quinta-feira, 28 de junho de 2018

A Conversão da Khaddafi: Pode um pau nascido torto se endireitar?

A Conversão da Khaddafi: Pode um pau nascido torto se endireitar?
por Ion Mihai Pacepa em 29/12/2003

Arquivo recuperado do artigo original em:
https://web.archive.org/web/20140220134329/http://old.nationalreview.com/comment/pacepa200312290001.asp

Como chefe da inteligência estrangeira da Romênia, trabalhei muito próximo ao Muammar Khaddafi, da Líbia, antes de deserdar para o Ocidente em 1978. Era eu o encarregado por Khadaffi e quem aparelhou os seus programas de armas que, ele, agora tão avidamente revela para a ONU. Em 1972, Moscou decidiu mobilizar três governos esquerdistas Árabes - Líbia, Iraque e Síria - e grupos terroristas como a “Organização para a Libertação da Palestina” (OLP, ou PLO em inglês), contra o nosso inimigo em comum, “o imperialismo-zionista Americano”.

Yuri Andropov, o então chefe da KGB, delegou a Líbia para a Romênia. Nós, na Romênia, já tínhamos ótimas conexões com Khaddafi. Tanto ele como Kim Il Sung da Coreia do Norte há tempos utilizam especialistas Romenos em armas químicas, assim como uma tecnologia nossa (Romena) de bombas radioativas tão pequenas quanto maletas.

O Iraque é o bebê de Moscou. Já a Síria, Andropov me disse, era a próxima da lista, onde o presidente Hafez, irmão do Assad já era um dos nossos, muito-bem-pagos agentes.

Khaddafi, na minha opinião, não é um homem de honra. Muito pelo contrário, ele morre de medo de morrer. Ele não se vislumbra com o destino do Saddam Hussein. Tiranos são sempre paranoicos, por motivos óbvios. Nicolae Ceaușescu, ditador da Romênia, por exemplo, nunca comia nada até que alguém se certificasse que não havia veneno. Khaddafi deve calcular que a sua melhor chance de manter a sua fortuna e a sua posição é costurar acordos que tirem a Líbia das listas dos governos mais trapaceiros do mundo. A sua estratégia deve ser exatamente a mesma dos soberanos da China, alguns anos após a morte do Mao Tse-Tung, que humoristicamente anunciaram ao Ocidente que mudariam, porém mantendo tudo exatamente igual.

Conciliações nunca funcionam com estes tipos de pessoas. Porém o medo algumas vezes sim.

O presidente Bill Clinton, uma vez, tentou apaziguar a situação com Yasser Arafat forçando-o a cooperar. O convidou à Casa Branca e o tratou como um Chefe de Estado. O resultado? O terrorismo na Palestina apenas cresceu. Já o presidente Jimmy Carter bajulava ilimitadamente o meu antigo chefe, Nicolae Ceausescu, saudando o tirano como “um grande estadista e um líder internacional”. Ceausescu considerou esta bajulação como um certificado para continuar o seu ataques terroristas. Pouco tempo depois, ele contratou Carlos, o Chacal, para explodir o escritório da rádio “Europa Livre” em Munique.

Meu último encontro com Khaddafi foi em 1978, quando voei para Trípoli, capital da Líbia, para perguntá-lo se ele se interessava em financiar a transformação de brucelose numa arma biológica, um vírus mortal que possuía o codinome "Brutus". Sendo extremamente rica em petróleo, a Líbia possuía, mais do que suficiente, reservas internacionais para pesquisa científica militar. Sempre se escondendo, Khaddafi já estava três dias atrasados para o nosso encontro. “O seguro morreu de velho”, o seu espião chefe me disse. Manobras paranoicas era o padrão operacional do Khaddafi. Em 1999, ele manteve Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU, aguardando por horas.

“Nossa união é a nossa força”, Khaddafi disse, quando finalmente o encontrei na sua tenda verde. “E, por favor, sem segredos entre nós”, ele adicionou num tom de ameaça. Como era o usual, ele estava sentado em seu trono dourado, com seu queixo dentro de uma das mãos. Assim como todos os tiranos, Khaddafi era um covarde que tentava compensar isto agindo como um monarca. Ele concordou em financiar "Brutus" sob a condição que a produção seria compartilhada igualmente, depois me encaminhou ao seu pessoal para os detalhes técnicos.

Encontrei com ele uma vez mais nesta viagem, novamente sentado em eu trono dourado, porém agora em outra tenda. Khaddafi me deu uma mensagem que deveria ser entregue ao Ceausescu - o que ele realmente queria era desenvolver armas nucleares usando as grandes reservas de Urânio no norte da Romênia, particularmente ele queria uma arma radioativa portátil, que pudesse ser carregada. Dinheiro não seria problema, ele me disse.

Eu recomendo que o Ocidente não se vanglorie tão rapidamente da aparente desistência do pau torto Líbio. Precisamos manter os olhos bem abertos em Khaddafi. Eu sei que ele é um mentiroso e um mestre em embromações. Todos os ditadores possuem estas habilidades. Khaddafi vem, ao mesmo tempo, fomentando e renunciando o terrorismo por mais de 20 anos. Logo após a minha deserção, ele anunciou, com fanfarra, a destruição do complexo químico na Romênia chamado Rabta, que por acaso ele mesmo ajudou a construir. Claro, como eu mesmo já havia comprometido as instalações, este ato não foi um ato tão nobre quanto ele tentou fazer parecer. Mais tarde, descobrimos que na verdade ele apenas forjou o incêndio em Rabta, com queimaduras forjadas e queimando pneus de caminhões para criar todo aquele fumaceiro. Enquanto isso ele construia uma segunda fábrica de armas químicas, agora a mais de 30 metros de profundidade, debaixo da montanha Tarhunah, no sul de Trípoli. Em 1992, a CIA estimou que a Líbia tinha produzido 100 toneladas de armas químicas, parte delas usada para construção de bomba aéreas.

Em abril de 1986, eu mesmo ajudei o governo dos Estados Unidos a se vingar do bombardeio da discoteca La Belle em Berlim, comandado por Khaddafi, que acabou com a morte de dois soldados americanos e mais de 200 pessoas feridas. No dia 15 de abril de 1986, aviões Americanos atacaram duas cidades Libanesas: Trípoli e Benghazi, destruindo as tendas do líder libanês Muammar Khaddafi. Segundo relatórios dos jornais, Khaddafi fugiu alguns minutos antes dos ataques.

Depois disso, um "novo" Khaddafi proclamou que ele tinha parado com operações terroristas contra os Estados Unidos. Porém dois anos depois, a Líbia era novamente o cérebro por detrás dos bombardeios do voo PanAm 103 sobre Lockerbie na Escócia, matando todos os 259 passageiros e mais 11 pessoas quando o avião atingiu o chão, o maior ato de terrorismo contra os Estados Unidos até aquela época.

Após Lockerbie, novamente um “novo, novo” Khaddafi apareceu ao mundo. Chamando os ataques terroristas de 11 de Setembro contra os Estados Unidos de “horrorosos”, ele disse que os Estados Unidos tinham todo o direito do mundo de perseguir os terroristas. “Antigamente, eles nos chamavas de trapaceiros”, disse Khaddafi num discurso nacional para a rede de televisão na Líbia. “Eles estavam corretos em nos acusar disso. Porém isto tudo é passado. Nosso comportamento foi revolucionado.”

Tudo isso é passado, ele disse, e agora ele se opõe aos insurgentes islâmicos como a Al Qaeda.

Por debaixo dos panos, porém, Khaddafi ainda me parece ser o mesmo bom e velho patrocinador do terrorismo. Segundo revelações da semana passada, ele continua até hoje a construir, discretamente, um dos maiores estoques de armas químicas do Oriente Médio. Ele, recentemente, adquiriu centrífugas para enriquecer Urânio. Além de ter comprado tecnologia balística da Coreia do Norte.

Visitas preliminares dos Estados Unidos e do Reino Unido a algumas dezenas de instalações para produção de armas nucleares na Líbia indicaram que eles são muito mais avançados do que se acreditava.

É muito bom que Khaddafi, mais uma vez, disse que ele escolheu “por livre e espontânea vontade” desmontar suas armas de destruição em massa. Eu torço para que isso se torne um modelo e que outros ditadores façam o mesmo - e evitem o destino do Saddam Hussein e, tenho a certeza absoluta, que aquela foto dele, passando a imagem de totalmente submisso e derrotado, dá um frio na espinha de todos estes ditadores. Porém devemos nos lembrar que Khaddafi é um charlatão e que contêm ainda algumas cartas escondidas na manga.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Capítulo 5 totalmente traduzido

Demorou mas o Capítulo 5 está totalmente traduzido.

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