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Red Cocaine - Capítulo 2 - Os Soviéticos decidem competir
Quando a China começou a travar a guerra com
drogas e narcóticos no final da década de 1940, sua estratégia foi rapidamente
identificada. Vários carregamentos de drogas foram apreendidos e vários dados
foram coletados que identificaram as fontes como a República Popular da China,
junto com suas rotas de tráfico, técnicas e eventualmente até as principais
organizações por trás da produção e distribuição. No caso da União Soviética, dados
sobre a operação não ficaram imediatamente disponíveis, talvez provando o
cuidado dos soviéticos com a segurança e técnicas de cobertura antes mesmo da
ofensiva de Moscou ser lançada. Como será visto, a ofensiva Soviética foi
desenvolvida para ser bem mais abrangente que a operação chinesa, e assim que operando,
foi intensificada anualmente.
Enquanto a dúbia fama de iniciar uma guerra
política em larga escala utilizando drogas vai para o Chineses, foram os
Soviéticos quem transformaram o tráfico em efetiva arma política e de
inteligência – realização que não levantou praticamente nenhuma desconfiança no
Ocidente do envolvimento Soviético. Apenas em 1968 uma fonte apareceu no
Ocidente que possuía conhecimento detalhado sobre a ofensiva Soviética com as
drogas. A história a seguir é a primeira revelação detalhada do conhecimento
desta fonte sobre a guerra das drogas dos Soviéticos.
A fonte em questão é Jan Sejna, que desertou da
Checoslováquia para os Estados Unidos em fevereiro de 1968. O Major General Sejna
foi um membro do Comitê Central, da Assembleia Nacional, do Politburo e do Partido.
Ele também foi um membro da Principal Administração Política, da sua mesa
política e membro dos Departamentos Administrativos dos Órgãos. Ele foi
Primeiro Secretário do Partido no Ministério da Defesa, onde foi Chefe do
Departamento e membro do Colegiado do Ministério. Sua principal posição foi
Secretário do poderoso Conselho de Defesa, que é quem toma as decisões em
matéria de defesa, inteligência, política exterior e política econômica. Sejna
foi um dos principais tomadores de decisões oficiais do Partido. Ele tinha
reuniões regulares com os mais altos oficiais na União Soviética e dos países
Comunistas. Ele esteva presente no
início, no planejamento e na aplicação das operações de tráfico de narcóticos dos
Soviéticos.
A ideia Soviética de usar o tráfico de drogas e
narcóticos como uma operação estratégica, Sejna explicou, surgiu durante a
Guerra das Coreias. Durante este conflito, os chineses e os norte-coreanos
usaram drogas contra as forças militares americanas tanto para minar a
eficiência dos oficiais e dos soldados como para lucrar com o processo. Os soviéticos
estavam também ajudando os norte-coreanos na guerra, embora em meios não tão
óbvios como os chineses.
A guerra propiciou aos soviéticos a oportunidade
de estudar a eficiência das forças americanas e seus equipamentos, com a ajuda
da inteligência da Checoslováquia. Como parte dessa missão de inteligência, a Checoslováquia
construiu um hospital na Coreia do Norte. Ostensivamente criado para tratamento
das casualidades da guerra, era na realidade uma instalação para pesquisa, onde
doutores checos, soviéticos e norte-coreanos faziam experimentos em prisioneiros
de guerra americanos e sul-coreanos. O oficial checo encarregado das principais
operações na Coreia do Norte foi o Coronel Rudolf Bobka da Zpravdajska Sprava (Zs),
o General-Coronel Professor Doutor Dufek da Administração da Inteligência
Militar da Checoslováquia, um especialista em coração, era o encarregado pelo
hospital. Seja soube do hospital e de suas atividades diretamente pelo Coronel
Bobka, através de vários relatórios e de reuniões que sumarizavam os resultados
dos experimentos e usava os resultados em estudos do potencial estratégico
militar do tráfico de drogas.
Os experimentos eram justificados como
preparativos para a próxima guerra. Prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos
eram usados como cobaias em: experimentos de guerra química e biológica; em
testes de resistência fisiológicos e psicológicos; e em testes da eficácia de
várias drogas para controle mental, que eram utilizadas para fazerem os americanos
renunciarem a América e falar em benefício do sistema comunista.
Para entender melhor os efeitos biológicos e
químicos nos soldados americanos e sul-coreanos, autópsias foram realizadas em
cadáveres capturados e nos prisioneiros de guerra que não sobreviveram a
diversos experimentos. Durante esta atividade, os doutores soviéticos
determinaram que um altíssimo percentual de jovens soldados sofreu prejuízos cardiovasculares,
que eles referiam como “pequenos ataques cardíacos”.
O serviço de inteligência soviético ao mesmo
tempo em que estava estudando a operação chinesa de tráfico de drogas declarou
que os jovens soldados americanos eram o grupo mais propício ao uso de drogas
pesadas. Os doutores soviéticos perceberam a correlação e criaram a hipótese
que um dos fatores que provavelmente contribuiu para as doenças do coração foi
o abuso de drogas.
Notícias do efeito debilitante das drogas chamaram
a atenção do líder Soviético, Nikita Khrushchev. O tráfico de drogas e de
narcóticos, ele imaginou, deveria ser visto como uma operação estratégica para
enfraquecer o inimigo, ao invés de meramente como uma ferramenta financeira e
de inteligência. Assim, ele ordenou uma operação conjunta dos civis com os
militares. Um estudo soviético e checo para examinar o efeito total do tráfico
de drogas e narcóticos na sociedade Ocidental; incluindo seus efeitos no
trabalho, na educação, nos militares (o principal alvo na época) e seu uso como
apoio as medidas de inteligência soviética. Esse estudo não foi abordado nem
como uma questão tática nem como uma simples oportunidade que pode ser
explorada. O potencial dos narcóticos foi examinado em um contexto de uma
estratégia de longo-prazo. Custo e risco, benefícios e retornos, integração e
coordenação com as operações foram examinadas. Até mesmo o efeito das drogas em
várias gerações foi analisado pelos cientistas da Academia de Ciências
Soviética.
As conclusões do estudo foram: o tráfico seria
extremamente eficiente; os alvos mais vulneráveis eram os Estados Unidos, a França
e a Alemanha Ocidental; e que os soviéticos deveriam capitalizar com esta
oportunidade. Esse estudo foi aprovado pelo Conselho de Defesa Soviético no
final de 1955 e início de 1956. A principal orientação do Conselho de Defesa na
aprovação da ação foi direcionar os planejadores para acelerar o calendário de
eventos, que foi possível, pois certa experiência com narcóticos já existia no
serviço de inteligência soviético, mas que era desconhecido para as pessoas que
prepararam o estudo. Esse plano foi formalmente aprovado quando os soviéticos
decidiram começar a traficar narcóticos contra os chamados burgueses,
especialmente contra os “capitalistas americanos” – o “principal inimigo”.
Além disso, o estudo apareceu na época mais
propícia para os comunistas porque, simultaneamente, os soviéticos sob o
comando de Khruschev estavam trabalhando para modernizar o movimento
revolucionário mundial. Khruschev acreditava que o crescimento tinha estagnado
sob Stalin e ele queria um rejuvenescimento que iria tirar vantagem das novas
condições globais.
A estratégia soviética da guerra revolucionária
é uma estratégia global. A estratégia soviética dos narcóticos é apenas uma parte
desta estratégia global e é mais bem compreendida neste contexto. Normalmente
se acha que o alvo principal desta atividade é o terceiro mundo, porém este não
é o caso. Tanto as estratégias como as táticas soviéticas foram desenvolvidas
para o mundo inteiro, onde os principais setores eram as nações desenvolvidas e
o principal alvo, os Estados Unidos.
A nova estratégia revolucionária tomou forma
entre os anos de 1954 e 1956. Como detalhado por Sejna, existiam 5 principais
frentes da estratégia modernizada. Primeiro foi um treinamento melhorado dos
líderes dos movimentos revolucionários – os civis, os militares e os de
inteligência. A fundação da Universidade de Patrice Lumumba em Moscou é um
exemplo de uma das primeiras medidas para modernizar o treinamento dos líderes
revolucionários soviéticos.
O segundo passo foi o treinamento dos
terroristas. O treinamento para uma rede internacional de terroristas começou,
na verdade, por trás do slogan “Luta por Liberação”, dentro da estratégia de
descolonização do Comintern. O termo “liberação nacional” foi criado para substituir
o movimento de guerra revolucionária por duas fachadas: uma para prover uma
capa de nacionalismo para o que era uma basicamente uma operação de
inteligência soviética; e outra para prover um nome que era semanticamente
separado do movimento revolucionário comunista.
O terceiro passo foi o tráfico internacional de
drogas e narcóticos. Drogas foram incorporadas a estratégia para travar a
guerra revolucionária tanto como uma arma política e de inteligência contra a “sociedade
burguesa”, tanto como um mecanismo para recrutar agentes de influência por todo
o mundo.
O quarto passo foi infiltrar as organizações
criminosas e, mais tarde, estabelecer os Blocos Soviéticos que eram patrocinados
e formados por redes dessas organizações criminosas por todo o mundo.
O quinto passo era planejar e preparar a sabotagem
em escala mundial. A rede para essa atividade foi montada em 1972.
Por causa da proximidade do crime organizado e
dos traficantes, a entrada dos soviéticos no crime organizado merece uma
atenção especial. As decisões de Moscou para o crime organizado foram feitas em
1955. Essa foi também uma operação global apontada para todos os países, não
somente os Estados Unidos, apesar de que o crime organizado nos Estados Unidos,
além da França, Inglaterra, Alemanha e Itália foram os principais alvos.
A principal razão para infiltrar o crime
organizado foi porque os soviéticos acreditavam que informação de alta
qualidade – informação sobre corrupção policial, dinheiro e negócios, relações
internacionais, tráfico de drogas e contra inteligência – seria facilmente
encontrado no crime organizado. Os soviéticos perceberam que se eles
infiltrassem com sucesso o crime organizado, teriam acesso a uma promissora
maneira de controlar muitos políticos e teriam acesso as melhores informações
sobre drogas, dinheiro, armas e diversas categorias de corrupção. Um motivo
secundário foi utilizar o crime organizado como uma cobertura para a
distribuição das drogas.
No caso do tráfico de drogas, os soviéticos formaram
grupos de estudo para analisar o crime organizado: identificar os principais
criminosos, desenvolver estratégias e táticas para infiltrar nesses grupos,
identificar quais pessoas poderiam ser usadas para promover essa infiltração e
para examinar a possibilidade da utilização de novas frentes criminosas. Na Checoslováquia,
esses estudos duraram seis meses e foram levados a sério; eram operações
envolvendo os principais oficiais da inteligência, da contra inteligência militar
e civil e órgãos administrativos do Comitê Central.
O primeiro plano foi posto em prática em 1956.
Foi dada a Checoslováquia as direções das operações que deveriam ser empreendidas
como parte do plano de inteligência, que foi revisto e aprovado no final do
outono deste ano. O plano instruía o serviço de inteligência estratégica da Checoslováquia
para infiltrar dezessete grupos do crime organizado, assim como a máfia na
França, Itália, Áustria, América Latina e Alemanha. O partido comunista
Italiano foi bastante usado no processo de infiltração. Vinte por cento dos
policiais italianos foram membros do Partido Comunista naquela época. Esses
membros ajudaram os agentes do bloco soviético a infiltrar a Máfia. Criminosos
de guerra, por exemplo alguns alemães, foram coagidos a ajudar os agentes do
Bloco Soviético nesse processo, especialmente na América Latina.
A operação Checoslováquia foi bastante bem
sucedida e custou uma pechincha. A atividade do crime organizado se desenvolveu
em torno da chantagem e da coleta de informação; era uma operação com dois
lados. Uma vez infiltrados, os agentes permaneciam por um bom tempo passivos;
eles apenas coletavam informações. Então, no momento mais oportuno, essas
informações seriam vazadas por motivos políticos – por exemplo, para provocar
mudanças revolucionárias, ou para criar uma situação que poderia ser aproveitada
pelos Socialdemocratas. Por isso a operação foi organizada dentro da unidade de
inteligência estratégica: ela era usada para vantagens estratégicas.
Narcóticos, terrorismo e o crime organizado
foram coordenados e usados em conjunto de uma maneira complementar. Drogas eram
usadas para destruir a sociedade. Terrorismo era usado para desestabilizar o
país e preparar o movimento revolucionário. Crime organizado era utilizado para
controlar a elite. Todas essas três linhas eram operações estratégicas de longo
prazo e todas as três foram incorporadas no plano Soviético de 1956.
Porém, antes que o tráfico de narcóticos
pudesse ser operado, diversas medidas preparatórias eram requeridas. As duas
mais importantes eram o desenvolvimento de uma estratégia para a propaganda de disfarce
do tráfico de drogas e dos narcóticos e o treinamento das equipes de
inteligência. Os soviéticos queriam esconder suas operações dos chineses e em especial
do Ocidente, para evitar conflito com a corrente da “coexistência pacífica” do
Ocidente e a União Soviética. Como a estratégia dos narcóticos era nova, era
preciso a aquisição e o treinamento das habilidades de inteligência. Esse
treinamento envolveu, não apenas os soviéticos, como também os agentes de inteligência
do Leste Europeu.
Além disso, durante o fim da década de 1950, um
programa de pesquisa foi realizado para obter dados quantitativos sobre os
efeitos reais das diferentes drogas em soldados, o que envolveu a utilização de
soldados soviéticos como cobaias. Como parte desta pesquisa, um programa de
espionagem foi iniciado para penetrar os centros médicos e relacionados do
Ocidente, especialmente os de natureza militar, para determinar o quanto o
Ocidente conhecia dos efeitos de drogas nas pessoas – particularmente os efeitos
de uso militar.
Em paralelo, os serviços de inteligência
soviéticos foram direcionados a descobrir o quanto os serviços de inteligência
do Ocidente conheciam o tráfico de drogas e em quais grupos eles haviam agentes
infiltrados. Uma das mais importantes questões tratadas nesse estudo foi a
capacidade dos serviços de inteligência do Ocidente de monitorar a produção e
distribuição das drogas. Muitos anos mais tarde, Sejna descobriu os resultados
desse estudo diretamente do Chefe Agente Geral da União Soviética, Marechal Matvey
v. Zakharov.
Zakharov disse que o serviço soviético concluiu
que a inteligência e a contra inteligência dos Estados Unidos era cega, o que
facilitava muito a operação soviética. As operações de inteligência dos Estados
Unidos, juntos dos britânicos, estavam todas concentrada no tráfico de
narcóticos vindos da Tailândia e de Hong Kong, onde existia tanta atividade com
drogas e corrupções associadas que nenhuma informação do tráfico soviético
poderia ser coletada. O “ruído” era simplesmente muito grande.
Durante os estudos, o uso de narcóticos e
drogas ganhou reconhecimento de uma arma especial na guerra química. Na Checoslováquia,
a pesquisa de drogas e narcóticos foi formalmente adicionada no planejamento
militar, como um braço da pesquisa sobre guerra química. Essa pesquisa incluía
testes dos efeitos das drogas em desempenho militar – por exemplo, no desempenho
de pilotos, estudo que foi realizado no Instituto de Saúde das Forças Aéreas.
Finalmente, o estudo básico sobre o impacto das
drogas foi expandido para melhorar a identificação sobre quais grupos seriam
alvos. Este estudo foi responsabilidade do Departamento de Políticas Exteriores
do Comitê Central da CFSU (Partido Comunista da União Soviética). Era, na
realidade, uma análise do cenário político e um estudo de técnicas de
propaganda.
Uma das últimas medidas que foram iniciadas
antes da operação entrar em prática foi o estabelecimento de centros de
treinamento para traficantes de drogas. No caso da Checoslováquia, esses centros
foram uma operação em parceria da União Soviética com a Checoslováquia. Existiam
tantos centros de treinamento de inteligência civil, que eram administrados
tanto por oficiais da KGB (Soviética) e oficiais Checos da Segunda
Administração do Ministério do Interior (a Segunda Administração da Checoslováquia
era a KGB da Checoslováquia); como centros de treinamento militar,
administrados pela GRU (Inteligência Militar Soviética) e seu correspondente
Tcheco, a Zs.
Esses
planos foram desenvolvidos em 1959, como o General Sejna recorda, e a revisão
do Conselho de Defesa dos planos e a decisão de patrociná-los, segundo as instruções
do Conselho de Defesa Soviético, aconteceu entre 1959 e 1960.
O centro de treinamento da Zs (inteligência
militar) ficava localizado em uma base em Petrzalka na Checoslováquia, no subúrbio
da Bratislava, situado perto da fronteira com a Áustria. O centro de
treinamento da Segunda Administração ficava localizada perto de Liberec, perto
da fronteira com a Alemanha Ocidental.
Cada curso
consistia de três meses de intensivo treinamento. Enquanto doutrinação
Marxista-Leninista existia, a ênfase era o tráfico de drogas. O curso incluía:
·
A
natureza do negócio das drogas, tipos e características;
·
Meios
de produção;
·
Organização
da distribuição;
·
Mercados
das drogas e seus consumidores;
·
Segurança;
·
Infiltração
nas redes de produção existentes;
·
Como
utilizar a experiência das redes de inteligência.
·
Comunicação
com as organizações crimosas de drogas;
·
Como
passar informação de inteligência; e,
·
Como
recrutar fontes de inteligência
Nos centros da Zs, dois diferentes grupos foram
escalados para o treinamento. O primeiro grupo foi recrutado pelos serviços de
inteligência militares e civis. Esse grupo foi estritamente para “criminosos“
comuns – os participantes não eram nem comunistas nem tinham motivações
ideológicas. “Criminosos” está entre aspas pois era isso que o curso visava
formar. Porém todos os participantes eram escolhidos a dedo para ter certeza
que todos possuíam fichas limpas; ou seja, todos eles não tinham antecedentes
criminosos ou passado corrupto que poderiam torná-los suscetíveis a chantagem
por outros partidos. Normalmente, eram filhos ou filhas de pessoas no poder.
Essas pessoas e o seu risco associado eram normalmente levantadas nas
discussões no Conselho de Defesa da Checoslováquia.
O segundo grupo eram pessoas recomendadas pelos
Primeiros Secretários dos diversos Partidos Comunistas ao redor do mundo. Esses
eram comunistas considerados leais a causa. Eles também eram severamente
espionados pelo serviço de contra inteligência antes de serem admitidos para o
curso. Seu treinamento era ligeiramente diferente, porque seu tráfico também
teria interesse político e porque operavam e se comunicavam por canais
especiais (o Partido ou o Serviço de Inteligência). Seu tráfico e treinamento
eram especialmente orientados para dar suporte ao Primeiro Secretário do
Partido Comunista local; por exemplo, comprometer os líderes da oposição.
Além disso, os instrutores Checos e os
Soviéticos normalmente proviam dois instrutores para cada curso que possuíam
experiência prática. Normalmente eram da América Latina ou outros que falavam
Espanhol de maneira fluente. Esses instrutores apresentavam seminários lidando
com problemas práticos e experiências reais.
Como indicado acima, esses cursos duravam em
torno de três meses, ou seja, quatro grupos por ano. O primeiro grupo a fazer o
curso da Zs na Checoslováquia foi pequeno – sete futuros traficantes, sendo
eles: quatro da América Latina, dois da Alemanha Ocidental e mais um sendo
Italiano ou Francês, como lembra o Sejna. Em 1964, o tamanho do grupo aumentou
para quatorze, e ao final da década de 60, vinte foi alcançado. Assim um total
de trinta estudantes foi treinado apenas no primeiro ano no centro da Zs na Checoslováquia
e por volta de 1968 já eram 80 formados.
O tamanho do centro da Segunda Administração
foi similar. Centros similares de treinamento também existiam na Bulgária,
Alemanha Oriental e na União Soviética. E por volta de 1962-1963, a Checoslováquia
foi orientada pela União Soviética para ajudar a Coreia do Norte, o Vietnam do
Norte e Cuba para estabelecer centros de treinamento. Imaginando que todos os
centros possuíam o tamanho mínimo e cada um operando perto de sua capacidade, e
que nenhum outro centro existia ou foi adicionado após a saída do Sejna, o
número de formados passou de 25.000.
Esses estudantes que prestaram o curso nos
centros da Checoslováquia foram principalmente da América Latina, Europa
Ocidental e partes do Oriente Médio, Canadá e Estados Unidos. O foco da Bulgária
era o Oriente Médio e o Sudeste da Ásia – Turquia, Afeganistão, Paquistão,
Líbano e Siria. Alemanha Oriental focava na Europa Ocidental e nos Países Escandinavos,
e todos os países do Oriente.
O curso era de graça, com todas as despesas
pagas. Os formados retornavam aos seus respectivos países e começavam a aplicar
suas novas habilidades. Algumas desenvolveram operações independentes e alguns
cooperavam com operações correntes. Os que desviaram e tentaram mudar de lado
eram mortos. Todos eles retornavam um percentual a União Soviética, que
repassava o dinheiro aos serviços de inteligência dos países satélites que
faziam os treinamentos. No caso da Checoslováquia, o repasse era de 30% do que
União Soviética recebia.
A formação
desses centros de treinamento completou a preparação para a estratégia das
drogas. Essas atividades – desenvolvimento estratégico, treinamento, pesquisa,
espionagem e análise de mercado – foram as principais atividades da primeira
ofensiva Soviética com as drogas no final da década de 1950. Onde existiam
operações de inteligência envolvendo tráfico real era apenas uma sondagem
inicial. O tráfico real, da perspectiva do Sejna, não começou até o ano de
1960, quando a propaganda estratégica começou, os agentes de inteligência
estratégicos foram treinados e as escolas de treinamento formaram inúmeros
traficantes de drogas.