possuía um papel de liderança. Em relação ao planejamento e à direção, o real poder do sistema Soviético residia nos departamentos do Comitê Central. Um dos mais importantes departamentos era o Departamento Administrativo, que era onde tanto o planejamento como o controle das operações com drogas aconteceram, tanto na União Soviético como na Tchecoslováquia. Este provavelmente também foi o também nos outros países satélites.

O Departamento Administrativo exercitava controle e supervisão sobre os serviços de inteligência, sobre os militares e até mesmo sobre a justiça socialista. Assim, era natural que o Departamento Administrativo fosse também o departamento líder nas operações com drogas. Não foi por coincidência que em 1963, quando Khrushchev quis acelerar a ofensiva, ele mandou exatamente o Major General Nikolai Savinkin, diretor do Departamento Administrativo, visitar todos os países envolvidos e passar as instruções necessárias. Analistas ocidentais que queiram compreender a União Soviética devem prestar atenção ao papel do Partido e ao poder do Comitê Central, especialmente ao Departamento Administrativo. Sobre este assunto é importante lembrar que o Savinkin se tornou Diretor do Departamento Administrativo em 1964, sendo o chefe por 23 anos, até 1987. (Porém foi apenas em 1988 que os jornais Soviéticos anunciaram que ele tinha de fato deixado o cargo).

Dentro do Departamento Administrativo existiam oficiais, cuja responsabilidade era, de fato, ficar de olho nas organizações militares e de inteligência. Além disso, alguns dos oficiais políticos que trabalhavam dentro das organizações militares e de inteligência mantinham seus chefes reais, do Departamento Administrativo, completamente informados sobre o que acontecia dentro das suas áreas de responsabilidade dentro desses serviços militares e de inteligência. Por exemplo, Sejna foi o oficial político de mais alta patente no Ministério da Defesa da Tchecoslováquia, e, assim, ele também foi membro da seção militar do Departamento Administrativo. Adicionalmente, em casos de operações especiais (como esta do tráfico de drogas), os departamentos mais importantes ganhavam coordenações especializadas e algumas das funções de controle eram expandidas para outras organizações, ao invés de ficarem limitadas as organizações militares, como no caso do Departamento Administrativo, por exemplo.

Outra organização de importância para manter o controle e a segurança interna era a contra-inteligência. No quartel-general da Inteligência Militar da Tchecoslováquia (Zs), havia uma seção de contra-inteligência, que era na verdade uma seção do Ministério do Interior (KGB na União Soviética) e que tinha um oficial com a responsabilidade de controle no Departamento Administrativo.

Além disso, dentro da contra-inteligência, tanto militar como civil, haviam departamento especiais que supervisionavam as operações de contra-inteligência e reportava tudo para o chefe do Departamento Administrativo. Os Soviéticos não confiavam em ninguém, e a sua estrutura organizacional refletia este princípio. Todo mundo deveria ser controlado por três vias. Existe uma razão principal para isto ocorrer, quando eram descobertos que oficiais de Cuba, Nicarágua, Bulgária ou de outros países Comunistas estavam envolvidos no tráfico de drogas, é muito pouco provável que fosse de fato "apenas alguns poucos oficiais envolvidos". O Partido possuía, com certeza, completo conhecimento do que estava fazendo, e de fato, não apenas aprovava as operações como provavelmente direcionava o que deveria ser feito.

Alguns indicativos da supervisão dos Partidos e da disciplina necessária para as operações com drogas foi o fato que, em 1959, o Chefe da Zs, General Racek, foi demitido após uma inspeção de um agente do Departamento Administrativo. No relatório, o agente criticava o General Racek por não ter escalado seus melhores funcionários no negócio das drogas. Racek falhou em entender o quão importante era o negócio de drogas para as operações de inteligência.

Ambos os serviços de inteligência possuem responsabilidades no negócio com narcóticos. Porém, como a produção era controlada por e dentro dos serviços militares, e como os militares eram os responsáveis por destruir a capacidade de resistência militar da população inimiga, a responsabilidade do tráfico de drogas era maior e residia dentro do sistema militar. A inteligência Civil (Segunda Administração da Tchecoslováquia, um pequeno componente da KGB da União Soviética) ajudava sempre que seus recursos estavam melhor posicionados para a atarefa e onde a inteligência militar, Zs na Tchecoslováquia, não possuía meios para avançar o tráfico de drogas.

A maioria dos agentes envolvidos em operações com narcóticos era gerenciada dentro das seções de Inteligência Estratégica e das organizações de Inteligência Militar. Recrutamento de agentes, treinamento e a própria administração eram todas distribuídas pela rede de agentes, mas as operações de narcóticos eram operadas pela divisão de Inteligência Estratégica. Esta divisão era a responsável por estabelecer as cotas de produção em cada país, sempre respeitando a produção de drogas dentro da Tchecoslováquia; Além disso, ela era responsável pela coordenação e direção da produção fora do seu território, por coordenar todo o transporte, por gerenciar as operações dos agentes, e pelo planejamento geral das operações em outros países.

Contra-inteligência, civil e militar, que possuem como objetivo principal a segurança interna de um país, também foram envolvidas. Suas missões eram particularmente complicadas nas operações estrangeiras, o que demandava a assistência dos Partidos Comunistas estrangeiros e uma aliança estratégica dos agentes de inteligência operando em cada país. Registros financeiros, orçamento e contabilidade eram gerenciadas pelas seções de finanças especiais dentro de cada serviço de inteligência.

No Caso de Cuba, tanta a Zs como a Segunda Administração (mais a GRU Soviética e a inteligência da KGB) ajudaram a organizar as operações relevantes com drogas. Visto de fora foi uma operação conjunta. Como explicado anteriormente, quando Raul Castro estava na Tchecoslováquia num verão de 1960, ele assinou o acordo sobre a assistência junto ao Ministro do Interior (KGB) e ao Ministro da Defesa (GRU). Quando os planos para a expansão das operações de drogas e quando os relatórios sobre o progresso eram apresentados ao Concelho de Defesa da Tchecoslováquia, as apresentações eram feitas conjuntamente pelo Ministro de Defesa e do Interior.

Também foi criado um comitê conjunto entre o Ministérios de Defesa e do Interior para coordenar as operações de Inteligência. Este comitê decidiu quem operaria os agentes recrutados, quem faria uma determinada operação (tanto civil quanto militar), quem era a melhor opção para trabalhar numa determinada região, etc... Na Tchecoslováquia, um dos presidentes deste comitê foi o Vice-Diretor do Ministério do Interior e o Chefe do Estado-Maior. Outros membros foram o Chefe da Zs e o Chefe da Segunda Administração do Ministério do Interior (chefe da inteligência da KGB na União Soviética), e seus respectivos substitutos nas inteligências estratégicas. Este comitê, ainda na União Soviética, tomou a decisão que no planejamento das operações cada um dos países satélites poderia fazer o trabalho da maneira que achava mais eficiente, por exemplo, poderia escolher qual era o serviço de inteligência mais apropriado, o civil ou o militar.

Em 1950, um grande número de importante organizações foram criadas e ganharam responsabilidades críticas, por exemplo o Departamento de Propagandas Especiais do Gabinete da Administração da Inteligência. Estes departamentos que foram criados reportavam conjuntamente para a Administração de Inteligência e para a Administração Política Central acabaram ganhando papéis especialmente importantes na coleta de dados de indivíduos em países estrangeiros e no controle destes em tempos de guerra. Como fazia parte da missão do Departamento de Propaganda Especiais tanto o planejamento como a divulgação de instruções relacionadas as fraudes políticas, fez total sentido unir a estratégia do uso de narcóticos com a coleta de informações, pois era possível utilizar a corrupção associada ao tráfico para obter informações sigilosas e/ou comprometedoras.

As estratégias de propaganda eram operadas pelo Departamento de Propaganda do Comitê Central e pelo Departamento de Propaganda Especiais. Uma pessoa foi especialmente selecionada (de uma seção especial da União Soviética) do Departamento Administrativo para provier os dados de inteligência derivados dos serviços de inteligência e do Departamento de Propagandas Especiais. Gerando, assim, direções e ordens para a ofensiva da propaganda. No caso das operações de fraude política, novamente várias organizações eram envolvidas, a mais importante delas era a Administração Política Central, o Departamento de Propagandas Especiais, o Departamento do Estrangeiro, e o Secretariado Eleito, que era responsável pela supervisão da maioria das operações de fraude política.

Participaram pesadamente nas pesquisas científicas, militares e de inteligência, tanto os cientistas do Leste Europeu quanto os da União Soviética, incluindo pesquisas sobre o desenvolvimento, produção e análises das consequências do uso de drogas e narcóticos. Na Tchecoslováquia, as principais atividades de pesquisa científica que ajudavam no tráfico de narcóticos eram gerenciadas pela Academia de Ciência e pelos centros de pesquisa científica dos militares. Nas Academias, as principais atividades eram conduzidas no Colégio de Medicina da Universidade Charles e no Colégio de medicina da cidade de Bratislava. Entre os militares, o foco principal era a direção dada pela Administração Médica Militar junta ao trabalho feito pelo Hospital Central Militar, o Centro de Educação Médico Militar, onde os médicos eram de fato treinados, e a Centro Médico das Forças Aéreas.

As atividades das Academias de Ciências eram governadas por planos anuais, quinquenais e de longo prazo (15 anos ou mais). Estes planos possuíam duas partes, uma parte regular e uma parte Ultra Secreta. Os participantes envolvidos na parte secreta que não eram da Academia de Ciência, eram do Departamento Administrativo do Comitê Central, do Departamento de Saúde do Comitê Central, da Administração Militar da Comissão do Plano de Estado, da Administração de Ciência do Ministério da Defesa, da seção de Inteligência Estratégica do Ministério do Interior, do Gabinete da Zs e da seção militar do Departamento Financeiro do Comitê Central.

Os planos e objetivos das pesquisas científicas para desenvolvimento de drogas e narcóticos mais avançadas estavam sempre na parte secreta do plano. Normalmente estes objetivos visavam o desenvolvimento de drogas mais viciantes, que poderiam ser produzidas mais facilmente e que produziriam efeitos debilitantes por um período mais longo. Estes planos sempre eram apresentados junto aos planos de desenvolvimento de armas químicas e biológicas, agentes químicos usados para assassinatos e drogas que visavam o controle mental ou troca de comportamento. Como indicado anteriormente, drogas e narcóticos eram considerados como armas químicas para os Soviéticos.

A análise dos efeitos do tráfico de drogas e narcóticos sobre a sociedade, ou seja, a análise do mercado, era especialmente importante para o bloco Soviético. O mais importante centro de análise era a Academia Política Militar da Administração Política Central. O foco era sempre nas perspectivas militares. A Alta Escola Partidária distribuía PhDs para uma vasta variedade de assuntos, incluindo tantas ciências naturais como humanas. Normalmente 60% do currículo da escola era sobre Marxismo-Leninismo, sendo os 40% restantes focados na especialidade do aluno, por exemplo, biologia. Estes institutos eram especialmente interessantes para programas analíticos e as pesquisas científicas pois eles já possuíam bibliotecas e laboratórios de pesquisa. O grosso da pesquisa científica foi conduzido nestas faculdades.

Também existiam times conjuntos, os membros vinham de todos os países do Bloco Soviético. Estes times eram usualmente direcionados pelos participantes Soviéticos, e em vários casos todo o time era direcionado para alguma universidade ou hospital em Moscou. Através dos anos esta tendência de integração da pesquisa do Bloco Soviético aumentou a ênfase em times de pesquisa localizados em Moscou, provavelmente refletindo os interesses do chefe da KGB, Yuriy Andropov, de manter total controle sobre estas atividades especiais. Como será descrito mais a frente, as atividades de pesquisa científica que ocorreram durante a década de 1960 foram eficientes em produzir drogas que limitavam o desenvolvimento intelectual dos seus usuários. Todos os países envolvidos no Pacto de Warsaw estavam envolvidos neste tipo de pesquisa, incluindo Cuba que foi de fato envolvida a pesquisa do Pacto de Warsaw através da Tchecoslováquia em 1967.

Os serviços de inteligência do Bloco Soviético também possuíam agentes especiais espalhados por todo o mundo, alguns destes, localizados na Europa e no Hemisfério Ocidental de fato não se envolveram no tráfico de drogas, porém observavam com atenção aos seus efeitos. O General Sejna relembra uma sessão especial de treinamento de indivíduo que foi executada na Central de Treinamento para tráfico de drogas da Zs na cidade de Bratislava. O foco das atividades desta sessão eram como analisar as oportunidades de mercado e como recomendar medidas que enganariam as autoridades locais e nacionais sobre a distribuição de drogas. Além disso era ensinado como identificar vulnerabilidades nas organizações policiais e, principalmente, como corromper e comprometer a polícia. Indivíduos que compareceram a estas sessões especiais de treinamento trabalham ou para a inteligência militar ou para a civil. Eles não eram necessariamente Comunistas. Porém eles eram, como o General Sejna observou, todos extremamente inteligentes. Um indivíduo, em particular, era um professor universitário do Canadá.

Estes centros de estudos especiais eram uma importante dimensão das operações Soviéticas. Estas atividades não eram cursinhos, nem feitos de maneira corrida, todos eram treinamento finamente planejados. Óbvio que pequenos cursos poderiam ser dados de tempos em tempos, caso necessário. A ênfase principal destas atividades, que eram contínuas, era envolver cientistas, doutores médicos, propagandistas e especialistas em inteligência de vários dos Blocos Soviéticos. Eles continuamente examinavam as tendências ao redor do mundo, como eles diriam, e identificavam oportunidade e técnicas de expandir o negócio de drogas. Como parte das direções Soviéticas aos países satélites, pontos de contatos específicos eram estabelecidos para garantir que a as operações de inteligência e propaganda dos países satélites receberiam todas as conclusões nascidas das análises de mercado. Isto era necessário para garantir que as melhores idéias possíveis advindas das vulnerabilidades globais e as melhores técnicas de tráfico de drogas estavam sendo empregadas na operação 'Druzhba Narodov'.

Sob o Bloco Soviético existia a organização de coordenação econômica chamada COMECON. Dentro desta existia uma seção sobre saúde, e dentro desta uma subseção militar sobre saúde. Os membros desta subseção eram todos militares da Administração de Saúde dos países do Pacto de Warsaw e, para os Soviéticos, o chefe da Administração Central de Saúde. Este grupo ajudou a coordenar a pesquisa científica e produção de drogas e narcóticos através do Pacto de Warsaw. COMECON, assim como outras organizações Soviéticas, não eram apenas organizações de cooperação econômica. Elas também serviam como disfarce para uma estrutura de comando militar pronta para tomar o comando Pacto de Warsaw em caso deste pacto ser dissolvido. Estes arranjos eram especialmente feitos para permitir que os Soviéticos recomendem a dissolução tanto da NATO como do próprio Pacto de Warsaw sem na verdade afetar em nada o poderio militar do Bloco Soviéticos.

O centro de planejamento central da produção e distribuição das drogas e narcóticos era a Administração Principal da Saúde dos Serviços Logístico na União Soviética. Na Tchecoslováquia, este centro ficava localizado dentro da Administração de Saúde dos Serviços Logísticos.

Distribuição e transporte eram gerenciados pela Administração Principal Técnica no Ministério de Comércio Estrangeiro. Esta administração era uma das mais importantes organizações para as operações de terrorismo e narcóticos. Ela era a responsável pelo transporte e estoque de armas, explosivos e narcóticos. A administração era pesadamente preenchida por oficiais da Zs. Estas organizações controlavam diversas organizações de comércio, tais como: COBOL, CHEMEPOL, AEROFLOT, e logicamente a KINTEX, ou a sua óbvia sucessora na Bulgária, a GLOBUS.

A Administração Técnica Central ganhou, do Concelho de Defesa, a autoridade de contratar organizações estrangeiras para assistência onde necessário, como por exemplo no treinamento de terroristas e outros modos de sabotagem e atividades de guerra revolucionária. Esta administração era, na verdade, uma organização de fachada para as operações de inteligência estratégica. Ela fazia os contratos e coletava as verbas. A administração era preenchida principalmente por oficiais da Zs. A sua organização irmã dentro do Gabinete era o Departamento Técnico de Suporte a Países Estrangeiros, que coordenava a provisão de armas, explosivos, suprimentos terroristas etc... para serem enviados pela Administração Técnica Principal.

Dentro dos países satélites também existia estações de inteligência Soviética, normalmente localizadas nas fronteiras: na Tchecoslováquia, por exemplo, em Karlovy Vary, Liberec, Doupov, Cerchov e Bratislava. Estas estações agiam muito além do seus país de origem. Quando chamadas a agirem, algumas vezes eram ajudadas pelo país de origem. Porém, em operações de inteligência estratégica, como o tráfico de drogas, estas estações agiam sem o conhecimento do país que estavam localizadas.

A movimentação ilegal de produtos através das fronteiras em tempos de paz, por exemplo, permitia que agentes sabotadores pudessem ser movimentados numa situação de crise, sem chamar atenção indesejada. Nesta conexão, é muito útil lembrar que todas estas operações: narcóticos, tráficos, ajuda militar a terroristas e sabotagem, eram gerenciadas pelas organizações de inteligência estratégica, tanto militar quanto civil.

O Bloco Soviético negociou o sistema da TIR (Transportes Internacionais Rodoviários) no Oeste Europeu, para simplificar a alfândega e facilitar o comércio entre países. Sob este sistema, no país de saída o oficial da alfândega sela o frete e assina os documentos necessários. Após esta burocracia, o caminhão pode ser dirigido para qualquer outro país Europeu. Nenhum outro inspetor pode examinar o conteúdo a não ser que aja fortes indicativos que os selos ou os documentos do frete foram adulterados. Este sistema começou em 1940 e expandiu dramaticamente depois de 1949. Este aumento se deu especialmente por causa do Leste Europeu, dentro do Bloco Soviético. Na década de 1970, o percentual do Bloco Soviético neste sistema era de 30%. Já no meio da década de 1980, cresceu para mais de 50%. Este sistema foi utilizado para o transporte de narcóticos e suplementos para terroristas.

O sistema TIR também impedia os oficiais do Ocidente de verificar envios assim que eles eram enviados por outros meios de transporte, navios sendo a alternativa preferida. Para aproveitar este fato, a Tchecoslováquia, e outros países satélites, alugaram uma parte do porto de Hamburgo. Este segmento do porto foi tratado como se fosse território da Tchecoslováquia (ou território dos outros países quando era o caso). As operações e as instalações eram controladas pela Administração Técnica Principal do Ministério do Comércio Estrangeiro. Os Tchecos pagam aluguéis aos Alemães e os navios Tchecos usavam o sistema marítimo de transporte para envio de material das operações de inteligência estratégica, como drogas, armas suplementos para terrorismo e sabotagem. Isto tudo com a garantia de nenhuma interferência ou controle pela alfândega Alemã. Caminhões eram lotados e selados na Tchecoslováquia, dirigidos até os portos na Alemanha fazendo diversas paradas no decurso da viagem. Em cada uma deixava mensagens e pacotes em instalações militares. Apesar deste fato ser do conhecimento dos serviços de inteligência da Alemanha, eles nada podiam fazer pois os caminhões andavam sob a proteção do Acordo entre Alemanha e a Tchecoslováquia. Os países satélites usaram ao máximo os portos de Hamburgo. Inclusive até mais do que outras instalações disponíveis que existiam dentro dos países Socialistas, como por exemplo, na Polônia, pois o Ocidente prestava muito mais atenção na Polônia do que nos portos da Alemanha.

Em 1984, as primeiras evidências deste sistema já eram conhecidas e foram reportadas ao Congresso Americano no Comitê sobre Abuso e Controle de Narcóticos. O relatório dizia: "Metaqualona... tem sido contrabandeada principalmente da Colômbia, onde é transformada em pastilhas usando metaqualone em pó advinda da República Popular da China e da Hungria e sub-repticiamente enviada à Colômbia do porto de Hamburgo."

O uso do sistema TIR para transporte de armas e drogas também recebeu atenção do desertor e chefe da Inteligência Romena, o Tenente General Ion Mihai Pacepa. Ele explicou que a maioria dos motoristas dos caminhões que rodavam na Romênia eram na verdade agentes da inteligência de países estrangeiros. Alguns do DIE, Departamento de Informação Estrangeiras, e que as suas operações eram baseadas no modelo da Bulgária, que também utilizava o TIR como disfarce para transportar armas e drogas para o Ocidente. O DIE, que era gerenciado pelo Pacepa, também utilizava o sistema TIR para:

"... trazer secretamente material de alta tecnologia e equipamento militar para a Romênia, assim como para contrabandear armas não registradas e drogas para o Ocidente. A maioria destes movimentos eram carregadas sobre a proteção internacional dos acordos do TIR e dos selos das alfândegas estrangeiras. Ao longo dos anos todo tipo possível de selo e de documentação usada pelas autoridades dos países Ocidentais foi duplicada pela DIE e mantido para uso e troca caso fossem destruídos no caminho por conta de razões operacionais".

Uma descrição do processo também foi fornecida pelo Tenente General B. C. Berkhof, do Exército Real da Holanda. Ele foi o Chefe do Gabinete das Forças Aliadas da Europa Central da NATO (AFCENT) até 1986. Berkhof disse que existia evidência em abundância do envolvimento da Bulgária e da Alemanha Oriental no tráfico de drogas, e alguma evidência do envolvimento da Tchecoslováquia. Ele confirmou que o sistema TIR era completamente abusado pela KGB e pelos serviços de inteligência do Bloco Soviético, e que diversos especialistas Holandeses acreditavam que 5% de todo o tráfico do TIR era relacionado as atividades de inteligência estratégica. Ele também disse que descobertas similares surgiram na Itália e em outros países Ocidentais.

Assim, poderia parecer que os governos dos países Ocidentais provavelmente soubessem o que estava ocorrendo e ainda sim oficialmente sancionaram o transporte de drogas ilícitas, narcóticos e suplementos terroristas para os seus territórios. Tanto o uso do sistema TIR para transporte de bens ilícitos como uma percepção geral do que vinha ocorrendo em relação as drogas foram explorados no Congresso Americano pelo General Lewis Walt em 1972 durante um interrogatório sobre a rede mundial de tráfico de drogas. Em 1984, a DEA, órgão administrativo relaciona a drogas nos Estados Unidos, reconheceu quando interrogado pelo Congresso dos Estados Unidos que eles já sabiam do uso de caminhões do sistema TIR pelos Iranianos, Turcos e Búlgaros para o tráfico de drogas e outros contrabandos desde 1972. Eles apontaram em torno de 50.000 caminhões que transitavam pela Bulgária e pela Iugoslávia por ano estavam indo ou voltando do Oriente Médio. Destes, a DEA adicionou, aproximadamente metade fazem parte do TIR. A DEA também reportou que os oficiais da alfândega Búlgara estavam todos envolvidos em ajudar o tráfico de drogas.

O processo de tráfico de drogas e narcóticos era, assim como em todos os outros casos de operações de inteligência, incorporados por complete em todos os planejamentos. Primeiro existia um plano de longo prazo, este estabelecia as prioridades, a cooperação necessária entre as agências e organização para o desenvolvimento dos projetos científicos, que aconteciam em paralelo com a produção das drogas e dos narcóticos. O plano também listava os países e suas prioridades na distribuição das drogas. O plano de longo prazo também descrevia como a rede de distribuição em diferentes países deveria ser desenvolvida e como aproveitar as vulnerabilidades locais. Os planos de curto prazo eram mais específicos e focavam nas táticas locais. Eles especificavam com quais grupos locais poderiam ocorrer cooperação, quem eram os agentes a ser utilizado e a agenda de produção e envio.

As verbas eram controladas utilizando seis organizações secretas. O Ministério do Interior e a Administração de Inteligência do Gabinete Central possuíam os seus próprios setores financeiros. Adicionalmente ainda existia a Administração Financeira Central do Ministério da Defesa. Dentro desta administração existia uma divisão especial que gerenciava um item secreto do orçamento, que incluía o orçamento dos narcóticos e das operações estratégicas de inteligência. Esta parte do orçamento era mantido em segredo de todos as pessoas da Administração Financeira Central e até mesmo do Politburo e do Comitê Central.

Apenas o Concelho de Defesa e as algumas seções militares especiais da Comissão de Planejamento Estatal tinham acesso a parte secreta do orçamento. No Ministério das Finanças e na Comissão de Planejamento Estatal haviam seções militares especiais, dentro destas haviam subseções de inteligência que gerenciavam todos os componentes de inteligência do orçamento, que eram então coordenadas diretamente e apenas pelo Concelho de Defesa. Para completar o ciclo, dentro da Administração Financeira, tanto dos militares quanto dos civis, haviam seções especiais que também gerenciavam estas partes secretas do orçamento. Estas organizações especiais eram os únicos a terem uma visão completa de como o orçamento da inteligência funcionava.

Revisando como as operações Soviéticas com as drogas funcionava, diversas conclusões importantes se destacam. Claramente, a ofensiva com narcóticos e as operações de inteligência eram da mais alta importância. É também evidente que a operação era direcionada pelo Estado, especialmente pelo Departamento Administrativo, e que diversas agências, no caso da Tchecoslováquia, pelo menos 20 agências ou organizações, como mostra a tabela. É especialmente notável que apesar da natureza distribuída da operação, a segurança foi muito bem mantida e o acesso a qualquer informação era severamente controlado. Novamente, no caso da Tchecoslováquia menos de 30 pessoas realmente entendiam a completa natureza da operação. Para ilustrar a eficiência das medidas de segurança dos Comunistas vale ressaltar que não existe nenhum indicativo anterior a 1986 que nem os Estados Unidos e nem a inteligência dos países Ocidentais tinham consciência da operação Soviética, apesar de que de 1955 até 1965, pelo menos cinco países satélites e diversas organizações de fachada já estavam participando das operações Soviéticas com drogas.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Josué Guimarães – é possível que tenha sido um agente da KGB?

original:
http://stb.cepol24.pl/josue-guimaraes-e-possivel-que-tenha-sido-um-agente-da-kgb


No Brasil foi comentado o caso do escritor brasileiro Josué Guimarães (1921 – 1986),  que viveu em Portugal durante um certo tempo e sobre o qual foi escrito, em base ao Arquivo Mitrokhin, que colaborou com a KGB e que foi um agente deste serviço de inteligência soviético. No jornal brasileiro “Zero Hora”, publicado em Porto Alegre,  pessoas que conheceram o escritor comentaram sobre o caso, afirmando que ele não seria competente para cumprir um papel como este, pois era uma pessoa de convicções não comunistas, aberta e que falava demais. Afirmaram que alguém assim, simplesmente não servia para ser um agente da KGB. Todos aqueles que o conheceram ou que com base em suas experiências tinham algo a dizer a respeito, estão simplesmente convencidos de que a informação do semanário português “Expresso” (março 2016), que foi o primeiro a mencionar o caso do escritor Josué Guimarães, não passa de um sensacionalismo barato que não possui nenhuma cobertura de fatos.


Não conhecemos o conteúdo (não publicado) do Arquivo Mitrokhin que se encontra na Universidade de Cambridge; também não temos acesso às pastas da KGB em Moscou. Por isso, não podemos afirmar nada em concreto sobre a eventual colaboração deste escritor brasileiro com a KGB, nem excluir esta colaboração.  Neste texto, vamos tentar esclarecer por que não é possível excluir a possibilidade de colaboração.

Conhecendo um pouco sobre a prática do serviço de inteligência comunista tchecoslovaco da StB, podemos ter uma idéia sobre o trabalho da KGB soviética. O motivo é simples – o serviço de inteligência tchecoslovaco não somente recebia recomendações e ordens do serviço de inteligência soviético, como também seguia o seu exemplo, ou seja, atuava através dos mesmos princípios durante o trabalho, realizava as suas atividades operacionais no território de países estrangeiros e escolhia os seus colaboradores, trabalhando depois com os mesmos, de um modo idêntico ou semelhante. Conhecendo a maneira de agir da StB, podemos com certeza afirmar que o método de trabalho da KGB soviética não é totalmente desconhecido para nós. Sendo assim, podemos afirmar sem nenhum risco de erro, que os espiões de Moscou que trabalhavam em países estrangeiros também seguiam um padrão semelhante de trabalho.

Em primeiro lugar – as anotações por escrito que Vasili Mitrokhin fazia quando trabalhava para a KGB são somente provas indiretas. Não são fotocópias de documentos, mas “somente” frases e observações escritas, com base nos documentos originais que são e, certamente serão ainda por muito tempo, secretos. Com base em nossa experiência, podemos afirmar que as informações escritas por V. Mitrokhin não foram inventadas, mas sim apresentam o conteúdo dos documentos internos originais da KGB. Isso está bem demonstrado, por exemplo, no caso descrito por nós sobre o ilegal soviético que residiu durante os anos 50 no Brasil, Mikhail Ivanovich Filonienko. A veracidade das informações fornecidas por Mitrokhin, publicadas anteriormente no Ocidente, é confirmada pelo atual serviço de inteligência russo SVR, que nas suas páginas de internet descreve a história deste agente ilegal soviético. Existem inclusive alguns detalhes do livro do antigo arquivista da KGB, que não foram fornecidos pelos russos em suas páginas, mas foram confirmadas por nós. Desta maneira, é possível afirmar que a fonte “Mitrokhin” é duplamente confirmada. Logicamente, isso não permite que ninguém afirme que, tudo que se encontra no arquivo de Cambridge seja cem por cento verdadeiro. Mas muitos outros casos, não somente o de Filonienko, fazem com que essa fonte seja tratada como séria e bastante confiável e, o seu questionamento, deve ser feito de uma maneira complexa, ou seja, não somente através de impressões e observações gerais, mas também com provas concretas nas mãos. O mesmo vale, é claro, quanto a aprovação desta fonte como sendo totalmente confiável: sem a apresentação de outras fontes e provas o caso não poderá ser totalmente comprovado.

Sendo assim, resulta que não estamos em condições (por enquanto), de responder de um modo convincente à pergunta, se o escritor Josué Guimarães realmente foi um colaborador da KGB. Mas, como já esclarecemos, também não podemos excluir esta possibilidade. Nós tratamos o “Arquivo de Mitrokhin” como uma fonte confiável, mas também estamos cientes de que são “somente” anotações por escrito. Anotações que, em face da falta de acesso às pastas de Moscou, possuem um enorme valor.

Argumentos.

O escritor recebeu o codinome  “Gosha” (Gocha). Este fato somente não é suficiente para sinalizar que fosse um agente da KGB. Codinomes eram dados tanto para agentes e informantes, assim como para pessoas observadas e “trabalhadas” (processo de reconhecimento, monitoração e/ou abordagem operacional com determinado objetivo). O fato de receber um codinome comprova somente uma coisa – esta pessoa, por algum motivo, era um objeto de interesse por parte do serviço de inteligência soviético. Podia estar sendo monitorado como um inimigo, como alguém perigoso para a URSS (possibilidade que neste caso podemos excluir) ou como um potencial (inclusive inexperiente) informante e até colaborador. Um “trabalho” como este, geralmente durava aproximadamente um ano, às vezes mais, às vezes menos, e conduzia – após a finalização do reconhecimento sobre o “figurante trabalhado” – a um estágio seguinte, segundo a utilidade de determinada pessoa, de sua motivação para uma colaboração, ou de acordo com o plano operacional do oficial condutor.  Isso significa que,  dependendo do resultado do “trabalho”, esses encontros, ou continuavam a serem realizados ou eram interrompidos. Então, poderia tornar-se um contato de cobertura, ou seja, uma pessoa com a qual o “diplomata” se encontrava de uma forma totalmente legal. Poderia também tornar-se um informante consciente ou inconsciente, com o qual o oficial da KGB se encontrava conspirativamente, assim como poderia tornar-se inclusive um agente ou um contato secreto (um tipo de agente que colaborava com a KGB sem remuneração, mas como um agente de valor completo que fornecia informações e/ou executava operações ativas sob ordens de seu oficial condutor). Aqueles que negam as afirmações do “Expresso” de que Josué foi um agente da KGB, não excluem a possibilidade de que ele realmente poderia ter se encontrado com diplomatas soviéticos.  Foram 38 encontros em Lisboa, 2 em Buenos Aires e 2 no Rio de janeiro. Falta uma informação importante – qual foi o período em que ocorreram estes encontros? Somente no ano mencionado de 1976? Ou também durante um período maior de tempo? A quantidade de encontros leva à conclusão de que ocorreram durante um período mais longo de tempo, já que no âmbito de encontros com agentes tomava-se o cuidado de que, para minimizar o risco de serem descobertos, não fossem realizados mais de dois encontros por mês; somente em casos excepcionais era permitido que os oficiais realizassem uma quantidade maior de encontros. O simples fato destes encontros terem ocorrido, tampouco significam algo sério ou negativo, apesar de que indicam a existência de uma relação ou amizade fora do comum de “Gosha” com os soviéticos. Isso – segundo afirmam os seus defensores  – poderia ser o resultado de suas convicções esquerdistas (mas não comunistas). Isso é possível, assim como é possível também que em sua inocência ele não percebesse que havia se tornado informante de um diplomata ou de diplomatas soviéticos, que  provavelmente eram oficiais da KGB. Gostaríamos de lembrar, que mesmo que a grande maioria dos encontros ocorreram na capital de Portugal, o escritor e jornalista “Gosha” era cidadão brasileiro, ou seja, de um país que então era claramente anticomunista, governado por uma ditadura militar, fortemente de direita. Sendo assim, deveria ele estar consciente de que estes encontros poderiam ser vistos pelas autoridades brasileiras como, no mínimo, inapropriados e, talvez fosse melhor tomar cuidado para que as autoridades brasileiras não tomassem conhecimento sobre os mesmos. Outra questão é se ele foi um informante consciente ou inconsciente. Poderíamos escrever mais a respeito se soubéssemos se ele recebeu ou não remuneração financeira ou presentes, lembranças e favores de seu amigo soviético. É sabido que o recebimento de  qualquer tipo de prêmio ou favor, era visto por (todos) os serviços de inteligência como circunstâncias comprometedoras para o figurante que poderia fornecer argumento para um recrutamento. A fonte portuguesa não cita nenhuma informação sobre isso.
Graças às informações de Rodrigo, filho de Josué Guimarães, sabemos que ele entrou em contato com o político brasileiro Brizola na Argentina. Este, como líder informal de um grupo de oposição no exílio e como um político que continuava a ser importante, sem dúvidas, foi um objeto de interesse por parte da KGB. Isso significa que justamente este contato podia ser muito importante e interessante para um oficial condutor da KGB. Este poderia ser um argumento que apontaria para uma colaboração ou, pelo menos, um interesse maior da KGB pela pessoa do escritor brasileiro.
O perfil político do escritor é apresentado como argumento que exclui a possibilidade de sua colaboração com o serviço de inteligência soviético. Isso seria pura inocência, desinformação consciente ou, simplesmente ignorância. O fato de que ele não era comunista, poderia, aos olhos da KGB, somente aumentar o seu valor. Todo o comunista no mundo ocidental dos anos 70 sempre era mais suspeito de fazer algo ilegal, do que qualquer outra pessoa. Sendo assim, poderia encontrar-se sob observação da contraespionagem do país, que via aos comunistas como inimigos. Além disso, as circunstâncias em que alguém não fazia parte do partido comunista poderiam ser extremamente atraentes para a KGB. Pois há mais esperteza em reunir informações, não onde elas surgem à vontade (já que os comunistas forneciam informações voluntariamente), mas sim, lá onde haviam menos fontes. Ou seja, em outras palavras – os comunistas serviam menos para serem agentes de um serviço de inteligência. Além disso, os contatos de maior importância eram aqueles através dos quais  poderiam ser realizadas operações ativas, ou seja, ações que faziam parte da política de influência soviética em territórios estrangeiros. Pois os textos de um escritor considerado como não comunista (mesmo que seja de esquerda) possuem maior força de persuasão, em uma sociedade democrática, do que aqueles escritos por alguém que é associado com comunistas. Neste caso, a força de convicção é maior. E também mais perigosa, caso o escritor transmita em seus textos os pensamentos, as idéias e os pontos de vista que lhe foram ditados por alguém de Moscou. Não estamos direcionando estas observações (diretamente) para o escritor mencionado; estamos somente tentando demonstrar a metodologia de trabalho do serviço de inteligência comunista. Por exemplo: durante os anos 60 no Brasil, o serviço de inteligência tchecoslovaco foi responsável pela publicação de textos que defendiam a “revolução cubana”, escritos desde pontos de vista burgueses; nestes textos foi feito um esforço para evitar o uso de uma argumentação comunista ou progressista e, ao mesmo tempo, foram escritos premeditadamente e conscientemente de uma forma que seguia os princípios e padrões de uma argumentação democrática, melhorando assim o resultado. Ao mesmo tempo, eram textos inspirados pelo serviço de inteligência comunista que serviam ao seu próprio interesse.
Estas observações derrubam os argumentos dos defensores do escritor – simplesmente quanto mais a pessoa não “combinava” com a imagem de um agente perigoso, melhor era para ocultar o fato de colaboração com um serviço de inteligência estrangeiro. As pastas do serviço de inteligência de Praga estão repletas de casos onde um agente útil e de valor era alguém que não “combinava” com a imagem conhecida de um agente – pessoas pouco sérias, que abusavam do álcool, falavam demais e, mesmo assim, eram agentes úteis. Também temos casos como este. Não existem motivos para que os soviéticos não pudessem trabalhar com uma pessoa assim, que estivesse distante dos padrões de um bom agente desenhados pela literatura sensacionalista.

Caso alguém queira estudar a tese de que o escritor Josué Guimarães pudesse ser um colaborador da KGB soviética, deve estudar profundamente os seus textos; principalmente aqueles do ano de 1976 e anos próximos. Neles, será possível encontrar pistas da influência de estrangeira. Ali será possível encontrar os sinais de operações ativas da KGB, caso estas tenham sido realizadas. Também deveria ser estudada a sua rede de ligações em (e não somente) Lisboa – pois justamente esta rede poderia ser de valor operacional para Moscou, por causa da possibilidade do acesso à informação. Com quem ele se encontrava, a quem conhecia e a quem tinha acesso. O pesquisador também deve estar atento quanto as condições financeiras do escritor naquela época, se por acaso não houve alguma mudança importante. Os resultados de uma verificação como esta poderiam, no máximo, aumentar a possibilidade de que a tese da revista portuguesa “Expresso” esteja correta.

É fácil acusar alguém de relações com a KGB; principalmente quando esta pessoa já é falecida. Apesar de que neste caso, eu compreenda que o motivo seja importante (assim como foi esclarecido acima), tenho consciência de que não foram apresentadas provas e que a acusação foi feita somente em nível de uma tese, que não é fácil de ser defendida. Por outro lado, caso se queira defender o bom nome de uma pessoa alvo deste tipo de acusação, que seja de uma maneira que faça sentido, apresentando argumentos válidos, e não através de explicações que a deixe em uma situação pior!

Vladimír Petrilák

http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/livros/noticia/2016/07/josue-guimaraes-e-kgb-amigos-e-familiares-negam-envolvimento-de-escritor-com-agencia-sovietica-6548472.html

http://poncheverde.blogspot.com.br/2016/07/escritor-gaucho-josue-guimaraes-era-o.html

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ano de 1961: os soviéticos, graças a ajuda da StB e da KGB, reataram as relações diplomáticas com o Brasil




Original: https://www.facebook.com/notes/stb-no-brasil/ano-de-1961-os-sovi%C3%A9ticos-gra%C3%A7as-a-ajuda-da-stb-e-da-kgb-reataram-as-rela%C3%A7%C3%B5es-di/615779835247839

Janeiro a maio de 1961 foi o palco da ação em que figuraram como protagonistas o serviço de inteligência da Tchecoslováquia, a StB (em tcheco, Státní bezpečnostní), e sua residentura (base do serviço de inteligência no estrangeiro) no Rio de Janeiro. O objetivo: o reatamento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética.

Essas relações estavam rompidas desde o ano de 1947. Enquanto a Tchecoslováquia as mantinha relativamente normais com o Brasil, os soviéticos atuavam em um campo de ação limitado. A Revolução Cubana atraiu atenção para o potencial da América Latina e, por isso, foram obrigados a concentrar suas atividades no maior país daquela região.

Para os soviéticos, não era suficiente estar no controle total das atividades do serviço de inteligência “tcheca”; eles também desejavam estar presentes legalmente. A tarefa de estabelecer novamente as relações diplomáticas foi confiada a um homem que parecia ser “um predestinado”. Esse homem exerceu influência direta sobre o governo de Cuba, e inclusive tornou-se amigo pessoal de Fidel e Che Guevara. Ele era um oficial da KGB e também teve bons relacionamentos pessoais com o novo (a partir de janeiro de 1961) presidente brasileiro Jânio Quadros, que o conheceu em 1959, quando foi seu guia e tradutor em uma visita que fez a Moscou e Leningrado.

Na oportunidade, Jânio Quadros esteve na URSS como um político de oposição. Esse oficial da KGB, mesmo cumprindo um papel muito importante em Havana, durante a crise no Caribe, foi chamado às pressas a Moscou, onde Nikita Sergeyevich Khrushchev (Secretário Geral do Partido Comunista da URSS) lhe confiou uma importante missão: “Você irá ao Brasil!”. Mas, para que a missão obtivesse sucesso, era necessário “incluir” nela os “tchecos”, pois eles já possuíam, na época, um certo domínio do “terreno” e ainda tinham um contato (trata-se aqui de contato legal) no gabinete presidencial.

Os “tchecos”, então, ajudaram a obter o visto para este que talvez tenha sido o primeiro cidadão soviético a visitar legalmente o Brasil desde o ano de 1947. Além disso, foram apanhá-lo no aeroporto, ajudaram-lhe a se alojar no hotel “Miramar”, no Rio de Janeiro, e inclusive a se vestir (no relatório da base da StB do Rio de Janeiro está escrito que lhe ajudaram a comprar um paletó, outras peças de roupa e uma mala), ajudaram ainda a trocar dinheiro em casa de câmbio etc. Depois lhe compraram uma passagem aérea até Brasília (capital), onde deveria encontrar-se com o Presidente Quadros, que, em 1959, havia lhe garantido pessoalmente que quando precisasse “receberia o visto na hora”.

Bem, não foi o que ocorreu, pois sem a ajuda dos agentes da StB, ele não teria recebido o visto. Os “tchecos” levaram um mês para conseguir o documento. Mesmo depois de o oficial da KGB em questão, com “disfarce” de jornalista, ter chegado ao Brasil, a audiência com o presidente ainda não era certa. Os “tchecos”, graças ao seu contato (contato legal, insista-se) no gabinete presidencial (o chefe do departamento cultural - esse funcionário possuía o codinome de MOGUL e como possuía uma visão católica e conservadora e, além disso, era uma pessoa de ótima situação financeira, não servia para ser recrutado como agente), conseguiram rapidamente que fosse atendido pela “eminência parda” de Jânio Quadros, seu secretário pessoal, o Dr. José Aparecido de Oliveira. Isso porque, por uma questão de má sorte, no dia em que o enviado soviético chegou à capital, o presidente precisou viajar por alguns dias. A data do próximo encontro fora então marcada para o próximo dia 5 de maio de 1961.

Assim, Alexander Ivanovich Alexejev (seu sobrenome verdadeiro era Shitov, em russo cirílico, Шитов Александр Иванович, latino, Alexandr Ivanovich Shitov) após regressar ao Rio para depois decolar novamente para a capital Brasília, encontrou-se com o presidente brasileiro Jânio Quadros. A conversa trouxe o efeito esperado e, ao final daquele ano, as relações entre Brasil e URSS foram restabelecidas oficialmente.




A foto acima é do ano de 1963; visita de Fidel Castro à URSS, o homem de óculos à direita de Fidel Castro é Alexejev

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

World Thought Police - Capítulo 1 - Contexto Histórico

Por favor, avisem-me de qualquer erro de tradução ou de portugûes.

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World Thought Police - Capítulo 1 - Contexto Histórico

Press Agency Novosti, ou APN, (Novosti que curiosamente significa notícia em russo) foi fundada em 1961 como uma agência “independente, não governamental”, praticamente como uma organização virgem¹², o quê é, em si, totalmente desprovido de sentido em um país onde tudo, desde os satélites Sputniks¹³ até os banheiros, pertencem ao povo, ou seja, são controlados pelo Estado. Os prospectos da Novosti dizem que a APN “é uma agência de informação das organizações públicas Soviéticas... facilitando de todas as formas a promoção e consolidação de maneira internacional do conhecimento, confiança e amizade, circulando EM TODOS OS LADOS¹⁴ a verdadeira informação sobre a União Soviética e informando os Soviéticos da vida de outros povos...”


Desde o primeiro segundo da sua fundação, a APN foi subordinada, de fato, a dois chefes: Department of Agitation and Propaganda of the Central Committee of the CPSU (Agitprop) ( Departamento de Agitação e Propaganda do Comitê Cental do Partido Comunista da União Soviética) e o Department of Disinformation of the KGB (Departamento de Desinformação da KGB), com o propósito de planejar, coordenar e conduzir medidas ativas¹⁴ contra o público e o governo em países não-Soviéticos (não controlados pela União Soviética e seus vizinhos), principalmente pela imprensa destes países. Os alvos da manipulação da APN-KGB também incluem organizações públicas e políticas, grupos religiosos, sistemas educacionais, a indústria do entretenimento (cinema, TV, companhias de promoção de troca de cultura¹⁵ etc...), assim como indivíduos: políticos, membros do parlamento, burocráticos dos serviços sociais, líderes e ativistas dos sindicatos, empresários, publicitários, intelectuais (professores universitários, escritores, cientistas) - ou seja, todo mundo que tem a capacidade de influenciar outras pessoas, de modelar a opinião pública e policiar as atitudes e as decisões tomadas a nível da nação.

Propaganda do Marxismo-Leninismo (ou as “vantagens” do Socialismo e da economia planejada) e a denuncia do “Decadente Imperialismo Ocidental” são apenas uma pequena parte das atividades da Novosti. Quando da fundação da Novosti, a era pós-Stalin, demandava novos métodos e abordagens. Ataques frontais a ideologia Ocidental se provaram ineficiente e até contra-produtivos, especialmente no Terceiro Mundo: Ásia, África e América Latina. A idade moderna das comunicações obrigaram a uma maneira mais sofisticada de moldar a opinião pública fora da URSS. A sub-versão a curto-prazo de algumas personalidades chaves deveria ser combinada com uma subversão a longo-prazo, porém de maneira mais efetiva e que criasse, de maneira irreversível, uma mudança no processo de percepção da realidade de milhões de votantes em sociedades pluralistas.

Sobre o comando de Yuri Andropov, a nova geração de especialistas das relações públicas da KGB começou a emergir: altamente educados e treinados, graduados nas escolas Soviéticas, falando fluentemente duas ou mais línguas, entendidos de história, literatura, religião, estilo de vida e estrutura política-social dos países alvos.

Esse foi o tempo na nova “linha geral” da CPSU-CC (Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética). Um novo clichê da propaganda foi criada – um “terceiro modo” de desenvolvimento das colônias ocidentais em formação (não-comunistas, porém ainda não capitalistas, porém com certeza “anti-imperialistas”, principalmente num estilo de desenvolvimento anti-americano). A implementação desta politica requeria milhares de profissionais de jornalismo, bem treinados no estilo ocidental de jornalismo e no processamento das informações e na apresentação das opiniões da maneira mais emocional possível, apelando sempre para os instintos mais primitivos do homem: medo (da guerra nuclear e/ou da confrontação com a URSS), autopreservação (você preferiria viver em sociedade “cruel, poluída onde só o lucro interessa” ou em uma sociedade “cientificamente planejada, racional, sem poluição onde a riqueza está totalmente distribuída”) e o amor (das crianças, da família, da paz, dos amigos, dos irmãos de classe e raça e etc...) .

Naquela época os ideólogos e especialistas da CPSU-CC tinham trabalhado numa nova linha de operações da KGB que mais tarde foi chamada de “medidas ativas”. Essas medidas tinham muito pouco a ver com a clássica e romanceada concepção de espionagem da época do Stalin. Fontes confiáveis estimam que a espionagem clássica (estilo James Bond) correspondiam a mais ou menos 15% ou 20% do tempo, do dinheiro e da força de trabalho da KGB. Os 80% restantes eram direcionados a criação de um clima ideológico nos países alvos que permitia que os agentes de influência Soviéticos simplesmente comprassem (ou pegassem) os dados da inteligência local de maneira legítima e aparente.

O real objetivo da nova política de atividade da Novosti não é aprender os segredos do adversário, e nem mesmo ensinar as massas do ocidente o espírito da ideologia do Marxismo-Leninismo, mas sim substituir vagarosamente a sociedade de livre-mercado capitalista, com sua liberdade individual na economia e na esfera politico-social – com uma cópia do sistema “mais progressivo” e eventualmente formar um sistema mundial controlado por uma burocracia benevolente que eles chamam de Socialismo (ou Comunismo, como o estágio supremo deste “progresso”).

Para efetuar esta mudança gradual, é muito mais fácil e bem menos doloroso (e menos perceptível para a população) mudar a percepção da realidade, as atitudes, os padrões de comportamento e criar várias demandas e expectativas, levando assim a aceitação do totalitarismo¹⁶. Assim a imprensa é o principal alvo da manipulação da manipulada-independente-não-governamental organização pública Novosti.

[TRADUÇÃO INTERROMPIDA]

11 Um personagem do romance 1984 que representa a burocracia totalitária que controla totalmente seus cidadãos a ponto de poder vê-los em uma TV, sempre lembrado-os da propaganda estatal “O Big Brother está o vendo”
12 No original: grass'root. Significa algo totalmente não adaptado, modificado.
13 Satélites robôs Soviéticos. O Sputnik 1 foi o primeiro objeto feito pelo homem enviado a órbita terrestre, isso em 1957. Sputnik em russo significa literalmente satélite.
14 Grifo do Tomas.
15 No original:cultural exchange. Aqueles programas onde um pessoa vai morar com uma família em outro país, absorvendo assim a cultura do páis.
16 Quanto a criação de demandas e se aproveitar do caos criado ver: “Cloward-Piven Strategy”

World Thought Police - Traduzido para Portugês





World Thought Police

Tomas Schuman/Yuri Bezmenov

Polícia Mundial dos Pensamentos

Tomas Schuman/Yuri Bezmenov

Introdução
Capítulo 2. Structure and Functions
Capítulo 3. P.R. Men — The Friendly Mind-Benders
Capítulo 4. Novosti cadres
Capítulo 5. Party Line of Novosti
Capítulo 6. Novosti's Connection with the KGB
Capítulo 7. The vicious Circle of Untruth
Capítulo 8. Homemade Propaganda
Capítulo 9. Novosti Space Bluff
Capítulo 10. Human Interest Propaganda
Capítulo 11. Indo-Soviet Friendship: My Cup of Tea
Capítulo 12. Collaborators: Who Are They?
Capítulo 13. Foreign Press Collaborators
Capítulo 14. Services and Pay
Capítulo 15. Overt and Legitimate Operations
Capítulo 16. Covert & Illegitimate Active Measures
Capítulo 17. Pentagon's Gun Fodder or America's Conscience?

PDF Completo com as últimas atualizações:


Ver também:

Entrevista do Tomas em 1983 (em inglês):




Versão com legendas em Portugês

0:00:21 
Entrevista em forma de documentário em 1984 para G. Edward Griffin. Legendas por David Carvalho. 

Palestrada dada em uma universidade de Los Angeles em 1983, também legendada e editada por David Carvalho.

Anexo da palestra anterior, autoria desconhecida. 

Vídeo curto didático feito pelo Zé Oswaldo estabelecendo um comparativo paralelo entre trechos da palestra e elementos da realidade brasileira atual.





Livro Original em inglês

https://archive.org/details/BezmenovWorldThoughtPolice1986