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Red Cocaine - Capítulo 1 - A Ofensiva Chinesa das Drogas
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Red Cocaine - Capítulo 1 - A Ofensiva Chinesa das Drogas
Em 1928, Mao Tse-Tung, o líder comunista
Chinês, instruiu um dos seus subordinados de confiança, Tan Chen-Lin, para
começar a cultivar ópio em grande quantidade. Mao tinha dois objetivos: utilizar
o ópio como fonte de troca para suprimentos necessários e “drogar a região
branca” onde “branca” possui sentido ideológico, e não racista. Era assim que
Mao se referia à oposição não comunista. A estratégia do Mao era simples;
utilizar as drogas para “aliviar” a área almejada. Após esta região estar
capturada e sobre controle, proibir o uso de todos os narcóticos e impor
controle estrito para garantir que a papoila continuasse exclusivamente como um
instrumento do Estado contra seus inimigos.
Mais tarde,
Mao falaria do uso do ópio contra os imperialistas apenas como uma fase moderna
na guerra do ópio que começou no século XIX. “Ópio foi uma poderosa arma que
foi utilizada pelos imperialistas contra os Chineses e deve ser utilizada
contra eles na segunda Guerra do Ópio”. Foi assim que Mao explicou para Wang
Chen em uma palestra sobre seu plano para plantar ópio, “uma guerra química por
métodos primitivos”. Porém, o fato do ópio ter sido previamente utilizado
contra os Chineses foi apenas uma desculpa, não a verdadeira razão. Mao utilizou
o ópio como uma arma política, pela primeira vez, contra seu próprio povo, os
chineses, durante sua caminhada para estabelecer o regime comunista na China.
Seu uso do ópio expandiu simplesmente porque se demonstrou como uma arma
eficiente. Assim que Mao dominou o território da China em 1949, a produção do
ópio foi nacionalizada e o tráfico de narcóticos, contra os estados não
comunistas, se tornou a atividade formal do novo estado comunista, a República Popular
da China. A operação do tráfico Chinês se expandiu rapidamente. Os alvos
oficiais foram: Japão, os exércitos americanos no sudeste asiático e o território
americano. As principais organizações envolvidas no início da década de 50
foram o Ministério De Políticas Externas da China, o Ministério do Comércio e o
Serviço de Inteligência.
A Coréia do Norte também estava traficando
narcóticos cooperando com a China nesta época, e estava diretamente conectada
com o fluxo de drogas dentro do Japão e nas bases Americanas no sudeste
asiático.
Os problemas domésticos com narcóticos no Japão
ficaram sérios em 1946. A Divisão de Investigação Criminal das Forças Armadas
Americanas no Japão, junto das autoridades japonesas, começou a construir uma
rede por todo o Japão para determinar como as drogas estavam entrando no país.
Em 1951, os japoneses oficialmente identificaram os narcóticos que entravam
ilegalmente no país e as fontes do tráfico – eram os governos comunistas da
China e da Coréia do Norte. Este tráfico não era limitado ao ópio e a heroína,
mas também incluía o haxixe, a maconha, cocaína e perigosos estimulantes
sintéticos como o hiropon e os aminos butanos. Estes sintéticos são
especialmente perigosos e quando analisados são responsáveis por sérios
problemas de saúde que começaram a aparecer no Japão no início da década de
1950.
A experiência americana foi similar à japonesa.
Um novo tráfico foi identificado no final da década de 1940. “US Narcotics” e
agentes especializados se uniram para descobrir estas novas fontes e em 1951
começaram a descobrir grandes quantidades de heroína em grandes portos
americanos como Nova Iorque, São Francisco e Seattle. A heroína foi
diagnosticada como tendo sido fabricada na China e o tráfico gerenciado pelos
Chineses.
Sincronizado com o aumento do tráfico de narcóticos
chineses entre 1949 e 1952, a produção de ópio na China aumentou rapidamente e
atingiu o patamar de 2.000 a 3.000 toneladas por ano. Esta produção continuou neste
patamar entre 1958-1964, quando a produção aumento para incríveis 8.000
toneladas como parte do “Grande Passo Para Frente”. As datas destes aumentos
são cruciais. Como será discutido no capítulo 11, numa análise do uso de
narcóticos nos Estados Unidos, observa-se dois aumentos abruptos no consumo que
se destacam. O uso de narcóticos nos Estados Unidos veio caindo nas décadas de
1930 e 1940. Então começando em 1949-1952, ocorreu uma ascensão abrupta
simultaneamente com o lançamento da operação chinesa de tráfico. Após 1952, o
consumo de narcóticos decaiu. No final dos anos 50 e no início dos 60, veio o
segundo grande aumento. Este segundo aumento coincide precisamente com o
segundo momento da operação chinesa e com a entrada da União Soviética no
tráfico de narcóticos, como será descrito mais tarde. Esta correlação é um dos
indicativos que o aumento do tráfico e consumo de drogas dentro dos Estados
Unidos e pelo mundo afora não é um processo evolucional natural, ou um fenômeno
condicionado pela “demanda”. Ao
contrário, existem poderosas forças subversivas estimulando e expandindo o
consumo.
No caso do tráfico chinês, não existe dúvida
que foi uma política oficial do estado. Dados sobre o tráfico Chinês e Norte-Coreano
foi obtido pelo serviço de segurança internacional Japonês, Serviço de
Inteligência do Exército Americano e pelo “US Narcotics Bureau” operando com a ajuda
de agentes infiltrados e pelos informantes da CIA na China. Estes dados indicavam
claramente as fontes de produção, estabelecimentos para empacotamento, rede de
tráfico e até mesmo as organizações de gerência. Como será discutida mais
tarde, a operação Chinesa de narcóticos estava infiltrada e observada por
agentes soviéticos e tchecos, e estavam unidos aos comunistas da Coréia do
Norte, do Vietnã e do Japão.
A operação Chinesa dos narcóticos também foi
descrita por vários oficiais Chineses que mais tarde abandonaram a China e
conseguiram asilo político em outros países. Um destes que desertou no fim de
1950 descreveu uma reunião secreta os oficiais do estado em 1952, quando a
operação Chinesa foi reorganizada, e um plano de 20 anos de duração foi
adotado. Nesta reunião, foram tomadas decisões para regular a quantidade de
narcóticos, estabeleceram regulações para promoções, fizeram agendas
desenvolvidas para encorajar uma propaganda agressiva, despacharam
representantes de vendas, expandiram a pesquisa e produção e reorganizaram
responsabilidades de gerenciamento.
Esta
informação também é confirmada por dados coletadas pelos agentes de
Inteligência da União Soviética e Tchecos, como será discutido in maiores
detalhes pelos Capítulos 4 e 6.
A
organização por detrás da operação Chinesa dos narcóticos foi extensiva e envolveu
desde vários ministérios e agências estatais até os níveis mais locais. Estas
organizações supervisionaram a valorização das terras de produção (Ministério
da Agricultura); cultivo e pesquisa para produzir variedades melhores da
papoula (Ministro da Agricultura); desenvolvimento de opiáceos (Comitê para A
Revisão da Austeridade); controle de estoque e preparação para exportação (Ministro
do Comércio); gerenciamento das organizações de comercio exterior (Ministro do
Comercio Estrangeiro); controle estatístico e produção (Quadro de Produção do
Governo Central); finanças (Ministério das Finanças); propaganda atrás de
representantes especiais e criação de intrigas políticas (Ministério de Assuntos
Estrangeiros); e segurança e cobertura das operações (Ministério da Segurança
Pública).
O portfólio
de técnicas do tráfico contava com os do contrabando clássico; transporte
utilizando as empresas de navegação (algumas informadas e outras desinformadas
disto); uso de comunistas e chineses dispersos pelo mundo; colaboração com os
sindicatos dos crimes organizados; uso de mercadorias normais como disfarce;
transporte por correio; e falsificação ou empacotamento falso utilizando marcas
conhecidas. Como veremos mais adiante, a estratégia e a tática Soviética utilizaram
técnicas similares, organização, gerenciamento, alvos e motivações – embora num
estilo Leninista e numa escala imensamente maior.
Nas décadas
de 1950 e 1960, provavelmente o mais importante oficial operando no dia-a-dia do
controle da operação das drogas na China foi Chou Em-Lai. Como o ideológico
chefe Soviético, Mikhail A. Suslov explicou durante um importante discurso na
China em um encontro com o Comitê Central Soviético em fevereiro de 1964, a
estratégia de Chou En-Lai era “desarmar os capitalistas com coisas que eles
adoram provar” [referindo-se as drogas].
Professor
J. H. Turnbull foi o chefe do Departamento de Química Aplicada no Colégio
Militar-Real de Ciência em Shrivenham na
Inglaterra e especialista em tráfico de narcóticos e suas implicações
estratégicas. Em 1972, seguindo a publicidade focada no maciço uso de
narcóticos contra os soldados Americanos no Sudeste da Ásia (ver Capítulo 16),
Turnbull preparou um sucinto relatório da estratégia do tráfico de narcótico Chinês.
O Tráfico Chinês, ele escreveu, era “direcionado aos grandes setores
industriais do Mundo Livre. Em termos comerciais isto oferece alvos óbvios, já
que eles proveem tanto grandes e fluentes mercados”. Estes setores industriais
eram particularmente vulneráveis por causa da natureza aberta de suas
sociedades.
A produção
e distribuição de drogas, Turnbull enfatizou, foram “uma valiosa fonte de renda
nacional e uma poderosa arma de subversão”. Ele identificou três grandes
objetivos básicos das atividades subversivas da China no emprego das drogas:
financiar as atividades subversivas pelo mundo; corromper e enfraquecer as
pessoas do Mundo Livre; e destruir a moral dos combatentes Americanos no
sudeste asiático.
A conclusão
do Turnbull foi praticamente igual àquela chegada vinte anos antes pelo
Comissário de Narcóticos dos Estados Unidos, Harry Anslinger - sendo bastante
revelador hoje. A disseminação secreta de narcóticos do ópio, em particular a viciante
droga heroína, para objetivos tantos comerciais como para subversivos,
representa uma das maiores ameaças para os serviços armados e para as
sociedades do Mundo Livre. A operação subversiva precisa ser reconhecida como
uma forma peculiar de guerra química, naquela a qual a vítima voluntariamente
se expõe ao ataque.