Ladislav Bittman
Capítulo
1
página
8
[...]
Em
fevereiro de 1965, o serviço secreto me enviou a vários países da América
latina, incluindo o Brasil e a Argentina, para fazer uma avaliação pessoal do
clima político e para procurar novas ideias operacionais. Naquela época, a
inteligência da Checoslováquia já possuía vários jornalistas a sua disposição
na América Latina. Eles influenciavam diversos jornais, tanto de maneira
ideológica, como de maneira financeira no México e no Uruguai e, até mesmo, era
dono de um jornal político no Brasil até abril de 1964. Porém, a desinformação
era tradicionalmente associada em larga escala as técnicas de falsificação.
A
operação Thoman Mann estava muito próxima do seu fim quando cheguei ao Brasil.
O objetivo da minha operação era provar que a política exterior dos EUA na
América Latina passou por uma fundamental reavaliação e transformação desde a
morte do presidente John F. Kennedy. Nós queríamos destacar que a política dos
EUA era uma de exploração e interferência nas condições internas dos países
Latinos Americanos. De acordo com esta teoria que forjamos, o Secretário de
Estado Thoman A. Mann era o autor e o diretor desta nova política. Nós
queríamos dar a impressão que os EUA estavam impondo uma pressão econômica
injusta na América Latina com políticas que eram desfavoráveis para
investimentos do capital privado dos EUA. Nós também queríamos criar a
impressão que os EUA estavam empurrando a Organização dos Estados Americanos
(OAS) para uma atividade mais anticomunista enquanto a CIA estava planejando
golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba. A operação
foi desenvolvida para alertar o público da América Latina contra a nova linha
dura da política dos EUA, para incitar mais intensamente as revoltas
antiamericanas e para deixar a impressão que a CIA era um notório gerador de
intrigas antidemocráticas.
A
operação se baseou em canais anônimos para disseminar uma série de
falsificações. A primeira falsificação, uma nota pública da Agência de
Informação dos EUA (USIA), totalmente falsa, foi lançada no Rio de Janeiro e
continha os princípios fundamentais da "nova política externa dos
EUA". A segunda falsificação foi uma série de circulares publicadas
nominalmente por uma organização totalmente inventada chamada "Comitê para
a Luta Contra o Imperialismo Americano". O propósito declarado desta
organização, que não existia realmente, era alertar o público da América Latina
sobre a existência de centenas de agentes da CIA, DoD e do FBI que estavam
disfarçados como diplomatas. A terceira falsificação foi uma carta,
alegadamente escrita pelo J. Edgar Hoover, diretor da FBI, para Thoman A.
Brady, um funcionário da FBI. A carta parabenizava o FBI e a CIA pela execução
com sucesso do golpe no Brasil em abril de 1964.
A
nota forjada foi mimeografada, no Rio de Janeiro, e distribuída por volta de
fevereiro de 1964 num envelope falso, simulando um envelope da USIA e enviado
para alguns jornais e políticos brasileiros previamente selecionados. Uma carta
foi anexada e era alegadamente de um funcionário da USIA dizendo que o chefe da
missão, que era dos EUA, tinha dado sumiço a este documento por que ele
continha muitas informações perigosas. Ele revelava que conseguiu reter várias
cópias e que estava liberando para a imprensa por que ele estava convencido que
o público deveria conhecer a verdade. Ou seja, o escritor anônimo dizia que ele
não podia declarar seu verdadeiro nome por que corria o risco de perder o
emprego.
No
dia 27 de fevereiro de 1964, esta falsificação apareceu no jornal Brasileiro
"O Semanário" com a seguinte chamada "Mann começa linha dura nos
EUA: Nós não somos sacoleiros para sermos comprados" e um ataque
antiamericano acompanhou o texto da nota pública totalmente falsa. Vários dias
depois, em 2 de março de 1964, Guerreiro Ramos, um membro do Partido
Trabalhista do Brasil da época, durante um discursou, comentou da nova política
atribuída ao Thoman Mann e conclui que os EUA tinham, obviamente, retornado a
linha dura do John Foster Dulles após a morte do presidente John F. Keneddy.
(Ele depois reconheceu o seu erro e explicou que as declarações atribuídas ao
Thoman Mann foram baseadas num documento falso). Numa declaração publicada em 3
de março, o embaixador dos EUA do Rio de Janeiro respondeu a várias pessoas do
governo do Brasil que Mann nunca propôs tal políticas e que a embaixada nunca
emitiu aquelas notas.
[...]
Em
julho de 1964, o público da América Latina recebeu uma "prova"
adicional das atividades subversivas dos EUA na forma de duas cartas forjadas
assinadas pelo J. Edgar Hoover. Ambas foram endereçadas para Thomas Brady, um
funcionário do FBI. A primeira, datada de 2 de janeiro de 1961, foi uma
mensagem parabenizando, na ocasião, o seu vigésimo aniversário de serviço para
o FBI. A intenção desta carta era dar mais credibilidade a uma segunda carta,
datada de 15 de abril de 1964, para a mesma pessoa:
Querido Mr. Brady: Eu gostaria de aproveitar este meio para expressas meus sentimentos para cada um dos agentes alocados no Brasil pelos serviços tão bem prestados no "Grande Reparo". A admiração que tenho pela maneira tão dinâmica e eficiente em que esta operação de larga escala foi administrada, numa terra estrangeira e sob condições tão severas, me faz parabenizá-los. O pessoal da CIA fez a sua parte muito bem e conseguiu um grande acordo. Porém, os esforços de nossos agentes foram especialmente valiosos. Eu estou particularmente satisfeito que a nossa participação neste caso permaneceu secreta e que a Administração não precisou dar nenhuma negativa pública. Nós podemos nos orgulhar da parte vital que o FBI está fazendo em proteger a segurança da nossa Nação, até mesmo além das nossas fronteiras. Estou totalmente ciente que nossos agentes fazem diversos sacrifícios pessoais enquanto estão cumprindo suas missões. As moradias no Brasil não são as melhores, mas é encorajador ver a lealdade e a tua contribuição é uma vital, até mesmo glamorosa, para o serviço do teu país. É este o espirito que hoje habilita o Gabinete a gerenciar tão bem todas as suas grandes responsabilidades.
Como
o texto deixa claro, a intenção da falsificação era provar que houve
envolvimento direto dos EUA na retirada do João Goulart do governo Brasileiro.
O serviço da Checoslováquia preferia realmente ter posto toda a culpa na CIA,
mas a razão para incluir o FBI na conspiração dos EUA é até engraçada - o
serviço não possuía nenhum papel de carta da CIA na época. A
falsificação e uma das circulares mencionadas anteriormente apareceu no jornal
Argentino "Propositos" em 23 de julho. Foi seguido por uma reação em
cadeia nos jornais da América Latina por conta dos jornalistas que começaram a
espalhar "a nova onda de atividade subversiva dos EUA".
Jornais
onde está carta falsa gerou notícia:
Ultima
Hora, Santiago, 24 de Julho de 1964
Vistazo,
Santiago, 27 de Julho de 1964
El
Siglo, santiago, 28 de Julho de 1964
El
Popular, Montevidéu, 28 de Julho de 1964
Prensa
Latina, Montevidéu, 28 de Julho de 1964
Marcha,
Montevidéu, 31 de Julho de 1964
Epoca,
Montevidéu, 1 de Agosto de 1964
Combate,
Santiago, 1 de Agosto de 1964
El
Siglo, Santiago, 2, 4 e 6 de Agosto de 1964
El
dia, Cidade do México, 17 e 20 de Janeiro de 1965
La
Gacota, Bogotá, em Março e Abril de 1965
e
provavelmente muitos outros