domingo, 14 de abril de 2019
Reunião do Republicano John McCain e do General Pinochet em 1986
Original:
https://file.wikileaks.org/file/mccain-pinochet-1986.pdf
"Membro do congresso John McCain numa reunião com o presidente Pinochet discutiu os perigos do Comunismo, um assunto pelo qual o Presidente parece obcecado. O Presidente descreveu também a recente história do Chile e a luta contra o Comunismo. e mostrou particular orgulho de que a ameaça Comunista foi totalmente eliminada no Chile. O Presidente também estressou que sempre estiveram sozinhos e reclamou da política exterior dos EUA que os deixou paralisados.
Del Valle, Ministro do Exterior Chileno, fez uma intervenção acalorada sobre a inabilidade dos EUA de entenderem a situação Chilena e como os EUA falharam em ajudar o Chile na luta contra a expansão Comunista.
Merino, funcionário do gabinete Chileno, comentou que as eleições de 1989 seriam livres e que a Junta Militar não apoiaria Pinochet, caso ele se candidatasse."
Original:
"Congressman John Mccain, [...] meeting with the President [Pinochet] [...] was discussing the dangers of Communism, a subject about which the President seems obsessed. The President described Chile's recent history in the fight against Communism, and displayed considerable pride in the fact that the Communist menace had been defeated in Chile. The President stressed that Chile had stood alone in this battle, and complained that United Staes foreign Policy had left them stranded."
"Congressman McCain [...] noted that Pinochet does seem obsessed with the threat of Communism. Del Valle [..] made rather heated remark about the inability of the USA to understand the Chilean situation, and our failure to support Chile in the fight against Communist expansion.
Well-known views on the importance of Chile in the battle to keep the sea lanes open, and the attempts by the Russians to gain a foot hold in the area. According to the congressman, wa Merino's statement that he and other members of the junta had recently told Pinochet that he should not expect any support from the junta if he should decide to be a candidate for presidente in 1989. Merino added that the 1989 elections would be a free and open..."
"choice between various candidates. He described the portion of the constitution calling for a single candidate plesbicite as being ridiculous and unsopportable. In response to the Congressman's question if Pinochet migh bt one of the presidential candidates in 1989, Merino stated that this would not be the case."
segunda-feira, 25 de março de 2019
Relatório ultra-secreto sobre o 31 de Março de 1964
Original:
https://stbnobrasil.com/pt/relatorio-ultra-secreto-sobre-o-31-de-marco-de-1964
Fragmento do livro:
Fragmento do livro:
Capítulo XX – 1963-1964 – O GOLPE: ANTES, DURANTE E DEPOIS.
Nos acervos de documentos do gabinete de Antonín Novotný, primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia, existe uma análise elaborada para o Comitê Central com o título: “Motivos da vitória do golpe brasileiro e a situação atual”. Esta análise foi elaborada por um autor desconhecido, mas o fato de ter sido enviada à autoridade mais importante na Tchecoslováquia significa que foi o material com mais credibilidade na época. É certo que o autor tinha acesso tanto aos materiais da StB como a informações da embaixada e do partido comunista brasileiro. Provavelmente, foi redigido pelo agente Mané – Miroslav Štráfelda, correspondente da Agência de Imprensa Tchecoslovaca no Brasil, expulso do país em maio de 1964. Era comum a prática de correspondentes das mídias comunistas escreverem textos especiais destinados apenas a leitores selecionados — para a diretoria do partido, diretoria da agência de imprensa ou do jornal para o qual trabalhavam – com informações objetivas que, obviamente, não chegavam à opinião pública. É esse também o caso de “Motivos da vitória do golpe brasileiro…”.
O documento era ultra-secreto, destinado somente à elite partidária. O estilo — quase literário — no qual foi escrito, em 9 de junho de 1964, parece confirmar a hipótese sobre o autor, assim como alguns fragmentos do material, em que o tal correspondente é citado de maneira sugestiva. No segundo período do texto, podemos ler as seguintes palavras dramáticas:
“Praticamente sem nenhum disparo (…), sem qualquer tipo de manifestação da vontade do povo, Goulart, juntamente com toda a esquerda brasileira, foi nocauteado em um prazo de 24 horas. Igualmente rápidos e surpreendentes foram o contra-ataque, as perseguições e a liquidação de tudo o que era, pelo menos, levemente esquerdista…”.
Entre os motivos mais importantes do desenrolar destes acontecimentos, o autor inclui:
A “Hesitação típica de Goulart e a sua incapacidade de levar as coisas até o fim”, são seguidas pela descrição da reação da imprensa “(…) Em vez de uma ordem imediata para a luta, em vez de conduzir o povo trabalhador para as ruas e convocar um levante nacional, em vez de armar os trabalhadores imediatamente, a rádio do governo, até quando ali apareceram alguns oficiais e bateram no locutor, transmitia somente juramentos patéticos de lealdade a Goulart, o que não ajudou em nada o confronto contra as bazucas e tanques dos oficiais”. Em vez de irem à luta, os trabalhadores jogavam bola, acreditando que Goulart resolveria tudo por eles. Na opinião do autor da análise, esta imprudência foi uma característica de todos — inclusive dos ativistas partidários.
Houve uma confusão entre duas atitudes diferentes. Uma coisa era o sentimento das massas — claramente esquerdista — e outra era a verdadeira vontade e organização para a luta. Ele também culpa o partido comunista por esse equívoco, e calcula que as maiores manifestações da esquerda, em um Rio de Janeiro com 3.6 milhões de habitantes, reuniram no máximo 10 mil pessoas – foi o caso da manifestação de 1º de maio de 1963. Ao escrever o trabalho, anotou com ironia que várias vezes havia visto piquetes da esquerda em que a tribuna com os ativistas era mais numerosa do que as pessoas reunidas diante dela.
A base da falência da esquerda foi a sua falta de organização. “Não se podia sequer falar em derrota, pois a derrota pressupõe uma luta, e no Brasil houve somente uma tomada pacífica de poder pela direita”. O regime de Goulart garantia liberdade para os dois lados, e a esquerda (PCB, UNE, CGT, frente parlamentar nacionalista, Ligas Camponesas e Brizola), que tinha possibilidades de se organizar e tinha o apoio silencioso do governo, brigava entre si pelo posto de liderança em vez de fazer um trabalho efetivo de organização. Um exemplo da indisciplina fundamental é nenhuma reunião partidária começar no horário marcado. O atraso costumava ser de duas horas: metade das pessoas já haviam saído, enquanto a outra metade estava chegando. Essa estava longe de ser a mesma capacidade de organização do Partido Comunista da Tchecoslováquia, que, em fevereiro de 1948, efetuou o golpe de estado com bravura.
O “deslocamento militar de forças” falhou. Goulart subestimou o papel dos oficiais nas forças armadas, e, através de sua atitude pouco decisiva, fez que as forças armadas também não ficassem a seu lado de forma decisiva.
Além desses quatro pontos, o autor do relatório também fez referência às possíveis influências externas:
“No exílio, Goulart disse que as influências estrangeiras cumpriram um papel decisivo. Eu acho que essa é uma desculpa barata para ele e para a esquerda, mesmo que o tema certamente existisse. As condições externas sempre agem através das internas. Caso — assim como os informantes nos garantiam o tempo todo — uma massa de 40 milhões de brasileiros levantasse para a luta, os truques diplomáticos do exterior não serviriam de nada. Dizem que, nos dias críticos, funcionários da embaixada americana caminharam pelas ruas e ofereceram aos oficiais maços de dezenas de milhares de dólares para que passassem para o lado da reação. Talvez tenham sido feitos outros movimentos mais elaborados, sobre as quais ainda não se sabe. Mas é fato que os motivos principais devem ser procurados na situação interna”.
A falta de decisão e de vontade para a luta são também descritas no seguinte fragmento:
“Enquanto o governador Lacerda construiu uma barricada em seu palácio com a ajuda de veículos para transportar lixo e com dois revólveres e uma pistola automática, permanecendo ali com a sua Secretária de Serviços Sociais, Sandra Cavalcanti, durante 52 horas, a fortaleza-chave Copacabana, leal a Goulart, foi conquistada da seguinte maneira: aproximadamente às 15 horas chegou ali, de Volkswagen, um sub-coronel, sozinho. Desceu do carro com um revólver na mão esquerda, com a direita deu um tapa no rosto do soldado que estava de guarda, entrou, entendeu-se com os oficiais e… a fortaleza caiu. Este foi um sinal para os oficiais do I Exército, para que passassem para o lado da contra-revolução”.
Na parte seguinte do relatório existe uma observação referente à estrutura do novo governo, que naquele momento ainda não estava completamente estabelecida. O autor incluiu entre os inspiradores do golpe o governador Magalhães Pinto (Minas Gerais), e não falou muito bem da polícia, que começou a perseguir a oposição de esquerda. Um acontecimento exemplifica a incapacidade dos policiais:
“A polícia política é composta de analfabetos políticos! Em 30 de abril foi preso Ribeiro, um vendedor de livros do Rio de Janeiro, porque tinha em sua loja um livro anti-soviético chamado: Em cima da hora, traduzido pelo próprio Lacerda. Ele foi preso porque na capa do livro havia o martelo e a foice”.
Vladimír Petrilák
Nos acervos de documentos do gabinete de Antonín Novotný, primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia, existe uma análise elaborada para o Comitê Central com o título: “Motivos da vitória do golpe brasileiro e a situação atual”. Esta análise foi elaborada por um autor desconhecido, mas o fato de ter sido enviada à autoridade mais importante na Tchecoslováquia significa que foi o material com mais credibilidade na época. É certo que o autor tinha acesso tanto aos materiais da StB como a informações da embaixada e do partido comunista brasileiro. Provavelmente, foi redigido pelo agente Mané – Miroslav Štráfelda, correspondente da Agência de Imprensa Tchecoslovaca no Brasil, expulso do país em maio de 1964. Era comum a prática de correspondentes das mídias comunistas escreverem textos especiais destinados apenas a leitores selecionados — para a diretoria do partido, diretoria da agência de imprensa ou do jornal para o qual trabalhavam – com informações objetivas que, obviamente, não chegavam à opinião pública. É esse também o caso de “Motivos da vitória do golpe brasileiro…”.
Antonín Novotný, Primeiro-Secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia de 1957/1968, e Nikita Khrushchov, Primeiro-Secretário do Partido Comunista da União Soviética de 1953/1964.
Arquivo Nacional da República Tcheca.
O documento era ultra-secreto, destinado somente à elite partidária. O estilo — quase literário — no qual foi escrito, em 9 de junho de 1964, parece confirmar a hipótese sobre o autor, assim como alguns fragmentos do material, em que o tal correspondente é citado de maneira sugestiva. No segundo período do texto, podemos ler as seguintes palavras dramáticas:
“Praticamente sem nenhum disparo (…), sem qualquer tipo de manifestação da vontade do povo, Goulart, juntamente com toda a esquerda brasileira, foi nocauteado em um prazo de 24 horas. Igualmente rápidos e surpreendentes foram o contra-ataque, as perseguições e a liquidação de tudo o que era, pelo menos, levemente esquerdista…”.
Entre os motivos mais importantes do desenrolar destes acontecimentos, o autor inclui:
A “Hesitação típica de Goulart e a sua incapacidade de levar as coisas até o fim”, são seguidas pela descrição da reação da imprensa “(…) Em vez de uma ordem imediata para a luta, em vez de conduzir o povo trabalhador para as ruas e convocar um levante nacional, em vez de armar os trabalhadores imediatamente, a rádio do governo, até quando ali apareceram alguns oficiais e bateram no locutor, transmitia somente juramentos patéticos de lealdade a Goulart, o que não ajudou em nada o confronto contra as bazucas e tanques dos oficiais”. Em vez de irem à luta, os trabalhadores jogavam bola, acreditando que Goulart resolveria tudo por eles. Na opinião do autor da análise, esta imprudência foi uma característica de todos — inclusive dos ativistas partidários.
Houve uma confusão entre duas atitudes diferentes. Uma coisa era o sentimento das massas — claramente esquerdista — e outra era a verdadeira vontade e organização para a luta. Ele também culpa o partido comunista por esse equívoco, e calcula que as maiores manifestações da esquerda, em um Rio de Janeiro com 3.6 milhões de habitantes, reuniram no máximo 10 mil pessoas – foi o caso da manifestação de 1º de maio de 1963. Ao escrever o trabalho, anotou com ironia que várias vezes havia visto piquetes da esquerda em que a tribuna com os ativistas era mais numerosa do que as pessoas reunidas diante dela.
A base da falência da esquerda foi a sua falta de organização. “Não se podia sequer falar em derrota, pois a derrota pressupõe uma luta, e no Brasil houve somente uma tomada pacífica de poder pela direita”. O regime de Goulart garantia liberdade para os dois lados, e a esquerda (PCB, UNE, CGT, frente parlamentar nacionalista, Ligas Camponesas e Brizola), que tinha possibilidades de se organizar e tinha o apoio silencioso do governo, brigava entre si pelo posto de liderança em vez de fazer um trabalho efetivo de organização. Um exemplo da indisciplina fundamental é nenhuma reunião partidária começar no horário marcado. O atraso costumava ser de duas horas: metade das pessoas já haviam saído, enquanto a outra metade estava chegando. Essa estava longe de ser a mesma capacidade de organização do Partido Comunista da Tchecoslováquia, que, em fevereiro de 1948, efetuou o golpe de estado com bravura.
O “deslocamento militar de forças” falhou. Goulart subestimou o papel dos oficiais nas forças armadas, e, através de sua atitude pouco decisiva, fez que as forças armadas também não ficassem a seu lado de forma decisiva.
Além desses quatro pontos, o autor do relatório também fez referência às possíveis influências externas:
“No exílio, Goulart disse que as influências estrangeiras cumpriram um papel decisivo. Eu acho que essa é uma desculpa barata para ele e para a esquerda, mesmo que o tema certamente existisse. As condições externas sempre agem através das internas. Caso — assim como os informantes nos garantiam o tempo todo — uma massa de 40 milhões de brasileiros levantasse para a luta, os truques diplomáticos do exterior não serviriam de nada. Dizem que, nos dias críticos, funcionários da embaixada americana caminharam pelas ruas e ofereceram aos oficiais maços de dezenas de milhares de dólares para que passassem para o lado da reação. Talvez tenham sido feitos outros movimentos mais elaborados, sobre as quais ainda não se sabe. Mas é fato que os motivos principais devem ser procurados na situação interna”.
Carlos Lacerda na defesa do Palácio da Guanabara durante o 31 de Março.
A falta de decisão e de vontade para a luta são também descritas no seguinte fragmento:
“Enquanto o governador Lacerda construiu uma barricada em seu palácio com a ajuda de veículos para transportar lixo e com dois revólveres e uma pistola automática, permanecendo ali com a sua Secretária de Serviços Sociais, Sandra Cavalcanti, durante 52 horas, a fortaleza-chave Copacabana, leal a Goulart, foi conquistada da seguinte maneira: aproximadamente às 15 horas chegou ali, de Volkswagen, um sub-coronel, sozinho. Desceu do carro com um revólver na mão esquerda, com a direita deu um tapa no rosto do soldado que estava de guarda, entrou, entendeu-se com os oficiais e… a fortaleza caiu. Este foi um sinal para os oficiais do I Exército, para que passassem para o lado da contra-revolução”.
Na parte seguinte do relatório existe uma observação referente à estrutura do novo governo, que naquele momento ainda não estava completamente estabelecida. O autor incluiu entre os inspiradores do golpe o governador Magalhães Pinto (Minas Gerais), e não falou muito bem da polícia, que começou a perseguir a oposição de esquerda. Um acontecimento exemplifica a incapacidade dos policiais:
Livro Em Cima da Hora, traduzido por Carlos Lacerda.
“A polícia política é composta de analfabetos políticos! Em 30 de abril foi preso Ribeiro, um vendedor de livros do Rio de Janeiro, porque tinha em sua loja um livro anti-soviético chamado: Em cima da hora, traduzido pelo próprio Lacerda. Ele foi preso porque na capa do livro havia o martelo e a foice”.
Vladimír Petrilák
Relatório sobre o Golpe Militar de 09/06/01964 (1ª folha). Arquivo Nacional da República Tcheca, nº do acervo: 1261/0/44, Partido Comunista da Tchecoslováquia – Comitê Central – Gabinete do primeiro secretário do comitê central do partido comunista da Tchecoslováquia.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
Bella Dodd explica as trapaças Comunistas
https://www.youtube.com/watch?v=VLHNz2YMnRY
Durante aqueles anos em que fui Comunista, infelizmente, fui o tipo de pessoa que foi movida e impelida pelo movimento Comunista pois acreditei que eles estavam realmente interessados em melhorar as condições da classe trabalhadora.
Sendo uma Cristã, ainda tinha aquele resíduo do desejo Cristão de melhorar as condições e de ajudar meus companheiros, porém eu estava totalmente perdido sobre o modo correto de fazer isto.
Existe um modo correto e um modo errado de fazer isto, e o que os Comunistas estão fazendo por todo o mundo é apelando para as conscências Cristãs, para as consciências daqueles que acreditam na luz esperitual. Eles estão apelando a estas consciências e estão apontando para o mal da existência e dizendo, "olhem, é por causa do Cristianismo, é por causa da busca de vida espiritual que estas coisas existem. O que vocês precisam é de um sinal de [alívio], e nós lhe daremos isto."
"Em outras palavras, eles denigrem aquelas coisas que nos tornam fortes.
Assim, em 1932, quando me tornei uma Comunista, pude ver apenas o mal que existia, eu via aquelas filas de pessoas pobres, eu via aquelas filas de pessoas esperando por um pão, por causa da depressão. Eu vivi todos os anos da depressão. Eu era um jovem mulher vivendo na depressão e meu coração era gigante. Minha cabeça, infelizmente, não foi bem treinada, e eu falhei em entender o mal com quem me associei..."
"Ah! Existem dois aspectos da vida que os Comunistas tomam para si. O primeiro é o controle do dinheiro, o segundo é o controle das palavras, da linguagem. Eles são rápidos em tomarem para si todas as palavras bonitas, toda a linguagem do mundo Cristão. Eles tomam para si e dão novas conotações, de modo que quando eles falando ao mundo, a conotação Comunista é compreendida pelos seus seguidores, já para os ouvidos comuns soa como as belas coisas que nós deveríamos estar falando."
"Em 1944 ocorreu a convenção nacional do Partido Comunista, quando fui eleita publicamente pelo Comitê Nacional nos Jardins do Madison Square. Durante aquela convenção, haviam várias pessoas que vieram de todas as partes dos Estados Unidos. Num dos eventos sociais que participei, um jantar dado pelo Alexander Trachtenberg, um conhecido socialista, graduado em Yale, milionário, que era o chefe das empresas relacionadas a impreensa dos Comunistas. Alexander Trachtenberg comeu e bebeu com toda a elite intelectual do Partido naquela noite."
"Quem tínhamos lá, naquela noite? Tínhamos homens e mulheres que faziam parte da "Câmara dos Deputados Estaduais", mais de 100 homens e mulheres que eram membros da Câmara de diversos Estados, desde Washington até Nova Iorque. Eles não foram eleitos pelo Partido Comunista, eles foram eleito como Republicanos, como Democratas, utilizando a bandeira do Partido Trabalhista-Agricultor, do Partido Trabalhista. Ou seja, eram todos eleitos por outros partidos, sob outras bandeiras, mas eram todos [fiéis] Comunistas."
"Nós tínhamos professores lá, tínhamos também economistas, e na noite que Trachtenberg palestrou; eu gostaria de compartilhar aqui com vocês uma das suas mélhores "pérolas" daquela noite. Pois ela é muito importante, vocês já a conhecem, mas gostaria de reforça-la em vocês, ele disse."
"Trachtenberg: Quando nós tomarmos os Estados Unidos, não o tomaremos sob o nome de Comunismo; não o tomaremos sob o nome de Socialismo. Estes nomes são extremamente desagradáveis para o povo Americano, e já foram completamente destruídos. Nós tomaremos os Estados Unidos utilizando os nomes que nós mesmo tornamos amáveis; nós tomaremos utilizando os nomes de liberalismo, progressismo e democracia. Não importa qual, porém que nós venceremos."
"Eu digo isto para vocês não porque queira sujar as palavras "liberalismo" ou "progressismo" ou até mesmo "democracia". Estas são palavras inteiramenta aceitáveis em si mesmo, se você sabe quais são seus significados reais. Porém, os Comunistas as usam para esconder a concepção Marxista da vida. E são estes usos que vocês devem se preocupar. Devem se preocupar quando tentam lhe vender estes significados. Nós tendemos a aceitar estes nomes e dar a eles os significados que nós queremos. A palavra "paz", por exemplo, para os Comunistas significa nada além da vitória do Socialismo."
"Deixa me explicar para vocês como a conspiração Comunista age sob diversos nomes. Quando entrei para o Partido Comunista, pensei que o movimento era uma coisa monolítica, como por exemplo, um comitê de uma cidade, um comitê local, ou até mesmo um comitê nacional, eu realmente achei que era assim. Porém tive que aprender pelo modo mais difícil que o movimento Comunista e a sua conspiração opera através de várias organizações diferentes, todas utilizando nomes diferentes. Desde de que a teoria Comunista, de chegar onde é desejado através do conflito, esteja progredindo. O importante é criar conflitos."
"Eles vão constantemente criar uma organização com o único propósito de gerar conflitos. Se conflitos não surgem naturalmente, eles irão gerar o conflito, e gerar de certo modo que force a opinião pública a crer que a única solução possível é ir mais para a esquerda, em direção ao Comunismo. Assim, quando estava no Sindicato dos Professores tínhamos Comunistas, tínhamos Socialistas, tínhamos todos os tipos de subdivisões possíveis, e pensei "nossa! como este povo vive brigando entre si". Alguns dias eles estavam brigavam entre si, noutros já estavam se abraçando, porém sempre achei que eles eram genuinamente movimentos separados."
"Meio do que do nada, já nos meus últimos dias no Partido, percebi que na verdade estes movimentos separados eram todos controlados a partir de um centro, eles eram atiçados por este mesmo centro, quando queriam criar algum conflito e confusão. Eles nunca criam conflitos e confusões de modo que a saída seja à direita, eles sempre vão criar o conflito de modo que o movimento mais a esquerda seja a oposição e que todo mundo seja forçado a ir mais para a esquerda."
"Eles sempre controlam ambos os lados, porém sempre dirão que estão lutando contra o Fascismo, "somos contra o Fascismo!", eles gritam. Somos Comunistas mas somos contra o Fascismo. Assim as idéias dadas como soluções irão sempre cair no colo deles. Eles sempre lhe dão narrativas falsas."
"Ah... Quando entrei para o Partido Comunista, esta é outra coisa que devem se lembrar, um monte de gente me perguntou "onde está, então, a sua carteirinha de membro?". Eles acham que a carteirinha é uma coisa importante. Meu queridos amigos, é melhor pararem de pensar desta maneira. Se uma pessoa age como um pato, se ele nada como um pato e se grasna como um pato, então ele é um pato!"
"Não percam tempo procurando a carteirinha do partido. Ah... Eu nunca tive uma carteirinha do partido, por uma razão muito simples, eu era extremamente valiosa para o Partido Comunista. Eu era uma professora, estava dentro da Universidade, eu me movia facilmente entre os professores, entre os pais dos alunos, sem a carteirinha eu podia tranquilamente dizer que não era do Partido Comunista. Porém, eu lembro que dos líderes do Partido Comunista: alguns eu mesmo direcionei, para alguns eu me reportei, e de alguns eu recebi instruções de como continuar minhas operações."
"No décadas de 1920 e 1930, eu pessoalmente coloquei mais de 1100 homens dentro do clero para enfraquecer a Igreja Católica desde de dentro. A idéia era que estes homens seriam ordenados e progrediriam a posições de influência e autoridade como Monsenhores e Bispos... Agora mesmo eles estão nas mais altas posições, de onde trabalham diariamente para mudar e enfraquecer a efetividade da Igreja Católica contra o Comunismo. Estas mudanças serão tão drásticas que vocês não mais reconhecerão a Igreja Católica. De todas as religiões, a Igreja Católica era a mais temida pelos Comunistas, pois era o seu mais efetivo oponente..."
"A idéia era destruir, não a instituição da Igreja, mas sim a fé do povo, e ainda por cima usar a instituição da Igreja para, se possível, promover uma pseudo-religião. Alguma mescla que lembre um Catolicismo, mas não é o Catolicismo real. Assim que a fé fosse totalmente destruída, uma crise de culpa seria introduzida na Igreja... um dos passos seria colar a pecha que a "Igreja do passado" era opressora, autoritária, cheia de preconceitos, totalmente arrogante em proclamar que era a única dona da verdade, e ainda por cima era a responsável pela divião dos corpos religiosos ao longo dos séculos. Isto necessariamente seria utilizado para envergonhar os líderes da igreja e força-los a "abrir-se ao mundo" e ter uma atitude mais flexível em relação as outras religiões e filosofias. Os Comunistas iriam então explorar esta abertura para abalar a Igreja."
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
Ancelmo Gois, União Soviética e a ditadura militar brasileira
original: https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/ancelmo-gois-uniao-sovietica-e-a-ditadura-militar-brasileira/
Ancelmo Gois, União Soviética e a ditadura militar brasileira
por Astier Basílio
Qual foi o papel da União Soviética durante a ditadura militar no Brasil?
14 Fevereiro 2019

Espera-se de um órgão da República equilíbrio, sobretudo na emissão de notas oficiais. A retórica inflamada e beligerante faz parte da campanha, pertence ao espaço do palanque. Em democracias, responder a um questionamento não pode suscitar ataques à biografia do jornalista. Não custa lembrar o óbvio. O Ministro da Educação gere dinheiro de impostos que são arrecadados não apenas das pessoas que votaram em Bolsonaro, mas de quem sufragou os demais candidatos e inclusive daqueles que anularam o voto ou nem compareceram às urnas.
Isto posto, vamos ao exame dos fatos. Não é delírio persecutório, nem teoria da conspiração, afirmar que Ancelmo Gois foi à União Soviética e sob os auspícios do serviço secreto, a KGB, obteve documentação falsa com a qual viajou e que ao chegar em Moscou, veio a estudar “marxismo e leninismo”, na escola de formação de jovens quadros do Partido Comunista. Foi Ancelmo quem contou em detalhes sua ida à Rússia, em 1968. A entrevista, concedida há dez anos, está disponível no site da Associação Brasileira de Imprensa para qualquer um ver [https://amizadedasnacoes.blogspot.com/2019/01/ancelmo-gois-e-kbg.html]
14 Fevereiro 2019

Espera-se de um órgão da República equilíbrio, sobretudo na emissão de notas oficiais. A retórica inflamada e beligerante faz parte da campanha, pertence ao espaço do palanque. Em democracias, responder a um questionamento não pode suscitar ataques à biografia do jornalista. Não custa lembrar o óbvio. O Ministro da Educação gere dinheiro de impostos que são arrecadados não apenas das pessoas que votaram em Bolsonaro, mas de quem sufragou os demais candidatos e inclusive daqueles que anularam o voto ou nem compareceram às urnas.
Isto posto, vamos ao exame dos fatos. Não é delírio persecutório, nem teoria da conspiração, afirmar que Ancelmo Gois foi à União Soviética e sob os auspícios do serviço secreto, a KGB, obteve documentação falsa com a qual viajou e que ao chegar em Moscou, veio a estudar “marxismo e leninismo”, na escola de formação de jovens quadros do Partido Comunista. Foi Ancelmo quem contou em detalhes sua ida à Rússia, em 1968. A entrevista, concedida há dez anos, está disponível no site da Associação Brasileira de Imprensa para qualquer um ver [https://amizadedasnacoes.blogspot.com/2019/01/ancelmo-gois-e-kbg.html]
A revista Fórum forneceu a leitura emblemática que a esquerda fez do episódio ao dizer que a nota “viralizou pelo ridículo” e se referiu a “supostas relações do jornalista com a União Soviética e o serviço secreto comunista”.
Não é delírio persecutório, nem teoria da conspiração afirmar, que Ancelmo Gois foi à União Soviética
Em entrevista à versão brasileira do jornal El País, o professor Carlos Fico, do departamento de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz uma constatação: “Não há praticamente nada de pesquisa sobre a União Soviética nesse período”. A enxurrada de memes e piadas são um duro reflexo desta ignorância. [ https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/04/politica/1528124118_758636.html ]
Ancelmo não foi o único jovem esquerdista a receber treinamento doutrinário na União Soviética. Dentre os relatos conhecidos, destaca-se o do paraibano Paulo Bezerra, célebre por seu trabalho de tradução das obras de Dostoiévski. Quando viajou, outros nove brasileiros o acompanhavam com o igual propósito. Era Bezerra o único operário do grupo.
A aventura aconteceu em finais de 1963. Apesar de sua ida ter ocorrido antes do golpe, é interessante observar a estratégia discursiva empregada pelo tradutor ao narrar sua história. Metalúrgico de uma montadora de automóveis no ABC, Bezerra ingressou no meio sindical e filiou-se ao Partido Comunista. Em entrevista à Folha de São Paulo, em 30 de dezembro de 2015, Rodolfo Viana escreveu que Bezerra “pela filiação, acabava demitido de todas as fábricas. Chegou a ser preso em 1962, durante uma greve. Foi liberado horas depois, mas não conseguia mais emprego”.
A história havia sido contada antes ao jornal Gazeta Russa, em 2012, com um detalhe interessante. Na ocasião, Bezerra disse haver em sua ficha a inscrição do termo “agitador”. Quem lê as entrevistas e matérias, é levado a crer que a ida à União Soviética, para fazer o curso de formação política, foi a única maneira de escapar ao insuportável clima de perseguição existente.
Ao se referir a estes episódios de sua vida, Bezerra, entretanto, jamais cita o nome de João Goulart, que à época de sua viagem, era o presidente da República. Entretanto, o tradutor usa um interessantíssimo truque retórico. Após narrar as dificuldades enfrentadas antes de sua ida a URSS em seguida conta sempre a mesma piada. “Acho que o Castello Branco soube que eu estava lá e resolveu dar o golpe para me beneficiar”.
Com este jogo subliminar, estabelece-se uma relação direta entre a atmosfera opressora de perseguição aos sindicalistas e a fuga por meio da viagem à URSS. Assim, a viagem de um filiado do Partido Comunista, havida meses antes do golpe, se transforma em exílio e o propalado clima de perseguição sindical, despersonalizado, ganha um rosto: o de Castello Branco.
Esta estratégia narrativa corrobora o esforço da esquerda em reescrever suas ligações com Jango, o que desvela a tentativa de consolidação o mito da luta armada como guardiã da democracia. Quem se der ao trabalho de pesquisar nas fotos antigas, em nenhuma das passeatas contra a ditadura ergueram-se faixas a pedir a volta do presidente deposto. Quando o então jovem guerrilheiro Franklin Martins, após sequestrar o embaixador americano, exigiu que um manifesto seu fosse lido em rádio e televisão (além de publicado nos principais jornais do País), a palavra democracia não apareceu nem uma única vez no texto. Tampouco o nome de João Goulart.
Charles Elbrick foi o primeiro de quatro sequestros feitos pelos diferentes grupos de esquerda entre 1969 e 1971. Como resultado das ações 140 presos foram libertos. Em nenhum momento a esquerda lembrou-se que João Goulart estava exilado no Uruguai. Seu nome não apareceu em nenhuma lista, sua volta não foi exigida, nem que fosse um gesto de se marcar uma posição política. O “volta Jango” só veio existir décadas depois dele morto, como desdobramento da reescritura do passado da luta armada. O ápice desta pantomima, se deu com a devolução simbólica do mandato de João Goulart pela ex-guerrilheira Dilma Rousseff em 2014.
No longínquo ano de 1982, é possível observar, sem filtros, como o legado de Goulart era visto pela esquerda. Lula disputava sua primeira eleição, como candidato ao governo de São Paulo. Em entrevista à Folha de São Paulo, em 5 de setembro, o candidato foi às cargas contra Jango: “a gente apanhava nas greves em 1963, aqui em São Paulo, eu com 17 anos”. O repórter da Folha, então, diz que não se lembrar daquilo. Lula ratifica: “Aqui, em 1963, eu cansei de tomar corrida da polícia, da cavalaria aqui”.
As relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética foram reatadas no governo de João Goulart. Quando os militares deram o golpe de estado, o Itamaraty não rompeu com Kremlin ao contrário do que aconteceu com outros países socialistas como China e Cuba.
Sob as bênçãos do curto mandato de Goulart, os soviéticos gozaram de liberdade e ensaiaram aproximação com o Brasil. É o que diz o historiador Rodrigo Patto Sá Motta¹, ao referir-se ao restabelecimento dos laços com Rússia. “Com a recém conquistada liberdade de movimentos, a URSS implantou programas para facilitar o aprendizado da língua russa, principalmente através dos Institutos Culturais Brasil-URSS (ICBUS). Além disso, firmaram-se convênios para envio de estudantes brasileiros à União Soviética”.
Patto Sá Motta faz uma ressalva e toca num ponto importante. Para além do acordo formal havia um intercâmbio que ocorria no subterrâneo. “Clandestinamente, a URSS recebia brasileiros para treinamento desde os anos de 1920, mas tratava-se de militantes selecionados pelo PCB”.
Por mais que se tenha consolidado no imaginário a ideia de que a ditadura militar brasileira era subserviente às vontades dos Estados Unidos, as relações dos presidentes militares com a União Soviética, se por um lado eram tímidas em 1964, vieram a se ampliar nos anos 1970. A avaliação é feita por Graciela Zubelzú de Bacigalupo, professora Teoria das Relações Internacionais na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.
Em seu artigo “As relações russo-brasileiras no pós-Guerra Fria”, Zubelzú sublinha que a política externa brasileira da época tornou-se mais pragmática e passou a reconhecer “o peso da URSS no cenário internacional e as possibilidades de uma aproximação econômica de Moscou. Firmam-se um convênio de cooperação em 1970 e outro de navegação marítima em 1972, enquanto aumentam as relações comerciais e o Brasil inicia suas importações de petróleo da URSS. Em março de 1975 é assinado um convênio comercial e o intercâmbio total entre os países alcança 440 milhões de dólares em 1976”.
Talvez esteja aqui uma possível chave para se entender a posição contrária da União Soviética em relação aos anseios de Cuba de exportar a revolução ao Brasil, bem como à toda América Latina. É uma contradição que, também, reverbera no seio da própria ditadura militar, no tocante às tratativas com Moscou e os demais países socialistas.
É o que flagra o já citado Patto Sá ao argumentar: “o governo Castelo Branco queria conter a influência dos países e das ideias socialistas no Brasil, mas não desejava romper relações diplomáticas com a Europa do leste. Isso gerou uma situação curiosa, e desagradável para os setores mais intransigentes da direita: as atividades culturais dos soviéticos eram monitoradas, mas não inteiramente proibidas”.
Denise Rollemberg em seu livro “O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro” (Rio de Janeiro: Mauad, 2001) desmonta um dos pontos centrais da narrativa de esquerda armada: a de que guerrilha só existiu por não haver outro meio de luta, sendo, portanto, uma reação à ditadura militar.
“A relação das Ligas com Cuba evidencia a definição de uma parte da esquerda pela luta armada no Brasil, em pleno governo democrático, bem antes da implantação da ditadura civil-militar”, assevera a escritora.
A discordância da União Soviética com a implantação por Cuba dos focos de guerrilha pela América Latina pode ser emblematizada no encontro, ocorrido em Havana, em 1963 – ainda sob a vigência do governo de João Goulart, repita-se – entre Francisco Julião e Luís Carlos Prestes, este Secretário Geral do Partido Comunista, aquele representante das Ligas Camponesas.
Detalhes da reunião podem ser encontrados no site “Os Arquivos da Ditadura”, mantido pelo jornalista Elio Gaspari, autor de uma soberba pentalogia sobre os anos de chumbo. Quem relatou o encontro foi o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Havana, José Maria Diniz Ruiz de Gamboa.
As opiniões de Prestes e Julião eram divergentes. “Julião sustentava que, no Brasil, existiam ‘condições necessárias para uma revolução’. Prestes mostrava-se cauteloso e “afirmava aos líderes cubanos que seria ‘criminoso’ optar pela luta armada no Brasil, nos moldes da Revolução Cubana de 1959”.
Em 2007, veio a público um documento da CIA² elaborado em 1963 cujo título era: “A Batalha Sino-Soviética em Cuba e o Movimento Comunista Latino-Americano”, no qual se escancaram as divergências entre Fidel Castro e Nikita Khrushchov quanto uma revolução no Brasil.
No documento se reportava: “Existem provas de que alguns soviéticos avaliam que a violenta retórica de Castro, ainda que útil no sentido de unir militantes jovens de esquerda, tende a afugentar outras forças da pequena burguesia e da burguesia nacional que poderiam ser seduzidas a aderir ao Partido Comunista local”, afirma o documento.
Apesar da posição contrária dos dirigentes soviéticos, Cuba treinou em torno de 200 militantes brasileiros. Para Denise Rollemberg “(…) a própria URSS, evidentemente, sempre esteve a par do fluxo mantido nos anos posteriores de militantes indo a Cuba treinar. As rotas de entrada e saída do país, por exemplo, passavam por Moscou e Praga, onde os guerrilheiros eram recebidos e orientados”.
Em maio de 1964, o diplomata tchecoslovaco Zdenek Kvita, que ocupava no Brasil o segundo posto na embaixada de seu país, foi preso por agentes do DOPS carioca, “quando tentava obter documentos secretos de suposto informante, na verdade agente policial. O agente da polícia estava fingindo vender a Kvita informações secretas, como a planta da Refinaria Duque de Caxias e os planos brasileiros para monitorar Embaixadas dos países socialistas”.
A informação está nos arquivos da CIA, recolhidos pelo historiador Rodrigo Patto Sá Motta. Este personagem, Zdenek Kvita, é citado no site “STB, o Brasil nos Arquivos Soviéticos”, como o primeiro integrante da polícia secreta a manter contato com seus colegas cubanos.
O portal disponibiliza documentos, reproduz artigos da presença do serviço secreto da Tchecoslováquia no Brasil de 1945 a 1990. O trabalho redundou no livro “1964, O Elo Perdido – O Brasil nos arquivos do serviço secreto comunista” (Vide Editorial, 2017), do brasileiro Mauro Kraenski e do polonês Vladimir Petrilák.
Em resenha ao livro, João César de Melo observa que a StB atuava livremente no Brasil pois a Tchecoslováquia não era vista como inimiga, “o que dava liberdade para seus agentes circularem, se relacionarem com brasileiros e obterem informações sem despertar suspeitas. O resultado foi a infiltração de dezenas de agentes tchecos que recrutaram centenas de brasileiros a partir de 1952. Tudo, absolutamente tudo, registrado metodicamente. Em outras palavras: a StB era, de fato, a KGB no Brasil, dado que todas as diretrizes da agência tcheca eram definidas em Moscou”.
O escritor e ativista Vladimir Bukovsky, hoje com 76 anos, antigo dissidente do regime comunista, conseguiu reunir e disponibilizar em sua página na internet um dos maiores acervos com documentos referentes ao regime soviético.
Parte expressiva deste material está traduzido para o inglês. As referências ao Brasil são poucas, mas significativas. A mais importante delas é uma circular, de 9 de setembro de 1966, cujo título é: “sobre o crescimento da propaganda anti-soviética nos Estados Unidos e na América Latina”.
Num trecho do documento se diz: “(…) é necessário apoiar passos antiamericanos tomados independente dos governos latino americanos (incluindo entre os quais Brasil e Argentina) em relação a certas questões, sem exagerar tais atos, pois eles podem ser antiimperialistas apenas na forma”. Por aquele período o Brasil era governado pelo primeiro presidente da ditadura militar, o marechal Castello Branco. A Argentina também. No poder estava Juan Carlos Onganía após um golpe de estado.
Em 1969, o Partido Comunista do Brasil aparece num documento do Politburo, numa lista de envio de dinheiro, para criação de um “Fundo Internacional para ajudar Organizações de Trabalhadores de Esquerda”. Dos 15 primeiros destinatários da verba, o Brasil figurou na oitava colocação, com a quantia de 200 mil dólares.
Há pedidos de treinamento, com todas as despesas pagas pelo fundo do Partido Comunista Russo, para militantes brasileiros. Quem assinou as solicitações foi Luís Carlos Prestes. Em 1974, recepção e despesas para um curso de três meses, ao camarada Leonardo Leal, quadro do Partido,que fez parte das Ligas Camponesas, na Paraíba. Em 1978, curso de treinamento em atividades clandestinas para Marcelo Santos, membro do Comitê Executivo do Partido Comunista do Brasil.
Quem pesquisa a ditadura militar brasileira, lê as dissertações de mestrado, as teses de doutorado, vê os documentários e filmes de ficção, estuda na bibliografia sobre o período, sai com a impressão de que a Guerra Fria, ao menos no Brasil, não veio acabar em 1991, com a desintegração da União Soviética, mas em 1964, quando do golpe militar. Como se, sem mais nem menos, a maior potência socialista do planeta abandonasse o maior país da América Latina para usufruto de seu rival, os Estados Unidos, cujos passos, ações e estratégias, realizadas ou não, foram incansavelmente mapeados, ao contrário das pegadas da Rússia por aqui. O conhecimento histórico do período, bem como das intrincadas relações políticas dos atores que fizeram parte do jogo político à época, nada tem de conspiratório ou amalucado.
(1) http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/131.pdf
(2) https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/esau-22.pdf
Não é delírio persecutório, nem teoria da conspiração afirmar, que Ancelmo Gois foi à União Soviética
Em entrevista à versão brasileira do jornal El País, o professor Carlos Fico, do departamento de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz uma constatação: “Não há praticamente nada de pesquisa sobre a União Soviética nesse período”. A enxurrada de memes e piadas são um duro reflexo desta ignorância. [ https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/04/politica/1528124118_758636.html ]
O treinamento do futuro tradutor de Dostoiévski
A aventura aconteceu em finais de 1963. Apesar de sua ida ter ocorrido antes do golpe, é interessante observar a estratégia discursiva empregada pelo tradutor ao narrar sua história. Metalúrgico de uma montadora de automóveis no ABC, Bezerra ingressou no meio sindical e filiou-se ao Partido Comunista. Em entrevista à Folha de São Paulo, em 30 de dezembro de 2015, Rodolfo Viana escreveu que Bezerra “pela filiação, acabava demitido de todas as fábricas. Chegou a ser preso em 1962, durante uma greve. Foi liberado horas depois, mas não conseguia mais emprego”.
A história havia sido contada antes ao jornal Gazeta Russa, em 2012, com um detalhe interessante. Na ocasião, Bezerra disse haver em sua ficha a inscrição do termo “agitador”. Quem lê as entrevistas e matérias, é levado a crer que a ida à União Soviética, para fazer o curso de formação política, foi a única maneira de escapar ao insuportável clima de perseguição existente.
Ao se referir a estes episódios de sua vida, Bezerra, entretanto, jamais cita o nome de João Goulart, que à época de sua viagem, era o presidente da República. Entretanto, o tradutor usa um interessantíssimo truque retórico. Após narrar as dificuldades enfrentadas antes de sua ida a URSS em seguida conta sempre a mesma piada. “Acho que o Castello Branco soube que eu estava lá e resolveu dar o golpe para me beneficiar”.
Com este jogo subliminar, estabelece-se uma relação direta entre a atmosfera opressora de perseguição aos sindicalistas e a fuga por meio da viagem à URSS. Assim, a viagem de um filiado do Partido Comunista, havida meses antes do golpe, se transforma em exílio e o propalado clima de perseguição sindical, despersonalizado, ganha um rosto: o de Castello Branco.
Esta estratégia narrativa corrobora o esforço da esquerda em reescrever suas ligações com Jango, o que desvela a tentativa de consolidação o mito da luta armada como guardiã da democracia. Quem se der ao trabalho de pesquisar nas fotos antigas, em nenhuma das passeatas contra a ditadura ergueram-se faixas a pedir a volta do presidente deposto. Quando o então jovem guerrilheiro Franklin Martins, após sequestrar o embaixador americano, exigiu que um manifesto seu fosse lido em rádio e televisão (além de publicado nos principais jornais do País), a palavra democracia não apareceu nem uma única vez no texto. Tampouco o nome de João Goulart.
Charles Elbrick foi o primeiro de quatro sequestros feitos pelos diferentes grupos de esquerda entre 1969 e 1971. Como resultado das ações 140 presos foram libertos. Em nenhum momento a esquerda lembrou-se que João Goulart estava exilado no Uruguai. Seu nome não apareceu em nenhuma lista, sua volta não foi exigida, nem que fosse um gesto de se marcar uma posição política. O “volta Jango” só veio existir décadas depois dele morto, como desdobramento da reescritura do passado da luta armada. O ápice desta pantomima, se deu com a devolução simbólica do mandato de João Goulart pela ex-guerrilheira Dilma Rousseff em 2014.
No longínquo ano de 1982, é possível observar, sem filtros, como o legado de Goulart era visto pela esquerda. Lula disputava sua primeira eleição, como candidato ao governo de São Paulo. Em entrevista à Folha de São Paulo, em 5 de setembro, o candidato foi às cargas contra Jango: “a gente apanhava nas greves em 1963, aqui em São Paulo, eu com 17 anos”. O repórter da Folha, então, diz que não se lembrar daquilo. Lula ratifica: “Aqui, em 1963, eu cansei de tomar corrida da polícia, da cavalaria aqui”.
Ditadura não rompeu relações com URSS
Sob as bênçãos do curto mandato de Goulart, os soviéticos gozaram de liberdade e ensaiaram aproximação com o Brasil. É o que diz o historiador Rodrigo Patto Sá Motta¹, ao referir-se ao restabelecimento dos laços com Rússia. “Com a recém conquistada liberdade de movimentos, a URSS implantou programas para facilitar o aprendizado da língua russa, principalmente através dos Institutos Culturais Brasil-URSS (ICBUS). Além disso, firmaram-se convênios para envio de estudantes brasileiros à União Soviética”.
Patto Sá Motta faz uma ressalva e toca num ponto importante. Para além do acordo formal havia um intercâmbio que ocorria no subterrâneo. “Clandestinamente, a URSS recebia brasileiros para treinamento desde os anos de 1920, mas tratava-se de militantes selecionados pelo PCB”.
Moscou e Havana em lados opostos
Em seu artigo “As relações russo-brasileiras no pós-Guerra Fria”, Zubelzú sublinha que a política externa brasileira da época tornou-se mais pragmática e passou a reconhecer “o peso da URSS no cenário internacional e as possibilidades de uma aproximação econômica de Moscou. Firmam-se um convênio de cooperação em 1970 e outro de navegação marítima em 1972, enquanto aumentam as relações comerciais e o Brasil inicia suas importações de petróleo da URSS. Em março de 1975 é assinado um convênio comercial e o intercâmbio total entre os países alcança 440 milhões de dólares em 1976”.
Talvez esteja aqui uma possível chave para se entender a posição contrária da União Soviética em relação aos anseios de Cuba de exportar a revolução ao Brasil, bem como à toda América Latina. É uma contradição que, também, reverbera no seio da própria ditadura militar, no tocante às tratativas com Moscou e os demais países socialistas.
É o que flagra o já citado Patto Sá ao argumentar: “o governo Castelo Branco queria conter a influência dos países e das ideias socialistas no Brasil, mas não desejava romper relações diplomáticas com a Europa do leste. Isso gerou uma situação curiosa, e desagradável para os setores mais intransigentes da direita: as atividades culturais dos soviéticos eram monitoradas, mas não inteiramente proibidas”.
A guerrilha existiu antes golpe
“A relação das Ligas com Cuba evidencia a definição de uma parte da esquerda pela luta armada no Brasil, em pleno governo democrático, bem antes da implantação da ditadura civil-militar”, assevera a escritora.
A discordância da União Soviética com a implantação por Cuba dos focos de guerrilha pela América Latina pode ser emblematizada no encontro, ocorrido em Havana, em 1963 – ainda sob a vigência do governo de João Goulart, repita-se – entre Francisco Julião e Luís Carlos Prestes, este Secretário Geral do Partido Comunista, aquele representante das Ligas Camponesas.
Detalhes da reunião podem ser encontrados no site “Os Arquivos da Ditadura”, mantido pelo jornalista Elio Gaspari, autor de uma soberba pentalogia sobre os anos de chumbo. Quem relatou o encontro foi o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Havana, José Maria Diniz Ruiz de Gamboa.
As opiniões de Prestes e Julião eram divergentes. “Julião sustentava que, no Brasil, existiam ‘condições necessárias para uma revolução’. Prestes mostrava-se cauteloso e “afirmava aos líderes cubanos que seria ‘criminoso’ optar pela luta armada no Brasil, nos moldes da Revolução Cubana de 1959”.
Ambiguidade da Rússia
No documento se reportava: “Existem provas de que alguns soviéticos avaliam que a violenta retórica de Castro, ainda que útil no sentido de unir militantes jovens de esquerda, tende a afugentar outras forças da pequena burguesia e da burguesia nacional que poderiam ser seduzidas a aderir ao Partido Comunista local”, afirma o documento.
Apesar da posição contrária dos dirigentes soviéticos, Cuba treinou em torno de 200 militantes brasileiros. Para Denise Rollemberg “(…) a própria URSS, evidentemente, sempre esteve a par do fluxo mantido nos anos posteriores de militantes indo a Cuba treinar. As rotas de entrada e saída do país, por exemplo, passavam por Moscou e Praga, onde os guerrilheiros eram recebidos e orientados”.
Brasil nos arquivos soviéticos
A informação está nos arquivos da CIA, recolhidos pelo historiador Rodrigo Patto Sá Motta. Este personagem, Zdenek Kvita, é citado no site “STB, o Brasil nos Arquivos Soviéticos”, como o primeiro integrante da polícia secreta a manter contato com seus colegas cubanos.
O portal disponibiliza documentos, reproduz artigos da presença do serviço secreto da Tchecoslováquia no Brasil de 1945 a 1990. O trabalho redundou no livro “1964, O Elo Perdido – O Brasil nos arquivos do serviço secreto comunista” (Vide Editorial, 2017), do brasileiro Mauro Kraenski e do polonês Vladimir Petrilák.
O serviço tcheco era a verdadeira KGB no Brasil
Apoio à ditadura brasileira em ações antiamericanas
Parte expressiva deste material está traduzido para o inglês. As referências ao Brasil são poucas, mas significativas. A mais importante delas é uma circular, de 9 de setembro de 1966, cujo título é: “sobre o crescimento da propaganda anti-soviética nos Estados Unidos e na América Latina”.
Num trecho do documento se diz: “(…) é necessário apoiar passos antiamericanos tomados independente dos governos latino americanos (incluindo entre os quais Brasil e Argentina) em relação a certas questões, sem exagerar tais atos, pois eles podem ser antiimperialistas apenas na forma”. Por aquele período o Brasil era governado pelo primeiro presidente da ditadura militar, o marechal Castello Branco. A Argentina também. No poder estava Juan Carlos Onganía após um golpe de estado.
Fundo para organizações de esquerda
Há pedidos de treinamento, com todas as despesas pagas pelo fundo do Partido Comunista Russo, para militantes brasileiros. Quem assinou as solicitações foi Luís Carlos Prestes. Em 1974, recepção e despesas para um curso de três meses, ao camarada Leonardo Leal, quadro do Partido,que fez parte das Ligas Camponesas, na Paraíba. Em 1978, curso de treinamento em atividades clandestinas para Marcelo Santos, membro do Comitê Executivo do Partido Comunista do Brasil.
Silêncio da academia sobre a União Soviética
(1) http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/131.pdf
(2) https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/esau-22.pdf
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Ancelmo Góis e a KGB
Jornalista Ancelmo Góis e a KBG
Entrevista — Ancelmo Gois
Ancelmo — Eu vivi por algum tempo com o nome falso de Ivan Nogueira. Porque estávamos na ditadura militar e a gente só conseguia ir para a Rússia, protegido pela KGB. Foi este órgão que me deu uma identidade falsa, com retrato, e me transformou numa outra pessoa. Em seguida, eu fui para uma escola comunista para jovens, a Escola de Formação de Jovens Quadros, Konsomol, do Partido Comunista da União Soviética, onde eu estudei sobre o marxismo e o leninismo.
ABI Online — Quando foi que você voltou ao Brasil?
Ancelmo — Em 1970, eu voltei para o Brasil e vim para o Rio de Janeiro. Eu entrei no País pela Argentina, e a KGB inventou que eu estava na França. Toda a minha documentação sobre dia e horário da minha entrada naquele país foi falsificada, o que fazia parecer que eu tinha morado na França e não na União Soviética.

Ao contrário do que quer fazer crer o colunista, ludibriando dessa forma os leitores do jornal "O Globo", durante a sua vida como docente, o Ministro da Educação sempre ensinou e defendeu a pluralidade e o debate de idéias, recusando-se a adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos, que eram próprios de organizações como a KGB, o serviço secreto do governo comunista na antiga União Soviética, que na década de 1960, quando de sua fuga do Brasil para a Rússia, protegeu e forneceu identidade falsa para o colunista de "O Globo", na época, segundo ele próprio declarou em entrevista ao site da Associação Brasileira de Imprensa em 2009. Ancelmo Góis foi treinado em Marxismo e Leninismo na Escola de Formação de Jovens Quadros do Partido Comunista Soviético.
Ancelmo — Em 1970, eu voltei para o Brasil e vim para o Rio de Janeiro. Eu entrei no País pela Argentina, e a KGB inventou que eu estava na França. Toda a minha documentação sobre dia e horário da minha entrada naquele país foi falsificada, o que fazia parecer que eu tinha morado na França e não na União Soviética.
Comunicado do MEC

Ao contrário do que quer fazer crer o colunista, ludibriando dessa forma os leitores do jornal "O Globo", durante a sua vida como docente, o Ministro da Educação sempre ensinou e defendeu a pluralidade e o debate de idéias, recusando-se a adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos, que eram próprios de organizações como a KGB, o serviço secreto do governo comunista na antiga União Soviética, que na década de 1960, quando de sua fuga do Brasil para a Rússia, protegeu e forneceu identidade falsa para o colunista de "O Globo", na época, segundo ele próprio declarou em entrevista ao site da Associação Brasileira de Imprensa em 2009. Ancelmo Góis foi treinado em Marxismo e Leninismo na Escola de Formação de Jovens Quadros do Partido Comunista Soviético.
sábado, 19 de janeiro de 2019
A complexa rede de espionagem chinesa no exterior
A complexa rede de espionagem chinesa no exterior
Por Heng He
Em uma coletiva de imprensa realizada em 20 de dezembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) anunciou o indiciamento de dois hackers provenientes da China comunista. Segundo o DOJ, eles são membros da unidade de pirataria APT10, que está sob a órbita do Ministério de Segurança do Estado (MSE) do regime chinês.
O MSE é a única agência oficial de inteligência da China, e é relativamente novo, dada a longa história da espionagem comunista chinesa. Foi criada em 1983 através da fusão do antigo Departamento de Segurança Política do Ministério da Segurança Pública (MSP, força policial chinesa), o Departamento de Investigação ou Departamento Central de Investigação (DCI) e outras agências de inteligência.
Após a criação do MSE, o Departamento de Segurança Política do MSP enfrentou uma considerável escassez de pessoal e de fundos até depois do massacre da Praça Tiananmen em 1989, quando começou a ressurgir gradualmente.
As coisas mudaram quando o PCC lançou sua perseguição à disciplina espiritual Falun Dafa, também conhecida como Falun Gong, em 1999.
O Departamento de Segurança Política foi renomeado para Bureau de Segurança Interna (BSI), abreviado como Guobao em chinês. Após a rápida expansão, o Guobao tornou-se conhecido por seu papel na perseguição não apenas dos praticantes do Falun Dafa, mas também de todos os tipos de dissidentes e crenças religiosas na China.
O MSE e o MSP executam diferentes funções em conjunto. Operações em países estrangeiros são de responsabilidade do MSE, enquanto o BSI realiza atividades semelhantes, mas dentro das fronteiras da China.
O MSE e os Estados Unidos
Em 1985, dois anos após o estabelecimento do MSE, o ex-secretário ministerial Yu Qiangsheng desertou e foi para os Estados Unidos. A informação que ele forneceu resultou na prisão e no suicídio do importante espião chinês Larry Wu-Tai Chin.
Yu Qiangsheng era irmão mais velho de Yu Zhengsheng, ex-membro do Comitê Permanente do Politburo e o quarto homem de maior poder do Partido Comunista entre 2012 e 2018.
Desde essa deserção, o MSE parece estar em paz com os americanos; pelo menos, não houve divulgação de mais escândalos, isto é, até agora. O Departamento de Justiça processou o espião chinês Ji Chaoqun, seu supervisor Xu Yanjun — que foi extraditado da Bélgica — e vários outros agentes. O MSE voltou a ser o centro das atenções do público.
Os réus nesses três casos eram do Departamento de Segurança do Estado da província chinesa de Jiangsu (DSEJ), braço regional do MSE. Todos eles tinham como alvo os departamentos e fornecedores relacionados à tecnologia de aviação americana.
Os três casos demonstram como os vários departamentos de inteligência do Partido cooperam de maneiras diferentes para alcançar o mesmo objetivo. Roubar tecnologia de aviação americana é claramente a principal tarefa da filial de Jiangsu. O DSEJ utilizou uma variedade de métodos para realizar suas tarefas, incluindo práticas tradicionais de espionagem, como a implantação de agentes secretos, o recrutamento de especialistas para a aquisição direta de informações confidenciais e a pirataria informática (hacking).
Cabe destacar que os três homens presos eram espiões enviados ao exterior pelos departamentos de inteligência regionais da China, o que mostra que não apenas o MSE em nível nacional está envolvido com espionagem no exterior.
Espionagem militar
Em 2014, os Estados Unidos processaram cinco hackers militares chineses pertencentes à APT1, grupo de hackers classificado como número um em “ameaças avançadas persistentes” (APT, na sigla em inglês), um ataque furtivo contra redes de computadores em que um pessoa ou grupo obtém acesso não autorizado a uma rede e permanece lá sem ser detectado.
Aqui, a força da inteligência militar do Partido Comunista, cujas raízes remontam aos dias em que o Exército Vermelho do PCC lutou na guerra civil, é significativa. Antes da reforma do aparato militar, ela era composta principalmente pelos segundo e terceiro departamentos do Departamento do Estado-Maior (DEM) do Exército Popular de Libertação (EPL). O Segundo Departamento do DEM é responsável pela espionagem tradicional; depois das reformas militares, tornou-se o Bureau de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.
Os cinco hackers processados pelo judiciário dos Estados Unidos pertenciam ao antigo Segundo Bureau do Terceiro Departamento do DEM em Xangai. Após as reformas, o Terceiro Departamento (Investigação Técnica) e o Quarto Departamento (Divisão de Radar de Contra Medidas Eletrônicas) foram combinados e convertidos no Departamento de Sistemas de Rede da Força de Apoio Estratégico do Exército Popular de Libertação. O departamento reformado é responsável pela guerra cibernética e pela coleta de informações confidenciais.
A inteligência militar chinesa também tem seu Departamento de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.
Criação de uma infraestrutura de espionagem para facilitar a perseguição
O PCC tem algumas agências de inteligência não tradicionais que também estão envolvidas em tarefas de espionagem. Por exemplo, as autoridades de segurança pública originalmente se concentravam na repressão dentro da China. No entanto, após o início da perseguição ao Falun Dafa em 1999, pelo menos nove departamentos de segurança pública provinciais e municipais foram autorizados a despachar agentes para outros países com a finalidade de coletar informações sobre o Falun Dafa.
Outra organização relacionada à campanha de perseguição contra o Falun Dafa que coleta informações para o PCC é o Escritório 610.
Em 7 de junho de 1999, o então secretário geral do PCC, Jiang Zemin, disse na reunião do Politburo que o Partido estabeleceria um Grupo Líder Central para Lidar com o Falun Gong. Informalmente, esta organização é conhecida como o Escritório 610, devido à data de sua criação, em 10 de junho de 1999.
Embora o Escritório 610, que opera fora do alcance da lei chinesa, seja famoso por seu papel na perseguição aos praticantes do Falun Dafa, seu alcance global ainda não é bem conhecido. Poucos sabem que, ao estabelecer canais em todo o mundo para monitorar os praticantes do Falun Dafa, o Escritório 610 estabeleceu uma extensa rede de espionagem no exterior.
Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, o jornalista investigativo francês Roger Faligot publicou um livro intitulado: “O serviço secreto chinês, de Mao aos Jogos Olímpicos”. O autor entrevistou especialistas de vários países, desertores chineses e agências de contrainteligência no exterior. O livro descreve especificamente como sob Luo Gan, ex-secretário linha-dura da Comissão Central de Assuntos Políticos e Legais (CAPL ou Zhengfawei, uma das organizações mais poderosas do PCC) e diretor do Escritório 610, espiões foram enviados pelo Escritório 610 ao mundo inteiro para lutar contra os chamados “cinco venenos”: a independência de Taiwan, o ativismo do Tibete e de Xinjiang, o Falun Dafa e o movimento democrático chinês.
A agência alemã de contra-espionagem também descobriu que o Escritório 610 recrutou espiões para monitorar as atividades dos praticantes do Falun Dafa na Alemanha. Embora o Escritório 610 tenha o objetivo específico de atacar dissidentes chineses, os recursos que acumulou podem ser usados para outras atividades de inteligência.
Frente Unida de “espionagem em massa”
Outra organização que desempenha funções de espionagem é a Frente Unida do PCC. Diferentemente de agências de inteligência profissional como o MSE e os departamentos de inteligência do EPL, a Frente Unida usa agentes amadores ou não profissionais para reunir informações e conduzir operações, um tipo de inteligência através de movimentos de massa que cobre um amplo espectro.
O principal método de trabalho da Frente Unida é identificar alvos específicos e construir relacionamentos. Quando eles se tornam amigos do alvo, este pode ser cooptado para representar os interesses políticos do PCC. O alvo também pode se tornar um canal para espiões profissionais coletarem informações ou fornecer informações diretamente através da Frente Unida.
As atividades da Frente Unida abrangem um escopo tão amplo que sua missão é relativamente imprecisa. Sua tarefa geral é formar relacionamentos para interferir nos assuntos internos de outro país, manipulando pessoas e instituições na política local, no comércio, nas universidades, etc. Ela assume as características de um movimento das massas, usando muitas operações informais e pouco vinculadas entre si. Isso dificulta que as agências de contrainteligência lidem com a ameaça representada pelas atividades da Frente Unida.
No centro dessas operações está o Departamento de Trabalho da Frente Unida do Comitê Central do PCC (DTFU), que alguns especialistas ocidentais consideram uma agência de inteligência típica. Algumas organizações ligadas à Frente Unida, como o Programa Mil Talentos, ajudam a roubar a propriedade intelectual de empresas dos Estados Unidos ao recrutar cientistas e outras pessoas valiosas para trabalhar na China.
Por exemplo, Hongjin Tan, que foi preso em Oklahoma em 20 de dezembro, provavelmente pertence a essa categoria. “Hongjin Tan supostamente roubou segredos comerciais no valor de mais de um bilhão de dólares correspondentes a um produto de seu empregador, uma petrolífera com sede nos Estados Unidos, para usá-los em benefício de uma empresa chinesa que lhe ofereceu emprego”, declarou o procurador-geral adjunto Demers.
Outro caso típico é o de Yang Chunlai, ex-presidente da Associação de Cientistas e Engenheiros Chineses (ACIC). A ACIC foi fundada em Chicago em 1992 e tem membros em mais de 20 estados nos Estados Unidos. No final de maio de 2006, Yang participou do “Terceiro Ano do Workshop de Estudo para Jovens Chineses e de Meia-Idade Responsáveis pelas Associações Chinesas no Exterior”, organizado em Pequim pelo Escritório de Assuntos Chineses no Exterior do Conselho de Estado (OACE).
O OACE é um ramo da Frente Unida que opera dentro do Conselho de Estado da China. Na reforma institucional de 2018, foi transferida abertamente para a DTFU. Em 2007, Yang falou na 4ª Conferência da Associação Mundial de Chineses no Exterior, realizada pela OACE, dizendo que “não é necessário voltar à China para servir ao país”.
“Agora temos 1.500 membros registrados e cerca de um terço deles são cidadãos americanos. Através de relacionamentos entre amigos e familiares, estimamos que podemos influenciar 5.000 votos”. O próprio Yang também foi membro do Comitê Consultivo de Especialistas no Estrangeiros da OACE, o que indica sua conexão com o trabalho da Frente Unida.
Em 1º de julho de 2011, Yang foi preso pelo FBI quando já havia comprado uma passagem de avião para a China programada para uma semana depois. Ele se declarou culpado de roubar segredos comerciais da Bolsa Mercantil de Chicago (CME, na sigla em inglês), onde trabalhou por onze anos. Ele planejava compartilhar as informações com a empresa chinesa Zhangjiakou Chemical and Electronic Commodity Exchange.
Inicialmente, estimou-se que seu roubo havia resultado em uma perda de 50 milhões de dólares para o CME. No final, o juiz concedeu um veredito mais brando com base no fato de que a perda inicial estimada era muito alta, e também por causa das contribuições de longa data de Yang para a comunidade, incluindo a comunidade chinesa.
Embora, na verdade, como representante da Frente Unida, o propósito de Yang em servir a comunidade chinesa fosse apenas para espionar e obter vantagens políticas para o Partido Comunista Chinês.
Por Heng He
Em uma coletiva de imprensa realizada em 20 de dezembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) anunciou o indiciamento de dois hackers provenientes da China comunista. Segundo o DOJ, eles são membros da unidade de pirataria APT10, que está sob a órbita do Ministério de Segurança do Estado (MSE) do regime chinês.
O MSE é a única agência oficial de inteligência da China, e é relativamente novo, dada a longa história da espionagem comunista chinesa. Foi criada em 1983 através da fusão do antigo Departamento de Segurança Política do Ministério da Segurança Pública (MSP, força policial chinesa), o Departamento de Investigação ou Departamento Central de Investigação (DCI) e outras agências de inteligência.
Após a criação do MSE, o Departamento de Segurança Política do MSP enfrentou uma considerável escassez de pessoal e de fundos até depois do massacre da Praça Tiananmen em 1989, quando começou a ressurgir gradualmente.
As coisas mudaram quando o PCC lançou sua perseguição à disciplina espiritual Falun Dafa, também conhecida como Falun Gong, em 1999.
O Departamento de Segurança Política foi renomeado para Bureau de Segurança Interna (BSI), abreviado como Guobao em chinês. Após a rápida expansão, o Guobao tornou-se conhecido por seu papel na perseguição não apenas dos praticantes do Falun Dafa, mas também de todos os tipos de dissidentes e crenças religiosas na China.
O MSE e o MSP executam diferentes funções em conjunto. Operações em países estrangeiros são de responsabilidade do MSE, enquanto o BSI realiza atividades semelhantes, mas dentro das fronteiras da China.
O MSE e os Estados Unidos
Em 1985, dois anos após o estabelecimento do MSE, o ex-secretário ministerial Yu Qiangsheng desertou e foi para os Estados Unidos. A informação que ele forneceu resultou na prisão e no suicídio do importante espião chinês Larry Wu-Tai Chin.
Yu Qiangsheng era irmão mais velho de Yu Zhengsheng, ex-membro do Comitê Permanente do Politburo e o quarto homem de maior poder do Partido Comunista entre 2012 e 2018.
Desde essa deserção, o MSE parece estar em paz com os americanos; pelo menos, não houve divulgação de mais escândalos, isto é, até agora. O Departamento de Justiça processou o espião chinês Ji Chaoqun, seu supervisor Xu Yanjun — que foi extraditado da Bélgica — e vários outros agentes. O MSE voltou a ser o centro das atenções do público.
Os réus nesses três casos eram do Departamento de Segurança do Estado da província chinesa de Jiangsu (DSEJ), braço regional do MSE. Todos eles tinham como alvo os departamentos e fornecedores relacionados à tecnologia de aviação americana.
Os três casos demonstram como os vários departamentos de inteligência do Partido cooperam de maneiras diferentes para alcançar o mesmo objetivo. Roubar tecnologia de aviação americana é claramente a principal tarefa da filial de Jiangsu. O DSEJ utilizou uma variedade de métodos para realizar suas tarefas, incluindo práticas tradicionais de espionagem, como a implantação de agentes secretos, o recrutamento de especialistas para a aquisição direta de informações confidenciais e a pirataria informática (hacking).
Cabe destacar que os três homens presos eram espiões enviados ao exterior pelos departamentos de inteligência regionais da China, o que mostra que não apenas o MSE em nível nacional está envolvido com espionagem no exterior.
Espionagem militar
Em 2014, os Estados Unidos processaram cinco hackers militares chineses pertencentes à APT1, grupo de hackers classificado como número um em “ameaças avançadas persistentes” (APT, na sigla em inglês), um ataque furtivo contra redes de computadores em que um pessoa ou grupo obtém acesso não autorizado a uma rede e permanece lá sem ser detectado.
Aqui, a força da inteligência militar do Partido Comunista, cujas raízes remontam aos dias em que o Exército Vermelho do PCC lutou na guerra civil, é significativa. Antes da reforma do aparato militar, ela era composta principalmente pelos segundo e terceiro departamentos do Departamento do Estado-Maior (DEM) do Exército Popular de Libertação (EPL). O Segundo Departamento do DEM é responsável pela espionagem tradicional; depois das reformas militares, tornou-se o Bureau de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.
Os cinco hackers processados pelo judiciário dos Estados Unidos pertenciam ao antigo Segundo Bureau do Terceiro Departamento do DEM em Xangai. Após as reformas, o Terceiro Departamento (Investigação Técnica) e o Quarto Departamento (Divisão de Radar de Contra Medidas Eletrônicas) foram combinados e convertidos no Departamento de Sistemas de Rede da Força de Apoio Estratégico do Exército Popular de Libertação. O departamento reformado é responsável pela guerra cibernética e pela coleta de informações confidenciais.
A inteligência militar chinesa também tem seu Departamento de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.
Criação de uma infraestrutura de espionagem para facilitar a perseguição
O PCC tem algumas agências de inteligência não tradicionais que também estão envolvidas em tarefas de espionagem. Por exemplo, as autoridades de segurança pública originalmente se concentravam na repressão dentro da China. No entanto, após o início da perseguição ao Falun Dafa em 1999, pelo menos nove departamentos de segurança pública provinciais e municipais foram autorizados a despachar agentes para outros países com a finalidade de coletar informações sobre o Falun Dafa.
Outra organização relacionada à campanha de perseguição contra o Falun Dafa que coleta informações para o PCC é o Escritório 610.
Em 7 de junho de 1999, o então secretário geral do PCC, Jiang Zemin, disse na reunião do Politburo que o Partido estabeleceria um Grupo Líder Central para Lidar com o Falun Gong. Informalmente, esta organização é conhecida como o Escritório 610, devido à data de sua criação, em 10 de junho de 1999.
Embora o Escritório 610, que opera fora do alcance da lei chinesa, seja famoso por seu papel na perseguição aos praticantes do Falun Dafa, seu alcance global ainda não é bem conhecido. Poucos sabem que, ao estabelecer canais em todo o mundo para monitorar os praticantes do Falun Dafa, o Escritório 610 estabeleceu uma extensa rede de espionagem no exterior.
Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, o jornalista investigativo francês Roger Faligot publicou um livro intitulado: “O serviço secreto chinês, de Mao aos Jogos Olímpicos”. O autor entrevistou especialistas de vários países, desertores chineses e agências de contrainteligência no exterior. O livro descreve especificamente como sob Luo Gan, ex-secretário linha-dura da Comissão Central de Assuntos Políticos e Legais (CAPL ou Zhengfawei, uma das organizações mais poderosas do PCC) e diretor do Escritório 610, espiões foram enviados pelo Escritório 610 ao mundo inteiro para lutar contra os chamados “cinco venenos”: a independência de Taiwan, o ativismo do Tibete e de Xinjiang, o Falun Dafa e o movimento democrático chinês.
A agência alemã de contra-espionagem também descobriu que o Escritório 610 recrutou espiões para monitorar as atividades dos praticantes do Falun Dafa na Alemanha. Embora o Escritório 610 tenha o objetivo específico de atacar dissidentes chineses, os recursos que acumulou podem ser usados para outras atividades de inteligência.
Frente Unida de “espionagem em massa”
Outra organização que desempenha funções de espionagem é a Frente Unida do PCC. Diferentemente de agências de inteligência profissional como o MSE e os departamentos de inteligência do EPL, a Frente Unida usa agentes amadores ou não profissionais para reunir informações e conduzir operações, um tipo de inteligência através de movimentos de massa que cobre um amplo espectro.
O principal método de trabalho da Frente Unida é identificar alvos específicos e construir relacionamentos. Quando eles se tornam amigos do alvo, este pode ser cooptado para representar os interesses políticos do PCC. O alvo também pode se tornar um canal para espiões profissionais coletarem informações ou fornecer informações diretamente através da Frente Unida.
As atividades da Frente Unida abrangem um escopo tão amplo que sua missão é relativamente imprecisa. Sua tarefa geral é formar relacionamentos para interferir nos assuntos internos de outro país, manipulando pessoas e instituições na política local, no comércio, nas universidades, etc. Ela assume as características de um movimento das massas, usando muitas operações informais e pouco vinculadas entre si. Isso dificulta que as agências de contrainteligência lidem com a ameaça representada pelas atividades da Frente Unida.
No centro dessas operações está o Departamento de Trabalho da Frente Unida do Comitê Central do PCC (DTFU), que alguns especialistas ocidentais consideram uma agência de inteligência típica. Algumas organizações ligadas à Frente Unida, como o Programa Mil Talentos, ajudam a roubar a propriedade intelectual de empresas dos Estados Unidos ao recrutar cientistas e outras pessoas valiosas para trabalhar na China.
Por exemplo, Hongjin Tan, que foi preso em Oklahoma em 20 de dezembro, provavelmente pertence a essa categoria. “Hongjin Tan supostamente roubou segredos comerciais no valor de mais de um bilhão de dólares correspondentes a um produto de seu empregador, uma petrolífera com sede nos Estados Unidos, para usá-los em benefício de uma empresa chinesa que lhe ofereceu emprego”, declarou o procurador-geral adjunto Demers.
Outro caso típico é o de Yang Chunlai, ex-presidente da Associação de Cientistas e Engenheiros Chineses (ACIC). A ACIC foi fundada em Chicago em 1992 e tem membros em mais de 20 estados nos Estados Unidos. No final de maio de 2006, Yang participou do “Terceiro Ano do Workshop de Estudo para Jovens Chineses e de Meia-Idade Responsáveis pelas Associações Chinesas no Exterior”, organizado em Pequim pelo Escritório de Assuntos Chineses no Exterior do Conselho de Estado (OACE).
O OACE é um ramo da Frente Unida que opera dentro do Conselho de Estado da China. Na reforma institucional de 2018, foi transferida abertamente para a DTFU. Em 2007, Yang falou na 4ª Conferência da Associação Mundial de Chineses no Exterior, realizada pela OACE, dizendo que “não é necessário voltar à China para servir ao país”.
“Agora temos 1.500 membros registrados e cerca de um terço deles são cidadãos americanos. Através de relacionamentos entre amigos e familiares, estimamos que podemos influenciar 5.000 votos”. O próprio Yang também foi membro do Comitê Consultivo de Especialistas no Estrangeiros da OACE, o que indica sua conexão com o trabalho da Frente Unida.
Em 1º de julho de 2011, Yang foi preso pelo FBI quando já havia comprado uma passagem de avião para a China programada para uma semana depois. Ele se declarou culpado de roubar segredos comerciais da Bolsa Mercantil de Chicago (CME, na sigla em inglês), onde trabalhou por onze anos. Ele planejava compartilhar as informações com a empresa chinesa Zhangjiakou Chemical and Electronic Commodity Exchange.
Inicialmente, estimou-se que seu roubo havia resultado em uma perda de 50 milhões de dólares para o CME. No final, o juiz concedeu um veredito mais brando com base no fato de que a perda inicial estimada era muito alta, e também por causa das contribuições de longa data de Yang para a comunidade, incluindo a comunidade chinesa.
Embora, na verdade, como representante da Frente Unida, o propósito de Yang em servir a comunidade chinesa fosse apenas para espionar e obter vantagens políticas para o Partido Comunista Chinês.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
A Indústria Universal da Mentira
original aqui:
Uma das especialidades marcantes do discurso revolucionário sempre foi a criação de estereótipos e lendas urbanas que, pela repetição constante e ubíqua, se impregnam na imaginação popular e a povoam de falsas memórias. Desde as ondas de pavor e violência suscitadas nas pequenas cidades da França revolucionária pelos sucessivos anúncios de iminentes invasões de forças monarquistas que nem sequer existiam, até o mito da tomada de Havana pelos guerrilheiros de Fidel Castro, que nada mais fizeram senão marchar com total segurança por uma cidade já abandonada pelas tropas de Batista, a glória das revoluções é uma sucessão de mentiras tolas que se perpetuam pela repetição mecânica, como cacoetes.
No Brasil a mais célebre e duradoura dessas mentiras foi a da participação da CIA no golpe de 1964, até hoje não abonada pela divulgação de um único nome de agente dessa entidade lotado no Brasil na época.
O observador convencional pode imaginar que, com a queda do Estado soviético em 1991, a máquina de espalhar falsidades parou de funcionar e está enferrujada em algum depósito de tristes recordações ao lado das estátuas caídas de Lênin e de Stalin. Mas o movimento comunista internacional, que antecedeu de sete décadas o comunismo russo, deu provas cabais de que pode não apenas sobreviver, mas prosperar sem ele. A mais eloquente dessas provas foi dada pela guerrilha “zapatista” de Chiapas, México, em 1994. Cada resposta das autoridades mexicanas à violência guerrilheira era seguida instantaneamente de uma onda mundial de protestos, paralisando a ação do governo por medo das pressões internacionais e transformando em vitórias políticas as derrotas militares da guerrilha.
A INDÚSTRIA UNIVERSAL DA MENTIRA (1)
Olavo de CarvalhoUma das especialidades marcantes do discurso revolucionário sempre foi a criação de estereótipos e lendas urbanas que, pela repetição constante e ubíqua, se impregnam na imaginação popular e a povoam de falsas memórias. Desde as ondas de pavor e violência suscitadas nas pequenas cidades da França revolucionária pelos sucessivos anúncios de iminentes invasões de forças monarquistas que nem sequer existiam, até o mito da tomada de Havana pelos guerrilheiros de Fidel Castro, que nada mais fizeram senão marchar com total segurança por uma cidade já abandonada pelas tropas de Batista, a glória das revoluções é uma sucessão de mentiras tolas que se perpetuam pela repetição mecânica, como cacoetes.
No Brasil a mais célebre e duradoura dessas mentiras foi a da participação da CIA no golpe de 1964, até hoje não abonada pela divulgação de um único nome de agente dessa entidade lotado no Brasil na época.
O observador convencional pode imaginar que, com a queda do Estado soviético em 1991, a máquina de espalhar falsidades parou de funcionar e está enferrujada em algum depósito de tristes recordações ao lado das estátuas caídas de Lênin e de Stalin. Mas o movimento comunista internacional, que antecedeu de sete décadas o comunismo russo, deu provas cabais de que pode não apenas sobreviver, mas prosperar sem ele. A mais eloquente dessas provas foi dada pela guerrilha “zapatista” de Chiapas, México, em 1994. Cada resposta das autoridades mexicanas à violência guerrilheira era seguida instantaneamente de uma onda mundial de protestos, paralisando a ação do governo por medo das pressões internacionais e transformando em vitórias políticas as derrotas militares da guerrilha.
Daí por diante, acontecimentos similares tornaram-se rotina em todo o mundo Ocidental. Um exemplo significativo foram os ataques terroristas à rede ferroviária de Madri em 11 de março de 2004, realizados simultaneamente em vários pontos da cidade, que mataram 193 pessoas e feriram 2050. Menos de vinte e quatro horas depois, violentos protestos eclodiram em toda a Espanha, voltados não contra os terroristas, fossem eles quem fossem, e sim contra o governo espanhol por ter atribuído a autoria do crime (erroneamente, segundo se disse na ocasião) ao partido separatista basco Euzkadi. Três dias depois, o partido governista do primeiro-ministro José Maria Aznar perdia as eleições gerais para a oposição de esquerda.
A simultaneidade e a rapidez fulminante dessas operações – depois repetidas mil vezes em vários países – deviam-se a um único fator: estimulado em parte pelo desastre da experiência soviética, em parte por novas propostas estratégicas inspiradas em Antonio Gramsci e na Escola de Frakfurt, em parte pela difusão mundial dos pequenos computadores, o movimento comunista havia abandonado seu velho modelo hierárquico de linha de comando, e adotado um sistema de organização mais flexível em “redes”, de modo que em vez de uma única palavra-de-ordem descer do comando central para espalhar-se fielmente no seio da militância por meio de toda uma hierarquia de comandos intermediários, vários centros independentes, unidos vagamente por uma comunidade de valores e propósito, podiam emitir várias palavras-de-ordem simultâneas, cujas pequenas contradições mútuas logo se dissolviam na vaga unidade do sentimento comum voltado contra um inimigo preciso.
Já não se tratava de por em ação um exército disciplinado, mas de espalhar emoções e símbolos, controlando o mais sutil e imperceptivelmente possível o movimento do conjunto.
O sistema tinha a vantagem indiscutível de simular uma total espontaneidade e de espalhar entre militantes e simpatizantes um sentimento enganoso de liberdade e criatividade pessoal ao mesmo tempo que assegurava a difusão das palavras-de-ordem essenciais.
[Continua]
A simultaneidade e a rapidez fulminante dessas operações – depois repetidas mil vezes em vários países – deviam-se a um único fator: estimulado em parte pelo desastre da experiência soviética, em parte por novas propostas estratégicas inspiradas em Antonio Gramsci e na Escola de Frakfurt, em parte pela difusão mundial dos pequenos computadores, o movimento comunista havia abandonado seu velho modelo hierárquico de linha de comando, e adotado um sistema de organização mais flexível em “redes”, de modo que em vez de uma única palavra-de-ordem descer do comando central para espalhar-se fielmente no seio da militância por meio de toda uma hierarquia de comandos intermediários, vários centros independentes, unidos vagamente por uma comunidade de valores e propósito, podiam emitir várias palavras-de-ordem simultâneas, cujas pequenas contradições mútuas logo se dissolviam na vaga unidade do sentimento comum voltado contra um inimigo preciso.
Já não se tratava de por em ação um exército disciplinado, mas de espalhar emoções e símbolos, controlando o mais sutil e imperceptivelmente possível o movimento do conjunto.
O sistema tinha a vantagem indiscutível de simular uma total espontaneidade e de espalhar entre militantes e simpatizantes um sentimento enganoso de liberdade e criatividade pessoal ao mesmo tempo que assegurava a difusão das palavras-de-ordem essenciais.
[Continua]
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