sábado, 19 de janeiro de 2019

A complexa rede de espionagem chinesa no exterior

A complexa rede de espionagem chinesa no exterior
Por Heng He



Em uma coletiva de imprensa realizada em 20 de dezembro, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) anunciou o indiciamento de dois hackers provenientes da China comunista. Segundo o DOJ, eles são membros da unidade de pirataria APT10, que está sob a órbita do Ministério de Segurança do Estado (MSE) do regime chinês.

O MSE é a única agência oficial de inteligência da China, e é relativamente novo, dada a longa história da espionagem comunista chinesa. Foi criada em 1983 através da fusão do antigo Departamento de Segurança Política do Ministério da Segurança Pública (MSP, força policial chinesa), o Departamento de Investigação ou Departamento Central de Investigação (DCI) e outras agências de inteligência.

Após a criação do MSE, o Departamento de Segurança Política do MSP enfrentou uma considerável escassez de pessoal e de fundos até depois do massacre da Praça Tiananmen em 1989, quando começou a ressurgir gradualmente.

As coisas mudaram quando o PCC lançou sua perseguição à disciplina espiritual Falun Dafa, também conhecida como Falun Gong, em 1999.

O Departamento de Segurança Política foi renomeado para Bureau de Segurança Interna (BSI), abreviado como Guobao em chinês. Após a rápida expansão, o Guobao tornou-se conhecido por seu papel na perseguição não apenas dos praticantes do Falun Dafa, mas também de todos os tipos de dissidentes e crenças religiosas na China.


O MSE e o MSP executam diferentes funções em conjunto. Operações em países estrangeiros são de responsabilidade do MSE, enquanto o BSI realiza atividades semelhantes, mas dentro das fronteiras da China.

O MSE e os Estados Unidos

Em 1985, dois anos após o estabelecimento do MSE, o ex-secretário ministerial Yu Qiangsheng desertou e foi para os Estados Unidos. A informação que ele forneceu resultou na prisão e no suicídio do importante espião chinês Larry Wu-Tai Chin.

Yu Qiangsheng era irmão mais velho de Yu Zhengsheng, ex-membro do Comitê Permanente do Politburo e o quarto homem de maior poder do Partido Comunista entre 2012 e 2018.

Desde essa deserção, o MSE parece estar em paz com os americanos; pelo menos, não houve divulgação de mais escândalos, isto é, até agora. O Departamento de Justiça processou o espião chinês Ji Chaoqun, seu supervisor Xu Yanjun — que foi extraditado da Bélgica — e vários outros agentes. O MSE voltou a ser o centro das atenções do público.

Os réus nesses três casos eram do Departamento de Segurança do Estado da província chinesa de Jiangsu (DSEJ), braço regional do MSE. Todos eles tinham como alvo os departamentos e fornecedores relacionados à tecnologia de aviação americana.

Os três casos demonstram como os vários departamentos de inteligência do Partido cooperam de maneiras diferentes para alcançar o mesmo objetivo. Roubar tecnologia de aviação americana é claramente a principal tarefa da filial de Jiangsu. O DSEJ utilizou uma variedade de métodos para realizar suas tarefas, incluindo práticas tradicionais de espionagem, como a implantação de agentes secretos, o recrutamento de especialistas para a aquisição direta de informações confidenciais e a pirataria informática (hacking).

Cabe destacar que os três homens presos eram espiões enviados ao exterior pelos departamentos de inteligência regionais da China, o que mostra que não apenas o MSE em nível nacional está envolvido com espionagem no exterior.

Espionagem militar


Em 2014, os Estados Unidos processaram cinco hackers militares chineses pertencentes à APT1, grupo de hackers classificado como número um em “ameaças avançadas persistentes” (APT, na sigla em inglês), um ataque furtivo contra redes de computadores em que um pessoa ou grupo obtém acesso não autorizado a uma rede e permanece lá sem ser detectado.

Aqui, a força da inteligência militar do Partido Comunista, cujas raízes remontam aos dias em que o Exército Vermelho do PCC lutou na guerra civil, é significativa. Antes da reforma do aparato militar, ela era composta principalmente pelos segundo e terceiro departamentos do Departamento do Estado-Maior (DEM) do Exército Popular de Libertação (EPL). O Segundo Departamento do DEM é responsável pela espionagem tradicional; depois das reformas militares, tornou-se o Bureau de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.

Os cinco hackers processados pelo judiciário dos Estados Unidos pertenciam ao antigo Segundo Bureau do Terceiro Departamento do DEM em Xangai. Após as reformas, o Terceiro Departamento (Investigação Técnica) e o Quarto Departamento (Divisão de Radar de Contra Medidas Eletrônicas) foram combinados e convertidos no Departamento de Sistemas de Rede da Força de Apoio Estratégico do Exército Popular de Libertação. O departamento reformado é responsável pela guerra cibernética e pela coleta de informações confidenciais.

A inteligência militar chinesa também tem seu Departamento de Inteligência do Departamento do Estado-Maior Conjunto da Comissão Militar Central.

Criação de uma infraestrutura de espionagem para facilitar a perseguição

O PCC tem algumas agências de inteligência não tradicionais que também estão envolvidas em tarefas de espionagem. Por exemplo, as autoridades de segurança pública originalmente se concentravam na repressão dentro da China. No entanto, após o início da perseguição ao Falun Dafa em 1999, pelo menos nove departamentos de segurança pública provinciais e municipais foram autorizados a despachar agentes para outros países com a finalidade de coletar informações sobre o Falun Dafa.

Outra organização relacionada à campanha de perseguição contra o Falun Dafa que coleta informações para o PCC é o Escritório 610.


Em 7 de junho de 1999, o então secretário geral do PCC, Jiang Zemin, disse na reunião do Politburo que o Partido estabeleceria um Grupo Líder Central para Lidar com o Falun Gong. Informalmente, esta organização é conhecida como o Escritório 610, devido à data de sua criação, em 10 de junho de 1999.

Embora o Escritório 610, que opera fora do alcance da lei chinesa, seja famoso por seu papel na perseguição aos praticantes do Falun Dafa, seu alcance global ainda não é bem conhecido. Poucos sabem que, ao estabelecer canais em todo o mundo para monitorar os praticantes do Falun Dafa, o Escritório 610 estabeleceu uma extensa rede de espionagem no exterior.

Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, o jornalista investigativo francês Roger Faligot publicou um livro intitulado: “O serviço secreto chinês, de Mao aos Jogos Olímpicos”. O autor entrevistou especialistas de vários países, desertores chineses e agências de contrainteligência no exterior. O livro descreve especificamente como sob Luo Gan, ex-secretário linha-dura da Comissão Central de Assuntos Políticos e Legais (CAPL ou Zhengfawei, uma das organizações mais poderosas do PCC) e diretor do Escritório 610, espiões foram enviados pelo Escritório 610 ao mundo inteiro para lutar contra os chamados “cinco venenos”: a independência de Taiwan, o ativismo do Tibete e de Xinjiang, o Falun Dafa e o movimento democrático chinês.

A agência alemã de contra-espionagem também descobriu que o Escritório 610 recrutou espiões para monitorar as atividades dos praticantes do Falun Dafa na Alemanha. Embora o Escritório 610 tenha o objetivo específico de atacar dissidentes chineses, os recursos que acumulou podem ser usados para outras atividades de inteligência.

Frente Unida de “espionagem em massa”

Outra organização que desempenha funções de espionagem é a Frente Unida do PCC. Diferentemente de agências de inteligência profissional como o MSE e os departamentos de inteligência do EPL, a Frente Unida usa agentes amadores ou não profissionais para reunir informações e conduzir operações, um tipo de inteligência através de movimentos de massa que cobre um amplo espectro.

O principal método de trabalho da Frente Unida é identificar alvos específicos e construir relacionamentos. Quando eles se tornam amigos do alvo, este pode ser cooptado para representar os interesses políticos do PCC. O alvo também pode se tornar um canal para espiões profissionais coletarem informações ou fornecer informações diretamente através da Frente Unida.

As atividades da Frente Unida abrangem um escopo tão amplo que sua missão é relativamente imprecisa. Sua tarefa geral é formar relacionamentos para interferir nos assuntos internos de outro país, manipulando pessoas e instituições na política local, no comércio, nas universidades, etc. Ela assume as características de um movimento das massas, usando muitas operações informais e pouco vinculadas entre si. Isso dificulta que as agências de contrainteligência lidem com a ameaça representada pelas atividades da Frente Unida.

No centro dessas operações está o Departamento de Trabalho da Frente Unida do Comitê Central do PCC (DTFU), que alguns especialistas ocidentais consideram uma agência de inteligência típica. Algumas organizações ligadas à Frente Unida, como o Programa Mil Talentos, ajudam a roubar a propriedade intelectual de empresas dos Estados Unidos ao recrutar cientistas e outras pessoas valiosas para trabalhar na China.

Por exemplo, Hongjin Tan, que foi preso em Oklahoma em 20 de dezembro, provavelmente pertence a essa categoria. “Hongjin Tan supostamente roubou segredos comerciais no valor de mais de um bilhão de dólares correspondentes a um produto de seu empregador, uma petrolífera com sede nos Estados Unidos, para usá-los em benefício de uma empresa chinesa que lhe ofereceu emprego”, declarou o procurador-geral adjunto Demers.

Outro caso típico é o de Yang Chunlai, ex-presidente da Associação de Cientistas e Engenheiros Chineses (ACIC). A ACIC foi fundada em Chicago em 1992 e tem membros em mais de 20 estados nos Estados Unidos. No final de maio de 2006, Yang participou do “Terceiro Ano do Workshop de Estudo para Jovens Chineses e de Meia-Idade Responsáveis pelas Associações Chinesas no Exterior”, organizado em Pequim pelo Escritório de Assuntos Chineses no Exterior do Conselho de Estado (OACE).

O OACE é um ramo da Frente Unida que opera dentro do Conselho de Estado da China. Na reforma institucional de 2018, foi transferida abertamente para a DTFU. Em 2007, Yang falou na 4ª Conferência da Associação Mundial de Chineses no Exterior, realizada pela OACE, dizendo que “não é necessário voltar à China para servir ao país”.

“Agora temos 1.500 membros registrados e cerca de um terço deles são cidadãos americanos. Através de relacionamentos entre amigos e familiares, estimamos que podemos influenciar 5.000 votos”. O próprio Yang também foi membro do Comitê Consultivo de Especialistas no Estrangeiros da OACE, o que indica sua conexão com o trabalho da Frente Unida.

Em 1º de julho de 2011, Yang foi preso pelo FBI quando já havia comprado uma passagem de avião para a China programada para uma semana depois. Ele se declarou culpado de roubar segredos comerciais da Bolsa Mercantil de Chicago (CME, na sigla em inglês), onde trabalhou por onze anos. Ele planejava compartilhar as informações com a empresa chinesa Zhangjiakou Chemical and Electronic Commodity Exchange.

Inicialmente, estimou-se que seu roubo havia resultado em uma perda de 50 milhões de dólares para o CME. No final, o juiz concedeu um veredito mais brando com base no fato de que a perda inicial estimada era muito alta, e também por causa das contribuições de longa data de Yang para a comunidade, incluindo a comunidade chinesa.

Embora, na verdade, como representante da Frente Unida, o propósito de Yang em servir a comunidade chinesa fosse apenas para espionar e obter vantagens políticas para o Partido Comunista Chinês.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A Indústria Universal da Mentira

original aqui:

A INDÚSTRIA UNIVERSAL DA MENTIRA (1)

Olavo de Carvalho

Uma das especialidades marcantes do discurso revolucionário sempre foi a criação de estereótipos e lendas urbanas que, pela repetição constante e ubíqua, se impregnam na imaginação popular e a povoam de falsas memórias. Desde as ondas de pavor e violência suscitadas nas pequenas cidades da França revolucionária pelos sucessivos anúncios de iminentes invasões de forças monarquistas que nem sequer existiam, até o mito da tomada de Havana pelos guerrilheiros de Fidel Castro, que nada mais fizeram senão marchar com total segurança por uma cidade já abandonada pelas tropas de Batista, a glória das revoluções é uma sucessão de mentiras tolas que se perpetuam pela repetição mecânica, como cacoetes.

No Brasil a mais célebre e duradoura dessas mentiras foi a da participação da CIA no golpe de 1964, até hoje não abonada pela divulgação de um único nome de agente dessa entidade lotado no Brasil na época.

O observador convencional pode imaginar que, com a queda do Estado soviético em 1991, a máquina de espalhar falsidades parou de funcionar e está enferrujada em algum depósito de tristes recordações ao lado das estátuas caídas de Lênin e de Stalin. Mas o movimento comunista internacional, que antecedeu de sete décadas o comunismo russo, deu provas cabais de que pode não apenas sobreviver, mas prosperar sem ele. A mais eloquente dessas provas foi dada pela guerrilha “zapatista” de Chiapas, México, em 1994. Cada resposta das autoridades mexicanas à violência guerrilheira era seguida instantaneamente de uma onda mundial de protestos, paralisando a ação do governo por medo das pressões internacionais e transformando em vitórias políticas as derrotas militares da guerrilha.

Daí por diante, acontecimentos similares tornaram-se rotina em todo o mundo Ocidental. Um exemplo significativo foram os ataques terroristas à rede ferroviária de Madri em 11 de março de 2004, realizados simultaneamente em vários pontos da cidade, que mataram 193 pessoas e feriram 2050. Menos de vinte e quatro horas depois, violentos protestos eclodiram em toda a Espanha, voltados não contra os terroristas, fossem eles quem fossem, e sim contra o governo espanhol por ter atribuído a autoria do crime (erroneamente, segundo se disse na ocasião) ao partido separatista basco Euzkadi. Três dias depois, o partido governista do primeiro-ministro José Maria Aznar perdia as eleições gerais para a oposição de esquerda.

A simultaneidade e a rapidez fulminante dessas operações – depois repetidas mil vezes em vários países – deviam-se a um único fator: estimulado em parte pelo desastre da experiência soviética, em parte por novas propostas estratégicas inspiradas em Antonio Gramsci e na Escola de Frakfurt, em parte pela difusão mundial dos pequenos computadores, o movimento comunista havia abandonado seu velho modelo hierárquico de linha de comando, e adotado um sistema de organização mais flexível em “redes”, de modo que em vez de uma única palavra-de-ordem descer do comando central para espalhar-se fielmente no seio da militância por meio de toda uma hierarquia de comandos intermediários, vários centros independentes, unidos vagamente por uma comunidade de valores e propósito, podiam emitir várias palavras-de-ordem simultâneas, cujas pequenas contradições mútuas logo se dissolviam na vaga unidade do sentimento comum voltado contra um inimigo preciso.

Já não se tratava de por em ação um exército disciplinado, mas de espalhar emoções e símbolos, controlando o mais sutil e imperceptivelmente possível o movimento do conjunto.
O sistema tinha a vantagem indiscutível de simular uma total espontaneidade e de espalhar entre militantes e simpatizantes um sentimento enganoso de liberdade e criatividade pessoal ao mesmo tempo que assegurava a difusão das palavras-de-ordem essenciais.

[Continua]

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Conselho Mundial de Igrejas (CMI): A conexão com a KGB

Artigo original: https://www.frontpagemag.com/fpm/56261/world-council-churches-kgb-connection-mark-d-tooley
em 03 de Março de 2010
escrito por Mark D. Tooley

Conselho Mundial de Igrejas (CMI): A conexão com a KGB

Novo livro detalha como os Soviéticos utilizaram o Conselho Mundial de Igrejas (CMI)

Durante as décadas de 1970 e 1980, a CMI (Conselho Mundial de Igreja), baseada em Geneva na Suiça, entidade a qual milhares de Protestantes e Ortodoxos comungaram conjuntamente, rotineiramente adotou posições pró-União-Soviética e anti-Ocidente. Inclusive com financiamentos a grupos guerrilheiros. Ao longo do tempo, alguns críticos assumiram que a CMI foi apenas inocentemente refém da "Teologia da Libertação", doutrina que troca a salvação da alma pela luta revolucionária de classes e a revolução socialista.

Porém, um novo livro, escrito por um autor Búlgaro, revela como a KGB e a inteligência Búlgara explorou a sua associação com a Igreja Ortodoxa Búlgara para diretamente influenciar a CMI e a "Conferência das Igrejas Europeias". No "Entre Fé e Compromisso", o historiador Búlgaro Momchil Metodiev relata como os Soviéticos e seus agentes Búlgaros empregaram a igreja Ortodoxa Búlgara e a CMI para promover globalmente os objetivos estratégicos da União Soviética.

"A participação da igreja Búlgara em organizações ecumênicas não foi inspirada pela idéia do diálogo interdenominacional e cooperação", Metodiev nos informa, antes do lançamento do seu livro neste mês (em 2010). "Se, na percepção popular, as organizações de segurança do Estado são classificadas como um Estado dentro do Estado, então estas atividades ecumênicas, conduzidas pelos representantes do Bloco Soviético, podem ser consideravas uma Igreja dentro da Igreja", escreveu Metodiev, que pesquisou os arquivos Comunistas da Bulgária para o "Projeto de História Internacional da Guerra Fria" do Instituto Woodrow Wilson que fica em Washington, D.C, nos Estados Unidos. 

Segundo Metodiev, a inteligência Búlgara já tinha identificado a CMI como "alvo para penetração" antes mesmo que a Bulgária e outras igrejas do Bloco Oriental tivessem entrado para a CMI em 1961. Ele também explica no seu novo livro como os serviços de inteligência do Bloco Oriental e os Comitês Comunistas sobre assuntos das Igrejas colaboraram para influenciar grupos ecumênicos, como a CMI. Metodiev escreve que durante a década de 1970, o bispo da Igreja Ortodoxa Russa da cidade de Leningrado, Boris Georgiyevich Rotov, também conhecido como Nikodim, sob ordens da KGB, comandou esta colaboração, enquanto o bispo da Igreja Ortodoxa Búlgara da cidade de Stara Zagora, Pankratii, fez a sua parte na Bulgária. Nikodim, que previsivelmente trabalhou em união com a frente Soviética, ajudou a "Confererência da Paz Cristã", organização baseada em Praga na Bulgária, a se tornar o presidente da CMI em 1975, após amedrontar delegações do Terceiro Mundo com ameaças que a ajuda financeira da União Soviética seria cortada caso elas não cooperassem.

Os serviços de inteligência do Bloco Oriental, utilizando as igrejas dos países Orientais que faziam parte da CMI, ajudaram a garantir que a CMI mantivesse seu foco em criticar os Estados Unidos e seus aliados, enquanto desviava qualquer interesse em abusos dos Direitos Humanos do Bloco Oriental e Soviético. Metodiev diz que uma rara exceção aconteceu numa assembléia em 1975 em Nairobi no Quênia, quando alguns delegados tentaram abordar uma discussão sobre repressão religiosa na União Soviética. Neste encontro, um delegado Suíço chamado Jacques Rossel propôs a seguinte posição: "A CMI se mostra preocupada com as infrações sobre liberdade religiosa, especialmente na União Soviética. Esta Assembléia Geral respeitosamente pede ao governo da União Soviética para obedecer o Artigo 7 do Acordos de Helsínquia".

Até mesmo esta crítica bastante branda iniciou uma tempestade de controvérsias dentro da ala extrema-esquerda da CMI e falhou em conseguir os dois-terços dos votos das delegações da CMI. Uma sátira apareceu no salão de exibições da CMI parodiando o tema da conferência que era "Cristo Libera e Une" para "Cristo liberou Jacques Rossel para fazer a sua moção; ele uniu os delegados da Europa Oriental; porém, irá ele dividir a CMI?".

No meio desta confusão, totalmente diferente da calmaria das posições pro-União-Soviética da CMI, os delegados aprovaram um novo compromisso para o próximo dia, e sem nenhuma vergonha declararam que "tendo gasto um considerável tempo debatendo os supostos não cumprimentos das liberdades religiosas da União Soviética" conclui que "as igrejas em diferentes partes da Europa vivem e trabalham sob diferentes condições". Até mesmo esta não-crítica da União Soviética foi demais pra os delegados Russos, que se abstiveram em protesto "da embaraçosa atmosfera que a discussão infelizmente inflamou". Após este episódio de 1975, a CMI começou a evitar quaisquer tentativas de, até mesmo de tacitamente, admitir qualquer problema com liberdade religiosa em todo o Bloco Oriental.

O livro de Metodiev aborda este evento de 1975 e revela, também, que os serviços de inteligência da União Soviética e da Bulgária fizeram de tudo para garantir a seleção do Búlgaro Todor Sabev como Secretário Geral da CMI.

Sabev era professor de um Seminário em Sofia, na Bulgária, e fundou o "Instituto de História da Igreja" e os "Arquivos do Patriarcado da Bulgária" para a igreja Búlgara. Ele se envolveu imediatamente com a CMI após a entrada da Bulgária, servindo os Comitês Centrais e Executivos da CMI nas décadas de 1960 e 1970. Em 1979 ele se tornou o Secretário Geral da CMI, focando os laços da CMI com as igrejas Ortodoxa e com a Católica Romana até sua aposentadoria em 1993. "Um amigo e colega devoto, ganhou a confiança e confidência de todos com quem trabalhou", relembra o novo Secretário Geral Samuel Kobia quando da morte de Sabev em 2008. "Ele será lembrado por sua bondade e sua sinceridade, sempre pronto para servir a todos, em qualquer momento, sob quaisquer circunstâncias. Por conta da sua personalidade que combinava autoridade moral com calor humano, ele fez o papel de construtor-de-pontes entre o Oriente e o Ocidente, entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Romana". Claro, Kobia não citou a longa lista de serviço como agente ao Comunismo da Europa Oriental de Sabev.

Num relatório da "Agência de Notícias Internacionais Ecumênicas" (ENI), a CMI oficialmente tentou minimizar algumas acusações sem nunca negá-las. "Estas alegações não são novas", insistiu Martin Robra, Diretor da CMI. "Até mesmo durante a Guerra Fria, já era largamente sabido que os representantes das igrejas dos países Comunistas eram obrigados a reportar todas as suas atividades para as autoridades dos seus países." Claro, durante a Guerra Fria, a CMI nunca reconheceu esta situação e sempre preferiu fazer de conta que as igrejas do Bloco Oriental eram livres e que não eram mais manipuladas do que as Igrejas Ocidentais. "As Atas e políticas da CMI são totalmente públicas. Não há segredos a serem descobertos", Robra afirmou a ENI. "Foi muito mais importante nutrir este relacionamento com as igrejas detrás da Cortina de Ferro e ajudá-las o máximo possível, do que dividir as nações."

Apenas após o colapso do Bloco Oriental Comunista que alguns dos oficiais da CMI timidamente admitiram que eles deveriam ter falado mais sobre a opressão religiosa sob o Comunismo. Porém, até hoje, eles tentam empurrar alegações que a cooperação com as igrejas do Bloco Oriental, e até com os governos Comunistas, abriu diversas portas e que foi fundamental para a conclusão pacífica da Guerra Fria. "As posições da CMI à favor da justiça e da paz nunca seguiu nenhum plano da KGB, e sim do Gospel de Cristo, o príncipe da Paz, aquele que comunga dentre os mais vulneráveis e sofridos", Robra assegurou a ENI.

Livros como este do Metodiev, baseados em pesquisas dos arquivos Comunistas, estão incrementalmente confirmando que a CMI e diversos outros grupos religiosos seguiram sim os planos da KGB durante a Guerra Fria. A pergunta que fica é, já que a CMI continua a sua defesa da extrema-esquerda, qual plano eles estão seguindo agora?

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Vídeos do Yuri Bezmenov

Atualização dos vídeos do Yuri Bezmenov com vídeos legendados para português.
World Thought Police - Traduzido para Portugês

http://amizadedasnacoes.blogspot.com/2016/02/world-thought-police-traduzido-para.html

Vídeo:

0:00:21
Entrevista em forma de documentário em 1984 para G. Edward Griffin. Legendas por David Carvalho.

1:21:39
Palestrada dada em uma universidade de Los Angeles em 1983, também legendada e editada por David Carvalho.

2:24:52
Anexo da palestra anterior, autoria desconhecida.

2:33:12
Vídeo curto didático feito pelo Zé Oswaldo estabelecendo um comparativo paralelo entre trechos da palestra e elementos da realidade brasileira atual.



Demoralization, Destabilization, Insurgency, Normalization
https://mcalvanyintelligenceadvisor.com/demoralization-destabilization-insurgency-normalization

domingo, 1 de julho de 2018

Agentes da StB no Brasil

Siglas:

KSČ = Partido Comunista da Tchecoslováquia (Komunistická strana Československa)
MV = Ministério do Interior (Ministerstvo Vnita)

Václav Bubenícek (codinome: Bakalár)

1953: Membro da KSC
1957: Contratado pelo StB
1958-1962: Membro da rezidentura no Brasil
1965-1967: Residente da Embaixada do Brasil (Segundo Scretário)
1969-1971: Venezuela

Links:

O ponto em branco no mapa – Equador
https://stbnobrasil.com/pt/o-ponto-em-branco-no-mapa-equador

Jirí Stejskal (codinome: Borecký)

1953: RFA e Áustria
1957: Seção da América Latina
até 1964: Chefe da Seção da América Latina
1964-1969: Chefe da Seção 8 (Operações Ativas e Desinformação)
1970: Despedido da StB

Links:

Levem o trabalho em La Paz muito a sério
https://stbnobrasil.com/pt/levem-o-trabalho-em-la-paz-muito-serio

Raúl Castro, os arquivos da StB e o serviço secreto cubano
https://stbnobrasil.com/pt/raul-castro-os-arquivos-da-stb-e-o-servico-secreto-cubano

Ladislav Bittman (codinome: Brytcha)

1946: Membro da KSC
1955: Contratado pelo StB (Seção Alemanha Ocidental)
1961: Membro da rezidentura de Berlim
1964: Chefe Suplente da Seção 8 (Operações Ativas e Desinformação)
1966-1968: Membro da rezindetura em Viena
1968: Desertou para os Estados Unidos

Links:

The KGB and Soviet Disinformation: An Insider's View
https://www.amazon.com/KGB-Soviet-Disinformation-Insiders-View/dp/0080315720

THE DECEPTION GAME 

Ladislav Bittman Professor of Disinformation

Larry Bittman Interview 2009
https://www.youtube.com/watch?v=wTPIgmFa6ys

Medidas Ativas ou Operação Ativas (legendado para português)

Larry Bittman BBC Interview 1990
https://www.youtube.com/watch?v=sszmFjMGfws

Soviet Bloc Intelligence and Its AIDS Disinformation Campaign
https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/csi-studies/studies/vol53no4/pdf/U-%20Boghardt-AIDS-Made%20in%20the%20USA-17Dec.pdf

The Spy Who Came Into the Classroom Teaches at Boston U.
https://www.nytimes.com/1994/04/27/us/the-spy-who-came-into-the-classroom-teaches-at-boston-u.html?pagewanted=all&src=pm

Artigos do Olavo de Carvalho sobre o Ladislav Bittman:

http://www.olavodecarvalho.org/falsificacao-integral/
http://www.olavodecarvalho.org/a-kgb-no-brasil/
http://www.olavodecarvalho.org/monopolio-e-choradeira/
http://www.olavodecarvalho.org/estudar-antes-de-falar/
http://www.olavodecarvalho.org/a-historia-invertida/
http://www.olavodecarvalho.org/credibilidade-zero/
http://www.olavodecarvalho.org/notinhas-deprimentes/
http://www.olavodecarvalho.org/o-mito-da-imprensa-nanica-ii/
http://www.olavodecarvalho.org/questao-de-honra/
http://www.olavodecarvalho.org/quatro-decadas-de-fraude/
http://www.olavodecarvalho.org/o-orvalho-vem-caindo/
http://www.olavodecarvalho.org/lavagem-de-noticias/
http://www.olavodecarvalho.org/poroes-lacrados/
http://www.olavodecarvalho.org/passado-e-presente/
http://www.olavodecarvalho.org/o-homem-de-muitos-narizes/
http://www.olavodecarvalho.org/leituras-militares/
http://www.olavodecarvalho.org/mentiras-que-rendem/
http://www.olavodecarvalho.org/do-forum-ao-jardim/
http://www.olavodecarvalho.org/sugestao-aos-colegas/

Miloslav Cech (codinome: Cada)

1946: Membro da KSC
1957: Contratado pela StB
1958: Membro da Rezidentura do Canadá
1962: Membro da Rezidentura dos EUA
1963-1968: Chefe da Seção I (Assuntos Americanos) na Central
1968: Promovido a Chefe do Primeiro Departamento do Serviço de Inteligência

Josef Houska (codinome: Houska)

19xx: Chefe da Admintração Provincial do MV em Bratislava
1961-1968: Chefe do Primeiro Departamento do Serviço de Inteligência
1968-1980 Diretor de diversos departamentos do MV

Links:

Uruguai – Novas descobertas
https://stbnobrasil.com/pt/uruguai-novas-descobertas

O serviço de inteligência técnico-científico tchecoslovacohttps://stbnobrasil.com/pt/o-servico-de-inteligencia-tecnico-cientifico-tchecoslovaco

Frantisek Vacula (codinome: Jezerký)

1955: Contratado pela StB
1957:1962: Membro da rezidentura do Brasil
1967-1970: Membro da rezidentura do Uruguai
1970-1977: Membro da Seção da América Latina

Vladimír Knop (codinome: Kavan)

1957: Membro da KSC
1960-1961: Especialista Comercial da PZO Pragoexport, em Havana
1962: Contratado pela StB
1967-1971: Membro da rezindetura do Rio de Janeiro
1971-1974: Membro da rezindetura da Venezuela
1974-1984: Trabalhou em Moscou até a posição de Chefe Suplente da Seção 52

Jaroslav Miller (codinome Miller)

1945: Membro da KSC
1948: Trabalhou na MV
1953-1961: Chefe do Primeiro Departamento da StB
1961: Rebaixado pelo uso de métodos ilegais de trabalho

Links:

A instalação da rezidentura uruguaia
https://stbnobrasil.com/pt/instalacao-da-rezidentura-uruguaia

Josef Mejstrík (codinome: Moldán)

1945: Membro da KSC
1952: Contratado pela StB
1954-1958: Membro da rezindetura do Rio de Janeiro
1960-1962: Membro da embaixada em Quito
1962-1966: Membro da rezindetura em Brasília
1968: Membro da rezindetura de Buenos Aires
1971: Embaixador Tcheco em Lima

Links:

Rubens Paiva, um esquerdista radical nos documentos da StB
https://stbnobrasil.com/pt/rubens-paiva-um-esquerdista-radical-nos-documentos-da-stb

América Latina – panorama geral (ano 1963)

Miroslav Nemecek (codinome: Nepomucký)

1953: Membro da KSC
1956: Membro da embaixada no Rio de Janeiro
1960: Contratado pela StB
1960-1962: Membro da rezidentura do Rio de Janeiro
1962-1969: Trabalohu na Central na Seção da América Latina

Ludvík Neckar (codinome: Nesvadba)

1947: Membro da KSC
1955: Contratado pelo StB
1955-1958: Trabalhou na Seção Americana
1958-1962: Membro da rezindetura do Brasil
1964-1966: Trabalohu na Central de Praga na Seção 8 (Operações Ativas e Desinformação)
1966-1967: Chefe Suplente da Seção 1 (Americana)
1968: Membro da rezindetura de Santiago

Zdenek Kvita (codinome: Peterka)

1953: Contratado pela StB
1954: Trabalhou na Seção da América Latina
1956-1960: Membro da rezindetura do México
1960-1961: Membro da rezindetura de Cuba
1962-1964: Membro da rezindetura do Rio de Janeiro
1965: Suplente na rezindetura em Cuba e depois trabalhou na Central na Seção da América Latina
1970: Trabalohu na Central na Seção Afro-Asiática

Links:

Raúl Castro, os arquivos da StB e o serviço secreto cubano

América Latina – panorama geral (ano 1963)

Zdenek Propilek (codinome: Pomezný)

1950: Funcionário do MV
1952: Membro da KSC
1959: Contratado pela StB
1961-1962: Membro da rezidentura do Brasil
1964-1968: Membro da rezidentura do Brasil
1970: Membro da rezidentura de Santiago
1973-1975: Membro da rezidentura de Lima
1975-1979: Trabalhou an Central na Seçao 52 (América Latina)
1979: Chefe Suplente da Seção 26 (Contra-espionagem no Exterior)

Links:

Tarefas do rastreador na rezidentura Rio de Janeiro
https://stbnobrasil.com/pt/tarefas-rastreador-na-rezidentura-rio-de-janeiro

Jan Stehno (codinome: Skorepa)

1951: Membro da KSC
1955-1958: Membro da rezindetura da Argentina
1962-1965: Membro da rezindetura do Brasil
1965-1966: Chefe Suplente da Seção I (Americana)
1972: Membro da rezidentura de Bruxelas
1986: Chefe Suplente do Primeiro Departamento

Links:

Josué Guimarães, novas informações sobre escritor e jornalista brasileiro
https://stbnobrasil.com/pt/josue-guimaraes-novas-informacoes-sobre-escritor-e-jornalista-brasileiro

América Latina – panorama geral (ano 1963)

Josef Tománek (codinome: Tacner)

1957: Membro da KSC
1960: Contratado pela StB
1960-1964: Trabalhou na empresa STROJEXPORT
1964-1968: Membro da rezidentura do Brasil como funcionário do Ministério de Comércio Exterior
1971-1977: Membro da rezidentura de Paris
1977-1979: Trabalhou na Central na Seção 42 (Europa Ocidental e OTAN)

Jirí Kadlec (codinome: Treml)

1945: Membro da KSC
1950: Membro do MV
1951: Contratado pela StB
1952: Fundou a rezidentura do Rio de Janeiro
1952-1955: Membro da rezidentura do Rio de Janeiro
1955-1978: Membro de outras 6 rezindeturas
1978-1982: Membro da rezidentura de Madrid

Links:

O agente Alegre com um triste fim
https://stbnobrasil.com/pt/o-agente-alegre-com-um-triste-fim

Serviço secreto soviético considerou “causar guerra civil no Brasil” em 1961
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/04/politica/1528124118_758636.html

HONZA, TREMLhttps://web.archive.org/web/20170107213346/http://cepol24.pl/stb/res_treml.html

Zdenek Vrána (codinome: Velebil)

1953: Membro da KSC
1955: Contratado pela StB
1958: Membro da rezindetura de Nova Iorque
1961: Trabalhou na Central na Seção Cube e o Caribe
1961-1964: Membro da rezidentura de Cuba

Links:

Um agrado para Che Guevara
https://stbnobrasil.com/pt/um-agrado-para-che-guevara

quinta-feira, 28 de junho de 2018

A Conversão da Khaddafi: Pode um pau nascido torto se endireitar?

A Conversão da Khaddafi: Pode um pau nascido torto se endireitar?
por Ion Mihai Pacepa em 29/12/2003

Arquivo recuperado do artigo original em:
https://web.archive.org/web/20140220134329/http://old.nationalreview.com/comment/pacepa200312290001.asp

Como chefe da inteligência estrangeira da Romênia, trabalhei muito próximo ao Muammar Khaddafi, da Líbia, antes de deserdar para o Ocidente em 1978. Era eu o encarregado por Khadaffi e quem aparelhou os seus programas de armas que, ele, agora tão avidamente revela para a ONU. Em 1972, Moscou decidiu mobilizar três governos esquerdistas Árabes - Líbia, Iraque e Síria - e grupos terroristas como a “Organização para a Libertação da Palestina” (OLP, ou PLO em inglês), contra o nosso inimigo em comum, “o imperialismo-zionista Americano”.

Yuri Andropov, o então chefe da KGB, delegou a Líbia para a Romênia. Nós, na Romênia, já tínhamos ótimas conexões com Khaddafi. Tanto ele como Kim Il Sung da Coreia do Norte há tempos utilizam especialistas Romenos em armas químicas, assim como uma tecnologia nossa (Romena) de bombas radioativas tão pequenas quanto maletas.

O Iraque é o bebê de Moscou. Já a Síria, Andropov me disse, era a próxima da lista, onde o presidente Hafez, irmão do Assad já era um dos nossos, muito-bem-pagos agentes.

Khaddafi, na minha opinião, não é um homem de honra. Muito pelo contrário, ele morre de medo de morrer. Ele não se vislumbra com o destino do Saddam Hussein. Tiranos são sempre paranoicos, por motivos óbvios. Nicolae Ceaușescu, ditador da Romênia, por exemplo, nunca comia nada até que alguém se certificasse que não havia veneno. Khaddafi deve calcular que a sua melhor chance de manter a sua fortuna e a sua posição é costurar acordos que tirem a Líbia das listas dos governos mais trapaceiros do mundo. A sua estratégia deve ser exatamente a mesma dos soberanos da China, alguns anos após a morte do Mao Tse-Tung, que humoristicamente anunciaram ao Ocidente que mudariam, porém mantendo tudo exatamente igual.

Conciliações nunca funcionam com estes tipos de pessoas. Porém o medo algumas vezes sim.

O presidente Bill Clinton, uma vez, tentou apaziguar a situação com Yasser Arafat forçando-o a cooperar. O convidou à Casa Branca e o tratou como um Chefe de Estado. O resultado? O terrorismo na Palestina apenas cresceu. Já o presidente Jimmy Carter bajulava ilimitadamente o meu antigo chefe, Nicolae Ceausescu, saudando o tirano como “um grande estadista e um líder internacional”. Ceausescu considerou esta bajulação como um certificado para continuar o seu ataques terroristas. Pouco tempo depois, ele contratou Carlos, o Chacal, para explodir o escritório da rádio “Europa Livre” em Munique.

Meu último encontro com Khaddafi foi em 1978, quando voei para Trípoli, capital da Líbia, para perguntá-lo se ele se interessava em financiar a transformação de brucelose numa arma biológica, um vírus mortal que possuía o codinome "Brutus". Sendo extremamente rica em petróleo, a Líbia possuía, mais do que suficiente, reservas internacionais para pesquisa científica militar. Sempre se escondendo, Khaddafi já estava três dias atrasados para o nosso encontro. “O seguro morreu de velho”, o seu espião chefe me disse. Manobras paranoicas era o padrão operacional do Khaddafi. Em 1999, ele manteve Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU, aguardando por horas.

“Nossa união é a nossa força”, Khaddafi disse, quando finalmente o encontrei na sua tenda verde. “E, por favor, sem segredos entre nós”, ele adicionou num tom de ameaça. Como era o usual, ele estava sentado em seu trono dourado, com seu queixo dentro de uma das mãos. Assim como todos os tiranos, Khaddafi era um covarde que tentava compensar isto agindo como um monarca. Ele concordou em financiar "Brutus" sob a condição que a produção seria compartilhada igualmente, depois me encaminhou ao seu pessoal para os detalhes técnicos.

Encontrei com ele uma vez mais nesta viagem, novamente sentado em eu trono dourado, porém agora em outra tenda. Khaddafi me deu uma mensagem que deveria ser entregue ao Ceausescu - o que ele realmente queria era desenvolver armas nucleares usando as grandes reservas de Urânio no norte da Romênia, particularmente ele queria uma arma radioativa portátil, que pudesse ser carregada. Dinheiro não seria problema, ele me disse.

Eu recomendo que o Ocidente não se vanglorie tão rapidamente da aparente desistência do pau torto Líbio. Precisamos manter os olhos bem abertos em Khaddafi. Eu sei que ele é um mentiroso e um mestre em embromações. Todos os ditadores possuem estas habilidades. Khaddafi vem, ao mesmo tempo, fomentando e renunciando o terrorismo por mais de 20 anos. Logo após a minha deserção, ele anunciou, com fanfarra, a destruição do complexo químico na Romênia chamado Rabta, que por acaso ele mesmo ajudou a construir. Claro, como eu mesmo já havia comprometido as instalações, este ato não foi um ato tão nobre quanto ele tentou fazer parecer. Mais tarde, descobrimos que na verdade ele apenas forjou o incêndio em Rabta, com queimaduras forjadas e queimando pneus de caminhões para criar todo aquele fumaceiro. Enquanto isso ele construia uma segunda fábrica de armas químicas, agora a mais de 30 metros de profundidade, debaixo da montanha Tarhunah, no sul de Trípoli. Em 1992, a CIA estimou que a Líbia tinha produzido 100 toneladas de armas químicas, parte delas usada para construção de bomba aéreas.

Em abril de 1986, eu mesmo ajudei o governo dos Estados Unidos a se vingar do bombardeio da discoteca La Belle em Berlim, comandado por Khaddafi, que acabou com a morte de dois soldados americanos e mais de 200 pessoas feridas. No dia 15 de abril de 1986, aviões Americanos atacaram duas cidades Libanesas: Trípoli e Benghazi, destruindo as tendas do líder libanês Muammar Khaddafi. Segundo relatórios dos jornais, Khaddafi fugiu alguns minutos antes dos ataques.

Depois disso, um "novo" Khaddafi proclamou que ele tinha parado com operações terroristas contra os Estados Unidos. Porém dois anos depois, a Líbia era novamente o cérebro por detrás dos bombardeios do voo PanAm 103 sobre Lockerbie na Escócia, matando todos os 259 passageiros e mais 11 pessoas quando o avião atingiu o chão, o maior ato de terrorismo contra os Estados Unidos até aquela época.

Após Lockerbie, novamente um “novo, novo” Khaddafi apareceu ao mundo. Chamando os ataques terroristas de 11 de Setembro contra os Estados Unidos de “horrorosos”, ele disse que os Estados Unidos tinham todo o direito do mundo de perseguir os terroristas. “Antigamente, eles nos chamavas de trapaceiros”, disse Khaddafi num discurso nacional para a rede de televisão na Líbia. “Eles estavam corretos em nos acusar disso. Porém isto tudo é passado. Nosso comportamento foi revolucionado.”

Tudo isso é passado, ele disse, e agora ele se opõe aos insurgentes islâmicos como a Al Qaeda.

Por debaixo dos panos, porém, Khaddafi ainda me parece ser o mesmo bom e velho patrocinador do terrorismo. Segundo revelações da semana passada, ele continua até hoje a construir, discretamente, um dos maiores estoques de armas químicas do Oriente Médio. Ele, recentemente, adquiriu centrífugas para enriquecer Urânio. Além de ter comprado tecnologia balística da Coreia do Norte.

Visitas preliminares dos Estados Unidos e do Reino Unido a algumas dezenas de instalações para produção de armas nucleares na Líbia indicaram que eles são muito mais avançados do que se acreditava.

É muito bom que Khaddafi, mais uma vez, disse que ele escolheu “por livre e espontânea vontade” desmontar suas armas de destruição em massa. Eu torço para que isso se torne um modelo e que outros ditadores façam o mesmo - e evitem o destino do Saddam Hussein e, tenho a certeza absoluta, que aquela foto dele, passando a imagem de totalmente submisso e derrotado, dá um frio na espinha de todos estes ditadores. Porém devemos nos lembrar que Khaddafi é um charlatão e que contêm ainda algumas cartas escondidas na manga.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Capítulo 5 totalmente traduzido

Demorou mas o Capítulo 5 está totalmente traduzido.

Por favor, avisem-me caso encontrem qualquer erro de tradução ou de português.

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